domingo, 30 de junho de 2013

CHEGA (Não é pelos vinte centavos)





Gabriel Moura

DO R.DEMOCRATICA

O medo da vaia esvazia a tribuna de honra do Maracanã: Lula refugiou-se na África e Dilma resolveu ficar escondida em casa

Em silêncio sobre o caso Rose há 217 dias, faz 23 que Lula não abre a boca em público sobre as manifestações de rua que vêm ocorrendo em centenas de cidades desde 6 de junho.
E vai continuar fugindo do assunto enquanto puder. Nesta sexta-feira, depois de permanecer enfurnado algumas semanas no Instituto Lula, o maior dos governantes desde Tomé de Souza tratou de afastar-se de problemas novos ou antigos a jato.
Jatinho, para ser mais preciso.
A bordo de um deles, cedido por um dos patrões do camelô de empreiteiros, caiu fora do país que perdeu a paciência com os vendedores de fumaça que arquitetaram a farsa do Brasil Maravilha.
Como informa a coluna do meu irmão Ricardo Setti, o palanque ambulante foi tapear plateias na África. Nos países explorados por ditadores companheiros, as balas que reprimem manifestações contra o governo não são de borracha.
Além de escondê-lo de perguntas sobre o caso de polícia em que se meteu ao lado da segunda dama Rosemary Noronha, e de poupá-lo de caçar explicações para a onda de descontentamento que varre o paraíso imaginário, a viagem livrou o foragido do dilema que atormentou a presidente Dilma Rousseff, o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes: ir ou não ir ao Maracanã neste domingo.
Os três ases das urnas alegaram que, antes de anunciar o que fariam, precisavam saber o que pretendiam fazer os manifestantes que vão protestar nas ruas do Rio contra a afrontosa gastança do bando que surfa na Copa da Ladroagem.
Conversa fiada: o que aguça o pavor dos parceiros é a certeza de que nenhum escaparia da surra sonora aplicada por milhares de brasileiros que não embarcaram no conto da “pátria de chuteiras”.
Neste sábado, Dilma enfim revogou a bravata recitada no mesmo dia em que a multidão aglomerada no Mané Garrincha mostrou o que acha do seu desempenho.
Vai ver pela TV o jogo entre o Brasil e a Espanha. Foi aconselhada a ficar em casa pelas lembranças do vexame na abertura da Copa das Confederações, pelo clamor das ruas e pela pesquisa divulgada pelo Datafolha.
Como também aconselhou a chefe a manter distância da zona perigosa, pode-se deduzir que Sérgio Cabral vai torcer pela Seleção em companhia da família.
É provável que convide Eduardo Paes para dividir um sofá. A deserção dos que dias atrás enxergavam a oitava maravilha do mundo no estádio reformado por absurdos 1,2 bilhão de reais atesta que, se soubessem dos planos de Lula, todos teriam disputado a pontapés uma vaga no jatinho do palanque ambulante.
O presidente da Fifa, Joseph Blatter, será vaiado sozinho.

No Maracanã superlotado, estarão vazios os lugares reservados à presidente, ao governador e ao prefeito na tribuna de honra.
É mais uma prova contundente de que os governantes lulopetistas e seus comparsas só protagonizam demonstrações de bravura em combate quando lutam contra a lei, a ética e os cofres públicos.
AUGUSTO NUNES-REV VEJA
29/06/2013

Manuel Castells: ‘O povo não vai se cansar de protestar’

Sociólogo afirma que ausência de líderes é uma das qualidades dos protestos no Brasil e diz que país vai influenciar países vizinhos
Maurício Meireles
Na rua está “a sociedade em sua diversidade”, diz Castells
Foto: Luiz Munhoz/FatoPress/Folhapress/10-6-2013
Na rua está “a sociedade em sua diversidade”, diz Castells Luiz Munhoz/FatoPress/Folhapress/10-6-2013
Para o sociólogo catalão Manuel Castells, boa parte dos políticos é de “burocratas preguiçosos”. Ele é um dos pensadores mais influentes do mundo, com suas análises sobre os efeitos da tecnologia na economia, na cultura e, principalmente, no ativismo. Conhecido por sua língua afiada, o espanhol falou ao GLOBO por e-mail sobre os protestos.
Os protestos no Brasil não tinham líderes. Isso é uma qualidade ou um defeito?
Claro que é uma qualidade. Não há cabeças para serem cortadas. Assim, as redes se espalham e alcançam novos espaços na internet e nas ruas. Não se trata, apenas, de redes na internet, mas redes presenciais.
Como conseguir interlocução com as instituições sem líderes?
Eles apresentam suas demandas no espaço público, e cabe às instituições estabelecer o diálogo. Uma comissão pode até ser eleita para encontrar o presidente, mas não líderes.
Como explicar os protestos?
É um movimento contra a corrupção e a arrogância dos políticos, em defesa da dignidade e dos direitos humanos — aí incluído o transporte. Os movimentos recentes colocam a dignidade e a democracia como meta, mais do que o combate à pobreza. É um protesto democrático e moral, como a maioria dos outros recentes.
Por que o senhor disse que os protestos brasileiros são um “ponto de inflexão”?
É a primeira vez que os brasileiros se manifestam fora dos canais tradicionais, como partidos e sindicatos. As pessoas cobram soberania política. É um movimento contra o monopólio do poder por parte de partidos altamente burocratizados. É, ainda, uma manifestação contra o crescimento econômico que não cuida da qualidade de vida nas cidades. No caso, o tema foi o transporte. Eles são contra a ideia do crescimento pelo crescimento, o mantra do neodesenvolvimentismo da América Latina, seja de direita, seja de esquerda. Como o Brasil costuma criar tendências, estamos em um ponto de inflexão não só para ele e o continente. A ideologia do crescimento, como solução para os problemas sociais, foi desmistificada.
O que costuma mover esses protestos?
O ultraje, causado pela desatenção dos políticos e burocratas do governo pelos problemas e desejos de seus cidadãos, que os elegem e pagam seus salários. O principal é que milhares de cidadãos se sentem fortalecidos agora.
O senhor acha que eles podem ter sucesso sem uma pauta bem definida de pedidos?
Acho inacreditável. Além de passarem por uma série de problemas urbanos, ainda se exige que eles façam o trabalho de profissional que deveria ser dos burocratas preguiçosos responsáveis pela bagunça nos serviços. Os cidadãos só apontam os problemas. Resolvê-los é trabalho para os políticos e técnicos pagos por eles para fazê-lo.
Com organização horizontal, esse movimento pode durar?
Vai durar para sempre na internet e na mente da população. E continuará nas ruas até que exigências sejam satisfeitas, enquanto os políticos tentarem ignorar o movimento, na esperança que o povo se canse. Ele não vai se cansar. No máximo, vai mudar a forma de protestar.
Outra característica dos protestos eram bandeiras à esquerda e à direita do espectro político. Como isso é possível?
O espaço público reúne a sociedade em sua diversidade. A direita, a esquerda, os malucos, os sonhadores, os realistas, os ativistas, os piadistas, os revoltados — todo mundo. Anormal seriam legiões em ordem, organizadas por uma única bandeira e lideradas por burocratas partidários. É o caos criativo, não a ordem preestabelecida.
Há uma crise da democracia representativa?
Claro que há. A maior parte dos cidadãos do mundo não se sente representada por seu governo e parlamento. Partidos são universalmente desprezados pela maioria das pessoas. A culpa é dos políticos. Eles acreditam que seus cargos lhes pertencem, esquecendo que são pagos pelo povo. Boa parte, ainda que não a maioria, é corrupta, e as campanhas costumam ser financiadas ilegalmente no mundo inteiro. Democracia não é só votar de quatro em quatro anos nas bases de uma lei eleitoral trapaceira. As eleições viraram um mercado político, e o espaço público só é usado para debate nelas. O desejo de participação não é bem-vindo, e as redes sociais são vistas com desconfiança pelo establishment político.
O senhor vê algo em comum entre os protestos no Brasil e na Turquia?
Sim, a deterioração da qualidade de vida urbana sob o crescimento econômico irrestrito, que não dá atenção à vida dos cidadãos. Especuladores imobiliários e burocratas, normalmente corruptos, são os inimigos nos dois casos.
Protestos convocados pela internet nunca tinham reunido tantas pessoas no Brasil. Qual a diferença entre a convocação que funciona e a que não tem sucesso?
O meio não é a mensagem. Tudo depende do impacto que uma mensagem tem na consciência de muitas pessoas. As mídias sociais só permitem a distribuição viral de qualquer mensagem e o acompanhamento da ação coletiva.
DO R.DEMOCRATICA

Dilma perde apoio e enfrentaria segundo turno em 2014, diz Datafolha

Após três semanas de manifestações, a taxa de intenção de votos da presidente Dilma Rousseff caiu até 21 pontos percentuais. Embora ainda lidere a disputa de 2014, Dilma é a pré-candidata que mais perdeu apoio na corrida presidencial e a queda indica que hoje ela teria de enfrentar um segundo turno.
O cenário hoje mais provável para a sucessão inclui Dilma, Marina Silva (Rede), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).
Nessa simulação, a petista tinha 51% das intenções de voto nos dias 6 e 7 deste mês. Agora, desceu para 30%. Esse é o mesmo percentual da aprovação de seu governo, apurada no mesmo levantamento e divulgada neste sábado (29) pela Folha.
Nesse mesmo cenário, Marina Silva subiu de 16% para 23%. Aécio Neves foi de 14% para 17%. Campos oscilou de 6% para 7%. Nessa hipótese, seria realizado um segundo turno entre a petista e Marina.
O Datafolha foi à ruas na quinta e na sexta-feira. Entrevistou 4.717 pessoas em 196 cidades. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
DA FOLHA..

Fifa vê gesto desrespeitoso de Dilma Rousseff por não ir à final

JAMIL CHADE - Enviado especial - Agência Estado
RIO - A Fifa tomou como um gesto de desrespeito a decisão da presidente Dilma Rousseff de não ir à final deste domingo no Maracanã entre Brasil e Espanha. Tradicionalmente, presidente do país sede do torneio está na decisão e entrega a taça ao campeão. Neste sábado, parte da cúpula da Fifa que conversou com a reportagem não escondia surpresa diante da decisão da chefe-de-estado de não viajar ao Rio de Janeiro. Apesar da ausência de Dilma, a ala VIP do estádio do Maracanã estará lotada de políticos.
Dilma foi vaiada na abertura e quer evitar desgaste - Dida Sampaio/Estadão
Dida Sampaio/Estadão
Dilma foi vaiada na abertura e quer evitar desgaste
Dilma foi vaiada no jogo de abertura, em Brasília, e decidiu que, diante dos protestos nas ruas e de sua queda de popularidade, não seria o momento de aparecer num estádio, mesmo que seja no evento-teste para a Copa do Mundo e uma espécie de cartão de visita do País.
Parte dos funcionários da Fifa tentavam entender a decisão de Dilma de não estar no estádio. "Isso é bom ou ruim para ela?", questionou um deles. Para outros mais próximos da presidência, a atitude é um "gesto de desrespeito".
A relação entre governo e Fifa já não era das melhores. Mas um dos legados do torneio será um esfriamento ainda maior dos contatos. O governo ficou irritado com os comentários da Fifa sobre as manifestações e com as cobranças por mais segurança.
Se Dilma não estará no estádio, o Maracanã não sentirá falta de políticos. Além de governadores e do prefeito do Rio, Eduardo Paes, deputados, vereadores e senadores estão sendo aguardados na tribuna de honra.
Nas arquibancadas, a torcida já indicou nos meios sociais que irá usar a final para protestar. Nas ruas que dão acesso ao Maracanã, milhares de pessoas prometem protestar. O estádio estará blindado por mais de 6 mil policiais.
Para fontes na Fifa, a situação chega a ser irônica. Afinal, o governo brasileiro quer usar justamente os megaeventos esportivos para se promover no exterior e as autoridades não têm economizado recursos para o marketing baseado no torneio.
Até mesmo a Agência de Promoção das Exportações, ligada ao Ministério do Desenvolvimento, se transformou em associada da Fifa, pagando uma cota de patrocínio de R$ 20 milhões. Já o BNDES e diversos outros órgãos foram fundamentais em bancar estádios e infraestrutura para o evento.
Para outro experiente cartola, o que surpreende é o contraste em relação à participação de outros chefes-de-estado em torneios similares. Em 2009, o capitão da seleção brasileira na época, Lúcio, recebeu o troféu de campeão das mãos de Jacob Zuma, presidente sul-africano. Zuma ainda participou de todos os jogos em Johannesburgo, num esforço de mostrar o compromisso do governo com o torneio. Em 2005, na Alemanha, a cúpula do governo de Berlim também se fez presente.
Fontes próximas ao presidente Joseph Blatter insistem que o cartola suíça "entendeu" a decisão política de Dilma. Mas considerou que sua atitude mostra que o governo não está sempre disposto a bancar o evento e que cálculos políticos pesam mais que o torneio em si. "O que parece é que, quando as coisas vão bem, o Brasil quer usar a Copa para se promover. Mas quando não funciona ou há uma crise, todos querem se dissociar do futebol", comentou um membro do Comitê Executivo da entidade, que pediu anonimato.