Aos
poucos, as coisas começam a assumir a sua real natureza. O conteúdo do
depoimento de Pedro Barusco, que veio a público, põe as coisas nos seus
devidos termos. Até havia pouco, parecia que um grupo de empreiteiras
malvadas havia se organizado para corromper agentes públicos antes
probos, que caíram em tentação.
Segundo
Barusco afirmou à Justiça em novembro, João Vaccari Neto, tesoureiro do
PT, arrecadou em propina, entre 2003 e 2013, algo entre US$ 150 milhões e
US$ 200 milhões. Não, senhores! Vaccari não é um homem de grandes
ambições pessoais. Ele trabalha para uma máquina chamada PT.
Desde
sempre, afirmo neste blog que tratar o escândalo do petrolão como mera
formação de cartel de empreiteiras corresponde a ignorar a natureza do
jogo. Um ente de razão, um partido, tomou de assalto o estado
brasileiro. É possível que ladrões sem ideologia tenham se imiscuído no
sistema, mas que não se perca de vista o principal: a safadeza
alimentava e alimenta um projeto de poder.
Segundo
Barusco, 21 contratos para a construção de navios equipados com sondas,
por exemplo, orçados em US$ 22 bilhões, pagaram propina de 1%, assim
distribuídos: dois terços para Vaccari (isto é, para o PT) e um terço
dividido entre Paulo Roberto Costa e agentes da Sete Brasil.
A Sete
Brasil é a empresa criada para desenvolver os tais navios-sonda e
garantir o chamado “conteúdo nacional” no setor. A empresa está à beira
da insolvência. Dilma quer R$ 9 bilhões de dinheiro público para
socorrê-la. Ontem, o presidente do PT, Rui Falcão, veio a público para
defender essa política de “conteúdo nacional”, afirmando que as
diretrizes da Petrobras não podem mudar. Ah, sim: Barusco foi diretor de
operações da Sete entre 2011 e 2013.
Por que eu
tendo a resistir, senhores leitores, à tese do cartel de empreiteiras
atuando na Petrobras? Porque isso embute a ideia de que a roubalheira se
concentrava na estatal; porque sobra a sugestão de que meliantes morais
incrustrados na empresa partiram para a delinquência. Que o tenham
feito, não duvido. Mas será só ali?
As mesmas
empreiteiras que trabalham para a Petrobras atuam em outras áreas do
governo. São elas, afinal de contas, que prestam os serviços na área de
infraestrutura. Então será diferente nos outros setores da administração
pública? A moralidade vigente na Petrobras não será a regra? E noto que
a empresa dispõe de mecanismos de controle mais severos do que os das
demais estatais e os dos ministérios.
O Brasil
está na pindaíba. Incompetência e ladroagem se juntaram contra os cofres
públicos. E então cabe a pergunta: onde está Luiz Inácio Lula da Silva,
aquele que recomendou que os petistas andassem, orgulhosos, de cabeça
erguida?
De cabeça
erguida? Os agentes federais tiveram de pular o muro da casa de Vaccari
para levá-lo para depor. Ele não abria a porta. Imagino a sua
indignação. Talvez se perguntasse: “Mas, afinal, o Brasil é ou não é
nosso?”. O “nosso”, claro!, quer dizer “deles”.
Não é. Vamos ver se isso fica claro desta vez.