Líder
do PSB na Câmara, o deputado gaúcho Beto Albuquerque está no epicentro
das articulações que devem conduzir Marina Silva à posição aberta com a
morte de Eduardo Campos: cabeça da chapa presidencial do partido. Citado
por correligionários como nova opção de vice, o deputado declarou: “Não
estou reivindicando, mas eu posso ser” o vice da nova chapa.
Em entrevista ao
blog,
Beto contou que esteve na noite de quinta-feira (14) no apartamento de
Marina, em São Paulo. Expôs as expectativas do PSB. Citou dois gestos:
1)
o compromisso de ficar na legenda. “Não pode ter um candidato a
presidente pensado em fazer um novo partido, para mudar de partido
depois”, disse.
2) a assimilação da plataforma de
Campos. “Ela tem que incorporar todas as propostas do Eduardo. Inclusive
as questões de gestão.”
Numa palavra, Beto Albuquerque disse que
Marina terá de fazer uma “releitura” do processo político-eleitoral,
alterado pela morte de Campos. “A candidatura dela não pode se resumir à
Marina de 2010. Estamos em 2014, diante de um fato absolutamente
inusitado, uma tragédia. Assim como o Aécio e a Dilma vão ter que se
adequar ao processo, ela também tem”, disse Beto. O deputado avalia que
ascensão de Marina deve ser referendada no PSB por unanimidade. “Mas ela
precisa abraçar o partido'', ponderou. Abaixo, a entrevista:
— Afinal, o PSB vai ou não efetivar Marina Silva como candidata à Presidência? A Marina foi consultada para saber se autorizava o partido a ouvir suas lideranças sobre a possibilidade de ela ser candidata.
Aceitou a consulta. E a tendência é de que seja ela a candidata.
— A consulta pressupõe dúvida. Quem precisa ser ouvido? Governadores, deputados, senadores…
— Acha que o nome de Marina será aprovado?
Ela é quem tem condições de levar adiante o legado do Eduardo. A Marina
vai ter apenas que fazer uma releitura do processo eleitoral, que se
alterou desde quarta-feira.
— Que releitura seria essa? O cenário político-eleitoral do Brasil mudou radicalmente. Ela, portanto, tem que mudar também.
— Em que ela precisaria mudar?
Ela agora será candidata à Presidência. Não pode ter um candidato a
presidente pensado em fazer um novo partido, para mudar de partido
depois. Ela tem que abraçar o PSB. A rapaziada pode fazer a Rede. Mas
ela agora é PSB, tem que abraçar o partido do Eduardo Campos.
— Abraçar o PSB significa que ela teria que permanecer na legenda? Exatamente, isso inclusive fortalece a candidatura dela.
— Esse ponto é uma pré-condição para que ela se torne a candidata?
Não trataria como uma condição, mas como uma necessidade de fazer a
releitura do processo, para ter a exata compreensão do momento.
— Alguém já disse isso para a Marina?
Eu disse isso a ela. Não há problema em que a rapaziada faça a Rede.
Mas ela tem que assumir compromissos com o partido, abraçar o PSB.
— Quando esteve com Marina? Estive com ela ontem à noite. Fui dar um abraço. E tratei dessas questões. Disse que a responsabilidade dela é grande.
— Como ela respondeu às ponderações?
A Marina estava ainda muito impactada, meio chorosa. Ela tem um
histórico de perda de pessoas à volta dela. E ela estava animada com o
Eduardo. Perdeu o parceiro. Está de fato abalada. Então, não respondeu
objetivamente às questões. Mas ainda vamos aprofundar a discussão com
ela. Do ponto de vista institucional, formal, nós só vamos cuidar dos
problemas depois de domingo. Mas a gente tem que conversar.
— Que outros pontos estão incluídos nessa discussão? Antes,
era Eduardo e Marina. Agora, é Marina e Eduardo. Ela tem que incorporar
todas as propostas do Eduardo. Inclusive as questões de gestão. Marina
precisa se tornar mais ampla.
— Como definir o conceito de ‘mais amplo’? A
Marina precisa incorporar o discurso do Eduardo. A candidatura dela não
pode se resumir à Marina de 2010. Estamos em 2014, diante de um fato
absolutamente inusitado, uma tragédia. Assim como o Aécio e a Dilma vão
ter que se adequar ao processo, ela também tem. Não pode querer repetir
as mesmas estratégias. Estávamos com o Eduardo para ganhar a eleição. E
gostaríamos de ganhar a eleição com ela.
— Na conversa que teve com Marina, sentiu que ela tem disposição para fazer os gestos que o PSB espera? Eu acredito muito na capacidade da Marina de fazer a releitura do momento. Acredito, sim, que ela pode fazer os gestos.
— O PSB está dividido. Já se formou a maioria a favor de Marina?
Sim, tranquilo. Creio que vai ser por unanimidade. Não vai ter tensão.
Esse é um caminho natural. Mas ela precisa abraçar esse partido. Um
partido que está ferido, que perdeu o seu líder. Eu defenderei com unhas
e dentes o respeito ao legado do Eduardo.
— Quando será fechada a chapa? Na semana que vem tem que fechar. Já tem debate na Bandeirantes na quinta-feira, se não estou enganado [a emissora
adiou o debate para o dia 26]. Faremos a nossa reunião na quarta-feira, para definir as coisas.
— Quarta-feria não é muito em cima da hora?
Essa reunião será só para as formalidades. As definições terão de ser
tomadas anteriormente. Quarta é só para abotoar. Daqui até lá a gente
cai conversar bastante.
— Concorda com a tese de que o PSB deve indicar o vice de Marina?
Claro, sem dúvida. E temos que ter ali alguém com uma profunda relação
com o partido e 100% de compromisso com o discurso do Eduardo.
— Conversei com pessoas que disseram que o senhor pode ser o vice. É verdade?
Não estou reivindicando, mas eu posso ser. Temos que honrar a
trajetória de um cara que morreu em serviço, e a serviço de uma causa.
Eu preciso honrar essa causa.
— Já existe uma definição quanto ao vice? Primeiro nós temos que resolver as questões relacionadas com a Marina. Depois veremos a questão do vice.
—
Acha que Marina precisaria sinalizar respeito aos acordos que ela não
avalizou, como as coligações do PSB com o PSDB em praças como São Paulo e
Paraná? Esses são assuntos que já não podem ser
revisados. Isso já está resolvido. Não podemos perder tempo com questões
definidas. Nós só temos 50 dias pela frente, para apresentar uma agenda
para o Brasil, honrar o legado do Eduardo e passar ao segundo turno. O
resto está resolvido. Com concordância ou não, já está resolvido.
— Quando será a próxima reunião com Marina?
Neste sábado, talvez. Estaremos em Recife. Há uma previsão de que os
corpos [das sete vítimas do acidente aéreo] sejam liberados amanhã.
Vamos todos para Recife, por volta de 14h.
— Diria que a candidatura de Marina está definida?
No momento que ela dá o 'OK' para que haja a consulta, não tenho dúvida
de que essa consulta no PSB será favorável a ela. Estou certo de que
ela abraçará o partido.
DO JOSIASDESOUZA-UOL