O
artigo está muito bem fundamentado, revela que o autor tem informações
privilegiadas, a par de seu profundo conhecimento da política
brasileira, sobretudo no que concerne às últimas décadas. Saulo Queiroz é
um veterano personagem político brasileiro, segundo anota o analista
João Bosco. Teve participações decisivas no processo de redemocratização
que elegeu Tancredo Neves, em 1984; na Constituinte de 1988 e, mais
tarde, na aliança que elegeu Fernando Henrique Cardoso. Egresso do PFL,
depois DEM (Democratas), é atualmente o Secretário Geral do PSD liderado
pelo ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab.
A
rigor, são poucos os políticos brasileiros que detêm a bagagem de
experiência e participação ativa na política acumulada por Saulo
Queiroz, razão pela qual o que ele escreve e assina embaixo não são
palavras ao vento. Por um lado, o escrito tenta justificar o apoio de
Kassab e do PSD à “presidenta” que, seguindo o raciocínio do
articulista, estaria sendo vítima de uma rejeição total, irrestrita e
sem volta do eleitorado em relação ao PT, ou as duas coisas. Isso seria o
efeito efeito mortal do mensalão, segundo afirma Queiroz. Seja como
for, não deixa de ter sentido a análise formulada. Intui o articulista
que a ficha caiu para a opinião pública quando esta conheceu, por meio
do julgamento no STF, o tamanho da corrupção petista. Ao que eu aduzo:
antes tarde do que nunca.
Além
disso, há que se contextualizar a análise de Queiroz neste momento,
lembrando a inusitada manchete da Folha de S. Paulo do último sábado que
tentou desqualificar o candidato oposicionista Aécio Neves. E mais:
quem acompanha a crônica política da grande imprensa brasileira constata
que nenhum jornalista produziu qualquer conteúdo que possa ser
comparável ao artigo de Saulo Queiroz. E tem mais: seu escrito não foi
publicado na seção consagrada pelo Estadão a articulistas colaboradores,
mas dentro de uma coluna de política. Transcrevo na íntegra:
De mal a pior
Por Saulo Queiroz
A
última pesquisa Datafolha mostrou a extensão de uma doença que avança
pelo País: a rejeição ao PT e a Dilma. Como são duas entidades
diferentes, não é fácil saber qual é depositária do percentual mais
forte, mas há indícios de que a rejeição ao PT é de controle mais
difícil.
Outro
aspecto que fica claro é sua susceptibilidade ao contágio, que aumenta
com maior velocidade nos grandes conglomerados urbanos, mas avança
também, mais lentamente, nas pequenas cidades e até em espaços que
pareciam imunes, como o Nordeste, onde a rejeição a Dilma alcançou
incríveis 23%.
Para
se ter uma ideia do que isso significa vale lembrar que na eleição
presidencial passada, em pesquisa Datafolha de 23.07.2010, a rejeição a
Dilma em todo o País era de 19%. Nesta última pesquisa já alcança 35%,
quase o dobro de igual período em 2010.
Para
uma identificação mais precisa do depositário da maior taxa de
rejeição, se o PT ou Dilma, é preciso uma rápida caminhada pelo País,
começando pelo Sul. O PT tem candidato nos três Estados, mas apenas no
Rio Grande do Sul seu candidato está em segundo lugar nas pesquisas.
No
Paraná e Santa Catarina estão em terceiro. No Sudeste, o desempenho é
pífio em São Paulo com Alexandre Padilha, sofrível no Rio de Janeiro,
com Lindhberg Farias ,em quarto lugar, e sem expressão no Espírito
Santo.
Apenas
em Minas Gerais, com Fernando Pimentel, apresenta um desempenho
satisfatório, mas a lógica é que ele não resistirá a máquina de moer
carne que o espera, com Aécio Neves crescendo nas pesquisas para
Presidente, um candidato ao governo, Pimenta da Veiga, de boa história, e
um ao Senado, com a qualidade e aprovação de Antonio Anastasia, o
governo do Estado e a maioria de deputados.
No
Nordeste seu candidato na Bahia, maior colégio eleitoral da região está
muito atrás do candidato do DEM. É segundo no Ceará e apenas no Piauí
mantém folgada liderança. Nos demais Estados apoia candidatos de outras
legendas, o que significa dizer que nestes quatro anos não consolidou
personagens estaduais para concorrer ao cargo de governador, o que
demonstra fragilidade partidária.
A
pergunta que fica é: que culpa cabe à presidente Dilma por esta
fragilidade do PT em seu principal reduto eleitoral que é o Nordeste.
Penso que muito pouca. No Norte, afora o Acre onde pode reeleger o
governador, não tem presença de destaque nos principais colégios
eleitorais, visto que apoia o PMDB no Pará e Amazonas, além de fazer o
mesmo em Tocantins.
No
Centro Oeste tem candidato a reeleição no Distrito Federal com baixa
perspectiva, em Goiás sem nenhuma e no Mato Grosso não tem candidato.
Apenas em Mato Grosso do Sul tem perspectivas concretas de vitória
porque seu candidato, o senador Delcídio Amaral, está bem a frente nas
pesquisas e tem baixa rejeição. A questão é saber até onde ele resistirá
ao processo de contaminação, visto que o Estado é vizinho de São Paulo e
Paraná, onde é virulenta a rejeição ao PT – a maior em todo o País. Há
que se vacinar para controlar o contágio.
Finalmente,
é quase chocante que um partido que comanda o País há 12 anos, tenha
favoritismo para eleger apenas três governadores, em Estados de pequena
densidade eleitoral e dois senadores. Cinco em 54 disputas majoritárias.
Quase nada. A pergunta, repetitiva, é se foi Dilma a responsável por
uma rejeição que se estendeu por todo o Pais ou se foi o PT o principal
responsável pela rejeição de Dilma. Não vale dizer que as duas se
encontram.
A
verdade é que estes últimos quatro anos de governo da presidente Dilma
foram marcados por dificuldades na economia, não só aqui no Brasil, mas
em quase todo mundo. Evidente que o governante paga uma conta que nem
sempre é sua, como aconteceu nas eleições realizadas na Europa, mas é do
jogo da política.
Lula
presidente, a economia bombou, ele soube tirar proveito político disso e
se tornou quase um ídolo no País. E ainda arrastou seu PT para o bom
caminho da vitória nas eleições de 2010. Mas será que as dificuldades de
Dilma, a baixa avaliação de seu governo, seria a causa principal para o
desgaste do Partido em quase todos os Estados ou será que a causa é
mais além?
Com
certeza, mais além. No período do governo Dilma o País viveu o episódio
que representou o maior massacre pelo qual já passou um partido na
história política desse País: o julgamento do mensalão. Meses e meses de
intensa cobertura de televisão, rádios e jornais de um julgamento onde o
principal réu acabou se tornando o PT.
Engana-se
quem acha que isto não teve grande importância. Teve sim e pensar o
contrário é um menosprezo à opinião pública. Evidente que foi
determinante para criar esse vírus da rejeição ao PT, que se espalha
pelo País. A bem da verdade, nem Dilma nem seu governo têm qualquer
coisa a ver com o mensalão. Ela, como muitos outros candidatos petistas,
é apenas uma vítima.
Quanto
à eleição presidencial deste ano o quadro caminha para um desfecho
trágico para o PT e sua candidata. Quem estiver olhando para os números
atuais das pesquisas e avalia que há um quadro de indefinição comete um
erro básico de julgamento.
Há
um status totalmente diferente entre os competidores, porque enquanto
Dilma é conhecida por 99% dos eleitores, 19 e 36% desconhecem Aécio e
Eduardo Campos, respectivamente. Todos os dados das pesquisas atuais
mostram apenas a notória rejeição da candidata à reeleição.
Aécio
e Campos são fatos para após o início do horário eleitoral. Vale que
olhemos um pouco para 2010. Em 23.07, havia um empate entre Dilma e
Serra, ambos com 36% de preferência. Em 15.09, com 25 dias de horário
eleitoral, Dilma tinha 50% e Serra 27%.
Evidente
que, agora, em meados de setembro, quando todos conhecerem melhor Aécio
e Campos, os números serão diferentes e, tudo indica, um deles estará a
frente de Dilma e, muito à frente, ambos, em uma simulação de segundo
turno.
Não é
provável, mas não impossível, que nesta data a campanha da presidente
esteja com a preocupação voltada para assegurar sua presença no segundo
turno. Apenas isso, porque não haverá mais nenhuma perspectiva de
vitória.
DO ALUÍZIO AMORIM