PAZ AMOR E VIDA NA TERRA
" De tanto ver triunfar as nulidades,
De tanto ver crescer as injustiças,
De tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus, o homem chega
a desanimar-se da virtude,
a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto".
[Ruy Barbosa]
O Ministério Público Federal entregou ao juiz Sergio Moro as alegações finais no processo penal que investiga o ex-ministro Antonio Palocci, seu assessor, Branislav Kontic, 0s ex-diretores da Petrobras Renato Duque e Fernando Musa, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari, os marqueteiros João Santana e Mônica Moura, o empreiteiro Marcelo Odebrecht, os executivos Fernando Migliaccio, Olivio Rodrigues, Marcelo Rodrigues, Hilberto Silva e João Ferraz por esquemas de corrupção entre a Odebrecht e a Petrobras.
O MPF quer a condenação dos réus em regime fechado, já que
há agravantes como a ocupação de cargos de diretoria e assessoramento do
governo. Além disso, exige multa pelos valores desviados. Para o órgão, a interferência de Palocci aconteceu em
troca de pagamentos de R$ 128 milhões em propinas. Estes recursos eram
destinados, sobretudo, ao PT.
A exceção da penalidade máxima fica por conta dos que
realizaram delação premiada: Marcelo Odebrecht, Fernando Migliaccio,
Luiz Eduardo Soares, Olivio Rodrigues, João Ferraz, Eduardo Musa, Mônica
Moura e João Santana.
A denúncia se divide em três partes. A primeira investiga o
esquema em que Marcelo Odebrecht ofereceu vantagens indevidas a Antonio
Palocci e Branislav Kotic para favorecer o grupo empresarial.
Na segunda parte, a investigação se debruça na corrupção
ativa de Marcelo Odebrecht e Rogério Araújo, que teriam oferecido
vantagens indevidas para funcionários da Petrobras, como o então
Diretor de Serviços, Renato Duque.
Já a terceira parte se debruça sobre a lavagem de dinheiro
que teria sido cometida por Odebrecht, Hilberto Mascarenhas, Luiz
Eduardo da Rocha Soares, Fernando Migliaccio, Antonio Palocci, Branislav
Kontic, Mônica Moural e João Santana.
“Os valores objeto dos contratos objeto da prática criminosa
são da ordem bilhões de reais. Conforme demonstrado no curso da
presente peça, a partir do esquema de corrupção estruturado, foi
possível que tanto o contrato de construção quanto o contrato de
afretamento firmado em relação às 21 sondas se dessem de forma mais
vantajosa aos estaleiros, em prejuízo à estatal”, escreveu o MPF. DO R.ONLINE
João Alberto Lovera disse que Lula visitou imóvel, mas que instituto acabou desistindo do negócio.
Por Samuel Nunes e José Vianna, G1 PR, Curitiba
O ex-gerente de finanças da Odebrecht João Alberto Lovera afirmou em
depoimento à força-tarefa da Operação Lava Jato, que a empreiteira
comprou um terreno para construir uma nova sede para o Instituto Lula.
Segundo ele, a ordem de compra partiu do então presidente da empresa,
Marcelo Odebrecht.
O caso integra uma ação penal em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva é um dos réus, junto com Marcelo Odebrecht. O Ministério
Público Federal (MPF) acusa o político de ter recebido propina da
construtora, em troca de benefícios que ela obteve com contratos
firmados junto à Petrobras.
Um desses benefícios seria a construção de uma nova sede para o
Instituto Lula, em São Paulo. Segundo o depoimento, a compra do terreno
chegou a ser efetivada. Lovera disse ainda que o ex-presidente Lula
esteve no local, para avaliar a compra, mas que algum tempo depois o
instituto acabou desistindo do negócio.
O acordo de Lovera foi homologado junto à leniência firmada pela
Odebrecht com o Ministério Público Federal. O ex-gerente da empresa não
constava no rol dos 77 delatores ligados à empreiteira, que firmaram
acordos com a Justiça.
De acordo com um despacho do juiz Sérgio Moro, em que aceitou a
inclusão do executivo no acordo da Odebrecht, Lovera falaria sobre esse
caso do terreno para o Instituto Lula e também sobre pagamentos de
propina envolvendo o chamado Setor de Operações Estruturadas, onde a
Odebrecht centralizava os pagamentos ilícitos.
Preso na Lava Jato
O novo colaborador já foi detido na 26ª fase da Operação Lava Jato,
batizada de Xepa. Aquela fase apurava pagamentos de propina pelo Setor
de Operações Estruturadas da Odebrecht. Na ocasião, Moro determinou que
ele fosse detido em caráter temporário.
Outro lado
O G1 procurou o Instituto Lula, que ainda não se manifestou a respeito.
Juiz foi uma das estrelas da Estoril Conferences, em Portugal
Publicado: 30 de maio de 2017 às 17:34 - Atualizado às 18:26
Juiz foi uma das estrelas da Estoril Conferences, em Portugal. Foto: Estoril Conferences
O
juiz federal Sérgio Moro foi uma das estrelas do segundo dia da Estoril
Conferences 2017 que acontecem esta semana, em Portugal. Apresentado
como “o super juiz brasileiro da Lava Jato”, Moro integrou o painel
sobre combate a corrupção ao lado de outros famosos do mundo jurídico
como Antonio di Pietro, procurador resposável pela operação Mãos Limpas
que lutou contra a máfia na Itália, e Carlos Alexandre, juiz da operação
Marques, emO magistrado foi aplaudido de pé quando ao ser anunciado e durante a
palestra em que defendeu o uso das delações premiadas no decorrer da
Lava Jato, fundamentais para o avanço da operação. “É melhor você ter um
esquema de corrupção descoberto e algumas pessoas punidas do que ter
esse esquema de corrupção oculto pra sempre. É melhor ter alguém
condenado do que ninguém condenado”, comentou.
Segundo orador do painel sobre Crime e Democracia, Moro sustentou
que, sem as delações, instituto que ainda não existe em Portugal, não
teria sido possível descobrir os esquemas de corrupção existentes no
Brasil. O juiz foi enfático ao admitir que a corrupção no Brasil é uma
das práticas "mais vergonhosas", mas fez questão de reiterar que o país
"dá passos firmes no seu combate, não havendo nenhuma vergonha nesse
tipo de delação".
O responsável pela Lava Jato em primeira instância, mencionou o
prejuízo que a corrupção causa na economia e na democracia. “Se as
pessoas entendem que a prática de crimes, que a trapaça, passa a ser uma
regra de comportamento, isso afeta significativamente a confiança que
as pessoas têm no sistema democrático”, frisou. Ele lembrou citação do
antigo presidente dos EUA Franklin Delano Roosevelt ao afirmar que a
exposição da punição da corrupção deve ser tratada como uma honra e não
uma vergonha.
Moro reconheceu haver visões negativas sobre o processo da Lava Jato,
mas também um anseio da sociedade brasileira para se ter um país mais
limpo. Segundo o magistrado, depois desse processo, teremos um país
melhor, onde a corrupção sistêmica seja apenas uma lembrança.
O juiz Sérgio Moro está em Portugal, em companhia da mulher, pagando as próprias despesas. DO D. DO PODER
Ministro agora vai definir pauta de julgamentos dos processos da Lava Jato
Breno Pires e Isadora Peron,
O Estado de S.Paulo
30 Maio 2017 | 15h13
BRASÍLIA - O ministro Edson Fachin foi eleito novo
presidente da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, em substituição
a Gilmar Mendes. A partir da sessão da próxima sessão, na terça-feira,
6, Fachin passa a presidir o colegiado que compõe junto com Ricardo
Lewandowski, Celso de Mello, Dias Toffoli e Gilmar. O mandato é de um
ano.
Uma das principais atribuições do presidente de turma é
definir a pauta de julgamentos. A Segunda Turma é aquela em que são
julgados os processos relacionados à Lava Jato, dos quais o ministro
Fachin é o editor. Cabia a Gilmar definir a pauta, e agora caberá a
Fachin.
De acordo com a
regra de definição do presidente da turma, a presidência cabe ao
ministro mais antigo, mas é proibida a recondução "até que todos os seus
integrantes hajam exercido a presidência, observada a ordem decrescente
de antiguidade." A presidência fica com Fachin porque é o único
integrante que ainda não ocupou a função. O ministro entrou em fevereiro
na vaga que era do ministro Teori Zavascki.
"Digo em segundo lugar que aceito honrosamente os desígnos
da disposição regimental que recai sobre os ombros de todos nós
periodicamente para exercício da presidência, e gostaria de assegurar,
como não poderia deixar de ser, que empreenderei na presidência da turma
os melhores de meus esforços seguindo o exemplo de vossa excelência",
disse Fachin, agradecendo ao ministro Gilmar, que se despede nesta
terça, 30, da presidência da turma, e ao ministro Celso de Mello, que
solicitou o novo presidente.
Ministro mais antigo da Corte, Celso de Mello disse a
Fachin: "É um momento importante para essa turma ter vossa excelência
como novo presidente. E, por isso mesmo, quero apresentar os melhores
votos de muita felicidade nesse próximo ano, no qual exercerá o mandato
de presidente".
"Gostaria de desejar ao ministro Fachin todo o êxito.
Certamente a sua gestão coberta de êxitos e também não é nem preciso
dizer que todos nós o apoiaremos na condição de presidente da turma",
disse Gilmar a Fachin.
Presidente responderá por escrito com prazo de 24 horas após recebimento das questões
Breno Pires,
O Estado de S.Paulo
30 Maio 2017 | 15h46
BRASÍLIA - O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal
Federal (STF), determinou nesta terça-feira, 30, o desmembramento de
inquérito e, a partir de agora, o presidente Michel Temer e o seu
ex-assessor Rodrigo Rocha Loures passarão a ser investigados de modo
separado ao do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG).
Apesar do desmembramento, Fachin rejeitou redistribuir a
investigação contra Temer para outro relator e também decidiu que a
Polícia Federal já pode colher o depoimento do peemedebista, podendo,
desde já, encaminhar as perguntas, que deverão ser respondidas por
escrito em um prazo de 24 horas após o recebimento dos questionamentos.
Desta forma, o
ministro negou o pedido que a defesa fez para que depoimento só fosse
tomado após a perícia no áudio da conversa do peemedebista com o delator
Joesley Batista, do grupo J&F. O empresário gravou o presidente em
um diálogo no qual, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), o
presidente teria dado anuência ao cometimento por crimes.
Fachin pediu "máxima brevidade" no cumprimento do que
determinou e destacou a manifestação da PGR de que, por haver
investigados presos, o prazo para a tramitação do inquérito é mais
curto.
Quanto a Aécio Neves, Fachin encaminhou o caso à
Presidência do STF para que a ministra Cármen Lúcia decida sobre o
pedido de redistribuição para um outro relator, com base em sorteio,
diante da argumentação da defesa do tucano de que a investigação sobre o
recebimento de R$ 2 milhões de propina da JBS não guarda conexão com qualquer outra de relatoria de Fachin.
O pedido de desmembramento, feito tanto pela defesa de
Temer quanto pela defesa de Aécio era uma estratégia da defesa do
presidente, que considerava que não haveria mais urgência, com a
separação, porque os presos na investigação eram todos ligados ao
senador afastado: a irmã Andrea Neves, o primo Frederico Pacheco e
Mendherson Lima — estes últimos, segundo a PGR, teriam recebido propina
da JBS em nome de Aécio.
Fachin, no entanto, apontou que a irmã do corretor Lúcio
Funaro, Roberta Funaro, está presa no curso da investigação aberta
contra Temer — o que mantém a urgência para a tramitação.
"De fato, com a decretação da prisão preventiva, no
contexto dessa investigação, de Roberta Funaro Yoshimoto, tem-se como
certo o prazo para conclusão das investigações como aquele previsto na
primeira parte do art. 10 do Código de Processo Penal, a saber, 10 (dez)
dias. E mesmo que tal lapso possa ser interpretado diante da
complexidade dos autos, registro gue o Regimento Interno do STF, no art.
231, § 5º, estipula período menor, qual seja, 5 (cinca) dias para o
encerramento da apuração", disse Fachin.
"Todas essas circunstâncias determinam, portanto, o
retorno imediato dos autos à autoridade policial para que, no prazo de
lei, conclua suas investigações, ficando deferidas, desde logo, as
diligências referidas", acrescentou Fachin.
A autorização ao depoimento de Temer, mesmo com o pedido
da defesa para esperar o fim da perícia, respeita o entendimento do
STF, segundo Fachin.
"Não está prejudicada a persecução criminal com a
observância, no caso em tela, do previsto no art. 221 § 1º, do Código de
Processo Penal, em razão da excepcionalidade de investigação em face do
Presidente da República, lembrando-se que o próprio Ministério Público
Federal não se opôs ao procedimento", decidiu Fachin. "A oitiva deve
ocorrer, por escrito, com prazo de 24 (vinte e quatro) horas para as
respostas formuladas pela autoridacle policial, a contar da entrega,
ante a existência de prisão preventiva vinculada ao caderno indiciário",
completou.DO ESTADÃO
Pela manhã, Michel Temer discursou
para investidores estrangeiros em São Paulo. “A responsabilidade rende
frutos”, declarou. À tarde, de volta a Brasília, Temer assumiu o comando
de uma articulação irresponsável
para assegurar que o suplente de deputado Rodrigo Rocha Loures, o homem
da mala, não perca o escudo do foro privilegiado. Como um centauro
metafórico, o governo Temer mantém a cabeça nas alturas do mercado
globalizado e o corpo aqui embaixo, na politicagem enlameada, nos
arranjos de um presidente investigado que tenta evitar a aparição de
outro delator.
Para demonstrar que ainda dispõe de apoio
congressual, Temer levou ao seminário com investidores os presidentes da
Câmara e do Senado: Rodrigo Maia, o ‘Botafogo’ das planilhas da
Odebrecht; e Eunício Oliveira, o ‘Índio’ da escrituração do departamento
de propinas da construtora. A dupla soltou a língua em discursos sobre
reformas modernizadoras. Também derramaram saliva pelas reformas e por
Temer os investigados tucanos Geraldo Alckmin e Aloysio Nunes, além do
neotucano João Doria.
Em Brasília, para segurar a língua do
potencial delator Rocha Loures, Temer corre atrás de um deputado
paranaense que se disponha a assumir uma vaga no ministério, pois Osmar
Serraglio (PMDB-PR), que cedera a poltrona ao suplente da mala, não
topou ser rebaixado da pasta da Justiça para o Ministério da
Transparência. Conselheiros do presidente avisam que a utilização tão
escancarada do organograma do Estado pode pegar mal. Aconselham
moderação. Mas a simples cogitação de plantar um deputado qualquer na
sacrossanta pasta da Transparência apenas para adular um potencial
delator é reveladora do ponto a que chegou a gestão Temer.
A cabeça do centauro assegura que o governo vive situação de franca normalidade. Mas o Supremo Tribunal Federal autorizou
a Polícia Federal a interrogar o investigado Temer sobre a movimentação
anormal do corpo do centauro, dado a travar diálogos desqualificados
com empresários suspeitos no escurinho do Palácio do Jaburu.
Aos
pouquinhos, Temer vai consolidando o projeto iniciado nos 13 anos de
administrações petistas. Consiste em transformar o Brasil numa república
de bananas. Assim eram chamadas as nações da América Central governadas
por oligarquias corruptas e subservientes ao capital estrangeiro. Uma Banana Republic
era, normalmente, pequena. Mas o Brasilzão, com suas peculiaridades,
entra no clube como um bananão onde a corrupção generalizou-se de tal
forma que tudo tende a acabar em palavras com a desinência ‘ão’ —como
acordão, por exemplo.
A
reação do tucanato à crise que engolfa Michel Temer transformou o ninho
em motivo de piada. Uma das principais lideranças governistas no
Congresso diverte deputados e senadores traçando uma analogia entre os
tucanos e um português de anedota. Sorriso nos lábios, o apologista da
administração Temer conta assim a piada luso-tucana: “Os
bombeiros entraram num prédio incendiado, para verificar os destroços.
Encontraram um português morto. Estava de cabeça para baixo, com o dedo
indicador apontando para um dos cantos do cômodo. Ao lado da vítima, um
extintor e uma placa com a seguinte instrução: ‘Em caso de incêndio,
vire para baixo e aponte para a chama’. Atordoado com as labaredas que
consomem a gestão Temer, o PSDB imita o português. O partido já virou de
ponta-cabeça. Só falta decidir para que lado vai apontar o bico.”
Desde
que explodiu a delação do Grupo JBS, de Joesley Batista, a cúpula do
PSDB ensaia um rompimento com o governo. Viria depois das explicações de
Temer. Foi adiado para depois da decisão do STF sobre a integridade do
áudio com a voz do presidente. Foi protelado para depois da decisão do
TSE sobre o pedido de cassação da chapa Dilma-Temer…
Na noite
desta segunda-feira, os grão-tucanos Fernando Henrique Cardoso e Tasso
Jereissati reuniram-se com Michel Temer e o ministro Moreira Franco
(Secretaria-Geral da Presidência) num hotel de luxo em São Paulo. “Foi
uma conversa
boa e proveitosa. Conversa boa e capaz de nos garantir, a eles e a nós,
que as reformas passarão”, disse Moreira Franco. Falou-se sobre
“caminhos para o futuro”.
O encontro irritou parte da bancada do PSDB na Câmara. Os
deputados tucanos estavam a ponto de explodir na semana passada. Foram
contidos pelo senador Tasso Jereissati (CE), que assumiu a presidência
da legenda depois que Aécio Neves foi fisgado pelo autogrampo do delator
Joesley. Dias depois de pedir calma aos deputados, Tasso abusou da
paciência dos correligionários ao tomar parte do conciliábulo paulista.
“Além de não romper, estamos fazendo novos acordos com Temer”,
queixou-se um deputado tucano.
A bancada do PSDB na Câmara voltou a
ferver. E o tucanato flerta com a divisão interna. Depois de escalar o
muro, seu habitat natural, os tucanos correm o risco de descer de lados
diferentes.
Paradoxalmente, o PSDB frequenta a crise como autor
das ações que podem levar à cassação de Temer e como principal fiador do
governo do primeiro presidente da história a ser investigado no cargo
pelos crimes de corrupção, obstrução da Justiça e formação de
organização criminosa.
Temer tira proveito do desentendimento do
PSDB consigo mesmo e com o DEM, para esticar um governo em estado
terminal. Com Temer no Planalto, o tucanato é força auxiliar do PMDB.
Sem ele, pode virar coadjuvante do DEM, pois o ‘demo’ Rodrigo Maia,
presidente da Câmara é, no momento, o favorito numa eventual eleição
indireta para a escolha do substituto de Temer.
Num dos trechos da
gravação que registra a conversa desqualificada que manteve com o dono
da JBS, o senador Aécio Neves disse que o PSDB representou no TSE contra
a chapa Dilma-Temer apenas para “encher o saco do PT.” Dilma foi
enviada mais cedo para casa. E Aécio, depois de se tornar o fiador da
aliança do PSDB com Temer, apodrece junto com o aliado em praça pública.
Com
suas principais lideranças tisnadas pela Lava Jato —além de Aécio,
ardem no caldeirão Geraldo Alckmin e José Serra— o PSDB perdeu a hora do
rompimento com Temer e o discurso da moralidade. A distância entre as
ameaças de desembarque e sua concretização impõe à situação uma certa
ponderabilidade cômica. De ponta-cabeça, o tucanato não sabe em que
direção deve apontar. Perdeu o rumo e o senso de ridículo.
A
poucos dias do início do julgamento que pode resultar na cassação de
Michel Temer, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral informa que “o
julgamento será jurídico”. Gilmar Mendes acrescenta que ''não cabe ao
TSE resolver crise política. Resolvam suas crises”, disse ele. De um
tribunal não se espera outra coisa senão julgamentos jurídicos. Quando o
presidente da Corte Eleitoral precisa proclamar o óbvio é porque alguma
coisa saiu do lugar.
Enquanto Temer fazia pose de presidente das
reformas, dizia-se que o TSE deveria salvá-lo para não prejudicar a
economia. E muitos achavam normal. De repente, o reformador virou
investigado. Passou a operar pelo adiamento do veredicto. E o TSE ganhou
a aparência de uma peteca, que o Planalto joga para o lado que lhe
convém.
Incomodado com a naturalidade com que auxliares de Temer
antecipam os movimentos do TSE, Gilmar Mendes ergueu a voz: “O TSE não é
um joguete nas mãos do governo.” Por trás da proclamação do óbvio se
esconde uma tragédia: Temer virou uma espécie de Eduardo Cunha
hipertrofiado. A Câmara demorou nove meses para se livrar de Cunha.
Temer acaba de acomodar no Ministério da Justiça Torquato Jardim, um PhD
em TSE e STF. O investigado olha para Cunha, preso em Curitiba, e se
equipa para resistir. A questão é: até quando o Brasil resistirá?
Ex-ministro
da Justiça foi convidado pelo presidente Michel Temer para comandar
pasta, mas recusou. Decisão de Serraglio tira foro privilegiado de
Rodrigo Rocha Loures.
Por Gustavo Aguiar, G1, Brasília
O ex-ministro da Justiça Osmar Serraglio recusou nesta terça-feira (30)
o convite do presidente Michel Temer para assumir o comando do
Ministério da Transparência.
O anúncio foi feito por meio de nota divulgada na manhã desta terça e já havia sido antecipado pelo colunista do G1 Gerson Camarotti (leia a nota ao final desta reportagem).
Com a decisão, Serraglio deve voltar à Câmara e retomar o mandato de
deputado federal, do qual estava licenciado desde que assumiu o comando
do ministério.
Na nota, o agora ex-ministro agradece o "privilégio" de ter chefiado a
pasta e afirma que procurou "dignificar a confiança" que Temer depositou
ao nomeá-lo.
"Volto para a Câmara dos Deputados, onde prosseguirei meu trabalho em prol do Brasil que queremos", conclui.
Rocha Loures
Com a recusa de Serraglio, o deputado afastado Rodrigo Rocha Loures
(PMDB-PR), suplente da bancada peemedebista, perderá o mandato. Isso
porque ele assumiu uma cadeira na Câmara em março, quando Serraglio foi
nomeado para o Ministério da Justiça.
Loures é ex-assessor especial de Temer e foi flagrado pela Polícia
Federal (PF) carregando uma mala com R$ 500 mil em propina pagos pelo
empresário Joesley Batista, dono do frigorífico JBS.
Após a revelação do pagamento, Rocha Loures foi afastado do mandato por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF).
Agora, com o retorno de Serraglio para a Câmara, Rocha Loures deixa de
ser deputado e perde o foro privilegiado no STF e poderá ser investigado
na primeira instância da Justiça.
Isso dependeria de uma decisão do Supremo de desmembrar o inquérito que
o investiga, já que, além de Rocha Loures, a investigação apura a
participação de Temer e do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG). Os
dois têm foro privilegiado.
Com isso, o governo passou a buscar um nome que pudesse exercer mais comando sobre a PF e sobre as investigações e decidiu nomear Torquato Jardim para a Justiça.
Além disso, o novo ministro da Justiça é visto como uma pessoa com bom
trânsito no Judiciário, por já ter sido ministro do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE).
Com a destituição de Serraglio e a nomeação de Jardim, o Planalto
espera melhorar a interlocução do governo nos tribunais às vésperas do
julgamento no TSE que pede a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel
Temer.
Nota
Leia a íntegra da nota divulgada por Osmar Serraglio:
Excelentíssimo Senhor Presidente da República
Agradeço o privilégio de ter sido Ministro da Justiça e Segurança Público do nosso País.
Procurei dignificar a confiança que em mim depositou.
Volto para a Câmara dos Deputados, onde prosseguirei meu trabalho em prol do Brasil que queremos.
Se insistir em sabotar a Lava Jato, o ministro Torquato será despejado do novo gabinete antes de decorar o ramal da secretária
Por
Augusto Nunes
29 maio 2017, 19h12
Brasília - DF, 02/06/2016. Presidente
Interino Michel Temer durante cerimônia de posse do senhor Torquato
Jardim no cargo de Ministro da Transparência, Fiscalização e Controle.
Foto: Beto Barata/PR (reprodução/VEJA)
A mudança que transferiu Osmar Serraglio para o
Ministério da Transparência e instalou Torquato Jardim no Ministério da
Justiça pode parecer aos desinformados outra troca de seis por meia
dúzia. Engano. O que fez o presidente Michel Temer foi trocar o zero
pelo 171. Serraglio, que nunca existiu como ministro, agora está numa
ministério inexistente. Torquato melhorou de endereço para reforçar a
tropa que insiste em deter o avanço da Operação Lava Jato.
Em maio de 2016, numa entrevista a um jornal do Piauí, o
agora ministro da Justiça formulou quatro perguntas, abaixo
reproduzidas, para provar que a mais bem sucedida ofensiva anticorrupção
da história do Brasil não passa de uma irrelevância inconsequente. Confiram:
1) O que mudou com o impeachment de Fernando Collor? 2) O que mudou depois da CPI do Orçamento, quando os sete anões foram cassados? 3) O que mudou com o Mensalão? 4) O que vai mudar com a Lava Jato?
Vamos desenhar. Ao livrar-se de Collor, o Brasil substituiu
um caso de polícia por um insuspeito Itamar Franco, cujo governo, com
Fernando Henrique Cardoso no Ministério da Fazenda, instituiu o Plano
Real, domou a inflação estratosférica, impôs a responsabilidade fiscal e
deixou o país pronto para um sucessor provido de cinco neurônios.
Depois da CPI do Orçamento, o Congresso ficou com sete delinquentes a
menos. A devassa do Mensalão ensinou que, além de pobres, pretos e
prostitutas, as cadeias têm vagas para meliantes da classe executiva,
como José Dirceu, José Genoíno ou Delúbio Soares. A quarta pergunta
induz à suspeita de que Torquato mora em outro planeta. A Lava Jato já
mudou o Brasil.
O balanço dos três últimos anos informa: já não há
condenados à perpétua impunidade, presídios existem para hospedar também
ex-presidentes, camburões espreitam a turma do foro privilegiado,
figurões da política e do empresariado cabem em celas e beliches. Fora o
resto. Tudo somado, o povo aprendeu que os corruptos e seus defensores
não têm musculatura para deter a devassa das catacumbas. Se tentar
sabotar a Lava Jato, o ministro Torquato será despejado do novo gabinete
antes de decorar o ramal da secretária.