quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Em jingle, Aécio diz que ‘não depende de padrinho e não precisa de patrão’

(Foto: George Gianni/PSDB)
O candidato à Presidência da República pelo PSDB, Aécio Neves (Foto: George Gianni/PSDB)
Por Bruna Fasano, de São Paulo, para o site de VEJA
Os primeiros jingles de Aécio Neves foram distribuídos aos 27 coordenadores estaduais da campanha tucana à Presidência da República nesta segunda-feira.
Aécio divulgou um guia prático de como sua coligação, composta por nove partidos, deve produzir material publicitário. Junto com o guia, os coordenadores receberam um CD com fotos e santinhos.
Um dos jingles foi elaborado em ritmo de forró, e o outro, com levada pop (ouça abaixo).
No forró, a letra diz que Aécio é “sujeito de raiz” e lembra que ele é neto do ex-presidente Tancredo Neves.
Na versão pop, o tucano alfineta a presidente-candidata Dilma Rousseff, que tem em Lula seu principal fiador. A letra diz que “Aécio não depende de padrinho, não precisa de patrão”.



DO RSETTI

TSE permite divulgação de análise econômica crítica sobre candidatos

O plenário do TSE decidiu, por maioria, na sessão desta terça-feira, 19, considerar totalmente improcedente a representação proposta pela coligação Com a Força do Povo, que tem Dilma Rousseff como candidata à reeleição ao cargo de presidente da República, contra a empresa Empiricus Consultorias & Negócios, por suposta propaganda veiculada na internet com conteúdo negativo direcionado à Dilma Rousseff e elogios a Aécio Neves, candidato da coligação Muda Brasil.
Por maioria, os ministros entenderam que não houve propaganda eleitoral paga e nem de qualquer espécie nas considerações feitas pela empresa sobre a oscilação do mercado financeiro em caso da vitória de Dilma ou de Aécio. O relator, ministro Admar Gonzaga, votou no sentido de multar a empresa em R$ 15 mil por considerar que houve propaganda paga na internet, o que é vedado pela lei das eleições (9.504/97).
O pedido para a aplicação de multa e a retirada da suposta propaganda da internet considerava que a empresa estaria veiculando os seguintes anúncios: “Como se proteger da Dilma: saiba como proteger seu patrimônio em caso de reeleição da Dilma, já” e “E se o Aécio Neves ganhar? Que ações devem subir se o Aécio ganhar a eleição? Descubra aqui, já”.
Ao manter os argumentos que usou para deferir a liminar, o ministro Admar Gonzaga afirmou que, para ele, houve excesso com as expressões utilizadas nos anúncios postados na internet. O ministro ressaltou ainda que, no caso, a publicidade não só menciona o pleito futuro, por meio de propaganda paga na internet, como também faz juízo positivo e negativo sobre dois candidatos ao pleito presidencial. De acordo com o relator, houve “clara estratégia de propaganda subliminar”.
O ministro Gilmar Mendes abriu a divergência ao declarar que “não vamos querer que a Justiça Eleitoral, agora, se transforme em editor de consultoria”. Disse que, ao contrário do relator, teme que “esse tipo de intervenção da Justiça Eleitoral em um tema de opinião venha a, realmente, qualificar uma negativa intervenção em matéria de livre expressão”. “Tentar tutelar o mercado de ideias não é o papel da Justiça Eleitoral.”
O ministro Luiz Fux votou com a divergência. O critério da Justiça Eleitoral, para ele, “é de respeitar a soberania popular e manter o minimalismo diante do jogo democrático”. A divergência também foi seguida pelos ministros João Otávio de Noronha, Luciana Lóssio e pelo presidente da Corte, ministro Dias Toffoli. A ministra Laurita Vaz votou com o relator em favor da aplicação de multa.

Pastor Everaldo injetou ficção no Jornal Nacional

O principal problema da candidatura presidencial do Pastor Everaldo é que o grosso do eleitorado é incapaz de enxergar consistência nela. E o candidato, brindado com uma entrevista de 15 minutos no Jornal Nacional, revelou-se incapaz de demonstrá-la. Quem assistiu ficou com a impressão de que Deus talvez não exista. Se existisse, já teria convencido a maioria dos eleitores a alçar o presidenciável-pastor ao topo das pesquisas.
Sob Lula, Pastor Everaldo e o seu Partido Social Cristão apoiavam o governo. Na sucessão de 2010, ensaiaram o apoio à candidatura presidencial do tucano José Serra. Súbito, bandearam-se para a coligação de Dilma Rousseff. Na sequência, o PSC foi brindado com uma doação de R$ 4,7 milhões proveniente das arcas do PT. Patrícia Poeta espetou: esse foi o preço do seu apoio, quase R$ 5 milhões?
O pastor reconheceu o recebimento do donativo. Mas declarou que a aliança com Dilma, selada em 30 junho de 2010, baseou-se em “princípios”. Os meio$, segundo ele, só pingaram na caixa registradora do PSC quase três meses depois, em 22 de setembro. Foram doações legais, disse Everaldo, para custear material feito para a campanha.
Depois da posse de Dilma, o pastor e suas ovelhas queixaram-se à bispa do Planalto. Dilma entregara aos comunistas do PCdoB o comando do Ministério dos Esportes e da Agência Nacional do Petróleo. Com um deputado a mais, os cristãos do PSC foram excluídos do paraíso. E reivindicaram um pedaço da máquina pública. Não é toma-lá-dá-cá?, quis saber Patrícia Poeta.
E o Pastor Everaldo: Olha, quando fizemos o acordo para a coligação, nós defendemos os princípios em que acreditamos. E o governo chama as pessoas que ajudaram para compor o governo. Nós tínhamos um número maior, elegemos mais do que o PCdoB. Então, esperávamos um espaço no governo.
Mas isso é um toma-lá-dá-cá, sentenciou Patrícia Poeta. O pastor renegou o veredicto três vezes. Primeiro, sem muita convicção: não acredito que seja. Depois, um pouco mais enfático: não é. Finalmente, como um cristão saltando da cova dos leões, o pastor soou peremptório: não é toma-lá-dá-cá.
O partido do pastor ficou decepcionado com Dilma, ele reconheceu. Mas antes que o telespectador concluísse que não há grande diferença entre os irmãos do PSC e os ímpios de um PR ou de um PTB, o Pastor Everaldo apressou-se em esclarecer: nós ficamos decepcionados pela maneira como foi formado o governo. Hã?
Tomado pelas palavras, o pastor parece enxergar na equipe de Dilma uma legião de pecadores. A composição do governo contrariou os princípios que o PSC defende, ele afirmou. Nós defendemos a vida do ser humano desde a sua concepção, acrescentou. Defendemos a família como está na Constituição brasileira, aditou.
O lero-lero não fazia muito sentido. A audiência ficou sem saber que diabos (ops!) tem a ver o carguinho que Dilma sonegou ao PSC com a cruzada do partido contra o aborto e a favor da família. Mas o pastor esticou a prosa: verificamos que a maneira como foi montado o governo contrariava esses princípios. Daí a decepção. Hã, hã…
William Bonner disse ao entrevistado que o Brasil defendido no programa do PSC é um país que, para ser feito, exigiria inclusive reformas na Constituição. Como um partido que dispõe de bancada nanica —17 deputados e um senador— conseguiria prevalecer no Congresso?
O meu exemplo de governo é o de Itamar Franco, respondeu o Pastor Everaldo. Ouviu-se ao fundo um barulhinho. Era o ruído do Itamar revirando na tumba. Ele assumiu numa situação difícil do país, prosseguiu o candidato. Chamou todas as forças políticas, todos os representantes no Congresso. E apresentou, com transparência, o plano da estabilidade econômica do país. E todos não puderam negar apoio.
Imaginando-se dotado de poderes celestiais, o pastor disse acreditar que, eleito, o Congresso jamais lhe negaria apoio para aprovar medidas que fossem expostas à população com transparência. Hummm… Até o Plano Real, desembrulhado na gestão Itamar sob a luz do Sol, sem o segredo dos fracassados pacotes econômicos anteriores, arrostou a oposição barulhenta do ex-PT. Porém, num hipotético governo do presidente-pastor, o Planalto operaria o milagre do Congresso unânime.
Willian Bonner tentou resgatar o telejornal do universo da ficção: candidato, no mundo real, as concessões que o senhor será obrigado a fazer para realizar as mudanças que planeja vão descaracterizar suas propostas. O senhor sabe disso. Não, o pastor não sabia. Ele parecia decidido a subverter a grade de programação da Globo, antecipando o início da novela Império, de Aguinaldo Silva.
Olha, eu vou fazer um corte na carne, afirmou o Pastor Everaldo. Eu defendo um Estado mínimo, vou reduzir o número de ministérios de 39 para 20. Vou passar para iniciativa privada todas as empresas que hoje são foco de corrupção. Rendido, Bonner deu asas à fantasia: é uma privatização em massa? E o entrevistado alçou voo: privatização, privatização. Tudo o que for possível.
Bonner tomou gosto pela brincadeira: Petrobras, inclusive? Presidenciável de 3%, o pastor enxergou-se na poltrona de presidente da República. Cenho grave, falou como se premiasse o entrevistador com um furo de reportagem: eu vou te antecipar, então, a notícia aqui: vou privatizar a Petrobras. Uma empresa que foi orgulho nacional hoje é foco de corrupção. Tem uma dívida astronômica de mais de R$ 300 bilhões. Então, eu vou privatizar!
Bonner deu corda: o senhor vai privatizar o Banco do Brasil também? O pastor levou o pé ao freio: o Banco do Brasil e a Caixa Econômica representam a segurança do sistema financeiro. Então, não vamos mexer no Banco do Brasil nem Caixa Econômica. Quando se imaginava que o candidato tivesse se dado conta de que também está sujeito à condição humana, ele voltou ao seu estado anormal: tudo o que for possível passar para a iniciativa privada nós vamos passar. A BR Distribuidora, a Infraero…
Patrícia Poeta interveio para lembrar ao entrevistado que as promessas do seu programa de governo não vieram acompanhadas da fonte de recursos. Melhorias na Saúde, na Educação, nos Transportes…, ampliação dos programas sociais, investimentos maciços na PF e nas Forças Armadas. De onde vai tirar o dinheiro?
Pastor Everaldo não se apertou com a matemática: à medida que eu transfiro para a iniciativa privada essas empresas que dão rombo e tiram dinheiro do Tesouro, sobram recursos dos impostos para aplicar na Educação e na Saúde. Bonner convidou o candidato a servir-se do minuto final para discorrer sobre suas prioridades.
Nesse ponto, o Pastor Everaldo converteu a bancada do JN num púlpito de igreja. Minha irmã, meu irmão brasileiro. Eu reafirmo meu compromisso em defesa da vida, do ser humano desde a sua concepção, disse o companheiro do deputado-pastor Marco Feliciano. Eu defendo a família… Nós somos um país democrático e respeito a todas as pessoas, mas casamento, pra mim, é homem e mulher. Sou contra a legalização das drogas.
Da pauta moral, Pastor Everaldo saltou para a agenda antiviolência: vou criar o Ministério da Segurança Pública. Para quê? Hoje, o cidadão de bem está preso dentro de casa e o bandido está solto na rua. Vou inverter essa lógica e botar ordem na casa. Para encerrar, o pastor serviu um bombom tributário: a partir de 1º de janeiro de 2015, todo trabalhador que ganhe até R$ 5 mil por mês estará isento do Imposto de Renda na fonte. Aleluia!
Pastor Everaldo despediu-se com uma frase de efeito: eu defendo mais Brasil e menos Brasília na vida do cidadão brasileiro. Evocou o Todo-Poderoso: Deus abençoe você, Deus abençoe sua família, Deus abençoe o nosso querido Brasil. Falou em Deus com tal convicção que o telespectador ficou tentado a acreditar que Ele realmente não existe. Se existisse, o presidenciável do PSC seria um fenômeno eleitoral, não uma piada.
- Serviço: aqui, a íntegra da entrevista.
DO JOSIASDESOUZA