segunda-feira, 24 de agosto de 2015

“A PRAÇA PÚBLICA É MAIOR QUE AS URNAS” (Ulysses Guimarães) - Maria Lucia Victor Barbosa

Na atualidade a palavra impeachment tornou-se o veredito das multidões que encheram as ruas do Brasil no histórico dia 16 de agosto. Foi o maior julgamento popular de um presidente da República, no caso, da presidente Dilma Rousseff.
O movimento, como os dois anteriores foi espontâneo, consciente, apartidário, ordeiro, pacífico, com objetivo claro e definido: Fora Dilma. Fora Lula. Fora PT. Grandes faixas com a palavra impeachment exibiram a tônica do “plebiscito”, pedindo a saída da governante que quebrou o País e jogou a conta nas costas do povo depois de tê-lo enganado nas eleições com mentiras.
Emblematicamente, em Brasília, o gigantesco balão com a cara de Lula da Silva, vestido de presidiário e com o número dos Irmãos Metralha no peito, indicava que o presidente de fato já não passa de um Pixuleco das falcatruas.
Neste cenário soou falso o discurso do ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Edinho Silva, que do alto do seu pomposo e inútil cargo acusou o povo de intolerante e pediu otimismo. O ministro esqueceu que as pessoas costumam ir aos supermercados onde a realidade da inflação e da queda de renda é inequívoca.
Edinho Silva também mandou recado para a oposição, que nunca existiu, declarando numa linguagem lulesca: “Só esperamos que, quando os interesses são do País, que, em vez de ficarmos cultivando questões partidárias, a gente possa enxergar aquilo que é do interesse nacional”.
Portanto, o ministro pede aos outros o que nunca foi feito por seu partido, o PT e, ao mesmo tempo, não tem noção de um fato básico: Não tem governo que resiste quando a economia vai mal. Tampouco, Edinho Silva leu “O Príncipe”, de Nicolau Maquiavel, onde está escrito: “Os homens esquecem mais facilmente a morte do pai do que a perda do patrimônio”. Mas ler, ainda mais “O Príncipe”, seria pedir demais ao ministro.
Sobre a oposição, que na linguagem petista significa PSDB, o PT pode ficar sossegado. O ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso, sempre foi o maior defensor de Lula e do PT, no que foi seguido por seus correligionários. Aguentou oito anos ouvindo “Fora FHC” e, depois de ter entregado ao recém-eleito presidente Lula um governo sem inflação, seus melhores quadros e políticas sociais que o PT imitou, ouviu por mais 12 anos indo para 13 que sua herança era maldita. E tem mais: em agosto de 1999, Lula da Silva disse: “Renúncia é um gesto de grandeza e FHC não tem essa grandeza”. O pedido de renúncia depois pareceu pouco e o PT passou também a encampar uma campanha pelo impeachment de Fernando Henrique Cardoso. Naquela ocasião não era golpe.
Agora foi dito que FHC unificou o PSDB em torno do pedido de renúncia da Presidente. Um mimo dado a Rousseff, que jamais irá renunciar. E assim, entre impeachment, novas eleições ou cassação de Rousseff, o PSDB aceitou, por enquanto, que pedir a impossível renúncia da presidente é melhor. E se Eduardo Cunha, a única oposição real pedir o impeachment, os tucanos aprovam. Pelo menos é o que é dito agora. Se bem que os tucanos já estão com a bandeja pronta para entregar a cabeça de Cunha depois que o Procurador-geral, Rodrigo Janot, o denunciou.
Enquanto isso, a classe dirigente petista conta com Renan Calheiros para salvar a pele da presidente e, é claro, a sua própria, no tapetão institucional. Também aumentam as performances da presidente diante de públicos selecionados que a aplaudem. E não poderia faltar um contra-ataque dos ditos movimentos sociais sustentados pelo governo e que foram realizados dia 20 deste a favor de Rousseff e, paradoxalmente, contra o ajuste fiscal e a Agenda Brasil.
Os “exércitos” de Stédile, Boulos e da CUT, com exceção de São Paulo onde houve mais gente, nas demais capitais não passaram de grupelhos do pixuleco. Mesmo porque, os manifestantes chapa-branca fazem parte dos 8% que apoiam Rousseff contra os 70,1% da população, uma quantidade descomunal de coxinhas, de conservadores da classe média de direita e, como disse Lula da Silva, de nazistas.
O PT, que também participou do impeachment do ex-presidente Collor, hoje chama de golpistas os que querem se ver livre do pior governo presidencial de nossa história. Isso lembra uma entrevista de Ulysses Guimarães antes da queda de Collor.
Disse o deputado, que a praça pública era maior que as ruas e que Collor não era mais presidente. Teria este se tornado um fantasma, mas um fantasma que provocava inflação, desemprego, queda da bolsa e que devia ser exorcizado. O cidadão havia votado em Collor, mas acordara e estava nas ruas. Na Câmara, se não votassem o impeachment seriam considerados cúmplices.
Agora não temos governo, mas um fantasma que provoca um cortejo de desgraças para o País. Os cidadãos acordaram. É hora do Congresso relembrar que a praça pública é maior que as urnas. Caso contrário, os parlamentares serão cúmplices.DO HORACIOCB

A grande resposta da professora das filhas de Veríssimo ao cachorrinho de madame que virou pitbull de quadrilheiro

Neste 20 de agosto, o jornal gaúcho ZH publicou a crônica em que Luis Fernando Verissimo informa que não vê diferenças entre manifestações de rua contra o governo e matilhas de vira-latas.  No mesmo dia, a leitora Rosália Saraiva, que foi professora das filhas do patriarca dos humoristas estatizados, encaminhou ao blog do jornalista Políbio Braga uma carta endereçada ao pai das ex-alunas. A resposta, merecidíssima, é de envergonhar até quem perdeu a vergonha de vez.
O rosnado de Verissimo nasceu do medo. O fim da era lulopetista pode custar-lhe a liderança que ocupa no ranking dos autores mais didáticos do Ministério da Educação. Esse possível rebaixamento na lista dos escritores federais oferece motivos de sobra — milhões de motivos — para que um cachorrinho de madame vire candidato a pitbull de quadrilha. Talvez sossegue algum tempo depois do troco, reprisado abaixo, que uma valente professora lhe aplicou no fígado. Confira. (AN)
Prezado LF Verissimo:
Na crônica com o título ‘O Vácuo’, comparaste os manifestantes contra o governo aos cachorros vira-latas que, no passado, corriam atrás dos carros, latindo indignados. Dizes que nunca ficou claro o que os cães fariam quando alcançassem um carro, por ser uma raiva sem planejamento. E que os cães de hoje se modernizaram, convenceram-se de seu próprio ridículo, renderam-se ao domínio do automóvel.
Na tua infeliz e triste comparação, os manifestantes de hoje são vira-latas obsoletos sitiando um governo que mais se parece com um Fusca indefeso, que sabem o que NÃO querem – Dilma, Lula, PT – mas não pensaram bem NO QUE querem no seu lugar. Como um velho e obsoleto cachorro vira-lata, quero te latir (não sei se entendes a linguagem de cachorros) algumas coisas:

1. Independentemente das motivações de cada um, tenho certeza de que todos os cachorros na rua correm em busca dos sonhos perdidos, que, em 13 anos, foram sendo atropelados não por um Fusca indefeso, mas por um Land Rover de corrupção, imoralidades, mentiras, alianças políticas espúrias, compras de pessoas, impunidade, incitação à luta de classes, compra de votos com o Bolsa Família , desrespeito e banalização da vida pela falta de segurança e de atendimento digno à saúde, justiça falha, etc, etc.
2. Se os cachorros se modernizaram e pararam de correr atrás do carro, não foi por se convencerem do próprio ridículo. Foi porque não conseguiram nunca alcançar os carros e isso os desmotivou. Falta de planejamento, concordo. Mas os cachorros de agora aprenderam que se correrem juntos, unidos, latindo bastante atrás do carro, cada vez mais e mais, de novo e de novo, chegará uma hora em que o motor vai fundir. Eles vão alcançar o carro. O motorista vai ter que descer do carro e outro assumirá. Pior do que está não vai ficar, embora o conserto vá demorar muito. Não vai ser fácil, mas os vira-latas vão conseguir se organizar, pelo voto. Não pela ditadura.
3. Não é verdade que o latido mais alto entre os cachorros foi o de um chamado Bolsonaro. Acho que estavas na França gozando das delícias de um croissant na beira do Sena (enquanto os vira-latas daqui corriam atrás do osso perdido) e não viste os vídeos das manifestações. Se bem que a TV Globo e o Datafolha também não enxergaram nada. O que mais cresceu na manifestação foi uma certeza, a certeza que vai fazer esse país mudar: com essa Land Rover desgovernada não dá mais. Os cachorros com seus latidos unidos jamais serão vencidos. E sabem que mais dia, menos dia, esse carro vai parar. É assim que começa, pena que eles não acreditem. Não vai ter mais dinheiro pra comprar brioches para o povo. E o número de vira-latas vai aumentar muito. Quem comandará a corrida? Não sei, só sei que prefiro ser um vira-lata à moda antiga do que um vira-lata moderninho que se rende a uma Land Rover.
4. Te enganas quando dizes que os cachorros de antes corriam atrás dos carros porque a luta era outra. Não, a luta é a mesma, o contexto é diferente. Os cachorros não querem um passaporte bolivariano. O vácuo vai ser preenchido, não te preocupes. Por quem for necessário e aceito, desde que não seja pelo exército do Stédile.
5. Em tempo: essa vira-lata que te fala foi professora das tuas filhas no antigo e admirável Instituto de Educação. Lá aprendi que é importante latir não por latir, mas para defender os sonhos possíveis. E tuas filhas devem ter aprendido muita coisa com os meus latidos. Continuo latindo, agora na rua, para derrubar o que acredito ser um mal nesta nação arrasada: a corrupção e, mais do que isso, um governo corrupto, que perdeu totalmente a vergonha. Eles criaram um “vácuo” de imoralidade e de incompetência que vai ser difícil de recuperar. Mas, vamos conseguir!
Atenciosamente, auauau.
ROSÁLIA SARAIVA
DO AUGUSTONUNES-REV VEJA