Pedro Barusco confirmou que começou a receber propina em 1997, mas
diz que o fez por iniciativa pessoal. Ele fechou acordo de delação com a
Justiça
O DELATOR FALA – CPI da Petrobras ouve ex-diretor da estatal Pedro
Barusco: corrupção foi institucionalizada no governo Lula(Pedro
Ladeira/Folhapress)
O delator Pedro Barusco, ex-gerente de Serviços da Petrobras, fala nesta
terça-feira à CPI que investiga o esquema de corrupção na estatal.
Segundo ele, a corrupção da Petrobras foi "institucionalizada" a partir
de 2003 ou 2004, já no governo Lula. Como já havia feito em seu acordo
de delação premiada, Barusco reconheceu que recebeu propina em 1997 da
holandesa SBM Offshore, mas afirmou que agiu por "iniciativa pessoal"
junto com o representante da empresa.
O relator da CPI, o petista Luiz Sérgio (PT-RJ), foi o primeiro a fazer
perguntas e quis saber quando o esquema mais amplo de corrupção se
instalou: "A forma mais ampla, em contato com outras pessoas da
Petrobras, de uma forma mais institucionalizada, foi a partir de 2003,
2004. Não sei precisar exatamente a data, mas foi a partir dali",
afirmou o ex-gerente.
Barusco disse aos parlamentares que sua ascensão na Petrobras nunca
dependeu de indicações políticas. Ele ingressou na estatal por concurso,
em 1979.
Pedro Barusco disse que "praticamente" toda a propina que recebeu foi
paga no exterior, em contas na Suíça. Ele afirmou que não tem detalhes
de com o dinheiro era repassado a Vaccari. "Eu recebia só para mim e
para o Renato Duque". O ex-gerente reafirmou, entretanto, que havia até
mesmo uma "prestação de contas" na divisão da propina. Ele contou aos
parlamentares que fazia o controle dos pagamentos por meio de planilhas e
que, periodicamente, em um período de dois a quatro meses, havia um
acerto de contas com os operadores do esquema. "O mecanismo envolvia o
representante da empresa, eu , o diretor Duque e João Vaccari. São os
protagonistas", resumiu.
O delator deixou claro que a participação de Vaccari não era por conta
própria, mas sim em nome do partido. "O rótulo era PT", explicou,
acrescentando que o tesoureiro petista também esteve à frente do
recebimento de comissões em obras do Gasene, uma rede gasoduto
construída entre Rio de Janeiro de Bahia. As obras foram questionadas
pelo Tribunal de Contas da União (TCU). "Eu sei que a propina foi
destinada a mim, ao Duque e à parte relativa ao PT. A gente sempre
combinava esse tipo de assunto com o Vaccari. Ele era o responsável",
disse o ex-gerente da Petrobras.
Barusco também disse que o PMDB se beneficiou dos desvios na Diretoria
de Abastecimento, sob comando de Paulo Roberto Costa, e que a Diretoria
de Serviços era da cota do PT. "A divisão da propina, até onde eu sabia,
iria para o PP e, mais recentemente o PMDB no caso do diretor Paulo
Roberto Costa. E no caso do diretor Renato Duque atendia ao PT. É isso
que eu sabia e que eu vivenciava", afirmou.
O depoimento de Barusco teve início por volta das 11 horas da manhã e
continua em andamento. O ex-gerente é a primeira testemunha ouvida pela
CPI da Petrobras.
DA REVISTA VEJA