Ainda
moço, o PT já não tem carne, apenas osso. Ainda assim, encontrou ânimo
para celebrar seu aniversário de 38 anos. Recomenda-se aos convidados
que evitem a bebida servida na festa. Num partido que vai da mocidade à
indignidade, sem um estágio qualquer para chamar de maturidade, a água
já não vira vinho, vira direto vinagre.
O convite anuncia uma
festa “com Gleisi e Lula”. Nem sinal de Dilma. É como se a legenda
tivesse desligado da tomada a “guerreira do povo brasileiro”. Importa
agora denunciar o “golpe da eleição sem Lula”. A pregação
anti-impeachment também virou vinagre.
Em maio de 2014, ao discursar na convenção em que o PT aclamou Dilma como
recandidata ao
Planalto, Lula parecia farejar o que estava por vir. Comparou o PT que
ele fundara em fevereiro de 1980 com o partido que ocupava a Presidência
da República havia 12 anos:
“Nós criamos um partido político foi
para ser diferente de tudo o que existia”, declarou o Lula de 2014.
“Esse partido não nasceu para fazer tudo o que os outros fazem. Esse
partido nasceu para provar que é possível fazer política de forma mais
digna, fazer política com ‘P’ maiúsculo.”
A Lava Jato dava seus primeiros passos. Sem suspeitar que a operação alcançaria o seu calcanhar, Lula foi ao ponto:
“Nós
precisamos recuperar o orgulho que foi a razão da existência desse
partido em momentos muito difíceis, porque a gente às vezes não tinha
panfleto para divulgar uma campanha. Hoje, parece que o dinheiro resolve
tudo. Os candidatos a deputado não têm mais cabo eleitoral gratuito. É
tudo uma máquina de fazer dinheiro, que está fazendo o partido ser um
partido convencional.”
Enquanto Lula discursava, o dinheiro sujo
da Odebrecht entrava na caixa registradora do comitê Dilma-Temer. De.
resto, Lula se absteve de dizer no discurso de 2014 que ele próprio já
havia se tornado “uma máquina de fazer dinheiro.” Moído pela
força-tarefa de Curitiba, o companheiro Palocci cuidou de apresentar
Lula a si mesmo numa carta que enviou ao PT, desfiliando-se da legenda:
“Até
quando vamos fingir acreditar na autoproclamação do ‘homem mais honesto
do país’ enquanto os presentes, os sítios, os apartamentos e até o
prédio do Instituto Lula são atribuídos a dona Marisa?”, indagou Palloci
na carta que endereçou à direção do PT.
Ex-ministro de Lula e
Dilma, Palloci ainda não estava preso em 2014. Mas já havia petistas
atrás das grades: “Precisamos começar a nos preocupar, porque o problema
não são apenas os companheiros que estão presos”, disse Lula na
convenção pró-Dilma. “O problema é que a perseguição é contra o nosso
partido. A perseguição é porque eles não admitem […] que a gente consiga
provar que é possível fazer nesse país o que eles não fizeram durante
tantas décadas.”
Hoje, Lula preocupa-se com sua própria prisão. Se
o Supremo Tribunal Federal não o socorrer, o mandado de captura deve
ser expedido por Sergio Moro até o final de março, quando o TRF-4 dará
por encerrado o julgamento do caso do tríplex do Guarujá na segunda
instância.
Na noite passada, durante um compromisso partidário em Belo Horizonte, Lula
reiterou
que não respeita o veredicto que o condenou a 12 anos e 1 mês de cadeia
(veja abaixo). Antes, contentava-se em apertar o botão do “não sabia”.
Agora, cercado por uma dúzia de processos, aciona a tecla da
“perseguição política” também como autodefesa.
Velho
aos 38, o PT deveria evitar na festa desta quinta-feira o tradicional
“parabéns pra você”. No seu caso, qualquer “parabéns” soaria como
ironia. O pior da velhice petista é o convívio com a amnésia. Dilma
cuida dos netos em Porto Alegre, Palocci faz companhia a Vaccari na
carceragem de Curitiba, Dirceu arrasta uma tornozeleira eletrônica em
Brasília e Lula é um presidiário esperando para acontecer. Mas o PT não
se lembra de nada do que fez no verão passado. Aos 38, o PT já tem idade
para não saber muita coisa. Ao promover uma festa de aniversário, o PT
sinaliza que optou por viver no mundo da Lua.Josias de Souza