por Políbio Braga
Ou o governador Tarso Genro finge muito bem ou ele, de fato, não sabia que um envolvido com o escândalo do Mensalão havia sido nomeado para ocupar cargo de chefia em seu governo.
Nesta quarta, ele disse que “se isso ocorreu, foi um erro”.
“Isso” a que se referiu Tarso, foi a nomeação do petista Marcos Fernando Trindade para a Secretaria de Habitação e Saneamento, em fevereiro. Além do salário, ele recebia uma gratificação de 40%.
Trindade já foi exonerado.
O governador Tarso Genro sabia muito bem o que estava fazendo ao nomear o engenheiro Trindade. No ano passado, o governador premiou outro personagem do Mensalinho, no caso o advogado Jorge Garcia. O advogado Jorge Garcia ficou famoso ao protagonizar a libertação de Marcos Trindade, o "mula" usado pelo Valerioduto, preso em São Paulo com R$ 150 mil na cueca, que trazia para o PT do RS. Era dinheiro sujo, parte de R$ 1 milhão que o mensaleiro Marcos Valério mandou para pagar as contas da campanha eleitoral do Partido no RS. Em 2002, Tarso Genro perdeu para Germano Rigotto. Em 2006, em Porto Alegre, como consequência das malfeitorias do Mensalão, foram punidos na Justiça o presidente do PT, Davi Stival, mais o tesoureiro, Marcelino Pies, e o "mula", Trindade. Foram as únicas condenações ocorridas no âmbito do Mensalão. Davi Stival, que tinha prometido cortar o próprio pescoço, caso fosse comprovado o uso do dinheiro sujo, continua com suas vértebras intactas.
Veja, abaixo, como "O crime compensa". A matéria denuncia diretamente Tarso Genro.
É reportagem de Veja, 17 de maio de 2006.
O crime compensou
A primeira punição do caso mensalão é convertida em multa – e dividida em cinco suaves prestações
Alexandre Oltramari
Fotos Roosewelt Pinheiro/ABR e Renato Dos Anjos
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Tarso Genro, as cestas básicas e o valerioduto:
as dívidas da campanha do ministro foram pagas com dinheiro ilegal |
Às vésperas do primeiro aniversário do mensalão, surgiu enfim a primeira punição judicial do caso. Três dirigentes do PT no Rio Grande do Sul, com o objetivo de se livrar do processo e deixar de correr o risco de parar no xilindró, fizeram um acordo com a Justiça: aceitaram doar cestas básicas a uma instituição de caridade em Porto Alegre. A quantidade de cestas básicas é que chama atenção: uma por mês, durante cinco meses. E nada mais. No total, cada réu terá de desembolsar 1.750 reais, divididos em cinco suaves parcelas de 350 reais. Os três dirigentes são réus confessos. Eles admitiram que pegaram 1 milhão de reais no "valerioduto" e disseram ter usado o dinheiro para pagar despesas de campanha do PT gaúcho. O petista Marcos Fernando Trindade atuava como "mula" do esquema, carregando dinheiro em malas entre Belo Horizonte e Porto Alegre. Quando desembarcava na capital gaúcha, o dinheiro era distribuído pelo ex-presidente do partido, David Stival, e pelo ex-tesoureiro, Marcelino Pedrinho Pies. Agora, cada um vai pagar um salário mínimo a uma instituição de caridade durante cinco meses.
A desproporção entre o crime e a punição só não é maior que o constrangimento que o caso produz para o ministro Tarso Genro, o principal articulador político do governo, em Brasília. O dinheiro que o valerioduto canalizou ao PT gaúcho serviu para pagar despesas da campanha de Tarso Genro ao governo do estado, na qual perdeu a disputa para o atual governador, Germano Rigotto, do PMDB. Do total de 1 milhão do valerioduto embolsado pelo PT gaúcho, a maior parte chegou ao estado em malas. Mas 150.000 reais desembarcaram na arca petista por meio de dois cheques de 75.000 reais, ambos nominais a duas gráficas, a Impressul e a Comunicação Impressa. Em sua defesa, os acusados tentaram isentar Tarso Genro. Disseram que a quantia foi utilizada para saldar papagaios eleitorais, mas que nenhum centavo foi usado na campanha de Genro. As investigações, no entanto, mostraram que essa versão não tinha respaldo nos fatos. Descobriu-se que as duas gráficas brindadas com os cheques de Valério foram fornecedoras da campanha eleitoral de Genro ao governo.
O caso ficou mais incômodo quando se revelou que o Ministério da Educação, durante a gestão de Tarso Genro, entre 2004 e 2005, contratou as duas gráficas por 186.000 reais. O contrato, para produzir folders e material didáticos para o governo, foi feito sem licitação pública. O envolvimento de Genro com o valerioduto no Rio Grande do Sul veio a público há nove meses, mas é um embaraço permanente. Afinal, quando o escândalo do mensalão estourou, em junho do ano passado, Genro deixou o Ministério da Educação para presidir o PT. Chegou com ímpetos saneadores. Anunciou, na época, que o partido precisava passar por uma "refundação" e até propôs que o PT não permitisse que os mensaleiros petistas se lançassem candidatos na eleição seguinte. Como se sabe, não aconteceu nem uma coisa nem outra.
A confortável situação judicial dos mensaleiros gaúchos deve-se a duas razões. A primeira é que, como o mensalão estava sendo investigado pela Procuradoria-Geral da República, a Justiça gaúcha não podia aprofundar a apuração sobre a origem do dinheiro que abasteceu as arcas petistas no Rio Grande do Sul. Por isso, o promotor que cuida do caso, Ivan Melgaré, só pôde denunciar os dirigentes petistas pelo crime de formação de caixa dois. A segunda razão é que, quando um crime tem pena mínima inferior a um ano de prisão, como é o caso, a Justiça é obrigada a oferecer ao réu a substituição da prisão por uma pena alternativa, como a doação de cestas básicas. Os petistas dos pampas toparam na hora. Sugeriram apenas uma alteração, aceita pela Justiça. Em vez de pagar tudo de uma vez, como propôs o Ministério Público gaúcho, pediram para parcelar a dívida. Assim, todo dia 5 de cada mês, a antiga cúpula do PT gaúcho vai ao Lar de Santo Antônio dos Excepcionais, em Porto Alegre, e recolhe 350 reais aos cofres da instituição.
COMENTO: e assim caminha "eçepaíz". O Mensalão está na reta final do esquecimento; os patifes envolvidos foram repostos em cargos públicos, pelo votos do beneficiários das 'bolsas-farofa' ou pelas mãos dos gestores dos cargos de confiança; e a roubalheira segue solta. Ao sr Davi Stival, um recado: se não cortou o pescoço por falta de ferramenta, eu tenho um facão Tramontina bem afiado. Se quiser emprestado, mando dar mais uma alisada no fio para não ter problema de dor! Já para o peremptório Tarso, sobra a bainha do mesmo facão. Aplicada repetidas vezes no lombo, é um santo remédio para refrescar a memória. Patife!
DO MUJAHDIN CUCARACHA