Capa (Fonte de Felipe Moura Brasil/Reprodução)
O PT perdeu o poder político, mas não o velho aparelhamento do sistema de ensino.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro aplicou no domingo (4) um
verdadeiro panfleto petista em forma de prova do edital nº 293/2016 para
candidatos a servidores públicos da própria UFRJ em
áreas técnico-administrativas e de nível superior, incluindo vagas para
médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem no Hospital Universitário
Clementino Fraga Filho (HUCFF), no Instituto de Puericultura e Pediatria
Martagão Gesteira (IPPMG) e na Maternidade Escola (ME).
Este blog obteve a reprodução de cada página da prova por meio de
candidatos que julgaram “revoltante” o alto grau de propaganda
político-ideológica de esquerda contida nas questões a que foram
submetidos num dos quatro locais de realização do concurso na ilha do
Fundão.
“A prova de português inteira foi assim: totalmente tendenciosa”, diz
um médico. “Ela foi aplicada tanto para nível médio quanto superior,
então todo mundo fez essa prova, a maior parte dela chamando o
impeachment de ‘golpe'”, contou.
É compreensível.
O texto panfletário da questão 1, “A Idade Média nacional”, é de
Wanderley Guilherme dos Santos,
o mesmo que, em 2005, formulou com Marilena Chauí a tese adotada pelo
PT (e até hoje repetida em outros escândalos) de que noticiar e
denunciar o mensalão era uma tentativa de “golpe das elites” contra o
“governo popular” de Lula.
Se a denúncia do mensalão, que rendeu cadeia a José Dirceu e outros
petistas graúdos, já era “golpe” para Wanderley, por que o impeachment
por crime de responsabilidade não seria, não é mesmo?
Página 3 (Fonte de Felipe Moura Brasil/Reprodução)
[Veja em tamanho ampliado: AQUI.]
Durante o primeira mandato de Dilma, Wanderley presidiu por dois anos a Casa de Rui Barbosa, cargo de confiança subordinado ao Ministério da Cultura.
A banca, porém, usa a velha artimanha de apresentar o autor como mero
“cientista político” e “professor aposentado da UFRJ”, dando a
impressão de isenção que ele sempre afetou para adaptar discursos
“científicos” às conveniências do lulismo.
A fonte do texto é atribuída ao site Segunda Opinião, embora também
tenha sido reproduzido na coluna de Wanderley – adivinhe – no Brasil
247, de Leonardo Attuch, citado na Lava Jato por ter recebido 120 mil
reais do lobista do petrolão Milton Pascowitch, sem falar nos milhões de
reais recebidos de verba de publicidade federal durante o governo do
PT.
Print do Brasil 247 com texto que caiu na prova da UFRJ (FMB/Reprodução)
Wanderley rotula de “golpistas”, sem refutar a argumentação contrária, aqueles
que destituíram legalmente Fernando Lugo no Paraguai e Dilma Rousseff
no Brasil; e afirma, sem dar exemplos, que “o conservadorismo hegemônico
só se sustenta pela asfixia da divergência”, na qual não está ausente a
“violência nas ruas, com a brutalidade que for necessária”.
É um típico texto (de) petista em suas omissões, inversões e demonizações baratas.
– Como se o impeachment não tivesse tido apoio da parte da esquerda não aliada ao PT;
– Como se todos que repudiassem os crimes petistas fossem (tais como os por ele demonizados) conservadores;
– Como se a “asfixia da divergência” (por meio de prisão ou
fuzilamento) não fosse historicamente a regra em ditaduras de esquerda
parceiras do PT, como a cubana;
– Como se a “brutalidade” vista com frequência pelos petistas
nos atos pró-impeachment não tivesse sido a de manifestantes tirando
fotos ao lado da PM;
– Como se a violência nas ruas e a pregação dela (até no Palácio do
Planalto no governo Dilma) não fossem frequentes apenas nos casos de
entidades e movimentos de esquerda ligados ao PT, como MST, MTST, CUT,
UNE etc., o que as últimas semanas voltaram a deixar claro, com a
depredação na Esplanada dos Ministérios de um lado (o deles) e o
protesto nacional pacífico de 4 de dezembro do outro: o dos brasileiros
que exigem dentro da lei o cumprimento da Constituição.
A questão 1, sob o pretexto da interpretação de
texto, já legitima, na prática, o universo paralelo da propaganda
petista, sendo a letra “a”, que nem sequer apresenta entre aspas a palavra “golpe”, uma possível resposta oficial:
A questão 2, sob o mesmo pretexto,
apresenta hipóteses de interpretação para o trecho sobre “reescrever a
Constituição pela força tirânica de maioria institucional”.
Embora a opção “d” seja possivelmente a resposta oficial, a “c” é a
mais emblemática, pois menciona o “fato” de que, tendo sido consumado um
“golpe parlamentar”, “o próximo passo será a mudança forçada da
Constituição pela maioria golpista”.
Não por coincidência, o discurso do PT era de que o impeachment seria
um meio para frear a Lava Jato, sendo que 98% dos deputados petistas,
depois do impeachment, votaram a favor da “Lei de Intimidação” à Lava
Jato, como os próprios procuradores da operação definiram a desfiguração
das 10 medidas anticorrupção no plenário da Câmara.
A questão 6 apresenta uma opinião – adivinhe – de
Emir Sader sobre – adivinhe – o “avanço conservador”.
Página 4 (Fonte de Felipe Moura Brasil/Reprodução)
[Veja em tamanho ampliado: AQUI.]
Sader, apresentado na prova apenas como “professor”, é na verdade um estrategista petista, antecessor de – adivinhe quem – Wanderley Guilherme dos Santos na presidência da Casa de Rui Barbosa, e
organizador de um livro sobre a primeira década do PT no poder, “10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil: Lula e Dilma”.
Já mostrei em vídeo um trecho (abaixo, no ponto) do próprio Sader falando, em debate promovido pelo PT, que “hegemonia, no sentido gramsciano, é isso: mesmo aqueles que são vítimas ou adversários incorporam os seus valores”.
A prova da UFRJ é o enésimo exemplo da aplicação das ideias do
ideólogo comunista italiano Antonio Gramsci, que pregava a ocupação de
espaços, inclusive em universidades, para disseminação sorrateira das
ideias que interessam ao Partido.
[Não deixa de ser sintomático que, numa prova com opiniões políticas de Wanderley
Guilherme dos Santos e Emir Sader, haja também um texto (nº 4) de
Carlos Castilho, do Observatório da Imprensa, sobre a “era da
pós-verdade”, na qual os juízos são “baseados mais em sensações que em
evidências” e a “verossimilhança ganhou mais peso que a comprovação”.
Obviamente, porém, a UFRJ não questiona se isto se aplica aos autores anteriormente citados.]
A página 5 apresenta uma charge em que a personagem Mafalda aparece na dianteira de uma fila de vacinação dizendo à profissional de saúde:
“Viemos tomar a vacina contra o ódio!”
A prova não diz, mas esta charge foi reproduzida em março, durante o
processo de impeachment, por Luís Nassif, militante da rede virtual
petista segundo o próprio presidente do PT, Rui Falcão, e autor do blog que recebeu R$ 1.274.671,00 em verba de publicidade federal só em 2015.
Print do blog de Luís Nassif com charge da Mafalda (FMB/Reprodução)
O PT acusava e, claro, acusa de “ódio” quem se volta contra os crimes
comuns ou de responsabilidade cometidos por petistas. A mão entregando
flores que aparece em quadro na charge alude ao símbolo do PDT, aliado
do PT contra o impeachment.
A propaganda do discurso petista é tão evidente na prova que nenhuma questão aborda diretamente a charge; ela apenas ilustra a
questão 9, que – adivinhe – trata dos significados do verbete “golpista”.
Página 5 (Fonte de Felipe Moura Brasil/Reprodução)
[Veja em tamanho ampliado: AQUI.]
A questão 10 apresenta um texto sintomático de
ataque ao projeto Escola Sem Partido (ESP), criado por Miguel Nagib
justamente para alertar estudantes de todo o Brasil contra doutrinações
ideológicas como a da prova da UFRJ.
Este blog perguntou, então, a Nagib a sua opinião a respeito e a reproduz abaixo na íntegra:
“Caro Felipe,
Essa prova é também uma prova do aparelhamento político e
partidário das escolas e universidades no Brasil. Das escolas e
universidades esse tipo de prática se espalhou por toda a máquina do
estado. Em maio deste ano, uma prova de seleção de estagiários para o
MPF em Minas também foi notícia por causa do viés partidário. [Veja AQUI.]
No caso, embora as questões de português não exijam do
candidato um alinhamento político, elas deixam claro o viés ideológico
do funcionário/professor responsável, o que é ilegal. Esse comportamento é uma tara. O militante simplesmente não consegue se conter.
Antigamente, a doutrinação estava restrita às disciplinas de história, geografia, sociologia… Hoje está em todo o curriculum. Os
militantes adoram dar aula de Português, por exemplo, porque podem
obrigar os alunos a ler os textos que eles, professores, gostam de ler.
Então, é um festival de artigos extraídos de Carta Capital, Midia Ninja,
Agência Pública e da esgotosfera petista em geral.
O texto sobre o ESP, usado na prova, fala de uma professora que
foi flagrada em vídeo, usando sua aula para ‘explicar’ aos alunos por
que os professores entrariam em greve. Ou seja: a professora estava
usando seu cargo para promover os seus próprios interesses; estava
roubando o tempo de aprendizado dos alunos para tentar obter a sua
adesão à pauta de reivindicações do sindicato. E por isso ela teria sido
denunciada e estava tentando se fazer de vítima. Ora, vítimas são os
alunos! Ela tinha mais é que levar uma sanção disciplinar para aprender a
respeitar a lei e os estudantes. Mas duvido que isso tenha acontecido.
Essa prova é um escândalo.”
Pois é, Nagib.
Mas a exploração da agenda de esquerda na prova não para por aí.
A questão 11 usa trecho da notícia sobre o Colégio
Pedro II liberar saia para meninos e adotar em listas de chamada o “nome
social” escolhidos por alunos e alunas transexuais.
A questão 12 cita diálogo de Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia sobre
se ela queria ser chamada de “presidente ou presidenta” do STF e depois
defende que o segundo termo, usado por Dilma e dispensado por Cármen,
está consignado no dicionário Houaiss.
A banca apresenta então três opções de repercussão do diálogo na
imprensa, com as respectivas manchetes: uma do G1, uma da revista Carta
Capital, outra da revista VEJA; e foca a questão – adivinhe – no grau de
isenção.
A prova omite que a manchete afiada de VEJA, na verdade, é de um de seus colunistas de opinião, Augusto Nunes, não da redação.
É um modo sorrateiro de fazer a Carta Capital, aquela revista cujo
editor é pautado por Lula, como confirmou uma gravação da Lava Jato,
parecer mais isenta que VEJA.
Página 6 (Fonte de Felipe Moura Brasil/Reprodução)
[Veja em tamanho ampliado: AQUI.]
O texto 5 da prova é uma adaptação da notícia do UOL
sobre a conclusão fajuta da “pesquisa” do Datafolha encomendada pelo
Fórum Brasileiro de Segurança Pública, segundo a qual “Um em cada 3
brasileiros concorda que mulher tem culpa por estupro”.
Este blog já refutou essa conclusão em setembro:
AQUI.
Mas a banca da UFRJ prefere investir no engodo sobre a “cultura do estupro” no Brasil.
A questão 16 usa trecho de Sergio Rodrigues que, na prática, equipara “os anacolutos de Dilma” às “mesóclises de Temer”.
A questão 17 apresenta um texto sobre o “choque” da sessão de votação do impeachment para os brasileiros.
Caminhando para o final, os próprios autores da prova já não conseguiram nem disfarçar sua militância no enunciado:
“Dentre as
bizarrices ditas durante as
indevidas declarações de voto, chamaram atenção diversos
atropelos à norma culta da língua…”
Para mostrar vários, eles pedem então que se marque a alternativa em que
não ocorre erro de concordância.
Ou seja: numa questão, minimizam o mau português de Dilma com crítica
à “cafonice bacharelesca” de Temer; na outra, exploram o mau português
dos deputados na sessão do “golpe”.
Página 7 (Fonte de Felipe Moura Brasil/Reprodução)
[Veja em tamanho ampliado: AQUI.]
Página 8 (Fonte de Felipe Moura Brasil/Reprodução)
[Veja em tamanho ampliado: AQUI.]
Anos atrás, eu defini o Enem como um manual de guerrilha em forma de quiz.
A banca da UFRJ conseguiu superar o Enem em favor do PT.
Essa gente quer reescrever mais uma vez a história do Brasil e usar o
sistema de ensino aparelhado para inculcá-la em estudantes do país
inteiro.
Como queríamos demonstrar em vídeo de 11 de agosto:
“Com Lula réu e Dilma ré, resta ao PT mentir às próximas gerações”.
DO FELIPEMOURASBRASIL