Leiam este texto com atenção. Ele trata de números. Ele trata de fatos. Se julgarem que faz sentido, passem adiante e debatam
Abaixo,
vocês têm os dados evolutivos com a taxa de homicídios por 100 mil
habitantes de cada unidade da federação de 2000 a 2010. São números do
respeitadíssimo Mapa da Violência.
Abro o post com o quadro porque vocês poderão consultá-lo ao longo da leitura do texto que a ele se segue.
Vamos lá
José Eduardo Cardozo e os petistas estão sendo apresentados por
certa imprensa como, digamos, “professores” na área de segurança
pública. Eles saberiam o que fazer. Não por acaso, José Dirceu anunciou
ontem, em um de seus habituais posts-borborigmo, que a política de
segurança pública de São Paulo não deu certo… Sei. Não se esqueçam
destes números: o Estado fechará o ano com pouco mais de 10 mortos por 100 mil habitantes, e a capital paulista, com pouco mais de 11.
Sabem quem
é bom pra chuchu nessa área? O petismo. Ninguém multiplica cadáveres
como eles — e sob o silêncio cúmplice de boa parte da imprensa. Vamos
ver o que acontece nessa área quando o PT vira governo.
O escândalo baiano
A Bahia talvez seja a maior evidência da distância entre o que o
PT diz e o que PT faz. O petista Jaques Wagner governa o estado desde
2007. Em 2006, houve no estado 23,5 mortos por 100 mil habitantes. Nesse
mesmo ano, São Paulo já tinha um índice inferior: 19,9. Pois bem! Vamos
ver o que aconteceu com os números a partir de 2007, na gestão do
companheiro Wagner: 25,7; 32,9; 37,7 e 37,7. Viram?
Entre 2006 e 2010, sua política de segurança pública exemplar conseguiu
aumentar o número de homicídios em 60,4%! No mesmo período, São Paulo
baixou a sua em 30%. Mas bom mesmo é o PT de José Dirceu!!!
O escândalo paraense
Os paraenses, coitados!, já tiveram um governo petista — o de
Ana Júlia Carepa, entre 2007 e 2010. Também ali o partido teve a chance
de pôr para funcionar as suas ideias verdadeiramente revolucionárias na
área de segurança pública. Um ano antes de a petista chegar ao poder,
houve 29,6 mortos por 100 mil no estado. Vamos ver os números que os
petistas conseguiram produzir entre 2007 e 2010: 30,4; 39,2; 40,2 e 45,9.
Isto mesmo: houve uma elevação de 55,06%! Se o Zé Dirceu considera que o
governo de São Paulo é responsável por um surto de violência — que não
quer dizer aumento estrutural —, louve-se a capacidade ímpar do PT de
produzir cadáveres em série…
Sergipe
Ah, mas existe Sergipe, onde o PT é poder desde 2007! Quem sabe
os petistas tenham reservado toda a sua competência no combate à
violência de Sergipe! Em 2006, ultimo ano do governo não-petista, a taxa
já era alta: 29,8 por 100 mil. Em 2007, teve-se a impressão de algo de
bom poderia estar em curso na área: a taxa caiu um pouco; foi para 25,9.
Engano! De 2008 a 2010, foram estes os números: 25,9; 28,7; 32,6 e 33,3
— aumento de 11,74%. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública traz o
número de 2011: 33,9! E olhem que eles são considerados de “baixa
qualidade”. Vale dizer: pode haver subnotificação.
Piauí
Associado ao PSB, o PT está no governo do Piauí desde 2003
(duas gestões cada um, com o outro de vice). Pois bem: em 2002, o estado
teve 10,9 homicídios por 100 mil habitantes. Vejamos, então, o
desempenho dos companheiros entre 2003 e 2010: 10,8; 11,8; 12,8; 14,4; 13,2; 12,4; 12,8 e 13,7!
Que coisa, não? Em oito anos no poder, os companheiros conseguiram
elevar a taxa de homicídios em 25,68%. E olhem que o Anuário da
Segurança Pública, por exemplo, não leva a sério os dados fornecidos
pelo governo do Piauí porque os considera também de “baixa qualidade”.
Acre
Os petistas governam o Acre desde 1999 — o grupo de Marina
Silva também é poder e, no estado, não se distingue dos petistas. Vejam o
quadro. De 2000 a 2010, eis a taxa de mortos por 100 mil do Acre
segundo o Mapa da Violência: 19,4; 21,2; 25,7; 22,5; 18,7; 18,7; 22,6; 18,9; 19,6 21,5 e 19,6.
É praticamente o dobro da de São Paulo. Mas os petistas insistem em dar
aulas sobre segurança pública. O Anuário Brasileiro de Segurança
Pública não traz números sobre o Acre porque o Estado não fornece de
modo adequado os dados para o Sistema Nacional de Estatísticas de
Segurança Pública e Justiça Criminal (SINESPJC). Eis aí: depois de dez
anos de gestão petista, os mortos por 100 mil habitantes no Estado
cresceram, com alguns picos de violência em 2001, 2002, 2003 e 2009.
E os números bons?
Zeca do PT governou o Mato Grosso do Sul entre 1999 e 2007. Não
cheirou nem fedeu. Em 2000, havia 31 mortos por 100 mil habitantes no
Estado. No último ano de sua gestão, 30. Notem: eu bem que tento
encontrar dados virtuosos do petismo. Segundo o Anuário, em 2011, o
Distrito Federal, governado por Agnelo Queiroz, teve 29,2 mortos por 100
mil — menos do que os 33,2 do ano anterior (ou 34,2 segundo o Mapa).
Essa taxa é 170,37% maior do que a de São Paulo no mesmo ano: 10,8 por
100 mil.
E então?
Eis aí. Com esse retrospecto na segurança pública, os petistas
se atrevem, no entanto, a dar lições de competência aos outros. E que se
note: há taxas ainda piores Brasil afora, a maior parte oriundas de
estados governados pela chamada “base aliada”. Ora, por que os petistas,
então, não aplicam nos estados que governam seus programas miraculosos?
Por que José Eduardo Cardozo não vai fazer proselitismo na Bahia? Por
que não oferece os seus préstimos a Sergipe? Por que não põe em prática
suas ideias revolucionárias no Acre? Por que já não propõe medidas
definitivamente saneadoras ao Piauí?
Pergunto: a
reputação de que governo resiste a que se leve para a TV cada
ocorrência havida de violência, cada caso, sempre como um sintoma de
descontrole da segurança pública? É o que se faz com São Paulo.
Caminhando para a conclusão
Não se trata de negar, reitero, a existência de um surto de
violência no Estado e a ação deletéria do crime organizado. À medida, no
entanto, que se faz tabula rasa de uma política de segurança pública
que demonstra, ao longo de uma década, virtudes inequívocas, faz-se o
que tenho chamado de “aliança objetiva” com a bandidagem. Os criminosos —
sim, existem criminosos soltos em São Paulo; menos do que na maioria
dos estados, mas existem — passam a ser os senhores da pauta.
Quando o
estado que exibe, na média, os melhores indicadores é apresentado como
terra de ninguém, é evidente que o jornalismo morreu faz tempo. Em seu
lugar, entrou uma pauta de natureza política.
Só por
curiosidade: quantos morreram ontem no Rio? E anteontem? E na
terça-feira? E na segunda? A quantas anda a taxa de homicídio no Estado
até outubro? Então aquelas pessoas não tinham história?
Num país
em que existem “mortos com notícia” e “mortos sem notícia”, é forçoso
concluir que os cadáveres se transformaram numa alavanca política. Como,
aliás, já percebeu José Dirceu (ver post na home).
Ah, sim!
Não insistam, hein!? Sérgio Cabral não pode se candidatar a governador
de São Paulo… Não que não pudesse ser divertido vê-lo de lenço na
cabeça, dançando na boquinha da garrafa… Até pensei em sugerir que José
Mariano Beltrame acumulasse as secretarias de Segurança de São Paulo e
Rio… Seria bacana! Poder-se ia fazer a taxa de mortos por 100 mil dos
dois estados, somados. A do Rio (25,8 por 100 mil*) cairia brutalmente, e
a de São Paulo (10,8 por 100 mil*) subiria também brutalmente. A média
daria 18,3! Sem contar que São Paulo precisa de um secretário que, como
direi?, “circule mais”, como se dizia no colunismo social de
antigamente.
Não sei se fui muito sutil…
(*) Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública
Texto publicado originalmente às 2h18