quarta-feira, 10 de janeiro de 2018
Boas questões postas por Jorge Maranhão, em artigo publicado pelo Globo:"Eis
a questão para nossos doutos operadores da Justiça, das altas togas aos
do parquet: pode um condenado concitar o povo a fazer manifestações
contra um julgamento da Justiça Federal? Pode injuriar as instituições
judiciais? Participar do debate político quem foi julgado e condenado
por crime de corrupção da própria gestão pública? Então, por que fazem
ouvidos moucos para a convocatória do criminoso José Dirceu nas redes
sociais? Basta visitar o site Nocaute, do jornalista Fernando Morais, e
apreciar o último vídeo postado na semana passada. Ou o site BdF, onde o
líder do MST convoca os militantes para acampar em frente ao prédio da
Justiça Federal":
O ministro da Defesa
correu para negar a necessidade de convocação da Força Nacional
solicitada pelo prefeito de Porto Alegre para o julgamento de Lula lá. O
julgamento do dia 24 de janeiro próximo será um divisor de águas na
cultura política brasileira. Onde vamos colocar o Lula? Na cadeia como
outros políticos já condenados ou no trono dos acima da lei que tudo
podem? Ou refundamos a República, e Lula é um cidadão como outro
qualquer, ou dividiremos o país de vez entre a escumalha geral dos
cidadãos de segunda classe e os cidadãos especiais, como ele próprio se
referiu a Sarney.
Eis a questão para
nossos doutos operadores da Justiça, das altas togas aos do parquet:
pode um condenado concitar o povo a fazer manifestações contra um
julgamento da Justiça Federal? Pode injuriar as instituições judiciais?
Participar do debate político quem foi julgado e condenado por crime de
corrupção da própria gestão pública? Então, por que fazem ouvidos moucos
para a convocatória do criminoso José Dirceu nas redes sociais? Basta
visitar o site Nocaute, do jornalista Fernando Morais, e apreciar o
último vídeo postado na semana passada. Ou o site BdF, onde o líder do
MST convoca os militantes para acampar em frente ao prédio da Justiça
Federal.
Vejam que bela
retorção e distorção barroquista do jornalista do Nocaute, que se diz
independente com bustos de Simón Bolívar, Fidel Castro e Hugo Chávez
colocados em cena, num verdadeiro merchandising esquerdista. E segue o
vídeo do companheiro Zé Dirceu convocando o povo para o combate no
próximo dia 24 de janeiro contra “juízes que querem impedir Lula de ser
candidato”, “juízes golpistas, inclusive do Supremo, que querem afastar o
povo da decisão de eleger seu candidato”, “juízes que querem usurpar o
poder do Legislativo e do Executivo”, exortando os militantes “a
derrubar a ditadura da toga”.
Tenho defendido que,
no campo das artes, não resta dúvida de que a alma barroca brasileira é
esplendorosa, e disso deve saber bem a ministra Cármen Lúcia, mineira de
quatro costados. Mas, no campo da justiça, da moral, da cívica e da
política, é um desastre a prevalência desses resquícios de paixão,
ambiguidade, desmesura e imprudência ainda presentes na alma brasileira e
típicos do esquerdismo dominante. O Brasil, sob a retórica do pão de
queijo — deliciosa retórica, por sinal, de tudo junto e misturado, onde
não se sabe onde começa o pão e acaba o queijo — contra a aritmética e
fria razão do pão, pão; queijo, queijo. Sob o império do paradoxo, da
metáfora, do eufemismo, da ironia, da hipérbole e outras dezenas de
figuras retóricas, vamos trocando valores por atributos pela vida afora.
O que era para ser expressão de um estilo de arte virou expressão de
vida. O burlesco teatral virou a burla política imoral. O que era adorno
virou motivo. O gosto pelo adjetivo parasita de um substantivo
descarnado e anêmico. Do meio tom, mais para o claro ou mais para o
escuro, dependendo do olhar e da encomenda do freguês. Do meio copo
quase cheio ou quase vazio, dependendo do gosto e da sede do bebedor. O
Brasil que mistura prerrogativa com privilégio. O Brasil do disfarce, da
vã retórica, do jeitinho e da tramoia, sempre tramando contra a
sensatez e o bom senso.
Com a palavra, doutos promotores e magistrados! DO O.TAMBOSI