Vamos lá. Ainda que The Economist erre, a meu juízo, aqui e ali no que vai pelo país, dá exemplo a muitos jornalistas bananas do Brasil, que só conseguem relacionar a doença de Lula com a política depois de pedir desculpas. E, obviamente, depois de deixar claro que é contra esse negócio de mandarem ele se tratar no SUS, que isso é coisa ou da direita má ou de gente boa, mas equivocada, como quer um colunista da Folha; de “recalcados”, como quer FHC, ou de gente movida a “preconceito e agressividade”, como quer Aécio Neves.
Não! Os petistas, eles próprios, preferiram não associar o SUS a coisa ruim. Deixaram essa tarefa para alguns tucanos. E alguns tucanos o fizeram gostosamente. As urnas se encarregam deles depois — com justeza e justiça.
Eu, QUE ACHO QUE LULA TEM O DIREITO DE SE TRATAR ONDE O SEU DINHEIRO PUDER PAGAR, sou apenas, como diria aquele, um “rapaz latino-americano” favorável à liberdade de expressão. Exista ou não câncer no meio.
Por que comecei falando sobre a Economist? Porque a revista inglesa faz uma reportagem sobre os desdobramentos políticos da doença do ex-presidente, ressaltando o óbvio, já apontado neste blog desde o primeiro dia: com a saúde fraca, a dimensão mitológica de Lula se fortalece, e ele impõe mais facilmente a sua vontade por causa do apelo sentimental às massas. Dois dias depois do anúncio de sua doença, Marta Suplicy, por exemplo, levou a rasteira definitiva.
Leiam a síntese que o Estadão Online faz da reportagem da Economist. Volto em seguida:
Câncer dará mais peso a candidatos de Lula, diz revista britânica
Por Gabriel Bueno, da Agência Estado:
O câncer na laringe do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode afastar o político do PT da campanha para eleições locais em 2012. Por outro lado, a “simpatia” gerada pelo fato do o ex-líder combater a doença “dará mais peso a suas escolhas para candidatos e a seus pedidos por unidade na coalizão”, afirma a revista britânica “The Economist”, em artigo veiculado em sua edição impressa nesta sexta-feira, 4, e reproduzido em seu site.
O câncer na laringe do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode afastar o político do PT da campanha para eleições locais em 2012. Por outro lado, a “simpatia” gerada pelo fato do o ex-líder combater a doença “dará mais peso a suas escolhas para candidatos e a seus pedidos por unidade na coalizão”, afirma a revista britânica “The Economist”, em artigo veiculado em sua edição impressa nesta sexta-feira, 4, e reproduzido em seu site.
A revista comenta a notícia sobre a doença de Lula, “provavelmente causada pelo fumo”. Além disso, compara a transparência do caso com o mistério em torno da saúde do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que recentemente foi submetido a uma cirurgia em Cuba e tem realizado tratamentos contra um câncer. A publicação afirma que a imprensa brasileira respondeu à franqueza de Lula na mesma moeda, questionando o que ocorrerá com o paciente. “Já satisfeita a curiosidade pública, a imprensa seguiu adiante.”
A “Economist” diz que a atual presidente, Dilma Rousseff, gosta de conversar com o antecessor. “Mas ela pode facilmente seguir por conta própria”, nota. Além disso, a publicação diz que Lula várias vezes recomendou que Dilma mantivesse ministros apesar de acusações de corrupção, mas ela teve de demiti-los dias depois.
Antes de Dilma assumir, sua limitada experiência eleitoral a colocava como alguém que tomaria conta do posto, já que Lula não poderia se reeleger novamente, diz a revista. “O desempenho robusto dela até agora tem arruinado essa ideia, e o próprio Lula diz que a apoiará para a reeleição dela em 2014″, afirma a publicação, ressalvando, porém, que há “alguns membros do partido” que pedem a volta de Lula.
A “Economist” lembra que a própria Dilma superou um câncer e mostrou que é possível ser eleito presidente no Brasil depois disso. Ainda que os médicos digam que o prognóstico para Lula é “muito bom”, com a notícia da doença do ex-líder as vozes que pedem sua volta ao poder devem ser silenciadas, “por um tempo pelo menos”, conclui a publicação.
Voltei
O sentido geral da reportagem está correto. Afinal, o câncer só terá efeitos eleitorais porque os petistas o tratarão eleitoralmente, certo? E o primeiro a fazê-lo foi o próprio Lula, que gravou um vídeo anunciando que, em breve, estaria nos palanques. Mas notem que até a revista dá uma “brasileirada” ao comparar a forma como o ex-presidente tratou a divulgação da doença com o modo Chávez de fazer as coisas: transparência de um lado, mistério de outro.
O sentido geral da reportagem está correto. Afinal, o câncer só terá efeitos eleitorais porque os petistas o tratarão eleitoralmente, certo? E o primeiro a fazê-lo foi o próprio Lula, que gravou um vídeo anunciando que, em breve, estaria nos palanques. Mas notem que até a revista dá uma “brasileirada” ao comparar a forma como o ex-presidente tratou a divulgação da doença com o modo Chávez de fazer as coisas: transparência de um lado, mistério de outro.
É, foram modos diferentes, sim, com a ligeira diferença de que de Chávez é presidente de seu país (ainda que na base da fraude e da violência institucional), e Lula já não é mais o mandatário, embora seja tratado como tal.
Quanto à imprensa “ter seguido adiante”, bem… Parte dela seguiu adiante; parte resolveu reciclar o bolor antidemocrático e anti-republicano, incorporando como um dado da conformação da sociedade brasileira a concepção de que o que serve ao povo não serve aos representantes do povo. Bem, oposicionistas entraram nessa, né? Os petistas, podem procurar, reclamaram do “preconceito”, mas sem entrar no mérito. É gente que não tem bico em lugar do cérebro, embora seja um cérebro que não pense coisas muito boas…
O Brasil levaria pau já nas três primeiras palavras da Constituição dos EUA: “Nós, o povo…” Por aqui, aquela Constituição jamais seria aceita, por petistas e por boa parte dos oposicionistas. “O povo é o escambau!!!” Se jamais poderíamos adotar aquele texto constitucional, os americanos podem, não obstante , copiar o nosso SUS, né?, como Lula sugeriu a Obama: “perto da perfeição, barato, de qualidade…”
REV VEJA
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