segunda-feira, 22 de abril de 2019
Essas coisas me deixam envergonhado como jornalista. Quando a gente
esquece que já acabou a eleição – e que a gente entrou fazendo campanha
contra, apresentando Bolsonaro como um ogro. Coluna diária de Alexandre
Garcia, via Gazeta do Povo:
Eu vi as imagens de uma menina, em um grupo de alunos, recusar o
cumprimento do presidente Bolsonaro. Era o que a notícia dizia, mas
depois eu vi a mesma imagem com o áudio, aí a gente ouvia o presidente
perguntando e fazendo gesto com a mão apontando para as crianças: “Você é
Palmeiras? Você é Palmeiras? Você é Palmeiras?”.
Aí ele apontou para a menina, estendeu o braço apontando para ela
perguntando: “Você é Palmeiras?” e a menina fez não com a cabeça. Isso
acabou sendo notícia muito divulgada – “criança recusa cumprimento”.
Fizeram até pesquisa para mostrar que uma vez uma criança também
estava de braço cruzado com o presidente Figueiredo. E não era nada
disso: era pura fake news.
Essas coisas me deixam envergonhado como jornalista. Quando a gente
esquece que já acabou a eleição – e que a gente entrou fazendo campanha
contra, apresentando Bolsonaro como um ogro. E agora a criança está
recusando cumprimentá-lo. A gente não aceita que nós fizemos campanha
contra ele e fomos derrotados. Nas redes sociais esses desmentidos vêm
logo.
Democracia via redes sociais
Nunca o indivíduo teve tanta força política como hoje, graças às
redes sociais. Ainda que elas tenham seus defeitos e seus vícios – mas a
democracia também tem defeitos e vícios.
Parece que a democracia está sendo mais bem exercida pelas redes
sociais, porque o indivíduo pode ter sua página, seu site, seu canal, o
seu WhatsApp e se comunica direto com seu vereador, seu deputado, com
seu senador, seu prefeito, seu governador e seu presidente. Reclama e
critica.
Aí vão dizer o que? Que as instituições não estão funcionando? Se não
estiverem funcionando não é culpa da rede social, não – é culpa de quem
está operando essas instituições: Legislativo, Judiciário e Executivo
se desentendendo. É isso que a gente tem que considerar.
Percival Puggina, que é um colunista muito bom, identificou que nunca
na história se exerceu a democracia de forma tão próxima, tão corpo a
corpo, graças ao mundo digital.
E o Tiradentes?
Aliás é bom a gente considerar outra coisa: o que o Brasil está
fazendo para se aproveitar do mundo digital além de fofoca em rede
social. Porque Estados Unidos e China estão tratando de biotecnologia,
biociência, robótica, biomedicina e inteligência artificial.
O mundo hoje é movido pelo conhecimento, quem tem conhecimento tem
poder. Aí eu fico me perguntando: e nós? Onde é que nós estamos? Nós
estamos fazendo alguma coisa? Nossa produtividade está lá embaixo; a
política é movida a vaidades; as elites estatais dos poderes de estados
ficam se segurando para não perder privilégios, como a reforma da
Previdência pretende tirar; há a burocracia e os impostos que trancam
tudo.
Vejam só, a gente acaba de comemorar o Tiradentes. Ele fez o quê? O
que desencadeou a Inconfidência Mineira? Foi cobrar um quinto sobre o
ouro que saía daqui, que é 20%. Hoje a carga tributária é quase o dobro
disso. São coisas que vão trancando o país, trancando o emprego, o
investimento, o progresso.
O que o Brasil precisa é de conhecimento. Eu vou repetir isso aqui sempre.
As tais 11 varas
O Supremo neste momento está metido em uma camisa de 11 varas. Eu
pensei que o pessoal conhecesse a expressão, mas já que muita gente não
conhece eu vou explicar: camisa de 11 varas era uma medida de um pano em
que se enrolavam condenados. Vara era uma medida inglesa usada no
Brasil colonial.
O Supremo está metido nessa camisa de força. Como é que vai sair
dessa? Inventou um inquérito em que o próprio queixoso é quem investiga,
denuncia, julga e multa. Ou seja, é quem aplica a lei, é o carrasco. É
um negócio absurdo com base no regimento interno do Supremo.
Agora os grandes juristas estão mostrando que o sujeito de um
inquérito é o Ministério Público. Se o Ministério Público não tomou a
iniciativa não existe inquérito. O Supremo vai ter que engolir isso. Foi
o próprio presidente do Supremo quem detonou essa história.
Na Ucrânia e aqui, rir é melhor
Para encerrar, eu queria registrar que um país da importância da
Ucrânia elegeu presidente um comediante de 41 anos, com mais de 70% dos
votos. É um senhor feito. Eu fico pensando aqui no Brasil no Danilo
Gentili, com quem eu vou estar na noite desta segunda-feira (22), no
programa The Noite do SBT.
Esse vencedor da eleição é ator de cinema, teatro e televisão. Eu já
vi muita gente chegar a cargos eletivos por essa mesma via. Aí eu me
reporto ao teatro da Roma Antiga que tinha um lema: ridendo castigat
mores. Fazendo uma tradução livre, seria: é rindo que a gente critica o
poder. DO O.TAMBOSI