PAZ AMOR E VIDA NA TERRA
" De tanto ver triunfar as nulidades,
De tanto ver crescer as injustiças,
De tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus, o homem chega
a desanimar-se da virtude,
a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto".
[Ruy Barbosa]
O ator está na cidade de Arcoverde, no sertão de Pernambuco, para divulgar um filme
“Olha a situação de um ator da Globo” foi a reação de um dos
presentes pouco depois das cinco horas da manhã deste sábado, 24,
instantes depois de o ator Fábio Assunção
ser preso em flagrante na cidade de Arcoverde, no sertão de Pernambuco,
sob acusação de desacato a autoridade, resistência e dano a patrimônio
público.
O ator estava na cidade para divulgar o documentário “Samba de Coco” gravado ao lado da namorada, Pally Siqueira, exibido na sexta-feira na abertura oficial do São João.
Até a manhã deste sábado, Assunção continuava detido e
realizava exame de corpo de delito. O vídeo, abaixo, mostra o ator
gritando de dentro de uma viatura policial com o vidro traseiro
quebrado.
Antes de ser preso, Lucio Funaro teve
uma discussão com Antonio Mariz, seu então advogado e amigo de Michel
Temer. Na ocasião, o doleiro disparou: “Se eu delatar, vou acabar com o
seu chefe”. A ida à PF foi o início.
Mas Funaro ainda não fechou nada com a
PGR. Palavras de um procurador familiarizado com o caso: “Ele é igual ao
Eduardo Cunha. Vai e volta”.
Quem mais incentiva Funaro a delatar é o
ex-senador Luiz Estevão. Eles são colegas inseparáveis nos corredores
da Papuda, onde ambos residem. DO RADAR
O juiz
Sergio Moro irá condenar Lula nos próximos dias a até 22 anos de
cadeia. O roteiro já foi definido. No itinerário do magistrado apenas
uma etapa o separa do anúncio da sentença do ex-presidente petista: a
definição da pena ao intermediário da propina, Antonio Palocci
AREIA MOVEDIÇA Um apartamento na praia levará Lula a ser condenado pela primeira vez por corrupção
(Crédito: MAX G PINTO)
Germano Oliveira
Mais do que nunca, os olhares do mundo político e jurídico
estão voltados para as movimentações do juiz Sergio Fernandes Moro, da
13ª Vara Federal do Paraná. Nos próximos dias, ele anunciará a sentença
que condenará Lula à prisão no caso do tríplex do Guarujá por corrupção
passiva e lavagem de dinheiro.
O ex-presidente é acusado de ter recebido o imóvel da OAS como
contrapartida às benesses que a empreiteira obteve do governo no período
em que o petista esteve no poder. Segundo o Ministério Público Federal
(MPF), o ex-presidente foi beneficiado com pelo menos R$ 87,6 milhões
dados pela OAS, dos quais R$ 3,7 milhões foram usados por Lula no
apartamento de três pavimentos.
Conforme apurou ISTOÉ junto a integrantes da Lava Jato, o petista vai
pegar até 22 anos de cadeia – 10 anos por lavagem de dinheiro e 12 por
corrupção passiva. No cronograma de Sérgio Moro só uma etapa o separa do
anúncio da condenação de Lula: a definição da pena a ser aplicada ao
ex-ministro Antonio Palocci, hoje preso.
A defesa de Lula está tão perdida nesse processo quanto o próprio
cliente. Sem argumentos sólidos para defendê-lo, os advogados do petista
apelam para o jogo sujo e chicanas jurídicas.
Chegaram ao desplante de afirmar que os procuradores usariam, na
acusação a Lula, a mesma teoria aplicada por Hitler em seu primeiro
discurso como chanceler da Alemanha na qual o ditador nazista defendeu a
“elasticidade dos veredictos”.
Ou seja, que a posição dos procuradores seria manifestamente
contrária às provas dos autos. Uma excrescência. Ao contrário do que
alardeiam os advogados do petista, o MPF dispõe de farta documentação e
depoimentos que demonstram que o ex-presidente ocultou a propriedade.
Nas alegações finais enviadas ao juiz Moro, na última semana, o dono
da OAS, Léo Pinheiro, atestou que o imóvel era mesmo de Lula.“O tríplex
nunca foi posto à venda e as reformas foram executadas seguindo
orientações dos reais proprietários do imóvel, o ex-presidente Lula e
sua esposa.
O projeto de reforma foi aprovado na residência do ex-presidente”,
escreve o advogado de Pinheiro, José Luiz Oliveira Lima. O advogado
esclarece na defesa da OAS que o tríplex, “bem mais caro do que o
apartamento que Lula tinha no local”, não saiu de graça. “Os gastos
feitos eram contabilizados e descontados da propina devida pela empresa
ao PT em obras da Petrobras. Tudo com a anuência de seu líder partidário
(Lula)”, afirmou.
Apesar de todas as evidências de que cometeu vários crimes, Lula,
como todo acusado que cai nas garras da Justiça, insiste em alegar
inocência. Em entrevista a Rádio Tupi do Rio na manhã da última
terça-feira 20, o ex-presidente classificou de “piada” a peça acusatória
dos procuradores da Lava Jato. “Espero que o Moro leia os autos e
anuncie para o Brasil a minha inocência. Eu já provei que sou inocente.
Quero que eles agora provem minha culpa”, acrescentou.
Em nota oficial, os procuradores do MPF foram contundentes ao rebater
Lula. “A defesa do ex-presidente está usando recursos eticamente
duvidosos para atacar. Quer transformar um julgamento de crimes por
corrupção em julgamento político”, dizem os procuradores do MPF. Eles
reiteraram que, “apesar de todas as dificuldades para superar a
impunidade, todo esse processo pode restabelecer a crença de que é
possível termos um País onde todos sejam efetivamente iguais perante a
lei”.
O imóvel efetivamente não se encontra no nome do ex-presidente, mas a
corrupção está fartamente provada, já que as benfeitorias no imóvel
aconteceram e constituíram uma contrapartida ao tráfico de influência
exercido pelo petista em favor da OAS.
Mesmo assim, a ideia era de que o apartamento fosse transferido mais
tarde para Lula. Segundo Léo Pinheiro, a transferência fazia parte do
acordo firmado com Paulo Okamotto, diretor do Instituto Lula e braço
direito do ex-presidente. A eclosão do escândalo, no entanto, alterou os
planos.
Na última semana, o advogado de Lula, Cristiano Martins Zanin,
mostrou que a defesa do petista veio para confundir, não para explicar,
como versava a famosa frase de Abelardo Barbosa, o Chacrinha. Segundo
ele, o imóvel havia sido transferido pela OAS para um fundo imobiliário
da Caixa. O blefe se transformou num tiro no pé.
De pronto, a Caixa esclareceu que o imóvel jamais lhe pertenceu. “Ele
foi dado pela OAS como garantia de uma operação de debêntures com
financiamento da Caixa, mas o imóvel continua sendo da empreiteira”,
afirmou a Caixa. O próprio dono da construtora, Léo Pinheiro, garantiu
em depoimento ao juiz Sergio Moro que o tríplex estava destinado a Lula e
sua família desde o início de 2010, ano em que a empreiteira assumiu as
obras de construção do Edifício Solaris, antes pertencente à
Cooperativa dos Bancários de São Paulo (Bancoop). Pinheiro fez questão
de deixar claro que a OAS só aceitou assumir as obras do Solaris porque
soube, por meio de João Vaccari, ex-tesoureiro do PT, que o então
presidente Lula tinha imóvel no local.
Outras importantes testemunhas corroboraram a versão de Léo Pinheiro.
Entre elas, o ex-zelador José Afonso. Segundo ele, Lula esteve duas
vezes no imóvel, uma das quais acompanhado pelo dono da OAS. E agiu como
dono do apartamento, não como alguém que desejava visitá-lo na condição
de futuro comprador.
À ISTOÉ, o zelador chegou a dizer que testemunhou em 2014 a
ex-primeira-dama Marisa Letícia, mulher de Lula falecida em fevereiro,
pedir a engenheiros da OAS que construíssem o elevador privativo. “Como é
que alguém, que não é dono, pede a construção de um elevador?”,
questionou Afonso. O envolvimento de Lula nas práticas de corrupção
tisnou sua imagem perante a sociedade.
Em levantamento feito pelo Instituto Paraná Pesquisas no Distrito
Federal, 87,1% dos entrevistados garantiram que não votarão em
candidatos citados na Lava Jato. Na pesquisa, Lula é considerado “o mais
nocivo para o Brasil” para 37% das pessoas pesquisadas.
O ex-presidente foi denunciado em setembro de 2016 pelo MPF. No mesmo
mês, Sergio Moro aceitou a acusação, transformando-o em réu pela quinta
vez, afirmando que, dos R$ 3,7 milhões doados pela OAS ao
ex-presidente, R$ 2,2 milhões constituíram vantagens oferecidas a ele
por meio do apartamento 164-A do Edifício Solaris, no Guarujá.
Nesse valor, estão incluídas as reformas feitas no imóvel de 300
metros quadrados, que passou a contar com um elevador privativo, cozinha
completa e área de lazer com piscina. Na denúncia formulada pelo MPF,
Lula é considerado “o comandante da corrupção” na Petrobras. Ou seja, o
chefão da quadrilha. “Lula dominava toda a empreitada criminosa, com
plenos poderes para decidir sobre sua prática, interrupção e
circunstâncias. Nos ajustes entre diversos agentes públicos e políticos,
marcados pelo poder hierarquizado, Lula ocupava o cargo público mais
elevado (…) Os atos de Lula, quando analisados em conjunto, e em seu
contexto, revelam uma ação coordenada por ele, desde o início, com a
nomeação de agentes públicos, comprometidos com o desvio de recursos
públicos para agentes e agremiações políticas, até a produção do
resultado, isto é, a efetiva corrupção (…) Lula é um dos principais
articuladores do esquema de corrupção que defraudou contratos da
Petrobras”, diz a denúncia assinada por 13 procuradores, incluindo
Deltan Dallagnol, que menciona Lula como um dos políticos que usou
recursos da Petrobras para enriquecimento ilícito.
O mais nocivo
Além da sentença de Moro no processo do tríplex, novos revezes se
descortinam no horizonte de Lula. Para convencer o MPF a aceitar um
acordo de delação premiada, o ex-governador do Rio Sérgio Cabral promete
envolver o petista em mais uma falcatrua.
Entre as histórias que Cabral se dispôs a contar está uma reunião,
realizada em 2009 com a presença de Lula, em que o ex-presidente teria
autorizado o empresário Arthur César Soares de Menezes a pagar propina a
integrantes do Comitê Olímpico Internacional em troca da escolha do Rio
de Janeiro como cidade sede das Olimpíadas de 2016. Em março, o jornal
francês Le Monde já havia abordado o assunto.
De acordo com a publicação, o Ministério Público da França descobriu
que Arthur César Soares pagou US$ 1,5 milhão ao presidente da Associação
Internacional de Federações de Atletismo, Lamine Diack, três dias antes
da votação que confirmou o Rio como sede dos Jogos.
Incapaz de se reinventar, o petista insiste no surrado discurso da
vitimização. “Já provei minha inocência. Agora quero que provem a minha
culpa. Mexeram com a pessoa errada”, disse em tom de ameaça, tal qual um
capo mafioso. Não cola mais. Apesar de as investigações da Lava Jato
atestarem que toda a política nacional está corrompida, resta evidente
que a corrupção institucionalizada na era petista no poder não foi mera
continuidade de um sistema corrupto, como adora alegar setores da
esquerda. Sem dúvida, existe um “antes e depois de Lula”.
Não que a corrupção não existisse, por óbvio. Mas, sob o petista, a
bandalheira foi transformada em política de Estado. É como se o Estado
tivesse sido posto à venda. No governo dele e de sua sucessora, o
pentarréu valeu-se do discurso histórico de esquerda, qual seja, de
intensificação da intervenção do Estado na economia para angariar novas
oportunidades de negócio à cúpula petista.
O caso da exploração do pré-sal é emblemático. Por trás daquilo que
era apresentado como defesa do interesse nacional estava uma intencional
e bem articulada ampliação do Estado como balcão de negócios. A serviço
de um partido e de interesses particulares, como foi o caso do tríplex.
A realidade exposta pelos depoimentos colhidos por Moro é pródiga em
demonstrar que o mito do herói, cultivado pelo PT nos últimos quarenta
anos, serve melhor à literatura farsesca do que à política. Lula exerceu
papel determinante na construção da pior crise política, econômica e
moral da história recente do Brasil. Se ainda pairam dúvidas sobre qual
caminho o País deverá seguir em 2018, o lulopetismo já apresentou
abundantes motivos para o brasileiro saber qual trilha deve ser evitada.
Num artigo escrito, em 2004, para a Revista Jurídica do Centro de
Estudos Judiciários sobre a Operação Mãos Limpas ocorrida na Itália nos
anos 1990, o juiz Sérgio Moro a descreveu como “uma das mais
impressionantes cruzadas judiciárias contra a corrupção política e
administrativa”. E acrescentou: “se encontram presentes várias condições
institucionais necessárias para a realização de ação semelhante no
Brasil”. Estava certo o magistrado. E a condenação de Lula, a ser
confirmada também pela segunda instância, será o seu apogeu, sem a qual a
Lava Jato não terá feito qualquer sentido. Mãos limpas
No mesmo artigo, Moro analisou o caso de Bettino Craxi, líder do Partido
Socialista Italiano (PSI), primeiro socialista chefe de um governo na
Itália (1983-1987) e um dos principais alvos da Operação Mãos Limpas.
Moro sublinhou que Craxi, àquela altura já alvo de investigações e
depois de refutar várias vezes o seu envolvimento, reconheceu
despudorada e cinicamente, sem corar a face, o cometimento das práticas
ilícitas em célebre discurso no Parlamento italiano, em 3 de julho de
1992, servindo-se de argumentos muito semelhantes aos utilizados pelo PT
e por Lula: “Casos de corrupção e extorsão floresceram e tornaram-se
interligados. O que é necessário dizer e que todo mundo sabe é que a
maior parte do financiamento da política é irregular ou ilegal. Os
partidos e aqueles que dependem da máquina partidária, de jornais, de
propaganda, atividades associativas ou promocionais têm recorrido a
recursos irregulares”.
As coincidências não param por aí. Em dezembro de 1992, Craxi
receberia um documento de dezoito páginas no qual era acusado de
corrupção, extorsão e violação da lei de financiamento de campanhas. A
base da acusação era a delação premiada de Salvatore Ligresti, amigo
pessoal de Craxi preso em julho de 1992.
Dizia ele que o grupo empresarial de sua propriedade teria pago cerca
de US$ 500 mil desde 1985 ao Partido Socialista Italiano em troca de
favores. Em janeiro de 1993, chegou à residência do político o segundo
aviso com acusações de que a propina teria beneficiado não apenas o PSI,
como também a ele próprio. Um mês depois, Craxi renunciou ao posto de
líder do partido.
Transformado em símbolo do que havia de pior na política italiana,
Craxi chegou a ser alvo de uma chuva de moedas ao andar pelas ruas de
Milão. Ao condenar Lula, Sergio Moro terá alcançado, ironicamente 13
anos depois de ter escrito o artigo, a versão tupiniquim do corrupto
italiano Bettino Craxi. Uma relação tão delicada
A JBS, que no início chamava-se apenas Friboi, transformou-se na
maior produtora de proteína animal do mundo graças ao governo Lula, que
deu mais de R$ 10 bilhões em empréstimos do BNDES com juros de pai para
filho ao grupo de Joesley Batista. Com essas mamatas todas, a JBS deu um
salto de 3.600% no faturamento durante o governo petista. Em 2006
faturava R$ 4,7 bilhões e em 2016 passou para R$ 170,4 bilhões. Apesar
de Lula turbinar os negócios do amigo Joesley, o empresário vem tentando
se esquivar desse relacionamento mais do que próximo. A amizade era
tanta que houve boatos de que ele era sócio de um dos filhos de Lula.
Em entrevista à Época, na última semana, o empresário disse ter se
encontrado com Lula apenas duas vezes para conversas “republicanas”: em
2006 e 2013.
Mentiu. Afinal, no depoimento da delação premiada que o próprio dono
da JBS concedeu aos procuradores do Ministério Público Federal (MPF) em
Brasília, em março último, Joesley relatou diversas outras conversas com
Lula.
Um desses encontros, segundo Joesley, aconteceu em outubro de 2014 na
sede do Instituto Lula, quando o empresário alertou o ex-presidente de
que a JBS já havia doado R$ 300 milhões à campanha do PT , o que ele
considerava “perigoso”, caso viesse a conhecimento público. “Lula me
fixou nos olhos, mas não disse nada”, afirmou Joesley aos procuradores.
Os encontros dos dois, portanto, eram constantes. Os dois se falavam com
frequência por telefone também.
Coube ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) desmentir Joesley. Em
carta escrita de próprio punho da cadeia de São José dos Pinhais, onde
está preso desde o final do ano passado, Cunha disse que o dono da JBS
faltou com a verdade. “No dia 26 de março de 2016, sábado de aleluia
(véspera da Páscoa), houve um encontro entre eu, ele e Lula, a pedido do
Lula, para discutir o impeachment de Dilma”, diz Cunha na carta. Nessa
reunião, acrescentou Cunha, realizada na casa do empresário, “pude
constatar que a relação de Lula e Joesley era de constantes encontros”. O
ex-deputado afirmou que pode provar o que está falando por meio de
recibos do aluguel dos carros que utilizou em São Paulo para ir à casa
de Joesley encontrar o ex-presidente petista.
A CARTA Eduardo Cunha diz, em mensagem escrita na prisão, que os encontros de Lula e Joesley eram constantes DA ISTOÉ
A conclusão da Polícia Federal de que não houve edição
no áudio da conversa do delator Joesley Batista com Michel Temer foi o
segundo revés sofrido pelo presidente em menos de 24 horas. O primeiro
revertério ocorrera na véspera, quando se formou no plenário do Supremo
Tribunal Federal maioria a favor da preservação do acordo de delação dos
executivos da JBS. O questionamento do áudio e dos termos da
colaboração judicial são dois pilares da defesa de Temer, comandada pelo
criminalista Antonio Mariz de Oliveira.
Contratado pelo
escritório de Mariz, o perito Ricardo Molina dissera no mês passado que o
áudio estava ''contaminado por inúmeras descontinuidades'', com
diversos pontos ''inaudíveis''. Apontara ''possível edição'' da
conversa, o que seria ''suficiente'' para ''jogar a gravação no lixo''. O
laudo da PF, que servirá de matéria-prima para a Procuradoria-Geral da
República incriminar Temer, concluiu o oposto: não há edição.
As
“descontinuidades” verificadas na gravação são atribuídas pela Polícia
Federal ao tipo de equipamento utilizado por Joesley para gravar o
presidente da República. O microfone funciona automaticamente. A emissão
de som o aciona. O silêncio o desativa. Daí as interrupções.
A
situação da defesa já era complicada, pois o próprio Temer confirmara em
entrevistas e manifestações públicas o teor de trechos relevantes do
áudio. Suas palavras roçaram a autoincriminação. Resta agora aos
advogados do presidente, além de questionar a perícia da PF, acionar o Plano B. Consiste em requerer a anulação da prova. Planeja-se alegar que: 1)
Joesley teria protagonizado um ato ilegal —uma emboscada contra Temer,
urdida e orientada pelos investigadores do Ministério Público Federal. 2)
A prova seria ilegal porque gravações captadas à revelia do
interlocutor só poderiam ser usadas em defesa própria, não para
incriminar terceiros.
É improvável que a alegação de ilegalidade
do áudio prospere. Costuma prevalecer no Supremo o entendimento segundo o
qual uma pessoa que revela conversa da qual participou não comete
crime. Está apenas utilizando algo que lhe pertence. Por esse
raciocínio, a gravação feita por Joesley seria lícita.
Noutra
frente, a defesa de Temer não desistiu de questionar no Supremo a
validade do delação dos executivos do Grupo JBS. Embora já exista no
plenário da Suprema Corte uma maioria favorável à preservação do acordo
de colaboração judidial, os advogados sustentam que a imunidade penal
concedida pela Procuradoria aos delatores corresponderia, na prática, à
impunidade de criminosos confessos.
De novo, embora o acordo seja
muito criticado, a tese dificilmente emplacará. Está entendido que a lei
permite à Procuradoria conceder a imunidade penal desde que o delator
não seja chefe de quadrilha. Considera-se que a simples presença dos
três últimos presidentes da República no escândalo da JBS faz de Joesley
Batista e dos outros colaboradores personagens coadjuvantes do enredo
criminoso. Além de Temer, foram delatados como beneficiários de verbas
sujas Lula e Dilma Rousseff.
Não é à toa que Temer se equipa para
derrubar no plenário da Câmara as denúncias que o procurador-geral da
República Rodrigo Janot fará contra ele. Até aqui, foi infrutífero o
esforço da equipe de advogados de Temer para afastar evidências por meio
de tecnicalidades. Se os deputados autorizassem a abertura de ação
penal contra o presidente, seus defensores provavelmente teriam de
enfrentar o mérito das acusações.
Em
setembro de 2015, quando começou a se insinuar como candidato ao trono,
o então “vice-presidente decorativo” Michel Temer declarou: ''Ninguém
vai resistir três anos e meio com esse índice baixo'' de 7% ou 8% de
popularidade. Nessa época, o Datafolha atribuía a Dilma Rousseff uma
taxa de aprovação de 8%. Agora, é o próprio Temer quem se encontra rente
ao chão, com insignificantes 7%.
Quer dizer: tomado por seus autocritérios, Temer tornou-se um candidato
a Dilma. Com a Presidência pendurada no nada por um fiapo, flerta com a
queda. Sua sorte é não ter um vice.
A poucos dias de ser
denunciado por corrpução no Supremo Tribunal Federal, Temer atingiu um
patamar de sub-Dilma. Às vésperas de sofrer o impeachment, madame
colecionada índices menos vexatórios. Em abril de 2016, a pupila de Lula
amealhava 13% de aprovação e 63% de reprovação. A gestão de Temer é
considerada ruim ou péssima por 69% do eleitorado. Se dependesse da
vontade do brasileiro, Temer já seria um ex-presidente. Dois em cada
três brasileiros querem vê-lo pelas costas.
Para 76% dos entrevistados, o melhor caminho seria a renúncia. Se a
ficha de Temer não cair, 81% apontam o impeachment como alternativa.
O
que dava à Presidência de Temer uma aparência de utilidade era sua
agenda econômica. O governo havia parado de cavar o buraco em que Dilma
enfiara a economia nacional. O presidente guerreava por suas reformas no
Congresso. Os indicadores de inflação e câmbio melhoraram. O PIB chegou
mesmo a dar sinal de vida. Mas a lógica do utilitarismo econômico
entrou em parafuso depois que Temer foi engolfado pelo escândalo JBS.
Reformas como a da Previdência subiram no telhado. A agenda do Planalto
está dedicada à polícia, não à política. Temer tem duas prioridades
novas: fingir que preside e não cair.
Até bem pouco, Temer
dividia-se nas entrevistas entre a defesa de suas reformas impopulares e
o mantra que elaborou para justificar o convívio com os ministros
lançados no lixão da Lava Jato. Investigação não é denúncia, argumentava
Temer, em defesa da manutenção dos ministros encrencados em seus
cargos. Denúncia tampouco é ação penal. Portanto, dizia Temer, auxiliar
denunciado seria, no máximo, licenciado. Demissão? Só depois que o
ministros virarem réus.
Pois bem. No início da semana, Temer será
denunciado pela Procuradoria-Geral da República pelo crime de corrupção
passiva. E só não será convertido em réu pelo Supremo se a Câmara
enterrar a denúncia. Se for salvo pelos deputados, Temer sofrerá nova
denúncia, sob a acusação de obstruir a Justiça. Na hipótese de ser
socorrido novamente pelos aliados da Câmara, uma terceira denúncia o
acusará de formação de organização criminosa.
A pergunta que está
boiando na atmosfera seca de Brasília é a seguinte: com as urnas de 2018
a espreitá-los na virada da esquina, quanto tempo os deputados
demorarão para perceber que o resgate de Temer pode significar um
suicídio político? Sem apoio popular, Temer costuma se vangloriar da
natureza semiparlamentar do seu governo. O diabo é que seus aliados
podem passar a apoiar o Temer de setembro de 2015. Aquele que achava que
''ninguém vai resistir com esse índice baixo'' de 7%.
Se a
oligarquia política e empresarial do país já tivesse chegado a um
consenso quanto ao nome de um substituto para o presidente, Temer
deixaria de ser cumprimentado. Ninguém lhe daria nem ''bom dia'', que
dirá apoio.
Índice dos que consideram o governo regular fica em 23%. Instituto ouviu 2.771 pessoas nos últimos dias 21 e 23 de junho.
Avaliação do governo Temer
Veja resultados da pesquisa Datafolha, em %
Fonte: Fonte: Datafolha
Pesquisa do instituto Datafolha divulgada neste sábado (24) pelo jornal
"Folha de S.Paulo" mostra os seguintes percentuais de avaliação do
governo do presidente da República, Michel Temer (PMDB):
Ruim/péssimo: 69%
Regular: 23%
Ótimo/bom: 7%
Não sabe: 2%
O Datafolha ouviu 2.771 pessoas nos dias 21 e 23 de junho de 2017. A
margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou
para menos.
Em abril, a pesquisa anterior do Datafolha
sobre a aprovação do governo Temer apontou que 9% o consideravam bom ou
ótimo; 61% o consideravam ruim ou péssimo; e 28% avaliavam o governo
como regular.DO G1