Arthur Virgílio, O Globo
Li, em O Globo,
matéria de Maria Lima
dando conta de que a articuladora política de Dilma, Ideli Salvati,
estaria com medo de possíveis futuras declarações do ex-dirigente do
DNIT, Luiz Antonio Pagot.
A ministra teria ficado alarmada com o sentimento do senador Blairo
Maggi, chefe de Pagot, de que este seria um “fio desencapado”.
Qual a razão do receio? A dificuldade de explicar a relação de
mancebia entre os mais de nove anos de petismo e a empresa Delta
Construções?
A preocupação com a intensa e extensa ligação do empreiteiro
Cavendish com o governador Sergio Cabral, fragilizando, ainda mais, a
coalizão congressual do PT com o PMDB?
Temor de retornarem à ribalta temas constrangedores que foram, a
muito custo, sufocados pela maioria governista na CPI dos Bingos, que o
Senado patrocinou na era Lula?
A lembrança de que Cachoeira subornava Waldomiro Diniz, que
trabalhara na Casa Civil sob José Dirceu e, depois, passara a dirigir a
empresa de loterias do Rio de Janeiro?
O escândalo, mostrado em horário nobre, do contraventor comprando a boa vontade de dirigente tão “ilustre”?
O pavor de que Pagot possa relatar, com detalhes, ordens dos altos escalões palacianos para beneficiar a Delta?
Ou,quem sabe, medo, pavor, horror, fobia, receio de todos esses fatores reunidos?
Que governo é esse que se curva diante de alguém com fama de “fio
desencapado”? Bate o pé e a república do rabo preso se acocora? Segredos
comprometedores? Consciência culpada? Reconhecimento de que a bravata
irresponsável de Lula é tiro a sair pela culatra?
Inacreditável a soberba dos poderosos. Acreditavam possível
“controlar” o rumo das investigações, ferindo alguns oposicionistas e
poupando todos os governistas.
Lula, que odeia intransitivamente, delirou que o governador Marconi
Perillo, de Goiás, pagaria o pato no lugar de Agnelo Queiroz, Rubens
Otoni, Alexandre Padilha, Protógenes Queiroz.
Esqueceu-se de Waldomiro Diniz e suas avoengas trampolinagens com
Cachoeira. Não levou em conta que a Delta, menina dos olhos do PAC – que
seu governo transformou numa das seis maiores empreiteiras do país –
seria tragada pelos acontecimentos, ameaçando levar de roldão petistas
amedrontados e aliados incomodados.
Lula sonhou com uma CPMI que faria somente o que ele próprio,
morubixaba da república do rabo preso, aceitasse e ordenasse. Confiou na
maioria parlamentar, numericamente acachapante, que deixou de herança
para Dilma Rousseff.
Como se essa maioria estivesse unida por princípios e programas e não
cindida amargamente pela disputa selvagem por cargos e espaços
quaisquer de poder.
O ex-presidente subestimou sua excelência o fato. Não compreendeu
que, diante de provas irrefutáveis, acabará acontecendo agora o que se
deu na CPMI dos Correios, que desnudou o escândalo do mensalão.
Basta um único parlamentar, com uma verdade irrecusável nas mãos, e
órgãos de imprensa livres de censura, para derrubar a prepotência e
derrotar o exército do rei Xerxes.
O medo leva alguns a pretender que as investigações se restrinjam a Cachoeira e Demóstenes Torres.
Emprestaram ao primeiro o notável advogado – e petista tendencioso –
Marcio Tomaz Bastos, certamente com a missão de “orientar” e “controlar”
o cliente.
E rezam para que o Senador se conforme com o papel de único punido nesse mar de lama que mobiliza a atenção nacional.
“Fio desencapado”, mais que Pagot, é o próprio governo. É o esquema
de cooptação montado a partir de 2003. É o baixo nível da relação
intra-Executivo e deste com os demais poderes.
Pensaram que uma CPI para o caso Cachoeira embaralharia o julgamento
do mensalão, previsto para este semestre e, de quebra, serviria de
instrumento de vingança do soba.
Pois terão o julgamento dos mensaleiros e não conterão a avalanche de
fatos que surgirão da cascata de crimes e prevaricações presentes aos
olhos de todos.
Arthur Virgílio é diplomata e foi líder do PSDB no Senado
DO B. ABABOBADO