terça-feira, 6 de novembro de 2018

Pronunciamento Completo de Sérgio Moro sobre ida ao Ministério da Just...

"O incrível destino do juiz que inspirou Moro e de seus algozes", por Vilma Gryzinski

O juiz italiano Giovanni Falcone“Quem silencia e abaixa a cabeça, morre cada vez que faz isso; quem fala e anda com a cabeça erguida, morre uma vez só”.
Giovanni Falcone morreu uma vez só e o estrondo é ouvido até hoje. Não apenas dos 400 quilos de TNT enterrados debaixo do asfalto da estrada para o aeroporto de Palermo  uma carga tão violenta que foi registrada no sismógrafo do Instituto de Geofísica e Vulcanologia das imediações, faltando menos de quatro minutos para a seis horas da tarde de 23 de maio de 1992.
Como o mais conhecido dos muitos “cadaveri eccelenti”, ou cadáveres ilustres, como os mafiosos chamavam suas vítimas famosas, o barulho deixado por Falconi foi mencionado em diversas ocasiões por Sergio Moro, a última delas referindo-se ao processo de decisão de deixar a magistratura  e a Lava Jato para ser ministro da Justiça.
E 2015, disse Moro: “Nos momentos de dificuldade, leio livros sobre Giovanni Falcone e vejo que os casos nos quais ele atuava eram muito mais profundos do que o meu”.
Falcone estabeleceu parâmetros de investigação que hoje parecem ter existido desde sempre: seguir o caminho do dinheiro, interligar as operações criminosas, estabelecer o domínio dos fatos e implantar um sistema de delação premiada que conseguiu, pela primeira vez, quebrar a lei do silêncio, um pacto que remonta à idade média e era garantido com o sangue da família inteira dos que aderiam a ele.

O mais famoso colaborador, o que abriu os portões, tinha um nome impronunciável publicamente no Brasil: Tommaso Buscetta. Rompido com os chefões sicilianos, ele tinha “operado” nos Estados Unidos e no Brasil. Falcone veio negociar pessoalmente a extradição dele.
Reza a lenda que o juiz italiano perguntou por que ele tinha acabado preso em São Paulo e Buscetta respondeu:

“Doutor, no Brasil nem a máfia funciona”.
Foram as informações de Don Masino, como era chamado, que permitiram estabelecer, judicialmente, a responsabilidade dos chefões, os homens da Cúpula  tudo é em maiúsculas quando envolve a Cosa Nostra  pelos crimes nos quais, evidentemente, não sujavam as mãos.

“BEIJO DE HONRA”

Os paralelos com os casos de corrupção no Brasil são evidentes. Na Itália, quase concomitantemente ao máxi-processo, envolvendo os mafiosos de Palermo, ocorreu a operação Mãos Limpas.
O juiz mais conhecido da Mãos Limpas foi Antonio di Pietro. O alcance foi tal que mais da metade dos parlamentares tinham sido indiciados. Ao todo, o caso envolveu mais de 5 000 pessoas, entre políticos, empresários e funcionários públicos.
Os processos conduzidos por Giovanni Falcone acabaram, inevitavelmente, envolvendo políticos. Como funcionaria a Cosa Nostra sem as melhores conexões que o dinheiro pode comprar?
Giulio Andreotti, o patriarca da política italiana, chegou a ser acusado de ter trocado o “beijo de honra” com Totò Riina, o chefão dos chefões, segundo testemunho do próprio motorista do mafioso.
O processo na justiça deu em nada, com a conclusão que as relações de cooperação haviam sido rompidas desde o assassinato, em 1980, do ilustríssimo cadáver Piersanti Mattarella, líder democrata-cristão que denunciava os acordos espúrios com os mafiosos (o atual presidente italiano, Sergio Mattarella, é irmão dele).
Riina deu a ordem de matar Giovanni Falcone. A ascensão do chefão de Corleone  exatamente a mesma cidadezinha do livro de Mario Puzzo e da série de filmes de Francis Coppola  e a brutalidade de seus métodos correspondem mais ou menos às de Pablo Escobar e da explosão de consumo de cocaína.
O chefão estava preso, depois de passar 23 anos “foragido”  na sua casa em Palermo, com a mulher e os quatro filhos, debaixo do nariz das autoridades que fingiam nada ver.
O executor, ou killer, como dizem os italianos, foi Giovanni Brusca. Quando foi preso, quatro anos depois do assassinato de Falcone, exibia na ficha “entre 100 e 200” mortes  tinha perdido a conta.
Conhecido como Porco, ele havia rompido hediondamente a tradição mafiosa de não matar mulheres e crianças. Sequestrou o filho de onze anos de um dos “arrependidos” e manteve o menino em diversos cárceres durante meses, mandando fotos ao pai da criança torturada. Depois, mandou estrangular e dissolver o corpo do menino num barril de soda cáustica.
A prisão de Brusca foi comemorada por policiais de Palermo que chegaram a chorar de alegria, arrancando do rosto as balaclavas usadas para a própria proteção.
Já podiam andar de cabeça erguida, como aconselhava Falcone.

BELLA FIGURA

Dos principais envolvidos, Brusca é o único que continua vivo, com a colaboração premiada e o bom comportamento recompensados por saídas para visitar a família.
Totò Riina morreu no ano passado, aos 87 anos, na cadeia onde estava desde 1983. Tommaso Buscetta entrou num programa de proteção a testemunhas nos Estados Unidos, com nova identidade e novo rosto, com outra operação plástica. Morreu lá, de câncer de pulmão, no ano 2000.
Sobreviveu a mais de 20 parentes mortos nas guerras internas da Cosa Nostra. E, obviamente, a Falcone, a quem conheceu quando estava preso no Brasil e avisou: “Primeiro, eles vão tentar me pegar. Depois, vai ser você.”
No primeiro encontro com o juiz, Don Masino vestia blazer branco com abotoamento duplo, calça preta, camisa azul marinho e gravata. Queria, evidentemente, fazer uma “bella figura”, como dizem os italianos. Manter as aparências.
Mais de 300 mafiosos foram presos e condenados devido ao tsunami de confissões iniciado por ele e ao trabalho pioneiro de Giovanni Falcone.
Como Pablo Escobar, Totò Riina chegou a ameaçar as estruturas do Estado italiano, com atentados a bomba que imitavam os métodos dos grupos de extrema-esquerda e extrema-direita. Mirava no coração da identidade italiana: igrejas e ambientes de exibição de arte.
Falcone morreu ao lado da mulher, Francesca Morvillo. Ele próprio dirigia o Fiat Croma branco. Morreram também três seguranças. Os carros retorcidos acabaram virando peças de museu contra a infâmia.
Menos de dois meses depois, um carro-bomba explodiu na frente da casa de Paolo Borsellino, colega de Falcone que denunciava elos entre mafiosos e políticos. Morreram o juiz e cinco policiais.
Os assassinatos propiciaram o regime de incomunicabilidade chamado 14BIS, uma referência ao artigo do regimento carcerário que o propiciou. O poder da máfia siciliana diminuiu consideravelmente, mas é claro que não desapareceu. Muitos especialistas consideram que a máfia napolitana ocupou os espaços vazios.
Mas mandar matar Falcone não foi definitivamente uma boa ideia para a cúpula da Cosa Nostra. E provou, mais uma vez, que criminosos considerados intocáveis prejudicam seus próprios interesses, embriagados pela ideia de que podem tudo.
Até encontrarem um falcão pela frente. DO J.TOMAZ

O BRASIL TEM POVO

Terça-feira, novembro 06, 2018


Por Maria Lucia Victor Barbosa (*)
Em 1881, na obra L’esclavage au Brésil, o francês Louis Couty analisou nosso país. Afirmou o autor que:
“O Brasil não tem povo, pois o largo espaço compreendido entre a alta classe dirigente e os escravos não se acha suficientemente preenchida”.
“Em nenhuma parte se encontrarão estas massas fortemente organizadas de produtores livres, agrícolas e industriais, que em nossos povos civilizados são a base de toda riqueza, bem como não se acharão massas de eleitores sabendo pensar e votar, capazes de impor ao governo uma direção definida”.
De lá para cá muita coisa mudou, mas será que o Brasil já tem povo? 
Voltemos ao ano de 2002. O PT, na quarta tentativa logrou eleger Luiz Inácio Lula da Silva, que em si é um fake news. Isso porque, o senhor Silva nunca foi o que disseram que ele era, em que pese o culto da personalidade que o PT elaborou para ele.
Na verdade, o senhor Silva nunca foi um estadista, um líder carismático no verdadeiro sentido do termo. Foi, isso sim, um esperto enganador de massas, arte que aprendeu na sua fase pelega quando, segundo testemunhos da época, conseguia desencadear greves em proveito dos patrões e não dos operários.
A eleição do senhor Silva se deu através de outro monumental fake news, pois se dizia que o PT era o único partido ético, imaculadamente puro, capaz de salvar os pobres e oprimidos.
No poder o PT institucionalizou a corrupção, governou na base do mensalão e do petrolão, deu migalhas aos pobres e locupletou-se junto a grupos de ricos. Enquanto isso, a classe dirigente petista, de viés comunista, mostrava por palavras e atitudes sua essência totalitária. Para os que não rezavam por sua cartilha os arrogantes petistas foram e continuam ser agressivos, sectários, intimidadores, patrulheiros.
Resumindo, o PT é a antítese da democracia. Inclusive, o senhor Silva se dedicou a enaltecer e financiar os piores déspotas, não só latino-americanos, como a escória internacional.  Além disso, o PT sofre de aristofobia (medo ou horror aos melhores), sendo que nos seus quadros governamentais prevaleceram os piores, os incompetentes, os gananciosos.
Pode-se também dizer que o PT é o partido do ódio, da divisão social, da negação, da amoralidade. 
Relembro também a invenção nefasta do senhor Silva: Dilma Rousseff, a atrapalhada e confusa senhora que, juntamente com seu criador conduziu ao Brasil à pior recessão de nossa história.
Desse modo, quando o presidiário Silva pergunta o porquê do antipetismo que ajudou eleger Jair Messias Bolsonaro, há na indagação um misto de ironia e cinismo. Não é possível que ele não saiba sobre os males que seu governo causou ao país.
Não há que negar que o repúdio ao PT ajudou Bolsonaro vencer. Porém, existem fatores que já analisei em outros artigos como: carisma, identificação e confiabilidade, características do candidato, além do que denominei de Quinto Poder e Palanque Digital, me referindo as redes sociais como o Face Book, o Instagram, o WhatsApp, o Twitter, etc. que superaram o palanque eletrônico da TV. Estes fatores levaram Bolsonaro à vitória.
Outra característica petista: Conforme seu modo de ser totalitário, próprio do comunismo, os petistas deturpam palavras, invertem conceitos e estigmatizam pessoas com certos termos. Assim, Bolsonaro, que é amigo de Israel, foi taxado de nazista.
Nada mais parecido com Mussolini do que o presidiário, mas chamar Bolsonaro de fascista tornou-se a repetição dos que falam sobre o que não conhecem.
Conservador é outro xingamento, quando na verdade trata-se da moral no tocante a temas como aborto, ideologia de gênero, etc. coisas que o PT defende. E moral, recorde-se, “é o conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo e lugar, quer para um grupo ou pessoa determinada”.
Liberal (não no sentido norte-americano), virou outro estigma, quando na verdade significa liberdade em todos os sentidos, de pensamento, de religião, de reunião e muito mais, sendo que do liberalismo floresceu a democracia.
Bolsonaro venceu com o entusiástico e fiel apoio de 57,7 milhões de eleitores, perfazendo 55% dos votos válidos.  Como democrata e afeito a meritocracia ele está constituindo o melhor ministério de nossa história Entre os ministros já indicados está o notável juiz, Sérgio Moro. Este continuará a fazer justiça com poderes ampliados, para o temor dos que têm contas a ajustar com a lei.
Inconformado com a derrota, o PT já faz oposição encarniçada ao eleito que ainda não tomou posse e até já trama seu impeachment. O problema do PT e de outros opositores que se dizem de esquerda é que, com a eleição de Jair Bolsonaro o país já tem povo. E quem tem o povo ao seu lado nada tem a temer. Fiquemos, porém, atentos e não nos deixemos enganar, pois no grito dos derrotados há choro e ranger de dentes. DO A.AMORIM
(*) Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.

Moro, Bolsonaro e a mentira como fundamento da análise.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Em tempos de relativismo feroz e "pós-verdade", a verdade é afirmada - por jornalistas, sociólogos e até filósofos - como inexistente. Se o mundo é constituído de narrativas, visões pessoais, étnicas, coletivas, não há verdade universal. Não há fato que torne uma "narrativa" dominante, isto é, universal (ora, por isso mesmo tudo é relativo). Ciência? Mera narrativa. Afirmações? Puramente subjetivas. E por aí vai. Vence a mentira, como, a propósito, ressalta o texto de Bruno Garschagen publicado pelo Gazeta do Povo:

Aceitar como válida – ou até mesmo legítima – qualquer observação que vincule a aceitação de Sergio Moro para ser ministro da Justiça de Jair Bolsonaro com a sua atuação na Lava Jato e supostas pretensões políticas para 2022 não é só fazer o jogo da esquerda: é fazer-se instrumento de uma artimanha ideológica que tenta atribuir à operação aquilo que a esquerda quer que ela seja: uma grande conspiração da direita para prender Lula, impedi-lo de ser candidato e destruir as chances do PT de voltar ao poder. O lulopetismo é, de fato, um delírio.
Essa é, aliás e desde o início, a tese que a esquerda, capitaneada pelo PT, tenta vender publicamente. Quem a amplifica e se esforça para legitimá-la travestida de análise imparcial dos fatos são os intelectuais e a intelligentsia do antigo regime petista, fauna e flora que reúne políticos, professores universitários, comentaristas políticos, jornalistas e repórteres. Se você achava que tinha lido de tudo o que é equivocado na grande imprensa durante a eleição, deve estar vendo agora que nada é tão esquerdado que não possa mais esquerdar.
Incapazes de racionar fora de um esquema mental que se provou desatualizado e inadequado para o atual momento do país, quando não estritamente orientado por um vínculo ideológico, o grupo que ainda tem influência na opinião e na política comete contra Moro um erro de natureza similar ao que cometeu ao analisar a candidatura de Bolsonaro, a sua vitória e o que pensa e deseja a numerosa parcela da sociedade que o elegeu.
Mesmo quando diziam ser falsa a narrativa do PT, os comentaristas que citavam a hipótese já contribuíam para colocá-la no debate e para alimentar a máquina petista de destruir reputações. Foram muitos os que, a pretexto de negar o que estava sendo declarado aos quatro cantos pelos esquerdistas, colaboraram como instrumentos de propagação dessa mentira. Ainda mais quando se dizia que a decisão de Moro contribuía, sim, para reforçar a acusação dos petistas, como se os petistas tivessem credibilidade e legitimidade para acusar alguém de qualquer coisa.
Outros jornalistas, como Janio de Freitas, fizeram, em vão, um malabarismo verbal para garantir que a aceitação de Moro arranhou o seu prestígio e fortaleceu o “projeto autoritário e reacionário de Jair Bolsonaro”. Considerando que não há qualquer dado empírico que confirme tal afirmação, e o próprio Freitas se contradiz ao dizer que Moro fortalece Bolsonaro (só se pode fortalecer alguém quando se tem prestígio para tal), suspeito que Moro teve seu prestígio arranhado apenas dentro do grupo do qual faz parte o comentarista, que não definiu nem demonstrou o que será essa mistura de autoritarismo com reacionarismo do próximo governo eleito.
Ardilosamente, Freitas colocou sob suspeita as decisões do juiz federal no âmbito da Lava Jato e cobrou dos magistrados que terão a responsabilidade de julgar os recursos contra as decisões por Moro já proferidas uma postura diferente daquela que o colunista chamou de “temerosa, oportunista, facciosa”. Num só artigo, ele lançou suspeições sobre o trabalho do juiz-símbolo do combate à corrupção e de todos os demais desembargadores do Tribunal Regional Federal que ratificaram as condenações.
Além das “análises”, houve também quem usasse o espaço no jornal para difundir ataques formulados por entidades petistas como se fossem posições sérias e insuspeitas. Foi o caso da nota assinada pela Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABDJ) e publicada pela jornalista Monica Bergamo em sua coluna. Essa associação serve como satélite do petismo no mundo jurídico e agiu para ratificar a tese da condenação de Lula como sendo uma prisão política, mas é tratada desde sempre como se fosse um grupo independente com reputação para atacar quem quer que seja. A nota toda é um ataque ideologicamente enviesado contra Moro. A narrativa é a mesma: ao aceitar o convite de Bolsonaro, o juiz federal assinou uma confissão pública de que esteve a todo momento atuando politicamente em favor da candidatura vitoriosa. No passado, quando Bolsonaro era considerado carta fora do baralho, essa mesma esquerda acusava Moro de estar a serviço do PSDB.
Tudo parece ser um ataque coordenado para minar as escolhas do presidente eleito depois das tentativas de minar a sua campanha: foi assim com as escolhas de Hamilton Mourão para vice e de Paulo Guedes para ministro da Fazenda. Várias foram as “reportagens” que abriram mão de informar para convencer o leitor de que Bolsonaro era o cão (fascista, homofóbico, misógino) chupando manga.
Uma coisa é fazer críticas oportunas aos poderes que estarão concentrados nas mãos de Sergio Moro no Ministério da Justiça. É dever dos analistas fazê-lo, assim como, se for o caso, apontar caminhos mais adequados. Porque, por mais bem-intencionados que Bolsonaro e Moro possam ser, a concentração de poder e o seu exercício sem os devidos contrapesos podem provocar consequências negativas imprevistas e anabolizar o Megatério que é o Estado brasileiro.
Outra coisa é, entretanto, ocultar uma clara intenção de atacar sistematicamente um presidente, suas escolhas e seus escolhidos sob o disfarce de análise isenta e de jornalismo imparcial. Não é problema comentaristas, analistas e jornais terem posições políticas definidas e pautar seus trabalhos a partir de suas ideologias e visões de mundo, mas essas informações devem ser de conhecimento pleno dos leitores: pelo bem da honestidade intelectual e da integridade do jornalismo. DO O.TAMBOSI