sábado, 25 de novembro de 2017

“Auschwitz era um lugar de morte onde você se agarrava à vida” - HOLOCAUSTO

A escritora Magda Hollander-Lafon sobreviveu a cinco campos de concentração e conta sua experiência no livro “Quatro pedacinhos de pão”

Magda Hollander-Lafon em sua casa.
Magda Hollander-Lafon em sua casa.
À simples pergunta de se o inferno existe, Magda Hollander-Lafon (Zahóny, Hungria, 1927), responde que sim, porque esteve nele. Mas, diferentemente das supostas almas penadas condenadas entre as labaredas das crenças religiosas, ela retornou de chamas reais: as dos fornos crematórios dos campos da morte. Entre maio de 1944 e abril de 1945, seu corpo  - como um refugo - e sua mente - como um bunker - passaram por cinco infernos seguidos: Auschwitz-Birkenau, Walldorf, Ravensbrück, Zillertal e Morgenstern. Todos eles marco sinistros da Solução Final orquestrada por Hitler, Himmler, Heydrich e Eichmann: o genocídio organizado de quase seis milhões de judeus de toda a Europa.
Magda escreve livros, livros aterradores e ao mesmo tempo luminosos como Quatre petits bouts de pain [publicado agora na Espanha com o título Cuatro mendrugos de pan - em português, Quatro pedacinhos de pão]. Ela mora há 40 anos nos arredores de Rennes (França). Foi ali que recebeu o EL PAÍS, com café, biscoitos e muita vontade de contar sua história. Inacreditável, não fosse puramente verdadeira.Pergunta. Faz anos que você relata sua experiência em Auschwitz a estudantes do ensino médio e universitários. Como eles reagem?
Resposta. Não se trata apenas de lhes contar as minhas coisas, pois aquilo é algo impossível de transmitir. Além disso, se começo a contar as minhas pequenas batalhas, posso acabar com o ânimo de um regimento inteiro. O que eu faço é tentar lhes fazer um chamamento à vida, dinamizá-los interiormente. Nossos jovens são um presente da vida, mas ninguém nunca diz isso. Sei do que estou falando. Devo ter falado para cerca de 16.000 deles. Já pensei muito em como dar um testemunho.
P. E a qual conclusão chegou?
R. Criei alguns questionários, que são distribuídos entre os alunos. Ali eles escrevem por que querem ouvir essas histórias. Olhe, vou lhe mostrar [Magda Hollander-Lafon se levanta e vai até uma sala e abre um armário enorme: ali há montanhas de arquivos e pastas com as perguntas e respostas que os estudantes lhe deram durante todos esses anos]. Agora estou trabalhando em um livro sobre isso.
P. Como se chamará esse livro?
R. Sua vida e seu futuro estão nas suas mãos. É uma mensagem para que aquilo nunca mais volte a acontecer. É preciso cuidar da memória.
P. Blindar a memória é o que você faz em Quatro pedacinhos de pão. Desde o começo, já há um aviso: “Uma reflexão sobre a vida, não sobre a morte”. Foi essa a lição tirada, ou seja, viver a vida como se cada dia fosse o último?
R. É essa mesma. Mas não agora. Até mesmo ali, nos campos de concentração, todo mundo queria viver, se aferrava à vida. Tantas pessoas - crianças, jovens, adultos, idosos - desapareceram! Mas queriam viver até o último suspiro. Auschwitz-Birkenau era um lugar de morte onde você se agarrava à vida.
A escritora Magda Hollander-Lafon, antes de ser deportada.
A escritora Magda Hollander-Lafon, antes de ser deportada.
P. Nunca pensou em se suicidar para acabar com aquele inferno?
R. Se você sentisse, uma vez que fosse, que não valia a pena viver, tudo estava perdido. Então, você fugia dessa tentação. Eu sempre tinha sido muito rebelde, odiava as injustiças. Quando você odeia, significa que está vivo, como quando ama ou sofre. Em Auschwitz, eu queria viver, mas o que me permitiu fazê-lo foi me dar conta de que ia morrer. E aceitei isso. E, a partir do momento em que chega à conclusão de que vai morrer, você tem uma espécie de sensação de que a vida está dentro de você.
P. Poderia explicar melhor?
R. Nessa hora todos os medos vão embora. E, quando todos os medos vão embora, você ganha uma força enorme para viver.
P. Você sabia que era uma pessoa tão valente?
R. Imagine! Mas isso não vem de dentro da nossa cabeça, e sim do instinto de sobrevivência, da incrível intuição que todos temos em relação à vida. Certo dia, saímos dos barracões com os nossos corpos em carne viva. De repente, não sei por quê, eu fiquei sabendo que iríamos diretamente para a câmara de gás. Eu disse a mim mesma: “Magda, acabou”. Mas, sem ninguém notar, passei para uma outra filha, onde as pessoas estavam em um estado bem melhor. A fila em que eu estava foi diretamente para a câmara de gás.
P. Jorge Semprún escreveu, a respeito de Büchenwald, que “não roçamos a morte, nós a vivemos por dentro”. Concorda com isso?
R. Sim. Estivemos dentro da própria morte. Fomos mortos vivos. E continuo me perguntando: por que os judeus? Não tenho respostas. Mas posso lhe dizer uma coisa: Deus está sob perigo toda vez que os judeus se veem ameaçados.
P. Acredita que os nazistas queriam exterminar os judeus porque achavam que eles próprios eram Deus?
R. Claro. O que os grandes ditadores buscam? Colocar-se no lugar de Deus. Os nazistas tinham o poder total sobre nossas vidas e nossas mortes. O que os incomodava? O fato de se dizer que éramos o povo eleito. Isso causava inveja e despeito neles. Éramos perigosos.
P. O que é ser judeu?
R. Crer em alguém que está acima de você. Não. Crer em alguém que está com você. Um judeu é uma pessoa que tem fé. Atenção: ter fé não é o mesmo que crer; você pode crer em alguma coisa hoje, e amanhã não mais. Mas a fé é diferente, ela vive dentro de você. Digo isso mesmo sendo uma pessoa que vem de uma família judia que não era praticante, uma pessoa que chegou a odiar Deus quando era jovem.
P. Por que o odiou?
R. Porque quando minha mãe e minha irmã menor rezaram, ele não apareceu para salvá-las.
P. Peço desculpas por esta pergunta. Nem sei se tenho o direito de fazê-la... Como você recorda o momento em que aquela guarda de Auschwitz apontou para a fumaça da chaminé e lhe disse que nela estavam sua mãe e sua irmã?
R. Claro que você tem o direito de fazê-la. Sabe, não penso nisso todos os dias. Mas minha mãe e minha irmã estão sempre aqui, e acredito que todo esse trabalho que faço com os jovens é por elas. Isso dá sentido à minha vida, que é o que eu busco.
P. O que a salvou?
R. Foi a bondade de algumas pessoas. E o fato de me colocar perguntas. Mesmo nos piores momentos eu me colocava perguntas sem parar, falava sozinha, falava com o meu corpo, com meus pés, minhas mãos. E quando os guardas nos batiam, quase não sentia mais dor.
P. O que você pena hoje quando come um pão? Lembra daqueles pedaços de mão mofado?
R. Olhe! [vai até a despensa e pega um pão de forma]. Só compro deste aqui, porque ele tem a mesma forma que aqueles. Eles o cortavam em oito fatias e davam uma para cada uma de nós para o dia inteiro. Como o saboreávamos! Mas hoje eu tenho um inteiro só para mim [risos]. Roubavam pão de nós. Roubavam tudo.
P. Até que aquela mulher lhe deu os quatro pedacinhos de pão que dão o título do livro...
R. Devia ser uma tarde de domingo, o único momento em que não trabalhávamos. Eu saía do barracão, e então a vi, caída e já quase sem brilho nos olhos. Pensei: “Vai morrer logo”. Ela me chamou com um aceno. E me disse: “Você é jovem e precisa viver para contar ao mundo o que está acontecendo aqui”. Abriu a mão, e eu vi os quatro pedacinhos de pão mofado. Ela disse: “Coma”. E foi um banquete.
P. Você perdoou?
R. Não tenho o que perdoar, porque ninguém nunca me pediu perdão. Mas tive de perdoar a mim mesma quando retornei do campo de concentração.
P. Sentiu remorso por estar viva?
R. Sim, claro que sim... Por que eu sim e os outros não?, eu me perguntava. Foi nessas horas que eu quis morrer, não quando estava em Auschwitz. Mas chegou um dia em que eu disse a mim mesma que não podia continuar concedendo a Hitler, 30 anos depois, o poder sobre minha vida. DO EL PAIS

Se alguém perguntar o porquê votar em Jair Bolsonaro mostre esse vídeo.


Bolsonaro com 34%

Jair Bolsonaro tem 34,05% dos votos.
É o resultado de uma pesquisa do Instituto Vertude, realizada por telefone com 6370 pessoas em todo o território nacional.
Lula aparece muito distante, com 27,40% dos votos.
Independentemente dos números, é claro que Jair Bolsonaro disparou e que está com um pé no segundo turno.
Ele deve enfrentar Luciano Huck, com 10,72%, ou João Doria, que tem 7,31% e vai crescer com a campanha na TV.

Toffoli crê em Papai Noel e brinca de Lobo Mau


O que levou Dias Toffoli a pedir vista do processo sobre a restrição do foro privilegiado? A julgar pelo que disse o ministro, foi para dar ao Congresso a oportunidade de deliberar sobre o tema. A proximidade com o Natal despertou em Toffoli uma crença em Papai Noel. Ele acha que um Congresso apinhado de investigados e cúmplices vai acabar com a mamata do foro especial.
Dias Toffoli recebe salário de R$ 33,7 mil do contribuinte para julgar, mas prefere jogar na confusão. Por sorte, o brasileiro já sabe distinguir as coisas. Ninguém mais confunde embromação com profundidade, pose com densidade, cumplicidade com neutralidade, compadrio com moralidade, inércia com estabilidade, investigado com autoridade, omissão com habilidade. Ninguém mais confunde Supremo com divindade.
Ao paralisar um jogo que já estava jogado, Toffoli transformou uma goleada de 7 a 1 numa vitória por 1 a 7. A plateia ficou autorizada a se perguntar: isso que está aí diante dos olhos de todos é ou não é um acordão para prolongar o privilégio do foro de políticos encrencados com a lei? As orelhas são de lobo, o focinho é de lobo, os dentes são de lobo. Mas Toffoli quer que você acredite que se trata de uma vovozinha disfarçada.” DO J.DESOUZA

Bolsonaro lidera influência nas redes sociais, aponta pesquisa

 

25/11/2017 02h00Em números absolutos, Jair Bolsonaro (PSC-RJ) é o pré-candidato a presidente que mais ecoa em redes sociais, segundo estudo da empresa de monitoramento Zeeng.
Entre 12 prováveis postulantes analisados, o deputado federal lidera estatísticas em quesitos como número de seguidores e de reações no Facebook, quantidade de interações no Twitter e total de curtidas no Instagram.
No Facebook, embora ocupe o topo da lista de reações (que variam entre o "curtir" e carinhas que expressam amor, surpresa e tristeza, por exemplo), Bolsonaro tem em suas postagens um dos maiores percentuais de cliques na figura que indica raiva (5%).
No total, ele contabilizou 3,2 milhões de reações no período do levantamento (23 de setembro a 23 de outubro). Lula (PT), o segundo colocado, teve 1,1 milhão. João Doria (PSDB) aparece na terceira colocação, com 1 milhão.
Juntos, os 12 prováveis candidatos somam 16,9 milhões de seguidores no Facebook, 6,2 milhões no Twitter e 1,7 no Instagram.
A plataforma de pesquisa se limitou às quantidades de seguidores e aos indicadores de engajamento, sem ver, por exemplo, se o conteúdo de comentários era crítico ou elogioso ao político.
Segundo a Zeeng, os robôs que rastrearam as contas para o estudo sinalizaram que as postagens de Bolsonaro e de Doria no Facebook podem ter sido impulsionadas. No entanto, diz a empresa, não é possível afirmar com precisão se eles pagaram para aumentar o alcance dos posts.

Editoria de arte/Folhapress
Militância Virtual

Numa eleição em que as redes sociais serão um potente instrumento de campanha, o resultado indica que Bolsonaro –que hoje acumula em torno de 15% de intenções de voto, dividindo com Marina Silva (Rede) o segundo lugar nas pesquisas– vem construindo capital no ambiente virtual.
E é entre internautas que o deputado é mais popular, de acordo com levantamento do Ibope, de outubro.
Ele tem 18% de intenção de voto entre eleitores que acessam regularmente a rede. Entre os que não usam sempre, o percentual cai para 5%. No caso de Lula, é o inverso: o petista tem 44% de intenção entre os "analógicos" e 31% entre os "conectados".
BASE X BARULHO
No Twitter, Marina é quem possui a maior base de fãs (1,8 milhão), legado que o estudo relaciona à participação dela nas eleições de 2010 e 2014.
Porém, o número de interações (quando o seguidor responde a uma mensagem) é pequeno. Fechou em 16 mil no período analisado. Também são baixos, na comparação com o total de fãs, os índices de curtidas e retweets.
Bolsonaro, embora seja só o quarto em número de seguidores, com pouco mais de 670 mil, tem uma reverberação alta no Twitter, com 986 mil interações. Lula, o segundo, angariou 249 mil respostas às suas mensagens. O ex-presidente é o 11º em fãs (160 mil).
Doria lidera em número de seguidores (741 mil) no Instagram, rede que enfatizou na sua campanha de 2016.
Mas é Bolsonaro, segundo em número de fãs (612 mil), quem sai na frente no total de curtidas: 1,6 milhão. Doria acumulou cerca de 1 milhão.
Para Eduardo Prange, CEO da empresa responsável pelo levantamento, os números indicam tendências, mas mudarão até que o cenário se consolide. "É preciso lembrar que nem todo engajamento é positivo", afirma ele.
Emmanuel Publio Dias, professor de marketing político da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), diz que o protagonismo dos políticos nas redes não necessariamente se converte em votação: "Apesar de a pesquisa mostrar números altos, trata-se de uma base muito menor que o total do eleitorado".
Segundo ele, é necessário relativizar os resultados, pois quem segue e interage com pré-candidatos é mais interessado em política do que a média da população.
"Sem falar na interferência de robôs e perfis falsos, que causa um desequilíbrio gigante", diz. Para Dias, a eleição não está posta para o brasileiro em geral, o que deve mudar a partir da definição mais clara do cenário para 2018.

Como o futebol alimenta a cultura do estupro e menospreza a violência contra mulheres

- DO EL PAIS

Além de Robinho, outros jogadores já se envolveram em casos de estupro, agressão doméstica e feminicídio, mas mantiveram prestígio e portas abertas nos clubes


Robinho estupro
Robinho, Jóbson, Bruno e Danilinho: histórico de violência contra a mulher.
A condenação de Robinho a nove anos de prisão pela Justiça italiana, que entendeu que o ex-atacante de Milan e Real Madrid teria participado do estupro coletivo de uma mulher albanesa em 2013, logo gerou repercussões em seu clube atual, o Atlético Mineiro. Durante o treino desta quinta-feira, a sentença ao atacante foi o assunto mais comentado na Cidade do Galo. Robinho recusou-se a dar declarações, mas divulgou uma nota nas redes sociais em que volta a negar seu envolvimento no crime. O jogador ainda pode recorrer em duas instâncias e, por enquanto, não corre risco de ser preso, nem mesmo em caso de condenação definitiva, já que a Constituição brasileira impede a extradição de cidadãos nascidos no país. Depois do treinamento com a equipe atleticana, Robinho tirou fotos com crianças que visitavam a Cidade do Galo e deixou o campo em silêncio. Ao comentarem a notícia nas redes sociais, muitos torcedores saíram em defesa do atacante. Outros, fizeram piadas homofóbicas, tal qual a que descrevia Robinho como estuprador de “Marias” – apelido pejorativo adotado por atleticanos para se referir a torcedores do Cruzeiro, maior rival do Atlético. Além de torcedores, companheiros de time de Robinho também dizem acreditar em sua inocência. “É muito ruim uma acusação dessas, sem que ele tenha feito nada”, disse o zagueiro Gabriel.
Não é a primeira vez que o atacante revelado pelo Santos é apontado como agressor sexual. No início de 2009, quando jogava pelo Manchester City, ele já havia sido acusado de estupro por uma mulher que conhecera em uma boate de Leeds. Chegou a viajar para o Brasil sem a autorização do clube, por medo de ser detido pelas autoridades europeias. Ao retornar à Inglaterra, teve de se apresentar à delegacia de West Yorkshire, onde pagou fiança e foi liberado. O processo acabou arquivado três meses depois.
Robinho é apenas mais um jogador a protagonizar escândalos de estupro e violência contra mulheres. Exemplos não faltam. Ex-atacante do Atlético, que atualmente defende o Vitória, Danilinho foi acusado de agredir uma mulher em uma festa ao longo de sua passagem pelo futebol mexicano e, ainda, de estupro e ameaça de morte por uma jovem de 18 anos. Em 2012, ele havia sido dispensado do Atlético por “problemas disciplinares”. Recentemente, o também atacante Juninho, do Sport, prestou depoimento em uma Delegacia da Mulher em Recife após agredir a ex-namorada, que relatou ter sido ameaçada pelo jogador com uma faca. Embora alegue inocência, ele foi indiciado no começo deste mês por violência doméstica. O clube presta apoio ao jogador e o mantém normalmente integrado ao elenco profissional.
O caso mais emblemático, porém, envolve o ex-goleiro Bruno, revelado pelo Atlético, que foi condenado a 22 anos e três meses de prisão, apontado como mandante do assassinato da modelo Eliza Samudio, com quem teve um filho. Meses antes de sua prisão, em 2010, ele deu uma declaração polêmica ao defender o amigo Adriano Imperador em uma briga conjugal, na época em que ambos defendiam o Flamengo: “Quem nunca brigou ou até saiu na mão com a mulher?”. Antes mesmo de cumprir metade de sua pena, Bruno chegou a assinar contrato com dois clubes de Minas Gerais. Primeiro com o Montes Claros, em 2014 – não conseguiu liberdade provisória para treinar e atuar pelo clube. Em seguida, em 2017, com o Boa Esporte, que disputa a segunda divisão nacional. Ele foi solto em março. Chegou a jogar cinco partidas oficiais pelo clube, mas, por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), acabou retornando para a cadeia.
“Apesar do grave crime cometido pelo Bruno, os clubes não se envergonharam em contratá-lo como uma grande jogada de marketing, enquanto o Richarlyson, por exemplo, não consegue jogar”, compara Gustavo Andrada Bandeira, doutor em educação e autor de estudos sobre masculinidade e futebol, fazendo alusão ao ex-jogador do São Paulo, que, mesmo sem nunca ter se declarado gay, já sofreu com vários protestos homofóbicos de torcedores. Bandeira explica que os episódios de violência contra a mulher cometidos por jogadores refletem não só o machismo da sociedade, como também os agravantes do meio boleiro que reduzem a figura feminina a um objeto de consumo. “Se a violência contra a mulher já é naturalizada pelo homem comum, imagina pelo homem rico, famoso e idolatrado, como é o caso de muitos jogadores de futebol? Ele acaba pensando que a mulher não tem direito de lhe negar nada. E se sente protegido pela devoção incondicional dos torcedores, que tendem a culpar a vítima quando um de seus ídolos se envolve num escândalo desse tipo”, afirma o pesquisador.
De fato, a sociedade brasileira – e não somente o futebol – convive com o machismo enraizado que segue naturalizando a violência cometida por homens. De acordo com dados coletados pelo Ministério da Saúde, que faz levantamento anual de agressões contra a mulher, o Brasil registra um estupro coletivo (praticado por dois ou mais agressores) a cada duas horas e meia. Somente em 2016, foram mais de 3.000 ocorrências. Uma delas chocou o país, quando pelo menos 30 homens estupraram uma adolescente de 16 anos. Apenas sete deles foram detidos e indiciados. Ainda no ano passado, Jóbson, ex-atacante do Botafogo, foi preso acusado de estuprar quatro adolescentes com menos de 15 anos. Segundo depoimentos das vítimas, ele teria levado as garotas para sua chácara, no interior do Pará, e, depois de obrigá-las a ingerir bebidas alcoólicas, cometeu os abusos sexuais. Jóbson aguarda pelo julgamento na prisão. Ele está afastado dos gramados desde 2015, após receber suspensão da FIFA por se recusar a fazer exame antidoping pelo Al-Ittihad, da Arábia Saudita.

As raízes machistas do futebol

Desde cedo, jogadores são formados de acordo com a cartilha machista do futebol, que prega a virilidade e a imposição física como virtudes indispensáveis para um jovem se tornar um craque de sucesso. Além dos padrões de comportamento agressivo que os acompanham das categorias de base ao profissional, os atletas convivem em ambientes em que a figura masculina é predominante e, de uma hora para outra, podem experimentar uma ascensão social tão acentuada quanto destituída de alicerce emocional para lidar com a nova realidade. “Os garotos são iniciados no futebol com enormes lacunas de educação tanto por parte da família quanto da escola”, diz a psicóloga do esporte Suzy Fleury, que já integrou a comissão técnica da seleção brasileira. “Os clubes não têm compromisso com a formação do caráter dos atletas e são coniventes com comportamentos que nossa sociedade não aceita mais.” Ela cita como exemplo o “Masia 360°”, um programa arquitetado nas categorias de base do Barcelona para formar jogadores sob a perspectiva do desenvolvimento emocional e pedagógico. “Não há clube brasileiro que faça algo parecido. O comprometimento com a educação dos jogadores desde a base ajudaria a prevenir outros casos como o do Robinho”, afirma Fleury.
Com frequência, meninos acabam submetidos a diversos tipos de violência em categorias de base, como o trabalho infantil, assédio e abuso sexual. Algo que, de acordo com a nadadora Joanna Maranhão, que foi molestada por um treinador na infância e hoje mantém um projeto social voltado a jovens atletas, se estabelece como fator determinante para moldar agressores em vez de jogadores. “A cultura machista também prejudica o atleta do sexo masculino, que não se permite denunciar as violências que sofre. No futebol, então, isso se torna uma coisa grave. A criança que é vítima de um abuso, por exemplo, e nunca lida com isso pode crescer pensando que tem o direito de fazer a mesma coisa com outra pessoa.”
“Se a violência contra a mulher já é naturalizada pelo homem comum, imagina pelo homem rico, famoso e idolatrado, como é o caso de muitos jogadores de futebol?”

Para Gustavo Andrada Bandeira, o esporte precisa deixar de enxergar a mulher como símbolo sexual atrelado a torcedoras musas e atletas beldades, e passar a interpretá-la como protagonista de jogos e competições. “Dar mais visibilidade ao futebol feminino e mais espaço às mulheres no jornalismo esportivo seria uma maneira de atacar uma das causas do problema, que é a manutenção de um ambiente extremamente machista no futebol”.
Em 2014, a marcação de um impedimento equivocado a favor do mesmo Atlético de Robinho, – durante um clássico contra o Cruzeiro – pela árbitra-assistente Fernanda Colombo, rendeu declarações machistas do então diretor de futebol cruzeirense, Alexandre Mattos: “Essa bandeirinha é bonitinha, mas não está preparada. Tem mais é que posar para a [revista] Playboy, e não trabalhar com futebol”. Apesar de ter sido punido com multa de 500 reais e suspensão pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), Mattos se transferiu para o Palmeiras no ano seguinte como um dos dirigentes mais valorizados do Brasil, enquanto Colombo foi afastada pela CBF e, desde então, viu sua carreira entrar em declínio. Ela não apita mais.

PGR pede ao STF que não paralise inquérito sobre políticos do PMDB

Advogados de investigados têm pedido ao Supremo para suspender inquérito. Fachin já decidiu submeter palavra final sobre o caso ao plenário da Corte.

Por Rosanne D'Agostino, TV Globo, Brasília
A Procuradoria Geral da República (PGR) enviou parecer ao Supremo Tribunal Federal (STF) no qual pediu para o inquérito que investiga políticos do PMDB por organização criminosa não ser paralisado.
São alvos desse inquérito, por exemplo, o presidente Michel Temer, o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
As defesas de investigados têm pedido ao Supremo para suspender o inquérito, mas o relator, ministro Luiz Edson Fachin, já decidiu submeter ao plenário do STF a palavra final sobre paralisar ou não as investigações (relembre no vídeo abaixo).
O argumento apresentado por advogados é que, como os políticos foram acusados de forma conjunta com Temer por organização criminosa, devem continuar no mesmo processo do presidente, suspenso por decisão da Câmara dos Deputados.
Também estão suspensas as investigações sobre os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral) porque eles têm direito ao chamado "foro privilegiado".
Já as investigações sobre políticos do PMDB sem foro, como Geddel, Cunha e o ex-assessor de Temer Rodrigo Rocha Loures, foram remetidas à primeira instância da Justiça.
O presidente Michel Temer (Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)
O presidente Michel Temer (Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)

Pedido de Temer

No último dia 9, o advogado do presidente Michel Temer, Eduardo Carnelós, questionou no STF a decisão de Fachin de fatiar a denúncia. Para Carnelós, a continuidade dos processos em relação a outros acusados pode produzir provas contra Temer, temporariamente blindado.
No pedido, o advogado também argumentou que o prosseguimento do processo em relação aos outros políticos do PMDB levará ao "consistente e perigosíssimo risco de ocorrer colheita de prova sem a participação daqueles que, no futuro, poderão vir a ser atingidos por ela".