Segundo denúncia, várias empresas fizeram cartel com o aval de agentes públicos. MP viu irregularidades em 7 obras viárias além do Rodoanel.
Por G1 SP e TV Globo, São Paulo
A força-tarefa da Operação Lava Jato em São Paulo apresentou na tarde
desta sexta-feira (3) denúncia contra 33 pessoas por suposto esquema de
cartel e fraude em licitação de obras do trecho Sul do Rodoanel e de
mais sete obras do sistema viário metropolitano da capital.
A denúncia envolve servidores públicos e representantes de 14 empresas.
Inicialmente, com base em informações do Ministério Público Federal
(MPF), a reportagem informavam que 32 pessoas tinham sido denunciadas.
A denúncia desta sexta-feira é diferente da outra, da semana passada, que responsabilizava 14 pessoas por superfaturamento de R$ 625 milhões das obras do trecho Norte do Rodoanel.
Segundo a denúncia desta sexta o cartel entre várias construtoras teria
recebido o aval de agentes públicos da Dersa - empresa de estrutura
viária do estado de São Paulo -, da Empresa Municipal de Urbanização
(Emurb) e da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras.
O esquema se refere aos períodos entre 2004 e 2013. Neste período, o
governo do estado foi comandando por três integrantes do PSDB: Geraldo
Alckmin, José Serra e Alberto Goldman. Cláudio Lembo, ex-PFL e atual
Democratas também governou o estado no período. Na Prefeitura de São
Paulo, estiveram José Serra e Gilberto Kassab, eleito na época pelo PFL.
O cartel ocorre quando empresas concorrentes fazem um acordo implícito
ou explícito para combinar e definir preços e condições do mercado, o
que é ilegal.
A reportagem tenta contato com os citados. Veja ao final da reportagem o que disse cada um que foi localizado.
Acordo de leniência
A base da denúncia é o acordo de leniência firmado pela Odebrechet com o
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em 2017. Oito
executivos da construtora delataram o caso.
De acordo com a denúncia, além do Rodoanel Sul, as irregularidades
ocorreram em sete grandes obras do Programa de Desenvolvimento do
Sistema Viário Metropolitano: avenidas Roberto Marinho, Chucri Zaidan,
Cruzeiro do Sul, Sena Madureira, Marginal Tietê e Jacu Pêssego, além do
córrego Ponte Baixa.
O MPF solicitou que a denúncia seja distribuída à 5ª Vara Federal
Criminal de São Paulo. O pedido foi feito porque o caso envolve a
atuação do ex-diretor da Dersa, Paulo Vieira de Souza, um dos
denunciados, em fatos relacionados com outra ação penal em que ele é
citado. Souza é apontado como operador de propina do PMDB em São Paulo.
Além de Paulo Vieira de Souza, a denúncia do MPF inclui outros três agentes públicos:
- Dario Rais Lopes, atual Secretário de Aviação Civil do Ministério dos Transportes. Na época dos fatos denunciados, ele presidia a Dersa e era secretário estadual de transportes.
- Mario Rodrigues Júnior, diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Ele foi diretor de engenharia na Dersa entre 2003 e 2007.
- Marcelo Cardinale Branco, ex-presidente da Empresa Municipal de Urbanização de São Paulo (Emurb) e ex-secretário municipal de Infraestrutura e Obras entre 2006 e 2010.
O MPF apurou que o esquema começou a ser organizado em 2004 com cinco
empresas consideradas "líderes" no esquema. Entre junho de 2005 e abril
de 2006, já eram dez empresas envolvidas que fizeram várias reuniões.
As companhias chegaram, inclusive, a ter um escritório coletivo com
técnicos de todas as companhias. O MPF investiga o gasto de cada empresa
para equipar e manter o escritório.
Veja o que dizem os citados
- Por meio de nota, a Dersa informou que está à disposição para
colaborar com as investigações e que "todas as obras realizadas pela
Companhia foram licitadas obedecendo-se à legislação em vigor". "Se
houve conduta ilícita com prejuízo aos cofres públicos, o Estado irá
cobrar as devidas responsabilidades, como já agiu em outras ocasiões",
diz a nota.
- A defesa do ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza informou que vai esperar notificação oficial para comentar a denúncia.
- O secretário Nacional de Aviação informou, por meio de nota que
aguardará a notificação "para ter conhecimento do teor da denúncia".
"Prestarei os devidos esclarecimentos diretamente ao MPF", afirmou em
nota.
- A Emurb (Empresa Municipal de Urbanização) disse em nota que a
prefeitura de São Paulo está colaborando com as investigações.