Vamos
lá, queridos. Resolvi passear um pouco com Dona Reinalda. Mas sabem
como é este velho coração dividido, hehe… Não posso fica longe de vocês.
Podem me procurar aqui no feriado prolongado, que vocês vão me achar.
Talvez não com a presença obsessiva de sempre. Mas sempre aqui. Adiante.
O ministro
da Justiça, José Eduardo Cardozo, um dos “porquinhos” da presidente
Dilma, exagerou na dose. Quem quer que lhe tenha encomendando a tarefa
de acrescentar confusão ao cenário de recrudescimento da violência em
São Paulo esqueceu de lhe recomendar que estudasse um pouco da mimese
aristotélica. Ainda que, na representação dramática, a farsa possa
apelar à caricatura, o papel desempenhado pelo caricato tem de ser ao
menos verossímil. Cardozo encarnando a personagem que sabe resolver
problemas relacionados ao crime organizado não convence nem suas
admiradoras…
O
jornalismo, com algumas exceções, ignora o sentido das palavras. E
também não se ocupa minimamente da coerência – própria ou alheia. Por
que digo isso?
A
presidente Dilma Rousseff telefonou ontem para o governador Geraldo
Alckmin para oferecer colaboração no combate ao crime organizado em São
Paulo. O governo federal dá, assim, a primeira resposta oficial a um
documento encaminhado por São Paulo ao Ministério da Justiça em 29 de
junho. Antes disso, só se conhecia aquele texto redigido no joelho por
Cardozo, datado a mão (30 de outubro de… 2012!!!), eivado de coisas
malcriadas, entregue primeiro à Rede Globo e só depois ao Palácio dos
Bandeirantes.
O
governador e a presidente combinaram uma ação conjunta que ainda vai ser
definida. Eis aí: as palavras fazem sentido. O governo federal não
tinha e não tem, por óbvio, plano nenhum. Por intermédio de Cardozo,
resolveu atuar para emparedar o governo de São Paulo, acusando-o
indiretamente de perda de controle da situação. Que ajuda será essa?
Veremos.
Não
houvesse mais nada – e há -, em uma coisa ao menos São Paulo é muito
melhor do que a federação: combate à violência. Mesmo assim, claro!, a
ajuda, havendo, é bem-vinda. O que Dilma pretende? Combater o crime
organizado ou fazer propaganda? Infelizmente, a segunda alternativa é
insofismavelmente a correta. E por que é?
Porque a
violência, em São Paulo – que passa, sim, por um surto preocupante –,
está entre as menores do país. O que Cardozo tem feito efetivamente
para tentar diminuir o escandaloso número de 50 mil homicídios por ano
no Brasil??? Querem alguns delinquentes intelectuais que a “estratégia
do enfrentamento (com os bandidos)”, que São Paulo realmente aplica, não
seja a melhor. Não? Então qual seria? Quem não enfrenta acomoda – é
assim na linguagem e na vida. O que querem os patriotas? Um acordo com
marginais; a celebração da pax com a bandidagem, o
reconhecimento do crime como “força beligerante” – tese que Marco
Aurélio Garcia, assessor de Dilma, defendia para os narcoterroristas das
Farc???
Dilma quer
ocupar Paraisópolis com o Exército e a Força Nacional de Segurança
porque pretende emprestar ao estado do país que menos mata a mácula da
desordem e da falta de controle. E conta com o apoio quase unânime da
imprensa petista por convicção ou petistófila por conveniência. Na Folha
de hoje, Wálter Maierovitch, colunista da revista petista Carta
Capital, concede esta pequena entrevista:
Folha – O que o senhor acha da proposta?
Wálter Maierovitch – É preciso fazer a pacificação, a retomada do controle dos territórios. O sucesso das UPPs do Rio de Janeiro parte da retomada dos controles territorial e social.
Para se ter esse controle, há necessidade de se ter uma polícia comunitária, que retome a confiança do cidadão, que faça com que se encerre esse medo difuso do crime organizado e que volte a implantar a cidadania.
E não adianta manter a Polícia Militar?
O que o governo federal propõe com a instalação de uma unidade pacificadora é o contrário da política de São Paulo, que tem uma polícia que vai para o confronto.
Deixar a PM é fazer uma UPP capenga, militarizada. Essa política de enfrentamento vem colhendo maus resultados.
Wálter Maierovitch – É preciso fazer a pacificação, a retomada do controle dos territórios. O sucesso das UPPs do Rio de Janeiro parte da retomada dos controles territorial e social.
Para se ter esse controle, há necessidade de se ter uma polícia comunitária, que retome a confiança do cidadão, que faça com que se encerre esse medo difuso do crime organizado e que volte a implantar a cidadania.
E não adianta manter a Polícia Militar?
O que o governo federal propõe com a instalação de uma unidade pacificadora é o contrário da política de São Paulo, que tem uma polícia que vai para o confronto.
Deixar a PM é fazer uma UPP capenga, militarizada. Essa política de enfrentamento vem colhendo maus resultados.
Voltei
Trata-se de uma soma fabulosa de estultices ideologicamente orientadas. Ah, sim: o jornal o chama de “jurista” – o que só pode ser humor involuntário. A comparação com o Rio é um cretinismo, já escrevi aqui, porque Paraisópolis já conta com polícia comunitária. Atenção: NÃO HÁ FAVELA “PACIFICADA” NO RIO QUE TENHA A PRESENÇA DO PODER PÚBLICO QUE TEM A FAVELA DE SÃO PAULO. Talvez o estado não seja assim tão bom no marketing…
Trata-se de uma soma fabulosa de estultices ideologicamente orientadas. Ah, sim: o jornal o chama de “jurista” – o que só pode ser humor involuntário. A comparação com o Rio é um cretinismo, já escrevi aqui, porque Paraisópolis já conta com polícia comunitária. Atenção: NÃO HÁ FAVELA “PACIFICADA” NO RIO QUE TENHA A PRESENÇA DO PODER PÚBLICO QUE TEM A FAVELA DE SÃO PAULO. Talvez o estado não seja assim tão bom no marketing…
Vejam ali:
este impressionante Maierovitch não quer uma polícia que “vá para o
confronto” com os bandidos. Fica implícita a ideia – e é a única verdade
de sua fala – de que as UPPs não existem mesmo para enfrentar bandidos.
Certo! Então elas pacificam quem? Vai ver pacificam os já pacificados…
Estamos
diante do casamento de uma ação partidariamente orientada com uma doxa
que tomou conta de influentes veículos de comunicação do país. A ação
partidária, obviamente, é a do PT, que já está em franca campanha
eleitoral. Dilma e Cardozo querem o Exército e a Força Nacional de
Segurança desfilando em São Paulo para ter boas imagens na campanha
eleitoral de 2014. A doxa diz respeito às tais UPPs: ora, elas
significaram, no Rio, a chegada de algum poder público a áreas que eram
governadas pelo narcotráfico. Aliás, nas mais de 1.200 favelas (em
cabralês castiço, é obrigatório usar o termo “comunidade”) ainda sem
“polícia pacificadora”, o crime organizado ou as milícias dão as cartas.
E só é possível ir e vir com a autorização da bandidagem – muitos dos
meliantes são oriundos das áreas a que chegaram as UPPs.
O não
enfentamento, como quer Maierovitch, compreende não prender ninguém.
Bandido bom é bandido solto? Em São Paulo, inexistem áreas assim, o que
não quer dizer, claro!, que inexista o crime organizado – que continua a
ditar a, vamos dizer, “rotina administrativa” das “comunidades
pacificadas” do Rio. A notícia não vai parar na TV porque não pegaria
bem à tese, mas é fato: os traficantes dominam, por exemplo, todos os
aparelhos públicos levados às favelas pelo PAC. Ou esse controle se dá
diretamente ou por intermédio de associações de moradores, controladas
por eles. A genial política de Sérgio Cabral e de José Mariano Beltrame,
à medida que não prende ninguém e que, na prática, proíbe os policiais
de “entrar em confronto com a população” (bandido vira “população”), dá
ao narcotráfico mais infraestrutura do que tinha antes. Não só: como a
polícia está lá e não pode “enfrentar” bandidos, os manda-chuvas ficam
felizes: estão livres do assédio de forças rivais e das milícias.
É o que
Dilma quer para São Paulo. É o que esses setores da imprensa querem para
São Paulo. As corporações têm sua história e sua tradição. A polícia
deste estado não deixará de enfrentar bandidos nem que o PT, um dia,
chegue ao governo e ainda que seja essa a vontade de certa imprensa. Não
vai porque é contra a sua natureza. Se algum governante mandar
condescender com o crime, não será, na prática, obedecido. Ainda bem!
Concluindo
Conforme antevi aqui, os mais serenos decretam uma espécie de empate. Dilma tomou a iniciativa de ligar para Alckmin. Ele, claro, aceitou a oferta de colaboração – seja ela qual for. Chamei aqui a atenção para o fato de que aquele documento encaminhado à Globo (ah, sim, até Alckmin o recebeu) continha uma única proposta: receber alguns detentos em presídios federais, mas bem poucos…
Conforme antevi aqui, os mais serenos decretam uma espécie de empate. Dilma tomou a iniciativa de ligar para Alckmin. Ele, claro, aceitou a oferta de colaboração – seja ela qual for. Chamei aqui a atenção para o fato de que aquele documento encaminhado à Globo (ah, sim, até Alckmin o recebeu) continha uma única proposta: receber alguns detentos em presídios federais, mas bem poucos…
Faz de
conta, então, que Cardozo não plantou fofoca em jornal. Faz de conta,
então, que Cardozo tinha alguma prova do que dizia. Faz de conta que
Cardozo não demorou quatro meses para responder a um ofício de São Paulo
– e o fez, ainda, em termos deseducados, tratando o estado que responde
por mais de um terço do PIB como um pedinte sem honra. Decretou-se o
empate entre a mentira e a verdade.
Procurem
nos primórdios do blog ou lá nos tempos ancestrais do Primeira Leitura:
eu sou favorável à presença das Forças Armadas em favelas dominadas pelo
narcotráfico desde sempre – no Rio, em São Paulo e em qualquer lugar.
Mas tem de estar lá para fazer o contrário do que recomenda o colunista
da Carta Capital e sedizente jurista. Tem de estar lá para confrontar o
crime, sim. A MENOS QUE SE QUEIRAM SOLDADOS UNIFORMIZADOS COMO
SEGURANÇAS DO NARCOTRÁFICO.
Na era do
“outro-ladismo” jornalístico, alguém pode sustentar que dois mais dois
são quatro. Mas é preciso ouvir os que acham que são cinco. Quem está
com a verdade? Ora, a tarefa da imprensa é dar todos os ângulos de uma
questão e todas as opiniões, não é? Se a turma do cinco se mostra mais
influentes e convincente; se é composta de pessoas que tocam mais fundo
na afetividade ideológica (!!!) dos jornalistas; se é formada, em suma,
de “progressistas” a serviço de uma boa causa, então dois mais dois
passam a ser cinco.
Dilma e
Cardozo poderiam ter feito uma oferta politicamente honesta a São Paulo,
em benefício dos paulistas. Mas há erros que nunca cometi na vida:
jamais aposto que as pessoas possam ir contra a sua natureza.