quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Comissão aprova relatório pró-impeachment e Magno Malta canta “Vá com Deus” para Dilma

Por 14 votos a 5, a comissão especial do impeachment aprovou o relatório do senador Antonio Anastasia favorável ao afastamento definitivo de Dilma Rousseff.
Os titulares da Bancada da Chupeta (Gleisi Hoffmann, Kátia Abreu, Lindbergh Farias, Telmário Mota e Vanessa Grazziotin) votaram contra o avanço do processo para o plenário do Senado, obviamente depois de horas de esperneio na sessão de despedida.
Comentei alguns momentos em tuitadas:
– Vanessa Grazziotin posa de vítima: reclama do modo como dilmistas são tratados na comissão, onde fazem o diabo. Ingratidão e procrastinação.
– Fátima Bezerra: “Estou aqui expressando opinião do ponto de vista político.” Traduzo: repito chavões e rótulos pois relatório é irrefutável.
– Lindbergh: “Eu vou repetir 10 vezes meu discurso: ‘Fraude, fraude, fraude!'” Repetiu só 3. Mas é mesmo comovente a capacidade argumentativa.
– Lindbergh faz docinho pedindo que retirem logo discurso inteiro dele dos autos e Magno Malta ironiza: “Seu discurso, não, que é muito bom”.
– Gleisi Hoffmann: “Hoje é um dia muito triste pra mim. Sabemos que vamos perder aqui.” Hoje é um dia muito feliz para o Brasil. Vamos ganhar.
– Como Gleisi nega tanto o crime penal de Dilma, como se estivesse em jogo, poderia exemplificar: crime penal é o de que meu marido é acusado.
– Gleisi Hoffmann cita José Saramago e Janio de Freitas. Tudo normal. Estranho seria se citasse Roger Scruton e Olavo de Carvalho.
– Vanessa Grazziotin fala em nome da maioria do povo brasileiro sobre “golpe”. A maioria é a favor do impeachment. A maioria ignora Vanessa.
– Magno Malta: “Chega, Vanessa, chega! Pelo amor de Deus.” Ninguém aguenta mais tanto esperneio.
[* Até Cristovam Buarque se rendeu: “Não tem como não votar pelo impeachment”, disse o senador de esquerda ao Estadão.]
– Anastasia lembra que prometeu serenidade e cumpriu. De fato, não caiu no jogo sujo da Bancada da Chupeta e se ateve à técnica com rigor.
Registro aqui o grande momento em que Magno Malta cantou para Dilma o refrão de “Vá com Deus”, sucesso na voz de Roberta Miranda: DO F.MOURA BRASIL

Editorial do estadão: O samba do partido doido

Há carradas de razões para que se consume o impeachment da presidente Dilma Rousseff, desde as arroladas no processo ora em curso no Senado até as que fizeram do quase finado governo da petista o mais irresponsável e corrupto da história nacional. Mas o voto em separado elaborado pelo PT para se contrapor, na Comissão Especial do Impeachment no Senado, ao parecer do relator Antonio Anastasia (PSDB-MG) é prova cabal de outro grave delito cometido recorrentemente pelos petistas: o de lesa-inteligência. Em poucas oportunidades, os borra-papéis do partido conseguiram juntar num mesmo texto tão estapafúrdias referências – que vão de Dante Alighieri a Hitler – para reafirmar a tese de que Dilma é vítima de golpe.
Enquanto Anastasia procurou embasar seu parecer em fatos, dizendo que a gestão de Dilma instaurou “um vale-tudo orçamentário e fiscal que trouxe sérias consequências negativas para o País”, os petistas denunciaram que a presidente é vítima de uma conspiração das forças do mal. Para isso, apelaram à mais medíocre literatice, a começar pelo título: Crônica de um golpe anunciado.
Logo nos primeiros parágrafos, denuncia-se que, “na calada da noite, em meio aos odores desagradáveis emanados do fisiologismo político e da hipocrisia moral”, se urdiu, em seguida à reeleição de Dilma, “o golpe que ameaça submergir o Brasil numa longa noite de autoritarismo, conservadorismo, retrocesso social e desconstrução de direitos”.
O texto segue nessa toada embaraçosa, dizendo que, “enquanto os justos dormiam o sono do dever cívico cumprido, os derrotados, com ânimo inconformado e insone, iniciavam sua trama cínica e antidemocrática, apoiados em mentiras, distorções e, sobretudo, num secular desprezo pelo voto popular”. Os “justos”, claro, são Dilma e os petistas – aqueles cuja campanha eleitoral foi irrigada com dinheiro de origem mais do que duvidosa e que mentiram descaradamente nos palanques.
A trama, diz o texto, foi “de tal forma sinistra que poderia ter sido contada por Virgílio a Dante Alighieri e ter como introito a lúgubre frase Deixai toda esperança, vós que entrais! Com efeito, começava ali a nova descida da democracia brasileira aos históricos infernos do golpismo”. Era o caso de mencionar que o oitavo círculo do inferno de Dante é aquele onde os corruptos, hipócritas e falsários são punidos com banho em piche fervente, mas o texto omite essa passagem.
O festival de asneiras prossegue no trecho em que os petistas acusam a oposição de disseminar o ódio contra o partido. Eles não se limitam a citar Mandela: “O ódio é algo que se ensina”. Para a tigrada, a estratégia para incitar a violência contra o PT se assemelha à dos nazistas contra os judeus, “como ensinava Goebbels”. E a luta contra a corrupção é vista como “forma de legitimação de forças ou regimes autoritários”: “Hitler, por exemplo, legitimou em grande parte a sua ascensão no cenário político alemão com o recurso demagogo da ‘limpeza das ruas’ alemãs de judeus, ciganos, comunistas e corruptos”.
Na ladainha, assinada pelos senadores Lindbergh Farias (PT-RJ), Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Kátia Abreu (PMDB-TO), não faltaram nem mesmo acusações de que Dilma sofreu o tal “golpe” por ser mulher – e essa alegada misoginia desrespeitou até “o corpo da presidenta do Brasil”. Homessa!
Para coroar, esse verdadeiro samba do partido doido, que faz referências também a Hannah Arendt, Sófocles, Getúlio Vargas e Carlos Lacerda, termina com uma manjada citação de Marx, evocado para dizer que “é a história que se repete, desta vez como farsa”. A turma aposta que “o julgamento definitivo desse hediondo crime de irresponsabilidade caberá, em instância irrecorrível, à História”. Os “historiadores do futuro”, conclui o voto, vão se debruçar sobre esses episódios e concluir que o impeachment, se ocorrer, terá sido um golpe.
Quando se depararem com esse texto exótico, no entanto, os historiadores do futuro só poderão concluir que jamais um grupo político tão medíocre, arrogante e pretensioso esteve no poder no Brasil. DO A.NUNES

A lição do Brasil à Venezuela bolivariana reiterou que não há lugar no Mercosul para assassinos da democracia

Na sexta-feira passada, Nicolás Maduro anunciou que havia assumido a presidência temporária do Mercosul. Dois dias depois, em carta enviada aos integrantes do bloco, o chanceler José Serra comunicou que o governo brasileiro não aceita a Venezuela bolivariana no comando. A decisão, avalizada pela Argentina e pelo Paraguai, confirma que o Itamaraty redescobriu a altivez perdida há mais de 13 anos. E consuma o sepultamento da política externa da cafajestagem, que entre a chegada de Lula ao Planalto e o afastamento de Dilma Rousseff submeteu o país aos caprichos e vontades do vizinho arrogante.
Com Lula no poder, Chávez rebaixou o Brasil a uma espécie de província bolivariana que miava améns às ordens emanadas de Caracas. Foi assim, por exemplo, quando o Congresso de Honduras ─ amparado na Constituição e com o endosso da Corte Suprema ─ destituiu da presidência da República um comparsa de Chávez chamado Manuel Zelaya. Colérico, o reinventor do socialismo escalou o cúmplice brasileiro para juntar-se à trama que pretendia devolver ao palácio um chapéu sem cabeça. O canastrão hondurenho achou mais sensato refugiar-se na embaixada brasileira em Tegucigalpa e transformá-la na Pensão do Zelaya. Foi-se embora semanas depois sem pagar a conta.
O fiasco internacional animou a dupla a agir em sociedade no ramo do petróleo, e construir em Pernambuco a refinaria Abreu e Lima. Dois anos depois, Chávez desistiu da ideia de jerico e aplicou no parceiro um calote colossal. O que seria uma refinaria virou uma usina de negociatas e propinas devassadas pela Operação Lava Jato. Deveria custar 2,5 bilhões de reais. Já consumiu mais de 20 e não tem prazo para terminar. Nada disso afetou o servilismo do Planalto ao farsante prepotente. Antes de tornar-se um passarinho que aconselha o sucessor, Chávez fez a comadre Dilma unir-se à conspiração que infiltrou a Venezuela no Mercosul.
Já nas primeiras horas do governo Temer, ao intrometer-se em assuntos internos do Brasil, Nicolás Maduro colidiu com a reação de Serra ─ e descobriu que fora revogada a vassalagem vergonhosa imposta por Chávez. Nesta semana, começou a aprender que não há lugar no Mercosul para países chefiados por inimigos da democracia e assassinos da liberdade. DO A,NUNES