Uma
coisa vocês não podem negar a este escriba, não é?
Desde o primeiro
dia, apontei a ação dos petistas — encabeçados por Lula, José Dirceu e
Rui Falcão — para usar as tramoias de Carlinhos Cachoeira e seu grupo
para tentar melar o processo do mensalão e para intimidar a imprensa.
A
coisa agora é escancarada!
Ontem, Rui Falcão (ver posts abaixo)
perdeu qualquer restinho de pudor e declarou que a “mídia” será o
próximo alvo do governo.
Tudo indica que falou apenas em nome da banda heavy metal
do PT, não do Planalto.
Trato do assunto em outro post.
Muito bem.
“Melar” o mensalão compreende, entre outras coisas, um esforço para
desmoralizar ministros do Supremo Tribunal Federal e o procurador-geral
da República, Roberto Gurgel.
Por Reinaldo Azevedo
A imprensa independente — aquela que não é
financiada com dinheiro público nem é subordinada a uma rede criminosa
montada na Internet (isso ainda vai dar o que falar, anotem aí) — tem de
tomar cuidado para não fazer, involuntariamente, o serviço da
bandidagem. Infelizmente, aqui e ali, isso está acontecendo. Dado o pano
de fundo, exporei aqui um caso emblemático. Antes de fazê-lo, no
entanto, é preciso proceder a uma digressão para esclarecer algumas
coisas.
Começa a digressão
Já escrevi aqui — e Eurípedes Alcântara, diretor de Redação da VEJA, divulgou uma Carta de Princípios
a respeito da ética no jornalismo — que a qualidade moral da fonte não
faz a qualidade da informação. Uma pessoa decente e muito
bem-intencionada pode induzir um repórter ao erro. Um bandido pode dar
uma informação relevante. O importante é o jornalista saber para quem
está trabalhando. Não tenho receio nenhum de debater abertamente o que
alguns vagabundos andam dizendo sobre VEJA. O inquérito que veio a
público demonstra que o profissional da revista trabalhava a serviço da
verdade e do interesse público. Quanto mais isso fica evidente, mais a
corja radicaliza na retórica. A reportagem recebeu informações de
Cachoeira? Também dele, a exemplo de uma penca de jornalistas. Ou algum
repórter investigativo de Brasília se oregulha se só falar com beartos e
beatas??? Matérias foram feitas só com informações do dito-cujo? Isso é
uma piada, uma fantasia! Tanto as reportagens de VEJA eram
fundamentadas, com dados inquestionáveis, que muitas delas estão, sim,
na raiz da demissão de ministros e servidores. Mas atenção! Quem
demite é a presidente Dilma Rousseff. VEJA não tem esse poder. Se a
primeira mandatária tomou tal decisão, encontrou certamente razões muito
fortes para tanto. Não deve ter sido só para não deixar chateada a equipe da revista, certo?
Jornalista
não tem de fazer um tribunal de moral e cívica antes de falar com a
fonte. Tem é de ter a certeza de que não trabalha para ela, mas para o
interesse público. E tem de apurar muito bem os fatos, reitero, para não
servir a bandidos, como fizeram, querendo ou não, os que sustentavam a
veracidade do Dossiê Cayman. Naquele caso, sim, em vez de apuração,
decidiu-se dar crédito à conversa de vigaristas. Tentaram, por exemplo,
fazer de Luiz Antonio Pagot uma pobre vítima do inexistente complô
VEJA-Cachoeira. Gravações que vieram a público, conforme demonstrei aqui,
mostram o ex-chefão do Dnit se entendendo com a turma de Cachoeira.
Vale dizer: aquela acusação era só uma vingança dos ressentidos com
VEJA. Ressentidos por quê? Alguns porque perderam a boquinha. Outros
porque não se conformam com o fato de o Brasil ser uma democracia — não é
mesmo, Rui Falcão?
Vale dizer: o
que dizem Cachoeira e seus rapazes — ou os seres mais impolutos — não
pode ir parar nos sites, revistas e jornais sem que se verifique a
veracidade das acusações. Ou se corre o risco de, sob o pretexto de
combater a bandidagem, agredir instâncias do estado de direito. Como
quer José Dirceu. Como quer Lula, Como quer Rui Falcão. Fim da
digressão.
Agora o caso
Ontem, o Estadão Online publicou um texto
de Ricardo Brito, da Agência Estado, cujo título era: “Grupo de
Cachoeira tentou interferir em habeas corpus”. O busílis era o seguinte:
o prefeito de Piraquê (TO), Olavo Júlio Macedo, estava preso, e a turma
o queria solto. Gleyb e Eney, dois homens do esquema do contraventor,
conversam a respeito do caso e dizem que será julgado o habeas corpus.
Muito bem. Transcrevo em vermelho um parágrafo da reportagem. Leiam com
atenção. Volto em seguida:
Às 15h30 daquele dia, Gleyb disse, em telefonema a um interlocutor não identificado pela PF, que estava no Senado para se encontrar com Demóstenes Torres
(sem partido-GO), suspeito de envolvimento com Cachoeira. Às 16h44, o
integrante do grupo de Cachoeira afirmou, em nova ligação, que iria
passar em um ministério e no Supremo.
Um minuto depois, Gleyb pergunta, numa ligação para Eney, se há “mais alguma coisa” para conversar. O
advogado responde que é preciso manter contato no Supremo, visando
liberar o prefeito cujo habeas corpus estava com Gilmar Mendes.
Voltei
O que o trecho sugere? O óbvio! Que Demóstenes e o tal Geyb
foram falar com Gilmar Mendes em favor do prefeito. Isso se deu no dia 9
de junho do ano passado. O senador ainda era uma referência de
severidade e correção até para seus adversários. Ouvido, o ministro diz
que ninguém foi procurá-lo. MAS ATENÇÃO! SE ALGUÉM O PROCUROU OU NÃO,
ISSO É IRRELEVANTE. O RELEVANTE VEM AGORA!!!
GILMAR MENDES NEGOU DUAS VEZES A CONCESSÃO DE HABEAS CORPUS AO TAL PREFEITO! No
dia 29 de junho e no dia 5 de dezembro de 2011. Muito bem! Agora faço a
pergunta essencial para que avaliemos os riscos que estamos correndo
com certo tipo de apuração e reportagens que andam na praça — mesmo na
imprensa que tem compromisso com a seriedade.
Lá vai:
E SE GILMAR MENDES TIVESSE RECONHECIDO MOTIVOS TÉCNICOS, JURÍDICOS, PARA CONCEDER O HABEAS CORPUS?
Agora o ministro estaria lascado, e aquela fala serviria como
evidência de que ele estaria trabalhando para o grupo de Carlinhos
Cachoeira. Por sorte, ele entendeu duas vezes que o pedido de habeas
corpus era descabido.
Entenderam?
Vocês entenderam a natureza da questão? Uma coisa é o que a
gangue diz entre si, suas bravatas, suas demonstrações de influência.
Outra, distinta, são os fatos. O repórter afirma: “Esta é a segunda vez
que pessoas ligadas a Cachoeira aparecem em grampos telefônicos
comentando casos que estão nas mãos Mendes.” Incrível! Mesmo com a
evidência de que a decisão do ministro não atendeu às expectativas da
turma, mantém-se a sombra da suspeita. Na primeira vez, num caso
envolvendo uma estatal de Goiás, Demóstenes faz referência a um
procedimento regular de Mendes, que não teve mérito ainda decidido.
Revela apenas a sua expectativa. Mesmo assim, o senador apresenta a
coisa como decorrência de sua influência.
Ora,
ministros do Supremo, agora, não são mais livres para decidir segundo a
lei. Habeas corpus? O jeito vai ser dizer sempre “não”! Vai que surja
uma conversa de alguém: “Ah, já falei com o ministro X, está tudo
certo!” Cada membro do Supremo teria de ter o seu próprio sistema
“Guardião” e grampear o país inteiro. Só assim teriam a certeza de que
sua decisão estaria a salvo de ilações.
O mal que Demóstenes fez
Um episódio como esse dá conta do mal que Demóstenes fez à
política — muito maior do que ele imagina, acho. Ele era um medalhão do
Senado. Um senador manter conversar com ministros do Supremo, do STJ,
ministros de estado, autoridades etc. é parte do jogo. Quem lhe
recusaria, em princípio, uma audiência? Que diabos, no entanto, ele
dizia a seus interlocutores sobre esses encontros? Num outro pleito seu,
já nem me lembro sobre qual assunto, não diz ele que mantinha boa
conversa com a ministra do Meio Ambiente? Não se relacionou, também, com
autoridades dos ministérios da Educação e da Saúde?
Este caso em
que o nome de Mendes é citado deveria servir de alerta para os
jornalistas que lidam com o material que foi vazado sobre o inquérito — a
propósito: suponho que os vazadores sejam as carmelitas descalças, né? O
ministro poderia ter concedido o habeas corpus de boníssima-fé. E
estaria agora encalacrado.
Não estão
por aí os criminosos da Internet a sustentar que as fitas que traziam
imagens do “governo paralelo” de Dirceu — fitas do circuito interno do
hotel, reitere-se — foram passadas à VEJA por Cachoeira em troca de uma
reportagem favorável a bingos eletrônicos? Cadê a reportagem? Se alguém a
encontrar, nunca mais escrevo uma linha!
É bom botar
essa bola no chão. Jornalistas decentes só querem a verdade. E têm de
ter claro que há vigaristas querendo apenas as instituições — para
destruí-las.
05/05/2012
DO R.DEMOCRATICA