quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Enfim, a natureza do jogo: o país assaltado por um partido político. Ou: Onde está Lula, o falastrão?

Aos poucos, as coisas começam a assumir a sua real natureza. O conteúdo do depoimento de Pedro Barusco, que veio a público, põe as coisas nos seus devidos termos. Até havia pouco, parecia que um grupo de empreiteiras malvadas havia se organizado para corromper agentes públicos antes probos, que caíram em tentação.
Segundo Barusco afirmou à Justiça em novembro, João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, arrecadou em propina, entre 2003 e 2013, algo entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões. Não, senhores! Vaccari não é um homem de grandes ambições pessoais. Ele trabalha para uma máquina chamada PT.
Desde sempre, afirmo neste blog que tratar o escândalo do petrolão como mera formação de cartel de empreiteiras corresponde a ignorar a natureza do jogo. Um ente de razão, um partido, tomou de assalto o estado brasileiro. É possível que ladrões sem ideologia tenham se imiscuído no sistema, mas que não se perca de vista o principal: a safadeza alimentava e alimenta um projeto de poder.
Segundo Barusco, 21 contratos para a construção de navios equipados com sondas, por exemplo,  orçados em US$ 22 bilhões, pagaram propina de 1%, assim distribuídos: dois terços para Vaccari (isto é, para o PT) e um terço dividido entre Paulo Roberto Costa e agentes da Sete Brasil.
A Sete Brasil é a empresa criada para desenvolver os tais navios-sonda e garantir o chamado “conteúdo nacional” no setor. A empresa está à beira da insolvência. Dilma quer R$ 9 bilhões de dinheiro público para socorrê-la. Ontem, o presidente do PT, Rui Falcão, veio a público para defender essa política de “conteúdo nacional”, afirmando que as diretrizes da Petrobras não podem mudar. Ah, sim: Barusco foi diretor de operações da Sete entre 2011 e 2013.
Por que eu tendo a resistir, senhores leitores, à tese do cartel de empreiteiras atuando na Petrobras? Porque isso embute a ideia de que a roubalheira se concentrava na estatal; porque sobra a sugestão de que meliantes morais incrustrados na empresa partiram para a delinquência. Que o tenham feito, não duvido. Mas será só ali?
As mesmas empreiteiras que trabalham para a Petrobras atuam em outras áreas do governo. São elas, afinal de contas, que prestam os serviços na área de infraestrutura. Então será diferente nos outros setores da administração pública? A moralidade vigente na Petrobras não será a regra? E noto que a empresa dispõe de mecanismos de controle mais severos do que os das demais estatais e os dos ministérios.
O Brasil está na pindaíba. Incompetência e ladroagem se juntaram contra os cofres públicos. E então cabe a pergunta: onde está Luiz Inácio Lula da Silva, aquele que recomendou que os petistas andassem, orgulhosos, de cabeça erguida?
De cabeça erguida? Os agentes federais tiveram de pular o muro da casa de Vaccari para levá-lo para depor. Ele não abria a porta. Imagino a sua indignação. Talvez se perguntasse: “Mas, afinal, o Brasil é ou não é nosso?”. O “nosso”, claro!, quer dizer “deles”.
Não é. Vamos ver se isso fica claro desta vez. 
Por Reinaldo Azevedo

Nova fase da Lava Jato mira Vaccari e mais 10 operadores de propina na Petrobras

Tesoureiro do PT é ouvido pela PF nesta quinta. Operação My Way investiga também fornecedora da BR Distribuidora em Santa Catarina, a Arxo
Daniel Haidar
Veja.com
O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, chega à Superintendência Regional da Polícia Federal (PF) na Lapa, Zona Oeste de São Paulo
(FELIPE RAU/Estadão Conteúdo)

A nona fase da Operação Lava Jato da Polícia Federal, batizada de My Way, como a canção de Frank Sinatra, mira um grupo de onze operadores responsáveis pelo pagamento de propina na Petrobras – entre eles, o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que foi ouvido pela PF em São Paulo nesta quinta-feira. O grupo agia na Diretoria de Serviços da Petrobras, que era comandada por Renato Duque, indicado ao cargo pelo ex-ministro da Casa Civil e mensaleiro condenado José Dirceu. A My Way também investiga uma fornecedora da BR Distribuidora com sede em Santa Catarina – segundo apurou o site de VEJA, trata-se da Arxo, fabricante de tanques e caminhões tanque do Balneário Piçarras. Em outubro do ano passado, a Arxo fechou contrato de 85 milhões de reais com a Petrobras para fornecer caminhões tanques para abastecimento de aeronaves. Um dos sócios da empresa, Gilson João Ferreira, foi preso temporariamente. O outro, João Gualberto Pereira Neto, está nos Estados Unidos. Além dos sócios, foi detido temporariamente um diretor da Arxo. Outros funcionários foram alvo de mandados de condução coercitiva.
Duzentos agentes começaram ainda de madrugada a cumprir 62 mandados em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Santa Catarina: um de prisão preventiva (RJ), três de prisão temporária (SC), dezoito conduções coercitivas e quarenta de busca e apreensão. O alvo da prisão preventiva, apontado como um dos operadores do esquema, não foi localizado até agora, informou o delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula. Vaccari foi levado por agentes da PF nesta manhã de sua casa em São Paulo para a sede do órgão, na Lapa, Zona Oeste da capital paulista. Há contra ele dois mandados: um de busca e apreensão e o outro, de condução coercitiva.
Vaccari foi levado para esclarecer doações eleitorais cobradas para o PT, informou o procurador-regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima, que integra a força-tarefa do Paraná dedicada à Operação Lava Jato. “Queremos saber a respeito de doações que ele solicitou, legais ou ilegais, envolvendo pessoas que mantinham contratos com a Petrobras”, afirmou Santos Lima. Mesmo as contribuições oficiais ao partido entraram no foco da investigação porque empresários já revelaram que Duque exigia que parte da propina por contratos na Petrobras fosse paga por meio de canais oficiais, como doações registradas na Justiça Eleitoral.
O nome da mais recente fase da Lava Jato faz referência ao codinome que Pedro Barusco, ex-gerente de Serviços da estatal, usava para se referir em suas planilhas de controle a Renato Duque. A ação desta quinta foi motivada por informações passadas por Barusco em acordo de delação premiada. Além de Vaccari, o ex-gerente ajudou a arregimentar provas contra outros dez operadores.
A partir desta nova fase de investigação fica claro que mais operadores atuavam paralelamente ao doleiro Alberto Youssef e ao lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB no petrolão. O esquema era bastante semelhante ao de Youssef, de acordo com o delegado federal Igor Romário de Paula. Isto é, para pagar propina, as empreiteiras recorriam a operadores que faziam a emissão de notas frias por meio de empresas de fachada e simulavam a prestação de serviços. Foram identificadas nesta nova fase 26 empresas fantasmas. “Esses operadores trabalham com empresas de fachada ou empresas gêmeas, que têm atividade lícita e uma ilícita. A busca de documentos é essencial para prosseguir nas investigações”, afirmou Santos Lima.
A operação também entrou em uma nova área da Petrobras. Uma colaboradora, que não teve a identidade revelada, indicou que uma grande fornecedora da BR Distribuidora, baseada em Santa Catarina, fez pagamentos de suborno por contratos com a divisão da estatal responsável pelos postos de gasolina. A empresa fabrica tanques de combustível e caminhões-tanque. Dois sócios foram alvo de mandado de prisão temporária – um está preso e outro chega à tarde do exterior. Um diretor também foi detido temporariamente.
Em São Paulo, os agentes cumpriram dez mandados de busca e apreensão e dois de condução coercitiva, todos na capital. No Rio de Janeiro, foram doze de busca e apreensão, oito de condução coercitiva e um de prisão preventiva, também na capital. Na Bahia, foram dois mandados de busca e apreensão e um de condução coercitiva, cumpridos em Salvador. Já em Santa Catarina os agentes cumpriram dezesseis mandados de busca, sete de condução coercitiva e três de prisão temporária nas cidades de Itajaí, Balneário Camboriú, Navegantes, Palmitos, Penha e Piçarras. 05 de fevereiro de 2015

PT recebeu até US$ 200 mi em propina, diz delator

Pagamento envolveu 90 contratos de obras de grande porte entre a Petrobras, empresas coligadas e consórcios de empreiteiras, segundo Pedro Barusco
Laryssa Borges, de Brasília,
e Daniel Haidar
Veja.com
Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras (Divulgação)
O ex-gerente de Serviços da Petrobras, Pedro Barusco, afirmou à Justiça, em acordo de delação premiada, que o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, recebeu de 150 milhões a 200 milhões de dólares em propina de 2003 a 2013, por meio de desvios e fraudes em contratos com a Petrobras. As revelações de Barusco, ex-braço-direito de Renato Duque, que comandava a Diretoria de Serviços por indicação do ex-ministro da Casa Civil e mensaleiro condenado José Dirceu, colocam mais uma vez o caixa do PT no centro do escândalo do petrolão e devem respingar diretamente nas campanhas políticas do partido, incluindo a da própria presidente Dilma Rousseff. Vaccari foi levado na manhã desta quinta-feira para a Superintendência da Polícia Federal em São Paulo onde prestou esclarecimentos sobre a arrecadação de recursos para a legenda e foi liberado em seguida.
Ainda que tenha negado irregularidade no sistema de arrecadação de campanhas do PT, Vaccari agora é confrontado pela primeira vez com as informações do delator Pedro Barusco, que concordou em colaborar com a Justiça em troca de reduções de pena. Após firmar o acordo de delação, o ex-gerente confirmou, por exemplo, que iria devolver aos cofres públicos impressionantes 97 milhões de dólares recolhidos a partir do megaesquema de cobrança de propina na Petrobras.
“Durante o período no qual foi gerente executivo de Engenharia da Petrobras, subordinado ao diretor de Serviços, Renato de Souza Duque, de fevereiro de 2003 a março de 2011, houve pagamento de propinas em favor do declarante [Barusco] e de Renato Duque, bem como em favor de João Vaccari Neto”, diz trecho do depoimento de Barusco. “João Vaccari Neto representava o PT na divisão de propinas pagas no âmbito da diretoria de Serviços, nos contratos que ela executava para as diretorias de Abastecimento, Gás e Energia, Exploração e Produção e na própria diretoria de Serviços”, relatou.
Em seu depoimento, o ex-gerente não soube detalhar se o tesoureiro petista recebia a propina em dinheiro ou em transferências no exterior, mas deu revelações que complicam diretamente outro ex-diretor da Petrobras, Jorge Zelada (Área Internacional). Segundo o delator, Zelada também recolhia propina dentro da Petrobras e “negociava propinas diretamente junto a algumas empresas em contratos menores na Área de Exploração e Produção”. Para receber dinheiro do esquema de corrupção dentro da estatal, o ex-diretor Jorge Zelada fazia uma espécie de “encontro de contas” com os demais integrantes da companhia. Em alguns casos, a propina a Zelada foi entregue diretamente em sua casa, na rua Getúlio das Neves, no Rio de Janeiro.
O pagamento de propina no esquema envolveu noventa contratos de obras de grande porte entre a Petrobras, empresas coligadas e consórcios de empreiteiras. Os contratos estavam vinculados às diretorias de Abastecimento, Gás e Energia e Exploração e Produção. No rateio da propina, normalmente eram cobrados 2% do valor do contrato, sendo que 1% era administrado pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa, e o outro 1%, repartido entre o PT e diretores da Petrobras, incluindo Renato Duque e Jorge Zelada, da Área Internacional da petroleira.
Enquanto as projeções de Barusco apontam que o tesoureiro do PT embolsou até 200 milhões de dólares em nome do partido, no mesmo período o delator recebeu 50 milhões de dólares em dinheiro sujo. Em apenas um contrato de sondas de perfuração de águas profundas para exploração do pré-sal, Vaccari, em nome do PT, recebeu 4,5 milhões de dólares em propina.
Ao relatar em detalhes o esquema de pagamentos na Petrobras, Barusco deu um panorama da divisão do dinheiro recolhido do esquema criminoso e relatou que ele próprio era habitué da movimentação de propina na estatal. Segundo o próprio delator, ele começou a receber propina em 1997 ou 1998 da empresa holandesa SBM Offshore enquanto ainda ocupava o cargo de gerente de Tecnologia de Instalações da Petrobras. A propina entre a SBM e a Petrobras se tornou “sistemática” a partir do ano 2000, com uma espécie de parceria fixa entre Barusco e o executivo Julio Faerman, da empresa holandesa. Os pagamentos eram mensais, variando de 25.000 dólares a 50.000 dólares. Em um dos casos, quando já ocupava a gerência-executiva de Engenharia, recebeu 1% de propina de Faerman em um contrato entre a empresa Progress e a Transpetro.
Faerman é apontado como homem-chave para desvendar o escândalo de corrupção que envolve a Petrobras. Em uma denúncia feita por um ex-funcionário da companhia holandesa SBM Offshore, ele é citado como o lobista responsável por intermediar pagamentos de propina a funcionários da empresa.
Graça Foster – Em seu depoimento aos investigadores da Operação Lava Jato, Barusco não apontou a presidente demissionária da Petrobras Graça Foster como beneficiária direta de propina na estatal, mas afirma que parte dos contratos onde o rateio de dinheiro era feito estavam vinculados à diretoria de Gás e Energia, que já foi ocupada por Graça. Barusco indicou que Graça Foster não sabia do esquema de propina e ponderou que se ela e Ildo Sauer, ex-diretor de Gás e Energia, sabiam, “conservavam isso para si”.
O ex-gerente, porém, fez revelações que complicam diretamente outro ex-diretor da Petrobras, Jorge Zelada (Área Internacional). Segundo o delator, Zelada também recolhia propina dentro da Petrobras e “negociava propinas diretamente junto a algumas empresas em contratos menores na Área de Exploração e Produção”. Para receber dinheiro do esquema de corrupção dentro da estatal, o ex-diretor Jorge Zelada fazia uma espécie de “encontro de contas” com os demais integrantes da companhia. Em alguns casos, a propina a Zelada foi entregue diretamente em sua casa, na rua Getúlio das Neves, no Rio de Janeiro.
Quando Renato Duque deixou a Diretoria de Serviços, em 2012, ele fez uma espécie de acerto de contas com Barusco para receber parte da propina que havia sido direcionada inicialmente ao auxiliar. No acordo, Barusco destinou valores de futuras propinas para o ex-chefe – pelo acordo do Clube do Bilhão, as empresas precisavam confirmar o pagamento de dinheiro na trama criminosa. Apenas a Camargo Corrêa, por exemplo, devia 58 milhões de reais em propina na época.
Depoimentos – No fim de novembro, Barusco prestou diversos depoimentos reservados ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal após acordo de delação premiada. Nas palavras de um dos investigadores, foram "demolidores" no detalhamento da atuação de Renato Duque.
As revelações de Barusco foram a principal motivação da nova fase da Operação Lava Jato, na qual Vaccari e outros dez operadores da Diretoria de Serviços foram alvos. Com o cumprimento dos mandados, as informações não tinham mais necessidade de sigilo, na avaliação da Justiça, e os depoimentos foram disponibilizados em um dos processos contra executivos de empreiteiras. 05/02/2015DO R.DEMOCRATICA

Operação Lava Jato: Polícia Federal leva tesoureiro do PT para depor


João Vaccari Neto foi alvo de mandado de condução coercitiva.
Ele foi citado em depoimentos como participantes de esquema de corrupção.
Camila Bomfimda - TV Globo

João Vaccari Neto e Lula
O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi alvo de um mandado de condução coercitiva (quando a pessoa é levada para prestar depoimento e depois é liberada) na manhã desta quinta-feira (5). O mandado para ouvir Vaccari é um dos que foram cumpridos como parte da nona etapa da Operação Lava Jato, deflagrada nesta manhã pela Polícia Federal. A PF também realizou busca e apreensão na casa do petista, em São Paulo.
A nona etapa da Lava Jato foi batizada de "My Way", numa referência ao modo como o ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco, chamava o ex-diretor da estatal Renato Duque. Ambos são investigados por suspeita de participação em esquema de corrupção na estatal.
Vaccari Neto foi citado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e pelo doleiro Alberto Youssef, delatores do esquema, como o operador de propina cobrada pelo PT nos contratos da estatal com outras empresas.
Ao todo, são 62 mandados na nona fase da operação: um de prisão preventiva, três de prisões temporárias, 18 de conduções coercitivas e 40 de busca e apreensão nos estados de SP, RJ, BA e SC.
Vaccari tem negado qualquer envolvimento com o esquema do doleiro Alberto Youssef e com as irregularidades na Petrobras. O G1 tenta contato com a defesa do doleiro nesta quinta-feira para obter uma resposta sobre a condução coercitiva, mas até a última atualização desta reportagem ainda não conseguiu conversar com os advogados de Vaccari.
Denúncia
Em dezembro, o Hora 1 da Notícia revelou com exclusividade documentos que citam a cunhada de Vaccari Neto como suposta destinatária de dinheiro do esquema de corrupção na estatal. O material faz parte das investigações da Operação Lava Jato.
O Hora 1 teve acesso a documentos que mostram uma negociação entre o doleiro Alberto Youssef e um funcionário da empresa OAS, em que o endereço da cunhada de Vaccari aparece como destino de uma entrega.
Um organograma feito pela Polícia Federal explica a suposta movimentação do dinheiro de Youssef para a empreiteira OAS. Segundo a PF, o funcionário da empresa José Ricardo Breghirolli, preso na operação, orienta Youssef a levar os valores para um endereço específico, o da cunhada de Vaccari, Marice Correa de Lima. O relatório dá detalhes da negociação.
Segundo os investigadores, o documento mostra entregas de dinheiro feitas por Youssef em várias cidades do país. - DO WELBI

Diretores da Petrobras se rebelaram contra acordo entre Graça e Dilma e anteciparam demissão

Eles ficaram irritados com o vazamento da informação de que o comando da estatal seria trocado
por Ramona Ordonez e Martha Beck
O Globo
Presidente da Petrobras, Graça Foster, deixa reunião do Palácio do Planalto - André Coelho / O Globo
RIO e BRASÍLIA — Fracassou a tentativa da presidente Dilma Rousseff de manter a presidente da Petrobras, Graça Foster, no cargo até o fim do mês. Numa reunião tensa com Graça na noite de terça-feira, cinco diretores da estatal se rebelaram e avisaram que estavam renunciando imediatamente aos cargos, contrariando o acordo que ela fizera horas antes com a presidente. Sem o apoio da equipe, Graça telefonou para Dilma por volta das 22 horas de terça-feira para comunicar que todos estavam de saída. Segundo interlocutores, Dilma ficou surpresa ao saber da renúncia coletiva.
Para piorar o quadro, na manhã desta quarta-feira a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a Bolsa de Valores de São Paulo apresentaram à direção da Petrobras um pedido formal de esclarecimento sobre a permanência ou não de Graça à frente da empresa, devido ao efeito dos rumores da demissão no mercado. Graça então mandou que a Petrobras divulgasse uma nota de quatro linhas com o aviso de renúncia. Agora Dilma corre contra o tempo para escolher e anunciar a nova diretoria. A nota enviada à CVM diz apenas: “A Petrobras informa que seu Conselho de Administração se reunirá na próxima sexta-feira (amanhã), para eleger nova diretoria face à renúncia da presidente e de cinco diretores.”
Os diretores que não aceitaram o acordo que Graça tinha fechado com a presidente e tomaram a decisão de antecipar a entrega de seus cargos foram: José Formigli (Exploração e Produção), Almir Barbassa (Finanças), Alcides Santoro (Gás e Energia), José Figueiredo (Engenharia) e José Cosenza (Abastecimento). Permanecerão nos cargos o diretor Corporativo, José Eduardo Dutra, que está afastado por licença médica, e o recém-empossado diretor de Governança, João Elek.
— A diretoria se rebelou e não aceitou o acordo que Graça tinha fechado com Dilma (de esperar um pouco mais) — informou uma fonte do governo.
Ações da estatal sobem
Desgastada pelo esquema de corrupção revelado pela Operação Lava-Jato há quase um ano, Graça já tinha pedido a Dilma para deixar o cargo várias vezes, mas vinha tendo o pedido de demissão recusado sistematicamente. O Palácio do Planalto queria que ela e os diretores ficassem nos cargos até a divulgação do balanço da empresa de 2014. Na terça-feira, em reunião com Dilma durante a tarde, a executiva voltou a pedir para sair e ouviu um apelo para esperar. Assim, haveria tempo para encontrar um substituto.
No entanto, o vazamento da informação das demissões, que levou as ações da Petrobras subirem 15% ao longo da terça-feira, irritou a cúpula da empresa. Eles afirmaram que não tinha mais sentido permanecerem nos cargos, principalmente com as pressões que a companhia estava sofrendo. E não quiseram mais esperar para tornar a saída oficial. Ontem, as ações da Petrobras chegaram a subir 7% logo após a nota da Petrobras, mas depois ficaram instáveis e o dia terminou com alta de apenas 1,12%.
Dilma não gostou de a Petrobras ter divulgado que 31 ativos da companhia estavam superavaliados em R$ 88,6 bilhões como reflexo da corrupção e ineficiência de projetos, o que acabou gerando mais desgaste com a diretoria da companhia. Durante o encontro com Dilma na terça-feira, Graça contou que os diretores estavam muito insatisfeitos com a situação e que queriam deixar os cargos. Depois de ouvir apelo de Dilma, que disse à dirigente da estatal que não poderia deixar a maior empresa do país “acéfala” e que antes precisaria encontrar um bom substituto que desse credibilidade à empresa num momento tão ruim, Graça aceitou esperar. Mas, ao chegar no Rio, recebeu um não como resposta. Um dos diretores chegou a dizer que a renúncia ocorreria mesmo que Graça decidisse permanecer na presidência.
— Graça chegou ao Planalto querendo ir embora e avisando que a situação entre os diretores da Petrobras era a mesma, ninguém mais queria ficar. Dilma não aceitou. O que aconteceu entre a reunião das duas e a volta de Graça para o Rio foi que os diretores não concordaram com o acordo feito. Somou-se a isso o documento da CVM, ele foi decisivo para a renúncia ser formalizada na manhã de ontem — disse um ministro ao GLOBO.
Com a saída de Graça da Petrobras, Dilma perde seu escudo na defesa das ações do governo junto à estatal. Qualquer executivo que assuma o cargo nesta semana fará questão de deixar claro que não responderá pelo passado, mas apenas pelo futuro da Petrobras. A avaliação de auxiliares da presidente da República é a de que, a partir da semana que vem, assuntos respondidos pela estatal atualmente, ligados à Operação Lava-Jato, acabarão caindo no colo do Planalto.
Na reunião do Conselho de Administração, que será realizada amanhã na sede da Petrobras em São Paulo, os integrantes do grupo também levarão sugestões de nomes para compor a nova diretoria da companhia. Inicialmente, o encontro de amanhã previa apenas a apresentação do novo diretor de Governança, João Elek, e uma discussão com os integrantes da comissão especial criada pela estatal para interlocução com os escritórios de advocacia contratados para apurar os casos de corrupção.