Josias de Souza
Os indícios da farsa saltam de um vídeo gravado nas dependências do escritório da Petrobras em Brasília. Mas o governo não tem nada a ver com isso. As imagens exibem uma conversa na qual soam as vozes do chefe da Petrobras na Capital, José Eduardo Sobral Barrocas, e do advogado da estatal, Bruno Ferreira. O governo não tem nada a ver com isso.
No diálogo, trama-se o repasse prévio das perguntas —e até das respostas— da CPI, por baixo a mesa, para Graça Foster, José Sérgio Gabrielli e Nestor Cerveró, respectivamente presidente, ex-presidente e ex-diretor da Petrobras. Ensaiados, eles não incorreriam em contradições. Dilma é a principal beneficiária da domesticação da CPI. Mas o governo não tem nada a ver com isso.
Mencionam-se no vídeo os nomes dos personagens que elaboraram os questionários de fancaria. Entre eles Paulo Argenta, assessor especial da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República. O presidente da CPI é o peemedebista Vital do Rêgo, que reza pelo catecismo do Planalto. O relator é o petista José Pimentel, líder de Dilma no Senado até anteontem. Mas o governo não tem nada a ver com isso.
A tese de que o governo não teve nada a ver com a farsa da CPI merece todo o crédito. Por quê? Ela é absolutamente coerente. Dilma deveria pendurar no pescoço uma placa com a frase “meu governo não tem nada a ver com nada”. Isso evitaria que os repórteres continuassem aborrecendo a presidente com perguntas inconvenientes e desnecessárias.
No comando do Conselho Administrativo da Petrobras na época em que a estatal comprou a refinaria-mico de Pasadena, Dilma já explicou que não teve nada a ver com o negócio ruinoso. Ela também não tem nada a ver nem com a crise que atiça a inflação e derruba o PIB, coisa provocada pela ruina internacional. Ora, por que diabos Dilma teria alguma coisa a ver com o abafamento de uma CPI incômoda em pleno período eleitoral?