Desafiado
pelo PT, que fechou questão contra a proposta de emenda à Constituição
da reforma política, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN), decidiu pagar para ver. “Se querem assim, vamos para o
confronto”, disse. “Vou levar a proposta ao plenário e vamos votar. Quem
for contra que mostre a cara.”
Henrique afirmou não acreditar que
o PT consiga obstruir a votação. “A maioria da Casa quer votar. Com
essa posição radical, eles vão se isolar”. Ele evoca a polêmica criada
em torno da CPI da Petrobras para realçar o que definiu como
“incoerência” do petismo.
No caso da CPI, o PT tenta cercear o
direito constitucional da minoria de investigar a Petrobras sob o
argumento de que a maioria do Legislativo deseja incluir na investigação
outros enroscos —o cartel dos trens e do metrô de São Paulo e o porto
pernambucano de Suape, por exemplo. Na apreciação da reforma política, o
PT quer impor a sua vontade minoritária ao desejo da maioria.
E
Henrique: “Quando é uma CPI, fazem um absurdo desses. CPI tem que ter
fato determinado, as regras são claras. Já fui obrigado a rejeitar CPIs
porque tinham vários fatos. Agora, querem incluir três, quatro assuntos
numa CPI só. Para isso, a vontade da maioria serve. Para a reforma
política, a maioria não serve, porque o PT só quer reforma com voto em
lista e financiamento público de campanha. Fora disso, nenhuma reforma
politica presta para o PT. Não querem nem discutir, não querem votar.
Isso não é democrático.”
O PT decidiu comprar briga contra a
reforma política defendida por Henrique Alves num encontro de sua
Executiva Nacional. Sob a presidência de Rui Falcão, o colegiado se
reuniu quando o presidente da Câmara estava em viagem oficial à China.
Conforme noticiado
aqui
há cinco dias, a legenda aprovou o “fechamento de questão”, uma
ferramenta prevista nos seus estatutos, para obrigar os filiados a
seguir a posição da legenda, sob pena de expulsão.
A proposta que
Henrique deseja votar foi elaborada por um grupo de tabalho
pluripartidário criado por ele em junho do ano passado. Participaram 25
deputados. Produziram uma proposta que pode ser lida
aqui.
Ironicamente, o grupo foi coordenado pelo petista Cândido Vaccarezza
(SP). E teve a participação do também petista Ricardo Berzoini (SP).
Ex-presidente do PT, Berzoini é, hoje, ministro das Relações
Institucionais. Responde pela coordenação política do Planalto.
“O
Vaccarezza foi indicado por mim”, recorda o presidente da Câmara. “O
Berzoini foi uma indicação do partido. Participou das discussões até o
final. Discordou de algumas coisas. Aprovou outras. Querer agora impedir
que o Parlamento discuta a proposta só porque não tem o que o PT quer
não é, definitivamente, uma atitude democrática. Vou levar a proposta ao
plenário.”
Antes de chegar ao plenário, a PEC precisa vencer dois
obstáculos. O primeiro é a votação na Comissão de Constituição e
Justiça da Câmara. Nessa fase, não se discutirá o mérito da PEC, mas
apenas sua “admissibilidade”. Os membros da CCJ dirão se a proposta foi
redigida seguindo as boas técnicas legislativas e se não contém nenhuma
afronta à Constituição.
Na sequência, a PEC seguirá para uma
comissão especial. Nesse colegiado, os deputados poderão alterar o
conteúdo da proposta. Só então o presidente da Câmara poderá exercer sua
prerrogativa de incluir a matéria na pauta de votações do plenário.
Algo que Henrique Alves deseja fazer na primeira quinzena de maio,
provavelmente no dia 13.
“Essa votação é um compromisso nosso”,
declara. “Quem for contra que vote contra. Vamos aprovar o que for
possível. O que não dá é para deixar de examinar porque um partido é
contra e quer impedir que os outros votem. O Parlamento quer debater,
quer travar uma disputa de ideias. Radicalizar num tema como esse não
faz o menor sentido.”
Nas palavras do presidente da Câmara, “o PT
está se tornando um partido estigmatizado. Adota posições radicais e
acaba se isolando no plenário. É sempre assim. Depois, não sabem por que
ficam isolados.”
Henrique arremata: “A reforma é muito ampla.
Acaba com o voto obrigatório e com a reeleição. Promove a coincidência
das eleições. Altera o processo eleitoral. Trata do financiamento de
campanha. Está tudo lá. O PT é contra? Pois que vote contra. Veremos o
que será derrotado ou aprovado. Eles sempre disseram que queriam votar
uma reforma política. Chegou a hora.”
DO JOSIASDESOUZA