Graça mente!
Governo põe aparato oficial para
tentar desmentir as denúncias da geóloga Venina Velosa, mas quem deveria
ser desmentida é Graça Foster, que por anos ignorou as falcatruas
Com a Petrobras derretendo, o
governo deflagrou ontem uma operação para blindar a atual presidente da
empresa, Maria das Graças Foster. É tudo o que a presidente da República
e seus auxiliares não deveriam estar fazendo numa hora destas. Cabe a
Dilma Rousseff vir a público explicar a catatonia na estatal tragada por
corrupção, e não tentar justificar o injustificável.
É cada vez mais evidente que a
posição de Graça é insustentável. Suas alegações diante das denúncias de
que há anos sabia das falcatruas na companhia não se sustentam. Para
piorar, o aparato oficial também é usado para sustentar a mentira, por
meio de notas oficiais divulgadas aos borbotões pela Petrobras - agora
até de madrugada...
Do outro lado, estão as denúncias
cristalinas, límpidas, feitas pela geóloga Venina Velosa da Fonseca. Têm
hora, data, destinatários e remetentes claros. Estão registradas.
Aconteceram, do que se sabe até agora, nos dias 2 de abril de 2009, 3 de
abril de 2009, 4 de maio de 2009, 26 de agosto de 2011 e 7 de outubro
de 2011.
As primeiras mensagens vieram a
público na sexta-feira pelo Valor Econômico. Desde então, a Petrobras
divulgou três notas oficiais para tentar desmentir Venina. Alega que a
presidente da empresa só soube poucos dias atrás do que a funcionária
tinha a dizer. A cada investida, fica claro que quem precisa ser
desmentida é a empresa e, mais precisamente, sua presidente, Graça
Foster.
Hoje, o Valor traz novas mensagens
enviadas pela geóloga a Graça, então diretora de Gás e Energia da
estatal. Uma delas foi expedida na madrugada de 3 de abril de 2009,
horas antes de Venina protocolar oficialmente junto ao sistema de
documentação da Petrobras denúncia de irregularidades na área de
comunicação da diretoria na qual trabalhava, a de Abastecimento. Elas
resultaram em desvio comprovado de R$ 58 milhões.
Outro e-mail data de 7 de outubro de
2011. Nele, Venina diz preferir dizer tudo o que tinha a dizer "olhando
direto nos olhos" de Graça e pede que a então diretora a receba. Como
não conseguiu, optou por escrever a mensagem. Fica claro na
correspondência a confiança que a funcionária depositava em Graça, que,
no entanto, jamais a retribuiu.
O desfecho das denúncias já é sabido:
Venina
acabou desterrada para um posto em Cingapura e no mês passado foi
destituída do cargo que ocupava na empresa. Em contraponto, um dos
funcionários por ela denunciado, de umbilicais ligações com o PT da
Bahia, demorou quatro anos para ser demitido.
Alguns
anos atrás, outro denunciante entrou para a história ao fazer um
pungente apelo diante das câmeras, durante depoimento no Congresso :
"Sai,
Zé, sai rápido daí". Estava deflagrada a investigação do mensalão e
José Dirceu demorou só alguns poucos dias para seguir o conselho de
Roberto Jefferson. Hoje é um presidiário. Graça Foster, definitivamente,
não precisaria chegar a tanto.
*Este
e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica
estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela - DO MARIOFORTES