Reportagem
exclusiva da revista Veja que chega às bancas neste sábado retoma de
certa forma a sequência de excelentes reportagens políticas depois do
repentino voo rasante cometido pelo nefasto passaralho sobre a redação.
Nem é preciso assinalar isto, afinal os leitores mais atilados e fiéis
assinantes da publicação já haviam voado no sentido contrário do
passaralho rumo a outras plagas editoriais.
Seja
como for, remediar é alternativa para publicações impressas que sofrem
um devastador efeito corrosivo da internet, sobretudo das redes sociais,
sites e blogs independentes. Mais à frente esses grandes veículos de
mídia em nível nacional e internacional terão de ajustar-se à exigentes
demandas dos leitores. A primeira providência será depurar as redações
purgando-as do nefasto controle do jornalismo ideológico que reinou
folgado até que a internet se consolidasse.
Retomando
o mote deste post, trago para os leitores um resumo da reportagem-bomba
de Veja desta semana cuja capa conforme ilustração acima, revela que o
ex-todo-poderoso Renan Calheiros, o presidente do Senado, poderá se
encontrar em Curitiba com Antonio Palocci e, quem sabe, até lá, com Lula
da Silva, dentre outras figuras do finado "Partido dos Trabalhadores".
Deve-se
colocar o nome completo do PT entre aspas, porque, convenhamos, a
designação tão honrosa de "trabalhadores" soa agora, depois de tudo o
que veio à luz pela Lava Jato, como um sacrilégio, uma ofensa grave a
todos os brasileiros que ralam no dia a dia, que estudam, que trabalham
duro para garantir o pão de cada dia de suas famílias.
Dito isto, transcrevo um aperitivo da reportagem de capa de Veja revelando que Renan Calheiros pode ser a bola da vez. Leiam:
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Parente, numa pescaria: intermediários e locais de entrega. Fotos: Veja by Andressa Anholete/AFP
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PEIXÕES GRAÚDOS
Em
sua caçada montante, a Operação Lava-Jato nunca esteve tão perto de
capturar o terceiro homem na linha de sucessão da República: o senador
Renan Calheiros, do PMDB de Alagoas, que preside o Senado Federal. VEJA
teve acesso a um despacho sigiloso do ministro Teori Zavascki, cuja
leitura traz quatro revelações:
• O
homem da mala do PMDB, o empresário e advogado Felipe Rocha Parente,
fez um acordo de delação premiada e apresentou cinco anexos, como são
chamados os itens que compõem a lista do que o delator pretende
detalhar.
•
Em um dos cinco anexos, Parente conta que entregava propinas para a
cúpula do PMDB. Eram fruto de dinheiro desviado da Transpetro,
subsidiária da Petrobras.
•
Entre os beneficiários das propinas saídas da Transpetro, estão Renan
Calheiros e seu colega de Senado Jader Barbalho, do PMDB do Pará.
• O anexo de Parente ainda precisa ser comprovado no curso da delação, mas já foi confirmado por pelo menos três delatores.
As
revelações do despacho de Teori jogam luz sobre um dos momentos mais
barulhentos da Lava-Jato, ocorrido entre maio e junho passado. Nessa
ocasião, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de uma só
tacada, pediu ao Supremo Tribunal Federal que decretasse a prisão de
Renan Calheiros, do senador e então ministro do Planejamento Romero Jucá
e do ex-presidente da República José Sarney. Os três peixões graúdos do
PMDB haviam sido gravados por Sérgio Machado, que comandou a Transpetro
durante doze anos por indicação da cúpula peemedebista. Machado
negociava um acordo de delação premiada e tentava reunir evidências que
sustentassem a estrondosa revelação que faria tão logo assinasse o
acordo: como foram distribuídas propinas de 100 milhões de reais ao
partido que hoje governa o país.
As
prisões pedidas por Janot foram rejeitadas pelo Supremo, mas, em
segredo, os investigadores fecharam um acordo de colaboração com Felipe
Parente, o entregador de propinas. Do seu depoimento, surgiram os laços
que comprometem o PMDB com a Transpetro. O lado visível desses laços já
era conhecido. Renan Calheiros era um dos principais fiadores da
permanência de Sérgio Machado no comando da Transpetro. O lado invisível
apareceu com a delação do próprio Sérgio Machado, que contou que Renan
era bem remunerado pela fiança. No início do esquema, recebia um
porcentual sobre cada contrato assinado com a estatal. Depois, optou por
um mensalão de 300 000 reais, que eram repassados pelo próprio Sérgio
Machado, segundo ele mesmo. Em anos eleitorais, o numerário se
multiplicava. De 2004 a 2014, Renan embolsou 32 milhões de reais, ainda
segundo Machado. Desse total, pelos cálculos do delator, empreiteiras do
petrolão simularam ter doado 8 milhões de reais ao diretório nacional
do PMDB. Os outros 24 milhões foram entregues em dinheiro vivo. É nessa
etapa — na entrega em dinheiro vivo — que entra Felipe Parente. Ao menos
até 2007, era ele quem fazia entregas a Renan, conforme contou Sérgio
Machado.
Em
seus depoimentos, mantidos em sigilo, Felipe Parente confirmou ter
distribuído propina da Transpetro a pedido de Sérgio Machado. Citou
nomes, lugares e circunstâncias em que o dinheiro foi entregue. Para
oferecer provas concretas, deu informações sobre hotéis onde se hospedou
para finalizar o trabalho. Contou que, numa ocasião, foi orientado a
deixar a “encomenda” destinada ao senador Jader Barbalho com uma tal de
“Iara”. Os investigadores chegaram a Iara Jonas, senhora de pouco mais
de 60 anos, assessora de confiança de Jader Barbalho. Lotada no gabinete
do senador, com salário de quase 20 000 reais, ela trabalha para a
família Barbalho há 22 anos. Apresentado à fotografia de Iara, Parente
reconheceu-a como a destinatária do dinheiro. Do site da revista Veja - DO A.AMORIM