O
senador Fernando Collor (PTB-AL) teve ontem um ataque de hidrofobia
política contra a imprensa livre. Hoje, outro contra o procurador-geral
da República (leia abaixo). Abandono o mundo da metáfora zoológica para
entrar no da política. “Deem um copo de sangue a este canibal; ele está
com sede”. Foi com esta frase que um girondino, nos embates da Revolução
Francesa, premiou Marat, um dos porras-loucas da revolução. Chegava a
estar à esquerda dos jacobinos. Editava um jornalzinho chamado “O Amigo
do Povo” e, ora, ora, costumava fazer listas dos “inimigos do povo”.
Pode ser considerado um precursor do fascismo, dos expurgos stalinistas,
da revolução cultural chinesa, escolham aí o que a humanidade já
produziu de ruim nessa área. Hoje, seria um patrono do JEG e da BESTA,
apesar de ser considerado espantosamente inteligente. O destino não foi
justo com ele como foi com Robespierre, que morreu na guilhotina a que
recorreu tantas vezes para vencer um debate. Foi assassinado por
Charlotte Corday quando estava numa banheira. A história desse vagabundo
é fascinante. Mas não posso me perder nela. Volto a Collor.
O
ex-presidente, o “impichado”, também está com sede. Hoje, quando ficou
claro que a CPI não iria, porque nem poderia, estuprar a lei para
convocar o procurador-geral da República, o homem estrilou, naquele seu
estilo tão característico, empostado, como se a posteridade fosse
registrar as suas tolices autoritárias: “Ele está com algum problema,
que não quer enfrentar a CPI. Eu absolutamente não concordo com o
requerimento aprovado”. Mal disfarça o intento: ele não quer eventuais
esclarecimentos; comporta-se como o juiz do procurador-geral. E pretende
ser também o juiz da imprensa — justo ele, sócio de empresas de
comunicação em Alagoas. Para lembrar Bismarck, vai ver sabe como se
fazem as salsichas por lá e imagina que todos ajam do mesmo modo…
Este senhor é
patético. Tornou-se, na CPI, arauto de tudo o que é ruim. Quando o país
esteve entregue a seus caprichos, pudemos ver do que ele é capaz.
Instrumentalizado por uma banda do PT, em associação com a turma de José
Dirceu, quer transformar a CPI num palco de vinganças, no mês que marca
os 20 anos da entrevista de Pedro Collor, que está na raiz de sua
deposição — publicada por VEJA — e os sete anos da reportagem sobre o
pagamento de propina nos Correios, que está na raiz da crise do
mensalão, também ela publicada por VEJA.
Ai, Ai… Que
outra democracia do mundo teria alguém como este senhor no Senado, dada a
sua história? Acho que nenhuma! Ele é a expressão de um atraso que não
quer passar. Sua legitimidade não é menor do que a dos outros, não! Foi
eleito pelo povo, segundo as regras. Que fique lá. Isso não significa,
no entanto, que não se possa lamentar. Poderia, no entanto, ser uma voz
das trevas, porém isolada, compatível com sua mediocridade arrogante. No
entanto, o petismo o tirou das catacumbas para lhe conferir o papel de
protagonista no achincalhe das instituições e da imprensa livre. Ele é
útil.
Dizer o quê?
Nunca se esqueçam disto: Collor acha a VEJA uma revista ruim. Fosse eu
da área de publicidade, faria uma campanha nacional: “VEJA, a revista
que o Collor detesta”. E os brasileiros escolheriam com que ficar, né?
REV VEJA