domingo, 6 de maio de 2018

O “golpe” em marcha dos corruptos e antidemocráticos - J. R. Guzzo, ORLANDO Tambosi, Paulo R. Almeida


domingo, 6 de maio de 2018

Meu amigo e colega de blog, Orlando Tambosi, resistente como eu ao longo reinado do lulopetismo autoritário e antidemocrático neste país, reproduz a crônica de José Roberto Guzzo, na Veja, sobre o golpe em marcha daqueles criminosos políticos e seus aliados na suprema magistratura, no contexto dos sentimentos sinceros (expressos em “tentações antidemocráticas”) por parte de largos estratos da população, que parecem aceitar, desesperados, a hipótese de uma nova intervenção dos militares na política para, uma vez mais, “limpar o terreno” dessa classe política avassaladoramente corrupta que tomou o Brasil de assalto.
Não parece obviamente ser a solução ideal para os males gravíssimos de mau funcionamento de uma democracia de baixíssima qualidade em que se transformou o Brasil aos 30 anos de sua mais recente (a oitava) Constituição, mas não se deve descartar como irrelevantes esses sentimentos de grande parte da população — e de amplos setores nas FFAA — que podem desembocar num governo de corte direitista autoritário que desconforta muita gente, mas que pode estar sendo visto como o último baluarte da “moralidade”, ou simplesmente de uma reação necessária ao quadro vergonhoso que nos é apresentado por essa classe política genéticamente corrupta, com seus aliados em cortes superiores.
ESperemos que essa evolução tortuosa para um novo experimento de “autoritarismo legal” não se consolide nos próximos meses, de aqui às eleições, mas eu não descarto totalmente a hipótese de um novo retrocesso institucional em nome da desesperança com a “democracia que falhou”.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 6 de maio de 2018
Há uma guerra contra o estado de direito neste país, comandada pelas forças que não podem conviver com ele, adverte J. R. Guzzo em sua coluna na revista Veja. Este blog não aceita golpe -  e que fique claro, nem de direita nem de esquerda. Exageros ideológicos sempre dão em merda. O PT tentou por todos os meios impor uma ditadura chavista no Brasil (a que a imprensa jamais se referiu), mas também não acredito que militares - mais na caserna que tatu na toca - possam oferecer algum perigo. Nada se resolve fora da democracia, por pior que ela seja - como lembrava Churchill. Mas Guzzo faz bem em ressaltar: o lulopetismo continua se negando a reconhecer o Estado de Direito. Por sinal, sempre foi um partido golpista, que não acredita na democracia e tudo fez - e tudo fará - para melar o regime jurídico-constitucional que se negou a referendar em 1988. Se há golpe em construção, é, de fato, dessa ralé totalitária:
Responda com franqueza, por favor: se amanhã ou depois o ministro Gilmar Mendes, por exemplo, fosse despejado do seu gabinete no Supremo Tribunal Federal por um terceiro-sargento do Exército, enfiado num camburão verde oliva e entregue na penitenciária da Papuda por ordem do Alto Comando das Forças Armadas, quantas lágrimas você derramaria por ele? Esqueça as lágrimas. Você, ao menos, diria alguma coisa, qualquer coisa, contra a prisão do ministro? Ou, ao contrário, acharia muito bem feito o que lhe aconteceu? Só mais uma coisa: entre Gilmar Mendes (ou Toffoli, ou Lewandowski, ou Marco Aurélio, etc.) e o general que mandou todos para o xadrez, depois de passar a chave no STF e evacuar o prédio, você ficaria ao lado de quem? Para completar o exercício, basta somar ao Supremo o Congresso Nacional inteirinho, com seus 513 deputados e 81 senadores, os 27 governadores de Estado e mais os milhares de reizinhos, sem concurso público e sem competência, nomeados para mandar na máquina pública ─ onde se dedicam a roubar o erário, para si e para os chefes, e a infernizar a sua vida. Se as Forças Armadas assumissem o governo, fechassem o Congresso e demitissem essa gente toda, de preferência mandando a maioria para o xadrez, tente calcular quantos brasileiros ficariam a favor deles e quantos ficariam a favor dos militares. Chegue então às suas conclusões.
Intervenção militar, golpe militar, regime militar, ditadura militar ─ francamente, quem gosta de falar abertamente dessas coisas? É preciso ficar contra, é claro ─ e ficar contra agora pode vir a ser um belo problema depois, se a casa acabar caindo um dia. É verdade que o cidadão que tem algum tipo de interesse em política já não sente maiores incômodos em tocar no assunto, principalmente se não tem mais paciência com o lixo que as mais altas autoridades da República produzem sem parar e depositam todos os dias na sua porta. Não chega a ser uma surpresa fenomenal, assim, que um número cada vez maior de cidadãos esteja começando a achar que seria uma boa ideia se os militares assumissem de novo o governo do Brasil para fazer uma limpeza em regra na estrebaria que é hoje a vida pública do país. Mas entre os políticos, nos meios de comunicação, nas classes intelectuais e em outros lugares onde as pessoas supostamente “entendem” dessas coisas, é um assunto que se trata como um porco-espinho ─ com extremo cuidado. É melhor não ficar comentando em voz alta, dizem. Não é o momento, não é o caso, não “se trabalha com esse cenário”. É como falar mal do defunto no velório, na frente no caixão. Tudo bem. Mas não é assobiando que se faz a assombração ir embora. Nem fazendo cara de preocupado em programas de televisão ou escrevendo artigos para solicitar aos militares, por favor, que respeitem rigorosamente a Constituição, as instituições e os monstros que ambas criaram e hoje estão soltos por aí. É preciso muito mais do que isso.
Está complicado, em primeiro lugar, porque muita gente nem acha que essa assombração é mesmo uma assombração ─ ao contrário, acha que é a equipe de resgate chegando para salvar os feridos. Quantos brasileiros, hoje, seriam a favor de uma intervenção militar? É pouco provável que os institutos de pesquisa façam a pergunta, porque têm medo de ouvir a resposta ─ mas eis aí, justamente, um indicador muito interessante. Dá para se deduzir, por ele, que uma grande parte da população receberia com uma salva de palmas as imagens de tanques rolando nas ruas e políticos, ministros supremos e empreiteiros de obras se atropelando uns aos outros para fugir pela porta dos fundos. Em segundo lugar, está complicado porque democracias só ficam de pé se elas forem vistas como um bem importante e compreensível pela maioria da população ─ e se houver um número suficiente de cidadãos dispostos, de verdade, a brigar por sua manutenção. Muito bem: quantos brasileiros acham que estão sendo realmente beneficiados, em suas vidas cotidianas, por essa democracia que veem desfilar à sua frente no noticiário de cada dia? E quantos topariam sair à rua para defender, por exemplo, os mandatos dos senadores Romero Jucá, Renan Calheiros ou Jarbas Barbalho?
O fato, que não vai embora por mais que se queira fazer de conta que “as instituições estão funcionando”, é que praticamente ninguém, no mundo político, merece o mínimo respeito do cidadão hoje em dia. Honestamente: alguém seria capaz de dizer o contrário? Se os encarregados de manter o regime democrático em funcionamento se desmoralizam todos os dias, e desprezam abertamente as regras da democracia com a sua conduta criminosa, fica difícil supor que está tudo bem. Nossas autoridades “constituídas” acham que está. Como a Constituição diz que é proibido fechar o Supremo, o Congresso, etc., imaginam que podem continuar fazendo qualquer barbaridade que lhes passar na cabeça. Imaginam que os militares, informados de que existe uma “cláusula pétrea” mandando o Brasil ser uma democracia, se veriam obrigados, por isso, a continuar assistindo em silêncio a anarquia promovida diante de seus olhos por magistrados do STF, ministros de Estado, líderes parlamentares e os demais peixes graúdos que têm a obrigação de sustentar o cumprimento das leis ─ mas vivem em pleno colapso moral e não conseguem mais segurar no chão nem uma barraca de praia.
É cansativo ouvir, mais uma vez, que a democracia é uma coisa e as pessoas que ocupam os cargos de governo são outra. Não se deve confundir as duas, reza a doutrina, pois nesse caso um regime democrático só poderia existir numa sociedade de homens justos, racionais e bondosos; se as pessoas que mandam estão mandando mal, a solução é substituí-las por outras através de eleições, processos na Justiça e demais mecanismos previstos na lei. Mas o Brasil está fazendo mais ou menos isso desde 1985, e até agora não deu certo. Alguém tem alguma previsão sobre quanto tempo ainda será preciso esperar? A democracia brasileira faliu; é possível que nunca tenha tido chances reais de existir, por insuficiência de gente realmente disposta a praticá-la, mas o fato é que estão tentando fazer o motor pegar há mais de 30 anos, e ele não pega. Talvez ainda desse para ir tocando adiante por mais tempo, com um remendo aqui e outro ali. Acontece que neste momento, justamente, há muito menos esforço para escorar o que está bambo do que para tacar fogo na casa inteira.
A questão central, curiosamente, é a manutenção da lei. Nove em dez golpes, ou nove e meio, são dados por quem tem a força armada e quer mandar a lei para o espaço. Aqui parece estar se montando o contrário. Os militares dizem, como deu a entender semanas atrás o general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército, que exigem o cumprimento da Constituição e das leis penais para continuar nos quartéis. Quem está querendo abolir a aplicação da lei são os que não têm as armas, mas chegaram à conclusão que não conseguem sobreviver se forem mantidas as regras atuais da democracia brasileira. Está mais do que claro de quem se trata. Trata-se, em primeiro lugar, do ex-presidente Lula, do PT e dos seus partidos auxiliares. Em segundo lugar vem o populoso cardume de políticos, de qualquer partido, que estão fugindo da Justiça penal por prática de corrupção e outros crimes ─ são centenas de indivíduos, literalmente. Em terceiro lugar, fechando a trindade, estão as empreiteiras de obras públicas, fornecedores do governo e o restante das gangues que vivem de roubar o Tesouro Nacional. Todos estes precisam desesperadamente de uma virada de mesa que solte Lula da prisão, salve da linha de tiro os ladrões ameaçados pela lei e devolva condições normais de operação para o negócio da ladroagem de dinheiro público em geral.
O último esforço em seu favor foi essa grosseira ofensiva dos ministros Toffoli, Lewandowski e Gilmar para tirar Lula da prisão, suprimir provas dos processos criminais que ele tem pela frente, anular sua condenação, impedir o trabalho do juiz Sérgio Moro ─ em suma, fraudar a Justiça penal brasileira numa trapaça de escala realmente monumental, com o vago objetivo de “zerar tudo”. É o sonho de Lula e seus advogados milionários de Brasília, do Complexo PT-PSOL-PCdoB etc., e de dez entre dez ladrões sob ameaça de punição: declarar a Operação Lava Jato ilegal, sumir com tudo o que ela já fez, está fazendo ou vai fazer e demitir o juiz Moro a bem do serviço público, junto com todos os magistrados que combatem a corrupção no Brasil. Eles não dizem isso, é claro: sua conversa é que estão aplicando o embargo dos embargos de agravo teratológico com efeito suspensório, diante da combinação hermenêutica de mutatis mutandisinterlocutórios com ora pro nobis infringentes. Não perca o seu tempo com o vodu jurídico do STF sobre “direito de defesa” que a mídia repassa a você com casca e tudo: é pura tapeação para ver se soltam Lula da cadeia e ajudam a ladroagem ─ primeiro para que ela escape da penitenciária e, em seguida, para permitir que continue roubando em paz.
É disso que se trata. Há, simplesmente, uma guerra contra o estado de direito neste país, comandada pelas forças que não podem conviver com ele. Lula e o seu sistema de apoio não querem a democracia. Recusam-se, abertamente, a cumprir a lei e a aceitar decisões legítimas da Justiça; sabem que não têm futuro num regime democrático, com poderes independentes, Lava Jato, imprensa livre e o restante do pacote. Estar no governo, para essa gente, não é a mesma coisa que seria para você. Eles precisam estar no governo. Não só para ter empregos, fazer negócios e ganhar dinheiro da Odebrecht, mas porque enfiar-se no poder é a diferença entre estar dentro ou fora da cadeia. É por isso que os senadores petistas Lindbergh Farias e Gleisi Hoffmann, entre outros, se agitam tanto. Se as leis continuarem a ser normalmente aplicadas, podem ter diante de si, em breve, ações penais duríssimas. É por isso que o deputado Wadih Damous, também do PT, disse outro dia que “é preciso fechar o Supremo Tribunal Federal” ─ depois de reconhecer que o ministro Gilmar é um “aliado” do partido. (O deputado não esclareceu o que pretende fazer com ele, mais os Toffolis, Lewandowiskis e similares, depois de fechar o STF.)
O mundo político e a elite, caídos de quatro no chão, olham em silêncio para tudo isso, aterrorizados por Lula e assustados com a voz da tropa. Quando quiserem reclamar, podem se ver reclamando tarde demais e em muito pouca companhia.

O patrimonialismo de corpo inteiro

domingo, 6 de maio de 2018

Post do professor Ricardo Vélez-Rodríguez, do blog Rocinante, sobre a contribuição do lulopetismo à consolidação do Estado Patrimonial:
Dizia Sir Francis Bacon no seu Novum Organon (1620), que as descobertas da ciência não aparecem a qualquer um, mas que é preciso ter o espírito preparado para elas. São janelas por onde se filtra a luz que nos explica o emaranhado relacionamento dos fenômenos. O cientista precisa estar alerta, a fim de não deixar passar o instante em que a verdade dos fatos se revela. 
Pois bem: com a complicada natureza do Estado Patrimonial não acontece diferente. Alguns fatos, pequenos às vezes, servem para nos revelar a presença, sob as instituições formais, do Estado Patrimonial. É isso que a Operação Lava Jato tem revelado. O "Público como Privado" da nossa estrutura republicana é o grande mal. Mas ele se revela, especialmente, em algumas circunstâncias.
Um pequeno fato revelou, há já vários anos, a estrutura do Estado Patrimonial, colocando de manifesto a existência de um estamento burocrático privilegiado: em entrevista a jornalistas, um ex-presidente do Supremo Tribunal Federal revelou a razão pela qual era necessário manter o super-salário que recebia, corrigido acima da média da inflação, contrastando com a penúria de outros funcionários públicos e com a situação da maioria dos brasileiros que viam os seus ingressos serem corroídos pela cadeia inflacionária. O ex-magistrado falou mais ou menos assim com a jornalista: "Ora, para manter o meu padrão de vida é necessária essa correção do salário. Acostumei-me a trocar de carro (de luxo) todo ano".
Um segundo fato, recente, jorrou outro clarão de luz sobre a existência do estamento burocrático privilegiado, para o qual não vale a lei como para o resto dos brasileiros. Fazendo os cálculos sobre quem sairia perdendo com a queda do foro privilegiado, debatida no Supremo na semana passada, jornalistas calculavam a quantas pessoas abriga atualmente o "foro privilegiado" no Brasil, chegando à conclusão de que os beneficiários seriam em torno de 50 mil funcionários públicos e políticos. Isso explica a grita enorme que a queda do foro privilegiado produz nas redes sociais, nos arraiais do governo e na imprensa.
O fato maior, porém, veio na trilha das investigações ensejadas pela Operação Lava Jato e à sombra das delações premiadas de empresários e políticos presos. Tais delações revelaram, no decorrer dos últimos anos, a essência do Estado Patrimonial como aquele no qual o núcleo do poder, identificado com o Executivo e com setores expressivos da cúpula do Legislativo, alargou a sua dominação doméstica sobre territórios, pessoas e coisas extra-patrimoniais, passando a administrá-lo tudo como posse de família. O fato revelado consistia no projeto de perpetuação do PT no poder. Tal projeto, elaborado pela Presidência da República no primeiro governo de Lula (com a colaboração direta dos ministros José Dirceu e Luiz Gushiken), consistia em utilizar as empresas estatais e os fundos de pensão das mesmas como cabeças de ponte para o PT se apropriar, de forma alargada, de enormes fatias de dinheiro público desviado fraudulentamente mediante a cooptação das maiores empreiteiras do país que virariam "campeãs de bilheteria", mediante empréstimos irregulares do BNDES, concedidos com a prévia condição de que os empresários beneficiários (no Brasil e no exterior) das licitações fraudulentas, rachassem as milionárias somas desviadas com a elite petista, com a finalidade, dupla, de: a - enriquecer os membros do stablishmentpetista e os seus colaboradores e, b - fazer um fundo amplo para financiar a compra das eleições presidenciais vindouras, abrindo assim a perspectiva para a perpetuação do PT no poder. 
Esse esquema começou a ser revelado em 2005 com a operação ensejada pela Magistratura auxiliada pelo Ministério Público, que denunciou e puniu o "Mensalão", ou compra de maiorias parlamentares mediante o pagamento às lideranças das agremiações de gratificações para aprovarem a toque de caixa, no Congresso, projetos de interesse do governo. O esquema revelado mostrou que foi construída complexa rede de altos funcionários de governos estrangeiros beneficiários dos "empréstimos" do BNDES, tanto em países da América Latina quanto da África especialmente, com as consequências de crise interna nos países que adotaram esse tipo de parceria criminosa com o governo petista. Ainda está por ser revelada a real dimensão dessa megaempresa de corrupção, que projetou a imagem do Brasil como um dos campeões da corrupção em nível mundial, mas que está resgatando, também, a imagem do Brasil como um país em que a Magistratura e as instituições republicanas estão atuantes para fazer frente a esse mal.
O esquema funcionou a contento até a segunda eleição da Dilma Rousseff, mas fez água em decorrência da quebra da economia propiciada pelas "pedaladas fiscais" que, somadas aos desvios que já tinham se perpetrado na Petrobrás, na Eletrobrás e em outras estatais, levaram à literal insolvência do Estado com a consequente deposição da presidente em 2016, no tumultuado processo de impeachment que ilegitimamente passou a ser denominado pelos petistas de "golpe".

O bumerangue do Supremo

Embora o foro privilegiado seja defensável, não pode ser para tanta gente. E é bom que até ministro do STF seja julgado em primeira instância. Coluna de Carlos Brickmann, publicada hoje em diversos jornais do país:

O Supremo reduziu os privilégios do foro privilegiado para deputados e senadores: antes, um batedor de carteira que se elegesse só poderia tomar processo se o Supremo aceitasse a denúncia e o Congresso o autorizasse. Agora, depois da decisão do Supremo (que, embora mantenha privilégios à vontade, vai no rumo certo), o foro privilegiado só vale para o que ocorrer durante o mandato, e relacionado a ele. Bateu carteira? Vai para o juiz de primeira instância. E todos têm pavor de encontrar Sérgio Moro pela frente.
Beleza – mas bumerangue vai e volta. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, decidiu tocar uma proposta de emenda à Constituição que completa a decisão do Supremo: extingue o privilégio de foro de qualquer autoridade, exceto quatro: presidentes da República, do Supremo, da Câmara e do Senado. “Creio”, diz Maia, “que a Câmara vai aprovar o texto como está, e colocar todos em igualdade de condições perante a lei”. Como a proposta já foi aprovada pelo Senado, irá diretamente para a sanção presidencial.

Mas calma: como nenhuma reforma constitucional pode ser votada se houver intervenção federal em algum Estado (e há, no Rio) a proposta tem de aguardar que a intervenção termine. Mas pode ir tramitando enquanto isso, de forma a estar pronta para votação assim que houver possibilidade.

Embora o foro privilegiado seja defensável, não pode ser para tanta gente. E é bom que até ministro do STF seja julgado em primeira instância.
Igualando

A decisão do Supremo sobre o foro privilegiado, embora no caminho certo, atinge apenas os 513 deputados e os 81 senadores. Restam, com foro privilegiado intocado, 58.066 pessoas. São governadores, ministros, prefeitos, procuradores da República, promotores de justiça, deputados estaduais, vereadores. A proposta de emenda constitucional que está na Câmara tira de todo esse pessoal o benefício e os iguala ao cidadão comum.

E o benefício é bom: dos processos penais que caíram no Supremo, 20% geraram absolvição, 79% foram devolvidos. E 1% deram condenação.
Misturando tudo

Há quem se queixe de que o Judiciário e o Ministério Público andam legislando e dando palpite na administração, que o Executivo abusa das medidas provisórias, que também fazem parte da legislação. Agora tudo isso pode ser institucionalizado: há hoje 33 policiais federais querendo se eleger (um ao Senado, outros às Assembleias e à Câmara Federal, conforme levantamento do site Poder360. Estão dispersos por 17 partidos. E há também os policiais que habitualmente se elegem – como, em outras épocas, o deputado paulista Erasmo Dias.
Lugar definido

O Poder360 estudou a distribuição dos policiais federais. Um quer sair pelo PSDB: nenhum pelo PMDB, nem por PSOL, PT, PSTU. Conclusão do estudo: considerando-se que a maioria esmagadora dos pré-candidatos optou por partidos à direita do arco político, a Federal é majoritariamente de direita. Talvez, entretanto, a campanha desenvolvida por petistas e associados contra a Polícia Federal e o Ministério Público, na Operação Lava Jato, tenha contribuído para afastar muita gente dos partidos lulistas

domingo, 6 de maio de 2018

Esquivel, Esquivel, vá arrumar algo decente para fazer!

Percival Puggina, sobre o argentino Nobel da Paz Adolfo Esquivel, que andou propondo o nome do detento Lula para Nobel da Paz (ah, Esquivel, eu prefiro mandá-lo lamber sabão!):
“Em Cuba se pratica a coerência entre o dizer e o fazer, e ao ser coerente, segue uma linha em que se praticam e sustentam os direitos humanos com uma dimensão integral na qual o povo é o eixo central”. (Adolfo Pérez Esquivel, em maio de 2016, falando a sindicalistas argentinos numa comemoração aos 90 anos de Fidel Castro)
Não acompanho a vida e obra de Esquivel, Nobel da Paz, mas conheço o arquétipo. Ele integra aquele grupo de militantes comunistas preservados dentro do armário para não desacreditarem suas performances quando convocados a socorrer companheiros em dificuldade mundo afora. Por isso, a rumorosa presença de Esquivel, juntando-se aos que querem transformar a carceragem da Polícia Federal de Curitiba em sala de visita e Comitê Operativo de Emergência do petismo, me fez dar uma olhada em suas atuações. O homem se presta para todas! Procure por ele aqui e aqui, por exemplo. Essa frase que coloquei em epígrafe, bem como o inteiro teor da referida palestra, é quase tão descabida quanto a indicação que fez de Lula para se juntar a ele entre os agraciados com o Nobel da Paz. Ou, sua vinda ao Brasil, em 2016, sempre com a mão esquerda erguida, para se opor ao “golpe”.
As duas características que mais me surpreendem nesse tipo humano e em suas atitudes é a pressuposição que faz de nossa ingenuidade e a sua infatigabilidade. Não cansam de desempenhar o seu papel diante de nossos olhos incrédulos. Como pode alguém correr mundo como reverenciado atleta dos direitos humanos e ser assíduo bajulador da sexagenária ditadura castrista? Ou declarar, como declarou em 17 de fevereiro de 2014 que "há uma intenção (dos EUA) de desestabilizar não apenas a economia como também a ação social e política" na Venezuela? E mais: quando Macri, recém-eleito, quis usar a cláusula democrática do acordo do Mercosul para expulsar a Venezuela do bloco, Esquivel saltou em defesa daquele regime assassino onde “não só há habitação digna, mas há educação, saúde e médicos nos bairros”.
A criativa desonestidade intelectual desses verdadeiros charlatões do circo político não tem limites. Vejamos, por exemplo, o cenário do tal “golpismo”. Lula assumiu a presidência em 2003 e já em 2005, constrangido, revirando os olhos para cima, dizendo-se apunhalado pelas costas, dava pinotes para afastar de seu colo o escândalo do mensalão. Anos mais tarde, o companheiro Joaquim Barbosa – relator daquela ação penal – fez um esforço imenso, mas cumpriu seu papel. Livrou a cara de Lula e jogou a culpa no Dirceu. E os “golpistas”, diante do mensalão, pediram impeachment de Lula? Não. Um ano mais tarde, Lula foi reeleito, a irresponsabilidade ganhou novo fôlego; e os “golpistas”? Quietos. Mais quatro anos, o “poste” foi eleito. E os “golpistas” continuaram vendo a banda passar, com cara de paisagem. Veio a Lava Jato, e os “golpistas”, nada. Dilma foi reeleita. E os “golpistas” continuaram como se não fosse com eles. O Congresso Nacional, aliás, durante bom tempo, persistiu como mero observador dos fatos, cada um cuidando da própria retaguarda. Foi perante a opinião pública e o mundo jurídico que a situação do governo ficou insustentável. E o Congresso veio atrás. E o Esquivel chegou correndo, com o punho erguido.
Estou fazendo esse relato porque o PT vem, há anos, seguindo o mesmo protocolo: fatos inconvenientes exigem versões impostas por repetição. Assim como o “extraordinário desenvolvimento social do Brasil” foi uma versão imposta por repetição, embora desmentida por 14 milhões de desempregados, era imperioso afirmar o “golpismo” do impeachment, apesar de todo o rigor com que foi conduzido no Congresso, sob severa vigilância do STF, ao longo de mais de um ano.
Agora, a mesma lengalenga se renova diante da carceragem da Polícia Federal com inspeções humanitárias sobre a privilegiadíssima condição prisional que Moro proporcionou ao condenado Lula e que a juíza de execuções criminais tem mantido. E o falsário defensor de direitos humanos está aí, de punho erguido. É com gente desse perfil que o PT conta para seu proselitismo.
DO O.TAMBOSI