O
presidente do BNDES, Luciano Coutinho, ora vejam, está se movimentando
freneticamente nos bastidores, informa reportagem da Folha, para tentar
impedir que se instale uma CPI para investigar contratos de
financiamento do banco feitos durante a gestão petista. Segundo apurou o
jornal, ele falou com pelos menos três senadores. Uma das alegações é
que a investigação poderia prejudicar operações sigilosas do banco. A
outra é que a instituição poderia ser colhida por uma onda de
descrédito, a exemplo do que ocorreu com a Petrobras.
Eu até
poderia compreender as preocupações do presidente do BNDES, não fosse a
sua argumentação tão ruim. Vamos lá. É possível resguardar o sigilo de
determinados documentos e operações, desde que não se trate de ilícitos e
que se esteja protegendo o interesse nacional. As operações que o
doutor pretende que fiquem distantes dos nossos olhos são dessa
natureza? Ou o BNDES, agora, virou o braço financeiro da Abin (Agência
Brasileira de Inteligência)?
E não fica
bem, obviamente, acenar com o fantasma da derrocada da Petrobras para
tentar impedir que uma CPI apure as operações feitas pelo BNDES. Afinal,
a estatal está na lona porque se descobriu que estava entregue a uma
quadrilha, que atuava em favor de um esquema político, gerenciado pelo
PT, com benefícios também a outras legendas.
O temor de
Coutinho certamente não está a indicar que quadrilha semelhante atue no
BNDES, pois não? Eu nem sou adepto da frase “quem não deve não teme”.
Em processos de investigação, marcados, muitas vezes, por vazamentos,
irresponsabilidades, populismo, demagogia, quem não deve, a depender do
caso, tem, sim, de temer. Coutinho que trate, então, de melhorar a sua
argumentação.
O
presidente do BNDES deveria ser mais prudente. Segundo o empresário
Ricardo Pessoa, dono da UTC, a oito dias do segundo turno — quando a
empreiteira buscava dinheiro no banco para obras no aeroporto de
Viracopos, em Campinas — foi Coutinho quem anunciou que ele, Pessoa,
seria procurado por Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma. O
presidente do BNDES nega a conversa.
Ah, sim: o
requerimento da oposição para a criação da CPI do BNDES cita
empréstimos para empreendimentos, considerados sigilosos, em Cuba, na
Venezuela, no Equador e em Angola. O documento pede ainda para que se
apurem empréstimos no Brasil para a JBS e a Sete Brasil. Coutinho, pelo
visto, acha que essas coisas não nos dizem respeito. Prefere que a gente
se mantenha longe disso. Ou, prevê ele, o BNDES também vai para o
buraco.
É mesmo?
Tomara que não! Mas, se fosse, certamente não seria por excesso de
virtudes. É bem verdade que Lula já deu a linha moral desse tipo de
raciocínio, não é mesmo? Falando a seus milicianos, ele lembrou que o
Iraque vivia em paz no tempo de Saddam Hussein. Uma paz de quase meio
milhão de homicídios, claro! É isso! A turma do Saddam Hussein
brasileiro não quer que a gente saiba o que se fez com os muitos bilhões
do BNDES.