sábado, 13 de julho de 2013


Governo Dilma
Nenhum governo pode funcionar de forma adequada com 39 ministros
Além da economia de recursos, uma redução nesse número serviria como um sinal de que a presidente se preocupa com a eficiência da gestão
Gabriel Castro
 de Brasília

Veja.com

Reunião ministerial de janeiro de 2012: o retrato da paralisia
(Roberto Stuckert Filho)
Se a presidente Dilma Rousseff decidir realizar reuniões semanais com seus ministros, ouvindo um por semana a partir de 1º de janeiro do ano que vem, a tarefa estará concluída apenas em 24 de setembro.
Nunca houve tantos nomes no primeiro escalão do governo brasileiro: 39. Em seu pior momento desde que assumiu o cargo, com popularidade em queda livre, Dilma enfrenta pressões para enxugar a máquina, mas esbarra no dilema de ter de desalojar aliados importantes na sua engenharia para tentar a reeleição.

A visão equivocada de que o governo deve regular cada aspecto da vida dos cidadãos e as alianças fisiológicas, em que os cargos são moeda corrente, são os dois pilares da estrutura paquidérmica do Executivo federal.
Há décadas, os dezenove prédios alocados por Lúcio Costa na Esplanada dos Ministérios são insuficientes para abrigar adequadamente o primeiro escalão do governo - muitas pastas funcionam hoje em salas improvisadas. O presidente Fernando Collor tinha doze ministros. Fernando Henrique Cardoso elevou o número para 21.
Lula deixou o cargo com 35 ministros. Dilma já criou quatro pastas. A última delas, da Micro e Pequena Empresa, foi inaugurada de forma indisfarçada, somente para acomodar o PSD, partido criado para arrebanhar oposicionistas que queriam mudar de lado.

"Esses 39 ministérios são um sinal evidente de que o governo brasileiro caminha na contramão da história, na direção do patrimonialismo", diz o professor José Matias-Pereira, do Departamento de Administração da Universidade de Brasília (UnB).
"Essa quantidade enorme de ministros provoca um campo de conflito", afirma.

Os exemplos são muitos. O Brasil possui, ao mesmo tempo, um ministério da Agricultura e um do Desenvolvimento Agrário. Acontece que, para tomar a decisão sobre uma desapropriação de terra, por exemplo, o segundo depende de informações que estão em poder do primeiro.
Um proprietário rural que mantenha um tanque de criação de peixes também precisará lidar com o Ministério da Pesca e Aquicultura. E todos os produtores dependem de licenças do Ministério do Meio Ambiente. A ampliação das equipes, em vez de ajudar a fluidez do trabalho, atrapalha porque fragmenta as decisões.

"Se você pegar esses quatro ministérios e construir um único, estratégico, economizará recursos e ganhará eficiência", diz José Eustáquio Ribeiro, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que estudou o impacto da fragmentação administrativa sobre o agronegócio.
A (des)articulação política
Apesar de ter uma equipe gigantesca, a presidente Dilma Rousseff não consegue resolver o problema da articulação política com o Congresso. Ao assumir o cargo, em 2011, ela nomeou o deputado petista Luiz Sérgio (RJ) para a Secretaria de Relações Institucionais.
Desautorizado pela própria Dilma e desrespeitado pelos parlamentares, ele fracassou. No lugar de Luiz Sérgio, assumiu a senadora Ideli Salvatti, também do PT.
Com mais autonomia do que o antecessor, ela angariou fama de má negociadora, e nunca encantou os deputados de partidos aliados, o que rende dores de cabeça ao governo.

Agora, em meio a uma crise com sua base no Legislativo, Dilma recorreu ao ministro da Educação, Aloizio Mercadante, para tentar colocar ordem na casa.
O improviso revelada a falta de planejamento do Executivo. E a articulação política continua frouxa: na prática, é o vice-presidente, Michel Temer, quem sempre é chamado para acalmar o Congresso.

A Secretaria de Assuntos Estratégicos, criada por Luiz Inácio Lula da Silva para pensar ações a longo prazo, serve apenas para mostrar como o governo é incapaz de pensar a longo prazo: em seis anos de funcionamento, a pasta teve uma participação nula na formulação de políticas de governo.
A presidente Dilma Rousseff não ouve o ministro Marcelo Néri para programar suas ações de governo.

Até 2003, quando Lula criou o Ministério do Turismo para abrigar aliados, a pasta funcionava juntamente com o Ministério do Esporte. Desde então, o avanço no número de turistas no país foi pequeno. Profícua, por sua vez, foi a produção de escândalos: o Turismo, que tem um orçamento de 3,4 bilhões de reais para 2013, foi alvo de sucessivas investigações por causa de desvios em emendas parlamentares.
A função primordial do ministério pode ser exercida pela Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), cujo orçamento é de 207 milhões de reais.

Confusão - A falta de clareza nos níveis de hierarquia é outro entrave no funcionamento da máquina. Um mau hábito do governo é a concessão de status de ministro a quem não comanda um ministério. Nessa conta estão, por exemplo, o chefe da Advocacia-Geral da União, Luís Inácio Adams, e da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, dispõe do mesmo cacife por uma razão nada nobre: em 2004, para permitir que Henrique Meirelles tivesse foro privilegiado e escapasse de um processo judicial, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou ministro o então presidente do Banco Central.
Os sucessores no comando do BC continuam dispondo da prerrogativa. Com isso, cria-se a situação absurda de um ministro (Tombini) hierarquicamente inferior a outro ministro (o da Fazenda, Guido Mantega).

A chegada do PT ao poder também levou à criação de duas secretarias com status de ministério para lidar com as chamadas minorias: uma protege as mulheres; a outra, os negros. Antes disso, Fernando Henrique Cardoso já havia criado a Secretaria de Direitos Humanos.
As três pastas funcionariam de forma adequada se fossem integradas ao Ministério da Justiça, que tem poder efetivo para planejar políticas que protejam os direitos dos cidadãos, independentemente da cor ou do sexo.

A Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, na falta de ocupações mais nobres, se notabilizou por iniciativas quixotescas, como a tentativa de retirar do ar um perigosíssimo comercial em que a modelo Gisele Bündchen tratava do "charme da mulher brasileira".
Em outro episódio, a então ministra Iriny Lopes quis interferir no roteiro da novela Fina Estampa para divulgar um serviço governamental de combate à violência doméstica.

Exterior - A irracionalidade do modelo brasileiro torna-se mais evidente quando os números são comparados com os de outros países. O governo americano funciona com quinze ministérios - até a Segunda Guerra Mundial, eram apenas sete. Portugal tem doze.
A Alemanha, quatorze. A Itália, vinte e um. Argentina e Chile também. Londres, Roma e Paris estão entre as cidades que mais recebem turistas no mundo. Ainda assim, Inglaterra, Itália e França não possuem um Ministério do Turismo.

A pesca é um dos pilares da economia japonesa, mas o tema é tratado por um subdepartamento do Ministério de Agricultura Japonês. A Holanda, que tem boa parte de seu território banhada pelo mar, abriga o maior porto da Europa, o de Roterdã. Mas nem por isso o país tem um ministro de Portos, como o Brasil.
A opção por um governo grande, que se desdobra em tentáculos cada vez mais numerosos e cada vez mais difíceis de serem fiscalizados, revela uma visão capenga dos governantes. Um estudo publicado em 2008 na Áustria analisou o tamanho da máquina administrativa em 197 países e concluiu que equipes grandes são sinais de ineficiência de gestão.
Pode-se especular sobre qual dos dois fatores é a causa e qual é o efeito. Mas é fato que a relação existe. Os pesquisadores apontaram até mesmo um "coeficiente de eficiência" que identifica como ideal um número em torno de vinte pastas.

Há mais de uma razão para o corte no número de ministérios. A economia com funcionários comissionados, passagens áreas, combustível, aluguel de imóveis não seria desprezível.
"A redução tem de vir acompanhada de um novo modelo de gestão pública. É preciso refundar a administração pública em parâmetros racionais, para produzir serviços de boa qualidade para a população. É isso que as ruas estão pedindo", diz o professor José Matias-Pereira.
O inchaço da máquina pública no Brasil não é novidade.
Mas, nos últimos tempos, com as manifestações que tomaram as ruas do país, o coro pela redução no número de ministérios voltou a ganhar força. A rejeição ao modelo inchado chegou a tal ponto que até o PMDB, que nunca foi inimigo do fisiologismo, resolveu pedir a redução do número de ministérios.
O líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), apresentou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita a vinte o número de pastas a vinte.

O site de VEJA elaborou uma lista de quinze ministérios que poderiam ser cortados imediatamente. Segundo levantamento feito pela ONG Contas Abertas, o orçamento dessas pastas para 2013 soma 72 bilhões de reais.
O corte significaria economia de recursos e do tempo da presidente Dilma Rousseff - além de espaço: as duas primeiras reuniões ministeriais do mandato foram feitas no Palácio do Planalto.
A terceira, já depois da criação do 39º ministério (o da Micro e Pequena Empresa), teve de ser feita na Granja do Torto, a residência de campo da presidente.
Razão: a mesa da principal sala de reuniões do palácio suporta apenas 38 pessoas além da presidente.

A irrelevância das centrais


O Estado de S.Paulo
As centrais sindicais brasileiras só reúnem multidões no Primeiro de Maio - atraídas não exatamente pela data histórica, mas pelos shows e sorteios que promovem, por exemplo, na Praça Campo de Bagatelle, na zona norte de São Paulo.
Já anteontem, na Avenida Paulista, as entidades que organizaram o Dia Nacional de Lutas, tentando pegar carona nas jornadas espontâneas de protesto que tomaram conta do País em junho, não conseguiram reunir nem 10 mil pessoas.
Das nove associações que as arrebanharam, pelo menos duas, a Força Sindical e a União Geral dos Trabalhadores (UGT), contrataram "manifestantes" a R$ 50 e R$ 70 por cabeça.

Contrastando com a profusão de faixas, balões, bandeiras, camisetas, bonés e fitas, tudo confeccionado em escala industrial pelas centrais que devem a sua prosperidade exclusivamente à aberração do Imposto Sindical - o dia de salário por ano compulsoriamente recolhido de todos quantos tenham carteira assinada -, o clima era de apatia.
"Uma representante da CUT desfilou durante algum tempo diante do carro de som com um rolo de bandeiras debaixo do braço, procurando militantes para empunhá-las", relatou um repórter deste jornal. "Não encontrou."

O que era para ser uma quinta-feira difícil na maior metrópole brasileira acabou sendo um domingo extra. Inumeráveis empresas, temendo o pior, dispensaram seus empregados.
Ônibus e metrô circulavam com poucos passageiros. Na cidade conhecida mundo afora por seu trânsito engarrafado, o congestionamento mal passava dos 10 quilômetros.
Realizados em 68 cidades, incluindo todas as capitais e o Distrito Federal, os protestos foram maiores ali onde o transporte público deixou de funcionar, a exemplo de Belo Horizonte e Vitória. Mas, tudo somado, apenas umas 100 mil pessoas participaram das passeatas.

O Brasil dos carros de som, da discurseira sem fim da caciquia das centrais - essas "entidades burocratas", como bem as qualificou Mayara Vivian, uma das ativistas do Movimento Passe Livre (MPL) que entrou para a história por ter dado a partida às recentes megamanifestações - é um Brasil em marcha batida para a irrelevância.
A afiliação a sindicatos ainda é relativamente expressiva entre nós, mas a tendência é de declínio. Em 2011, último ano para o qual há dados disponíveis, a taxa de sindicalização era de 17,2% do total da população ocupada, ante 18,6% no ano de pico de 2006, a contar da década de 1990.
E isso considerando o aumento do nível de emprego regular, a expansão do setor de serviços e da sindicalização do funcionalismo.

O sindicalismo no Brasil - em especial o que se pode chamar "sindicalismo de rua", por sua capacidade de arregimentar - é uma caricatura do que foi outrora o poder sindical em países como França, Espanha, Itália, Grã-Bretanha e mesmo nos Estados Unidos (onde, de um recorde de 35% de sindicalizados nos anos 1950, o índice atual é 1/5 disso).
Na Europa, a CGT e seus similares, como o TUC britânico, mobilizavam legiões e influíam como nenhuma outra força nos partidos de esquerda.
Aqui, ao revés, as centrais ou são criaturas de agremiações políticas, como a CUT em relação ao PT, ou trampolim para carreiras políticas, como a do notório Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, ex-PTB, hoje no PDT e com planos de ter um partido para chamar de seu, o Solidariedade.

Do pelegato da era Vargas ao sindicalismo de resultados, aplica-se às organizações que falam em nome dos assalariados, de resto compelidos por lei a sustentá-las, o que o antropólogo Claude Lévi-Strauss dizia, em outro contexto, sobre a "obsolescência do inacabado".
Quando Lula, o metalúrgico, irrompeu na cena nacional, defendendo a formação de associações de classe que não fossem correias de transmissão dos governantes de turno, parecia que uma página verdadeiramente nova começava a ser escrita numa história pouco edificante.
Lula, o presidente, alojou na máquina estatal os condutores da máquina sindical ligada ao PT. O aparelhamento era o que faltava para envelhecer o sindicalismo brasileiro sem que tivesse passado pela maturidade.

A um oceano de distância dos idos de junho, o Dia Nacional de Lutas foi o retrato acabado desse definhamento.
13 de julho de 2013


 

CARTA À PRESIDENTE DILMA


Por MILTON SIMON PIRES

Excelentíssima Sra. Presidente da República Dilma Rousseff

Permita-me a apresentação: na minha opinião eu sou um médico; na sua um “trabalhador da saúde”. Na minha opinião,medicina é cuidar de pessoas doentes; na sua é fazer “transformação social”. Eu penso em salvar vidas; a senhora em ganhar votos. Como podemos ver, a senhora e eu eu, não temos muito em comum à primeira vista mas existem na minha vida alguns fatos que a senhora desconhece. Assim como a senhora,eu já fui marxista – e dos fanáticos! Brigava com colegas da faculdade no final dos 80 e inicio dos anos 90 para ver seu projeto de poder realizado. Caminhei ao lado daquele seu amigo que gosta de uma cachacinha e costuma ser fotografado com livros de cabeça para baixo..Conversei pessoalmente com o “poeta do sêmen derramado” que agora governa o Rio Grande do Sul..
Não tinha idéia correta daquilo que havia acontecido no Brasil entre 1964 e 1985. Imaginava, como a senhora quer fazer parecer até hoje, que tudo estava indo bem até que militares malvados que não tinham nada para fazer decidiram, com ajuda dos americanos, derrubar o governo brasileiro.
Eu só me dei conta, presidente, de quem Lula, a senhora e seu Partido-religião representavam quando comecei a trabalhar com a gente de vocês aqui em Porto Alegre a partir de 98. Duvido que eu estivesse mal-preparado, sabe? Eu já tinha feito 6 anos de faculdade, um ano de residência em Pediatria, um de Medicina Interna e dois de Cardiologia. Gostaria que a senhora visse em que lugar seus “cumpanheros” aqui dos pampas me colocaram para trabalhar...Imagino a senhora doente naquelas condições de segurança, higiene, espaço e administração que a ralé do PT do Rio Grande do Sul nos ofereceu. A senhora tem idéia de como deve se sentir um médico ao ter seu estágio probatório avaliado por técnicos de enfermagem? A senhora sabe o que é receber, depois de tudo que se estudou na vida, ordens de enfermeiras, presidente? Em nome de que? Em nome de um delírio chamado “democratização da gestão”? Em nome de um absurdo chamado “controle social”?? A senhora tem alguma noção de quantas pessoas eu vi morrerem depois que esse seu partido de assassinos e mensaleiros terminaram com o resto da rede hospitalar brasileira “aparelhando” a gestão dela com uma legião de analfabetos, recalcados, alcoólatras e incompetentes que por oferecer uma parte de seu salário ao PT passaram a dar ordens a homens e mulheres com capacidade de salvar vidas ???
Mas por favor, não fique ofendida comigo presidente, de certa forma essa carta é um agradecimento, sabe? Formado há quase 20 anos, eu nunca havia visto os médicos brasileiros tão unidos quanto agora. É mais um mérito seu e desse seu partido a promover a maior humilhação que os médicos de um país sofreram até hoje! A senhora não tem vergonha de apelar para uma ditadura bananeira, para um país que mata, tortura, prende e vigia seus próprios cidadãos para fornecer médicos para o SEU povo? A senhora é brasileira, ou não, presidente Dilma?? Se não tem vergonha da medicina do seu país, tenha pelo menos do seu povo! A senhora nasceu aqui e a primeira pessoa que lhe viu foi provavelmente um médico do Brasil. Provavelmente vai ser algum colega, intensivista como eu sou hoje, quem vai estar ao seu lado no último momento e mesmo assim a senhora quer chamar médicos cubanos para enganar nossa gente pobre e doente a ponto de garantir sua reeleição? Quem lhe deu esse conselho, presidente Dilma? Identifique por favor, um por um, os médicos que lhe cercam e sugeriram semelhante ideia! A senhora e eu já conhecemos alguns, né? Vamos apresentar os demais ao Conselho Federal de Medicina, ou não? Presidente Dilma, até bandidos e prostitutas se ofendem quando tem seu território e ganha pão ameaçados. Nós somos médicos, nós salvamos vidas e não vamos permitir que uma profissão cuja origem se perde no tempo seja levada ao fundo do poço por um partido como o da senhora com o argumento de que estamos sendo cor
porativistas e o Brasil está sem médicos.
Deus lhe proteja na batalha que vai enfrentar conosco, presidente. Se a senhora for ferida vai precisar ser atendida por um médico – e eu duvido muito que ele fale português..
Porto Alegre, 2 de julho de 2013

Milton Simon Pires – CREMERS 20958
DO R.DEMOCRATICA