sexta-feira, 19 de maio de 2017

Antes de rejeitar renúncia, Temer cogitou diretas


Josias de Souza

Na tarde da última quinta-feira, Michel Temer achegou-se ao púlpito do Palácio do Planalto para declarar: “Não renunciarei. Repito, não renunciarei. Sei o que fiz e sei da correção dos meus atos.” Horas antes, reunido com seus operadores políticos mais leais, o orador não exibia a mesma convicção. Às voltas com uma crise que o converteu no primeiro presidente da história a ser investigado em pleno exercício do cargo pelos crimes de corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa, Temer se dispôs a enviar ao Congresso uma proposta de emenda à Constituição antecipando as eleições presidenciais diretas para o próximo mês de novembro.
Participaram da conversa os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e Antonio Imbassahy (Relações Institucionais), além do líder do governo no Senado, Romero Jucá. Os quatro manifestaram-se contra a ideia de Temer. Aconselharam o presidente a lutar pelo cargo. Jucá fez uma observação que adicionou à cena uma certa ponderabilidade cômica que acabou por comprometer a seriedade da proposta de Temer. O senador disse que uma eleição direta daqui a seis meses soaria como uma “renúncia a prazo.” A ideia foi abandonada. E Temer pegou em lanças.

Nesta sexta-feira, a divulgação dos vídeos da delação do Grupo JBS e do papelório que compõe o inquérito aberto contra Temer no Supremo borrifaram gasolina na crise. O presidente incorporou à sua infantaria o amigo criminalista Antônio Mariz de Oliveira. Além da frente de batalha política, onde tenta evitar a deserção do PSDB, Temer se equipa para guerrear na Suprema Corte.
De saída, a defesa de Temer questiona a validade da gravação que registrou a conversa vadia que ele manteve com o delator Joesley Batista, dono do Grupo JBS, no Palácio do Jaburu, no último dia 7 de março. Alega-se que o diálogo, captado por meio de gravador que o empresário escondia no bolso do paletó, é fruto de ''montagem''. Perícia encomendada pela Folha chegou à mesma conclusão. O problema de Temer é que, a essa altura, o áudio sob questionamento é apenas mais um detrito no monturo de indícios que empurram sua biografia para o mesmo lixão que levou ao apodrecimento do mandato de Dilma Rousseff.




No bolso da JBS: 179 deputados estaduais, 167 federais, 28 senadores e 16 governadores

Ricardo Staud, diretor da JBS, realizou um verdadeiro levantamento acerca das propinas pagas pela empresa. Seriam 1.829 candidatos por todo o país.
Vejam trecho de seu depoimento:
“É importante a gente trabalhar que desses R$ 500 milhões, quase R$ 600 milhões que estamos falando aqui, praticamente, tirando esses R$ 10, R$ 15 milhões aqui, o resto tudo é propina. Tudo tem ato de ofício, tudo tem promessa, tudo tem alguma coisa. Então eu gostaria de deixar registrado que nós demos propina para 28 partidos. Esse dinheiro foi desmembrado para 1.829 candidatos. Eleitos foram 179 deputados estaduais de 23 estados, 167 deputados federais de 19partidos. Demos propina para 28 senadores da República, sendo que alguns disputaram e perderam eleição para governadores e alguns disputaram a reeleição ou eleição para o Senado. E demos propina para 16 governadores eleitos, sendo quatro do PMDB, quatro do PSDB, 3 do PT, 2 do PSB, 1 do PP, 1 do PSD. Foi um estudo que eu fiz, por conta minha (…) Acho que no futuro vai servir. Aqui estão todas as pessoas que receberam propina diretamente ou indiretamente da gente”
E mais:
“Eu falo direta ou indiretamente pelo seguinte: é muito difícil o cara não estar sabendo que o PT comprou o partido X ou deixou de comprar o partido Y, que o Aécio comprou o partido X ou deixou de comprar o partido Y. Se ele recebeu esse dinheiro, ele sabe de um jeito ou de outro (que) foi de propina. Essas pessoas estão cientes disso”
Para quem achava a delação da Odebrecht o fim do mundo, a da JBS definitivamente não fica atrás.DO IMPLICANTE

Temer e Aécio agiam juntos para impedir avanço da Lava Jato, diz Janot

Ministro do STF Luiz Edson Fachin determinou abertura de inquérito contra Temer, Aécio e deputado Rocha Loures por corrupção passiva, obstrução à Justiça e organização criminosa.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirma que o presidente Michel Temer e o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) agiram "em articulação" para impedir o avanço da Lava Jato. A afirmação consta da decisão do ministro do
Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Edson Fachin que determinou a abertura de inquérito para investigar Temer, Aécio e o deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) por corrupção passiva, obstrução à Justiça e organização criminosa.
O inquérito está relacionado ao acordo de delação de executivos do frigorífico JBS. A decisão foi divulgada nesta sexta (19).
"Além disso, verifica-se que Aécio Neves, em articulação, dentre outros, com o presidente Michel Temer, tem buscado impedir que as investigações da Lava Jato avancem, seja por meio de medidas legislativas, seja por meio de controle de indicação de delegados de polícia que conduzirão os inquéritos", afirma Janot.
"Desta forma, vislumbra-se também a possível prática do crime de obstrução à Justiça", completa o procurador-geral da República.
No pedido para investigar Temer e Aécio, a procuradoria afirma que o senador teria "organizado uma forma de impedir que as investigações [da Lava Jato] avançassem por meio da indicação de delegados que conduziriam os inquéritos, direcionando as distribuições."

Versões

Procurada, a assessoria de Temer respondeu: "O presidente nunca atuou para impedir o avanço da Lava Jato".
A assesoria de Aécio também divulgou a seguinte nota:
"Não existe qualquer ato do senador Aécio Neves, como parlamentar ou presidente do PSDB, que possa ter colocado qualquer empecilho aos avanços da Operação Lava Jato. Ao contrário, como presidente do partido, o senador foi um dos primeiros a hipotecar apoio à operação. Em todas as oportunidades em que ele se pronunciou publicamente apoiou o trabalho da Polícia Federal e, nas votações, defendeu medidas de combate à corrupção e o fim do foro privilegiado."
E acrescentou: "Manifestar posições em relação a propostas legislativas é algo inerente à atividade parlamentar, o que possibilitou inclusive a introdução no texto sobre abuso de autoridade de sugestões feitas tanto pelo procurador-geral da República como pelo juiz Sérgio Moro, a exemplo da retirada do texto do chamado 'crime de hermenêutica', de cujo entendimento o senador participou intensamente. Quanto ao caixa 2, o senador defendeu que a proposta de criminalização enviada pelo Ministério Público seja aprovada no Senado."
 (Foto: Editoria de Arte/G1)

Denúncias

Na quarta (17), o jornal "O Globo" divulgou que o dono do frigorífico JBS, Joesley Batista, havia gravado conversa com Temer em que o presidente dava aval para a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Joesley e outros executivos da JBS fecharam acordo de delação premiada. O acordo foi homologado na quinta (18) pelo ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).
Também na quinta, Fachin liberou o audio da conversa entre Temer e Joesley Batista. O trecho do diálogo em entre Temer e Batista com a referência a Eduardo Cunha é o seguinte, conforme a gravação:
  • Joesley Batista: Agora... o negócio dos vazamentos. O telefone lá [inaudível] com o Geddel, volta e meia citava alguma coisa meio tangenciando a nós, e não sei o que. Eu estou lá me defendendo. Como é que eu... o que é que eu mais ou menos dei conta de fazer até agora. Eu tô de bem com o Eduardo, ok...
  • Temer: Tem que manter isso, viu... [Inaudível]
  • Joesley: Todo mês. Também. Eu estou segurando as pontas, estou indo. Esse processo, eu estou meio enrolado aqui no processo, assim [inaudível]...
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou, em pedido de investigação ao STF, que houve “anuência” do presidente Michel Temer ao pagamento de propina mensal para comprar o silêncio de Cunha por parte de Joesley Batista.
Ainda na quinta, em pronunciamento no Palácio do Planalto, o presidente Michel Temer negou que tenha atuado para calar Cunha. Em nenhum momento autorizei que pagasse a quem quer que seja para ficar calado. Não comprei o silêncio de ninguém", afirmou o presidente.

Obstrução e suborno

Na conversa em que gravou o presidente Michel Temer, o dono do frigorífico JBS, Joesley Batista, relata uma sequência de crimes que vão de obstrução à Justiça, suborno de procuradores e compra de informações privilegiadas.
A gravação do empresário que fechou acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República (PGR) mostra até tentativa de ter influência em órgãos que regulam e fiscalizam as atividades do grupo empresarial (veja vídeo abaixo).
Ao longo do encontro, Temer ouviu tudo e não condenou os relatos de crimes do empresário em nenhum momento. Pelo contrário, em alguns trechos da conversa, o peemedebista chegou a repetir que tava "ótimo". Além disso, o presidente da República não mandou investigar nada.
Sobre esse trecho da gravação, Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República divulgou uma nota afirmando que "o presidente Michel Temer não acreditou na veracidade das declarações. O empresário estava sendo objeto de inquérito e por isso parecia contar vantagem". "O presidente não poderia crer que um juiz e um membro do Ministério Público estivessem sendo cooptados", diz o texto.DO G1

Janot diz que advogado ligado a Renan e Jucá tentou atrapalhar delação de Joesley

Procurador-geral da República sustenta que Willer Tomaz, alvo da Operação Patmos, desdobramento da Lava Jato, queria impedir o processo de colaboração do dono da JBS


O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, relatou ao ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que o advogado Willer Tomaz atuou “possivelmente” em benefício dos senadores do PMDB Renan Calheiros (AL) e Romero Jucá (RR), para impedir o processo de delação premiada do dono da JBS, Joesley Batista.
“O advogado Willer Tomaz, com possível ajuda do procurador da República, Ângelo Goulart Vilella, estava tentando atrapalhar o processo de colaboração premiada ora em curso, com o escopo, possivelmente de proteger amigos políticos integrantes do PMDB”, destaca Janot no pedido de abertura de inquérito.
Citando um depoimento inicial de Joesley, que buscava uma colaboração “voluntária”, Rodrigo Janot destacou que os senadores se afastaram do empresário quando souberam da possibilidade de delação. “Joesley Mendonça Batista menciona, por exemplo, que percebeu um afastamento de Renan Calheiros e Romero Jucá quando surgiram notícias de que uma colaboração estava em curso, período que coincide com o contato do advogado Willer Tomaz reclamando acerca de possíveis tratativas de colaboração”, relatou o procurador. Ainda segundo Janot, Renan e Jucá se reaproximaram de Joesley depois de uma “contrainformação” de que não haveria delação premiada combinada com membros do Ministério Público Federal.
O relato de Rodrigo Janot a Fachin integra o pedido de abertura de inquérito no STF de Joesley, do procurador da República Ângelo Goulart Vilella e do advogado Willer Tomaz por suposta tentativa de obstruir os trabalhos da Justiça. A Lei da Organização Criminosa, de 2013, citada pelo procurador, prevê pena de três a oito anos de prisão. O procurador também pede investigação contra os envolvidos por corrupção ativa e passiva, crimes com pena previstas pelo Código Penal de dois a 12 anos de reclusão.
O procurador justificou o pedido de abertura de inquérito de Joesley, do procurador e do advogado no STF pelo fato de os senadores do PMDB, citados pelo dono da JBS, terem foro privilegiado. Janot pondera que não há, ainda, elementos para pedir uma abertura de inquérito contra Renan e Jucá, mas que esse “caminho” já está sendo “vislumbrado”.
Rodrigo Janot relatou a Fachin que Joesley, nas conversas iniciais de delação, disse ter contratado o advogado Willer Tomaz por “serviços” a seu favor no âmbito da Operação Greenfield, que investiga desde o ano passado esquema de corrupção na área de fundos de pensão. Tomaz, segundo Janot, receberia de Joesley R$ 8 milhões pelo arquivamento do inquérito contra o empresário e ficou responsável de pagamentos de “ajuda de custo” de R$ 50 mil por mês ao procurador Ângelo Goulart Vilella. Joesley, de acordo com Janot, disse que recebeu de Tomaz documentos de “acesso restrito”.
Janot também ressalta que compete ao STF investigar outras duas autoridades citadas nas conversas iniciais do advogado, o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves (PSDB-MG). O pedido de abertura de inquérito inclui dois áudios repassados por Joesley de conversas com Temer, no Palácio do Jaburu, e com Aécio, num hotel em São Paulo. DO ESTADÃO

Barroso rejeita habeas corpus que pedia suspensão de inquérito contra Temer

Recurso foi impetrado por advogado que alegou que delator da JBS quis 'incriminar' presidente

BRASÍLIA - O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitou nesta sexta-feira, 19, um habeas corpus impetrado pelo advogado Samuel José Orro Silva, de Taubaté, que pedia a suspensão de um inquérito instaurado contra o presidente Michel Temer (PMDB) no qual ele é investigado por corrupção passiva, obstrução de justiça e participação em organização criminosa com base na delação da JBS.
Luis Roberto Barroso
“No caso de que se trata, não enxergo nenhuma ilegalidade flagrante ou abuso de poder que autorize a concessão do pedido. Seja porque a leitura da inicial não evidencia risco atual ou iminente à liberdade de locomoção do paciente, seja porque a parte impetrante deixou de acostar aos autos elementos mínimos que pudessem comprovar as suas alegações”, escreveu Barroso.
“Ademais, embora a ação constitucional do habeas corpus possa ser ajuizada por qualquer pessoa (art. 654 do CPP), o autor do pedido tampouco instruiu o feito com instrumento de mandato que o habilitasse formalmente à defesa técnica do paciente. Logo, sequer é possível saber se o paciente, de fato, manifestou o seu real interesse no ajuizamento da presente ação mandamental, no atual estágio das investigações”, ressaltou Barroso.
O advogado de Taubaté alegava que apresentar uma proposta para a JBS "de gravar (e induzir) o atual presidente do País e chefe do atual governo de maneira a eventualmente incriminá-lo não é uma delação premiada, mas sim um presente para a JBS, já que resolveria todos os seus problemas de uma só vez”.DO ESTADÃO

Gravação de Joesley com Temer é legal, diz Fachin; para presidente, é ilícita

Ministro do Supremo autorizou inquérito para investigar o presidente em razão do que delator da JBS revelou. Em ofício, Temer se disse alvo de 'interceptação ilícita'.

O ministro Edson fachin, relator da Lava Jato no STF (Foto: Carlos Moura / STF)
O ministro Edson fachin, relator da Lava Jato no STF (Foto: Carlos Moura / STF)

O ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou, ao autorizar a abertura de inquérito para investigar o presidente Michel Temer, que a gravação de uma conversa feita pelo empresário Joesley Batista com Temer é legal.
Fachin autorizou a investigação sobre o presidente em razão do que foi relatado por Joesley e o irmão dele Wesley Batista, donos da JBS, aos investigadores no acordo de delação premiada.
As delações dos empresários já foram homologadas pelo STF e o sigilo, retirado e divulgado.
"Convém registrar, por pertinência à questão aqui preciada, que a Corte Suprema, no âmbito da Repercussão Geral, deliberou que 'é lícita a prova consistente em gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem conhecimento do outro'", escreveu Fachin.
"Desse modo, não há ilegalidade na consideração das 4 (quatro) gravações efetuadas pelo possível colaborador Joesley Batista, as quais foram ratificadas e elucidadas em depoimento prestado perante o Ministério Público (registrado em vídeo e por escrito), quando o referido interessado se fez, inclusive, acompanhado de seu defensor", acrescentou o ministro.DO G1

MÉTODO DE PAGAMENTO DE PROPINAS DA JBS PRIORIZAVA NOTAS FISCAIS FRIAS

SÃO PAULO  -  O método preferencial de pagamentos de propinas da JBS, que veio à tona com delação premiada de cinco executivos da companhia e dois sócios, tem maior potencial de rastreamento e comprovação do que aqueles expostos pela delação do grupo Odebrecht, que se utilizava bastante do repasse em espécie. Muitos dos pagamentos feitos pela JBS a políticos se deram por meio de notas fiscais frias, devidamente anexadas na delação.
Os delatores da JBS implicaram o Presidente da República, Michel Temer, o senador José Serra (PSDB-SP), o ex-ministro Antônio Palocci (PT-SP), entre os políticos que foram beneficiados com recursos por meio de notas fiscais sem contrapartida. Outros políticos, como o ministro Gilberto Kassab (PSD-SP), e governadores também receberam pelo mesmo método. Os recursos pagos dizem respeito tanto a contribuições não contabilizadas em períodos eleitorais quanto a “mensalinhos”.
Presidente do conselho de administração da JBS, Joesley Batista afirmou no anexo 9 de sua delação premiada que, nas eleições de 2010, atendeu a um pedido de Michel Temer, então candidato a vice-presidente, de R$ 3 milhões “em propinas”. Joesley afirmou ter aceitado o pedido, pagando R$ 1 milhão por meio de doação oficial e R$ 2 milhões com a emissão de duas notas fiscais para a empresa Pública Comunicações. A Pública pertence ao marqueteiro do PMDB, Elcinho Mouco.
Joesley também afirmou no anexo 16 da delação que doou R$ 20 milhões para a campanha de José Serra, sendo que R$ 6 milhões foram pagos por meio de notas fiscais frias à LRC Eventos e Promoções, com a falsa venda de um camarote no autódromo de Interlagos.
No caso do Palocci, Joesley disse ter pago, nas eleições de 2010, R$ 612,9 mil divididos em três notas fiscais em nome da Hedge Assessoria e Contabilidade, além de outros pagamentos por doação eleitoral oficial. Ao todo, Pallocci teria pedido R$ 30 milhões a Joesley para as eleições de 2010, quando o ex-ministro foi um dos homens-chave da campanha à presidência de Dilma Rousseff.
No termo de colaboração número 18, o empresário Wesley Batista disse que o ministro Gilberto Kassab tinha uma frota de caminhões que de fato prestava serviços para a JBS. No entanto, afirmou ele, a empresa pagava um “sobrepreço” de R$ 350 mil por mês com notas de serviços não prestados em nome da empresa Yape Consultoria e Debates.
Também delator, o diretor de relações institucionais da J&F — holding que controla a JBS —, Ricardo Saud, disse que foram pagos R$ 5,5 milhões a Kassab em 22 parcelas de R$ 250 mil para o PSD integrar a coligação do PT nas eleições presidenciais de 2014. Esses recursos teriam sido recebidos em notas frias emitidas em nome da Yape.
Outro caso de nota fiscal sem contrapartida atinge o governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB). No termo de colaboração número 16, Wesley disse ter pago R$ 12,9 milhões para o governador com notas falsas de compras de carne bovina emitidas para o frigorífico Buriti Comércio de Carnes. Ela anexou o número de cada nota fiscal em seu termo de colaboração. DO VALOR

OS VÍDEOS DA DELAÇÃO DE JBS - UM TSUNAME NO MEIO POLÍTICO


Joesley Batista e Ricardo Saud, executivos do Grupo, prestaram depoimentos à Procuradoria-Geral da República nos quais revelam corrupção em órgãos dos Governos Lula, Dilma e Temer

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DO ESTADÃO

Lula e Dilma tinham US$ 150 milhões em ‘conta-corrente’ de propina da JBS, diz Joesley

Empresário declarou à Procuradoria-Geral da República que 'os saldos das contas vinculadas a Lula e Dilma eram formados pelos ajustes sucessivos de propina do esquema BNDES e do esquema-gêmeo, que funcionava no âmbito dos fundos Petros e Funcef'


O termo de colaboração 1 do empresário Joesley Batista, do Grupo JBS, descreve o fluxo de duas ‘contas-correntes’ de propina no exterior, cujos beneficiários seriam os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. O empresário informou à Procuradoria-Geral da República que o saldo das duas contas bateu em US$ 150 milhões em 2014. Ele disse que o ex-ministro Guido Mantega (Fazenda/Governos Lula e Dilma) operava as contas.

Documento

O delator informou que em 2009 destinou uma conta a Lula e no ano seguinte, outra para Dilma.
Joesley revelou que em dezembro de 2009, o BNDES adquiriu de debêntures da JBS, convertidas em ações, no valor de US$ 2 bilhões, ‘para apoio do plano de expansão’ naquele ano.
“O depoente escriturou em favor de Guido Mantega, por conta desse negócio, crédito de US$ 50 milhões e abriu conta no exterior, em nome de offshore que controlava, na qual depositou o valor”, relatou Joesley.


Segundo o empresário, em reunião com Mantega, no final de 2010, o petista pediu a ele ‘que abrisse uma nova conta, que se destinaria a Dilma.
“O depoente perguntou se a conta já existente não seria suficiente para os depósitos dos valores a serem provisionados, ao que Guido respondeu que esta era de Lula, fato que só então passou a ser do conhecimento do depoente”, contou o empresário.
“O depoente indagou se Lula e Dilma sabiam do esquema, e Guido confirmou que sim.”
Joesley declarou que foi feito um financiamento de R$ 2 bilhões, em maio de 2011, para a construção da planta de celulose da Eldorado. O delator disse que Mantega ‘interveio junto a Luciano Coutinho (então presidente do BNDES) para que o negócio saísse’.
“A operação foi realizada após cumpridas as exigências legais”, afirmou Joesley. “Sempre percebeu que os pagamentos de propina não se destinavam a garantir a realização de operações ilegais, mas sim de evitar que se criassem dificuldades injustificadas para a realização de operações legais.”
O empresário declarou que depositou, ‘a pedido de Mantega’, por conta desse negócio, crédito de US$ 30 milhões em nova conta no exterior,
“O depoente, nesse momento, já sabia que esse valor se destinava a Dilma; que os saldos das contas vinculadas a Lula e Dilma eram formados pelos ajustes sucessivos de propina do esquema BNDES e do esquema-gêmeo, que funcionava no âmbito dos fundos Petros e Funcef; que esses saldos somavam, em 2014, cerca de US$ 150 milhões.”
Segundo Joesley, a partir de julho de 2014, Mantega ‘passou a chamar o depoente quase semanalmente ao Ministério da Fazenda, em Brasília, ou na sede do Banco do Brasil em São Paulo, para reuniões a que só estavam presentes os dois, nas quais lhe apresentou múltiplas listas de políticos e partidos políticos que deveriam receber doações de campanha a partir dos saldos das contas’.
Neste trecho de seu depoimento, Joesley cita o partido do Governo Michel Temer. O empresário destacou que o executivo Ricardo Saud, diretor de Relações Institucionais da J&F (controladora da JBS), fazia o contato com partidos e políticos.
“A primeira lista foi apresentada em 4 de julho de 2014 por Guido ao depoente, no gabinete do Ministro da Fazenda no 15º andar da sede do Banco do Brasil em São Paulo, e se destinava a pagamentos para políticos do PMDB; que a interlocução com políticos e partidos políticos para organizar a distribuição de dinheiro coube a Ricardo Saud, Diretor de Relações Institucionais da J&F, exceção feita a duas ocasiões”, relatou.
Joesley disse que em outubro de 2014 no Instituto Lula, encontrou-se com Lula e relatou ao petista que as doações oficiais da JBS já tinham ultrapassado R$ 300 milhões.
“Indagou se ele (Lula) percebia o risco de exposição que isso atraía, com base na premissa implícita de que não havia plataforma ideológica que explicasse tamanho montante; que o ex-presidente olhou nos olhos do depoente, mas nada disse”, contou.
Em outra ocasião, em novembro de 2014, Joesley disse que ‘depois de receber solicitações insistentes para o pagamento de R$ 30 milhões para Fernando Pimentel, governador eleito de Minas Gerais, veiculadas por Edinho Silva (tesoureiro da campanha de Dilma em 2014), e de receber de Guido Mantega a informação de que “isso é com ela”, solicitou audiência com Dilma’.
“Dilma recebeu o depoente no Palácio do Planalto; que o depoente relatou, então, que o governador eleito de MG, Fernando Pimentel, estava solicitando, por intermédio de Edinho Silva, R$ 30 milhões, mas que, atendida essa solicitação, o saldo das duas contas se esgotaria; que Dilma confirmou a necessidade e pediu que o depoente procurasse Pimentel”, narrou aos investigadores.
Joesley afirma que, no mesmo dia, encontrou-se com Pimentel no Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, e disse ao petista ‘que havia conversado com Dilma e que ela havia indicado que os 30 milhões deveriam ser pagos’.
“Pimentel orientou o depoente a fazer o pagamento por meio da compra de participação de 3% na empresa que detém a concessão do Estádio Mineirão; que afora essas duas ocasiões, Edinho Silva, então tesoureiro da campanha do PT, encontrava-se, no período da campanha de 2014, semanalmente com Ricardo Saud e apresentava as demandas de distribuição de dinheiro; que Ricardo Saud submetia essas demandas ao depoente, que, depois de verificá-las com Guido Mantega, autorizava o que efetivamente estivesse ajustado com o então ministro da Fazenda.”
Julia Affonso, Ricardo Brandt, Luiz Vassallo, Fabio Serapião, Fabio Fabrini e Beatriz Bulla
19 Maio 2017 | 13h55- DO ESTADÃO

Em delação, Joesley acusa Temer de pedir pagamentos desde 2010


 Documentos foram entregues à Procuradoria-Geral da República e divulgados pelo site O Antagonista e confirmados pelo Estado
 
O empresário Joesley Batista, do Grupo JBS, descreveu a relação com o presidente Michel Temer em anexo de sua delação premiada. Os documentos foram entregues à Procuradoria-Geral da República, divulgados pelo site O Antagonista e confirmados pelo Estado.
O anexo 9 trata do presidente e tem como título: Fatos diretamentes corroborados por elementos especiais de prova Michel Temer.
 
DO ESTADÃO

JBS teria operado R$ 7,9 milhões em propina com Temer desde 2010

BRASÍLIA  -  O conglomerado JBS operou R$ 7,9 milhões em propina com o presidente Michel Temer de 2010 até 2016, conforme relatou um dos sócios da empresa, Joesley Batista, em seu acordo de delação premiada.
Em anexo da delação obtido pelo site “O Antagonista”, Joesley narra os pedidos de pagamentos irregulares feitos pelo pemedebista. O primeiro deles é ainda em 2010, ano em que se conheceram: Temer pediu, no total, R$ 3,24 milhões em propina para a campanha da chapa que compunha com Dilma Rousseff pela Presidência - que acabou vencedora. Parte foi paga pelo frigorífico como doação oficial e outra para empresas de comunicação, por meio de notas fiscais.
Os dois se encontraram pelo menos 20 vezes desde então, segundo o delator, seja em escritórios de advocacia, na casa de Temer ou no Palácio do Jaburu.
Em um desses encontros (o anexo não precisa a data ou o ano), o pemedebista solicita ao empresário "mensalinho" de R$ 100 mil. Um pagamento de R$ 20 mil por mês também foi solicitado para o então secretário executivo do Ministério da Agricultura, Milton Ortolan. Esses "salários" duraram um ano, relata o delator.
Em 2012, Temer voltou a pedir propina à JBS. Foram pedidos R$ 3 milhões via caixa 2 para a campanha do candidato Gabriel Chalita à prefeitura de São Paulo.
O último pagamento indevido feito pela JBS a Temer foi durante o processo de impeachment de Dilma, ano passado. O então vice-presidente pediu R$ 300 mil para pagar despesas de marketing político na internet, pois estava sendo "duramente atacado" nas redes sociais. O pagamento foi feito, em espécie, a um marqueteiro da confiança de Temer, de nome Elcinho, conta o delator. DO VALOR

Correligionário sobre Aécio: ‘temos que enterrar os mortos’

Para cuidar dos vivos

O PSDB já absorveu o derretimento de Aécio Neves. Um tucano do alto escalão define a postura do partido diante da situação de seu, até outro dia, nome de maior peso.
“Aécio vai cuidar da defesa dele. Nós, do partidos, temos que enterrar os mortos para podemos cuidar dos vivos”.

JBS doou R$ 4,4 milhões para ministros de Temer

A JBS doou aproximadamente 4,4 milhões de reais para os ministros de Temer nas últimas eleições. Só Aécio teria pedido R$ 2 milhões de propina e Cunha receberia R$ 500 mil por semana ao longo de 20 anos. Não é pouco.
Helder Barbalho (Integração) recebeu R$ 2,1 mi, Ricardo Barros (Saúde) R$ 1,2 mi, Mauricio Quintella (Transportes) R$ 450 mil, Marx Beltrão (Turismo) R$ 236 mil, Osmar Serraglio (Justiça) R$ 200 mil, Osmar Terra (Desenvolvimento Social) R$ 200 mil e Ronaldo Nogueira (Planejamento) R$ 130 mil em 2014.
Apenas Blairo Maggi (Agricultura) R$ 12,9 mil em 2010. DO R.ONLINE

Governabilidade de Temer fica prejudicada após debandada na base aliada


No Congresso, se já estava difícil a negociação para aprovação das reformas, em especial, a da Previdência, agora, dificilmente, Temer conseguirá número suficiente de votos

postado em 19/05/2017 06:00 / atualizado em 19/05/2017 00:36
Lula Marques/AGPT
Apesar de ter usado um tom de voz mais firme e seguro do que o normal nos cerca de cinco minutos de pronunciamento, a negativa do presidente Michel Temer (PMDB-SP) em renunciar ao cargo não serviu para acalmar o clima de debandada na base governista. Nos corredores do Palácio do Planalto, a sensação é de que o governo chegou ao fim e informações de bastidores indicam que até o próprio chefe do Executivo estuda a melhor maneira de abandonar o navio. No Congresso, se já estava difícil a negociação para aprovação das reformas, em especial, a da Previdência, agora, dificilmente, Temer conseguirá número suficiente de votos. Com isso, acaba o único trunfo que tinha para melhorar a condição da economia e, consequentemente, a imagem do governo.

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Em um pronunciamento repleto de expectativa, Temer foi taxativo ao negar qualquer aval para a compra do silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha, preso em Curitiba. Ele afirmou que demonstrará ao Supremo Tribunal Federal (STF) que não teve nenhum envolvimento com os fatos delatados pelo empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS. “Não renunciarei. Repito. Não renunciarei. Sei dos meus atos. Exijo investigação plena e muito rápida para os esclarecimentos aos brasileiros. Essa situação de dubiedade, de dúvida, não pode existir por muito tempo”, declarou. O pronunciamento de Temer, no entanto, teve apoio de poucos no próprio Palácio do Planalto, que o aplaudiram timidamente.
Com baixíssimo apoio popular, Temer e aliados sabem que a governabilidade foi fortemente abalada pela delação e pela abertura de um inquérito contra ele no STF por obstrução de Justiça. A perda de apoio na base coloca em dúvida também a força política do presidente para conter o avanço de um processo de impeachment. A depender do tamanho do desembarque da base, o prazo de destituição de Temer pode não demorar muito
Minervino Junior/CB/D.A Press
 Para o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), o processo de impeachment é o único caminho diante da recusa de Temer em deixar o governo. “O presidente Michel Temer decidiu desafiar a crise. Politicamente, ele já foi julgado. Ele não tem mais condições de governabilidade. Ele optou mais pela imunidade institucional do que pela realidade do país. Infelizmente, ele não deixa opção que não seja o impeachment. No momento em que ele resolve desafiar a crise, não existe outro instrumento que não seja, a partir de agora, trabalhar o processo de afastamento”, afirmou Caiado.
Um dos reflexos imediatos das denúncias foi o desembarque do Podemos, o antigo PTN, do governo. Por meio de comunicado divulgado à imprensa, a bancada da Câmara anunciou posição de independência. “O partido, que nasce com uma nova proposta de representação política, reafirma seu compromisso com o povo brasileiro e com a consolidação de uma sociedade democrática. Podemos e devemos reconstruir instituições sólidas, baseadas na transparência e em princípios éticos e morais”, afirma texto assinado pela presidente nacional do partido, Renata Abreu. Entretanto, até o fechamento desta edição, a sigla não havia entregado o comando da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). 

Abandono

As denúncias relacionadas a Michel Temer não mexeram com a base somente no Congresso. Por enquanto, o presidente já perdeu um dos seus ministros: o comandante da pasta da Cultura, Roberto Freire, presidente do PPS, deixou o governo no fim da tarde de ontem. Por meio de nota, Freire afirmou estar deixando o cargo por causa dos acontecimentos e da instabilidade política. “Com muita honra e responsabilidade, durante seis meses, servi ao país e contribuí com medidas importantes para aumentar a transparência, melhorar a eficiência e descentralizar o fomento cultural (...)”. “Retorno ao parlamento brasileiro para ajudar o país a buscar um mínimo de estabilidade política que nos permita avançar em reformas fundamentais”, destacou
O outro ministro da legenda, Raul Jungmann, chefe da Defesa, também teria cogitado deixar o cargo, segundo fontes do ministério, mas desistiu e divulgou nota afirmando que segue no cumprimento das funções. A permanência de Jungmann no governo pode ter sido um aceno à sugestão de assessores. A recomendação foi de que não deixasse o cargo sob o risco de não ter um civil à frente da pasta. “Procurei sinalizar a ele a importância de não deixar o posto, porque ficaria um vazio institucional. Embora as Forças Armadas pensem diferente hoje, o Brasil tem um histórico de intervenção militar. Por isso, é tão importante manter um comandante civil”, ponderou uma pessoa próxima.
Waldemir Barreto/Agência Senado

Panos quentes nas denúncias

Aliados de Michel Temer, especialmente, os da bancada do PMDB da Câmara, tentaram amenizar o clima de debandada da base governista com mensagens de apoio, certeza da inocência do presidente e uma disfarçada sensação de tranquilidade. Por meio de nota, o líder da bancada na Câmara dos Deputados, Baleia Rossi (SP), afirmou que os parlamentares confiam na palavra do presidente. “No seu pronunciamento, o presidente Michel Temer defendeu a celeridade das investigações comandadas pelo Supremo Tribunal Federal e deixou claro que responderá a todos os questionamentos. Neste momento, a Constituição Federal tem de ser nosso guia, a fim de garantir o funcionamento das instituições democráticas em favor do povo”, destaca trecho.
O vice-líder do governo na Câmara, Darcísio Perondi (PMDB-RS), usou até de xingamentos para defender Temer. “Esse moleque (Joesley), esse esc... brasileiro, quer se salvar em conluio não sei com quem”, disparou. E o parlamentar garante que a base não está fragilizada. “É normal que, em uma situação de crise, os parceiros questionem e reflitam. Uns mais, outros menos. Mas o governo de Michel Temer é um governo de todos os brasileiros”, declarou, assegurando, também, que as reformas serão mantidas.
Outra legenda que saiu rapidamente em defesa do governo é a do líder do governo no Congresso, André Moura (PSC-SE). Com cada vez mais espaço na Esplanada e de olho em cargos que serão deixados para trás, o PSC defendeu a ampla defesa do presidente. “O Brasil precisa sair da grave crise econômica e política em que se encontra para voltar a crescer e gerar empregos. O partido entende que o mais importante neste momento é o respeito à Constituição para que o Brasil saia dessa turbulência política como uma democracia madura, baseada em instituições fortes.
Um dos principais partidos da base, o PSDB ainda aguarda o caminhar das investigações para anunciar um eventual desembarque do governo, deixando, inclusive, os ministros a postos para renunciarem aos cargos, o que pode acontecer ainda hoje. “Temos que, acima de tudo, preservar as instituições e fazer com que a vida do Brasil continue avançando. Nossos ministros continuam trabalhando e não vamos tomar nenhuma providência antes de termos uma conversa com o próprio Michel Temer”, afirmou o líder dos tucanos no Senado, Paulo Bauer (PR). DO C.BRASILIENSE

Áudio representa o striptease moral de Temer


Josias de Souza

Data: 7 de março de 2017. Local: Palácio do Jaburu. Quando o amigo Joesley Batista, expressando-se num idioma muito parecido com o português, pediu a Michel Temer que indicasse a melhor maneira “pra mim falar contigo”, o presidente não teve dúvida: “É o Rodrigo.” O dono do JBS, maior frigorífico do mundo, gigante do caixa dois e das propinas, soou como se aprovasse o preposto. “É o Rodrigo? Ah, então ótimo.” E Temer: “É da minha mais estrita confiança.”
Corta para a Pizzaria Camelo, no elegante bairro paulistano dos Jardins. Noite do dia 28 de abril de 2017. O deputado federal Rodrigo da Rocha Loures (PMDB-PR) —o “Rodrigo” que Temer credenciara como seu intermediário— foi seguido e fotografado pela Polícia Federal recebendo de Ricardo Saud, diretor do Grupo JBS, o conglomerado de Joesley, uma mala contendo R$ 500 mil. Era propina, informou a Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal.
Sem saber que Joesley escondia um gravador no bolso do paletó, Temer caiu numa cilada. Recepcionou no Jaburu não o amigo, mas um delator. Manteve com ele uma conversa vadia de 33 minutos. Nela, estimulou o interlocutor a conservar as boas relações monetárias que mantém com o presidiário Eduardo Cunha. Ouviu relatos sobre a compra das consciências de um par de juízes e um procurador da República. Como se fosse pouco, Temer autorizou o visitante a utilizar o seu nome para pressionar o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) a se “alinhar” aos interesses de sua empresa.
A conversa rendeu a Joesley e seu irmão Wesley um acordo de delação cujo prêmio incluiu um exílio dourado em Nova York. Quanto a Temer, o áudio resultou num rebaixamento político que o transportou da posição de presidente da República para a condição de protagonista de um inquérito criminal no Supremo. Ao escutar o áudio, liberado nesta quinta-feira pelo ministro Edson Fachin, da Suprema Corte, Temer celebrou: “A montanha pariu um rato.” Ficou demonstrado que, em Brasília, o pior cego é aquele que não quer ouvir.
Com interesses em guichês tão estratégicos quanto Receita Federal, Banco Central e BNDES, Joesley queixou-se a Temer de Henrique Meirelles. Embora estivesse na folha salarial de sua empresa antes de virar ministro da Fazenda, Meirelles vem refugando as demandas do ex-patrão. E o dono do JBS pediu a Temer um “alinhamento” de posições que lhe permitisse ser mais direto com o ministro: “Porra, Meirelles”. E Temer: “Pode fazer isso.”
Habituada a ouvir as mesóclises que adornam o linguajar rococó do constitucionalista Temer, a plateia ficou autorizada a indagar: Quando se deu a mutação do presidente que dizia estar interessado em passar à história como reformista para o administrador do “pode fazer isso”? Olhando-se ao redor, enxerga-se a presença de oito ministros que Temer insiste em manter no Planalto e na Esplanada como se a Lava Jato não tivesse descoberto nada sobre eles. Fica entendido que pode fazer também aquilo.
O diálogo com Joesley surtiu sobre Temer o efeito de um striptease moral. Em meio à maior investigação contra a corrupção da história, que torna impotentes os ex-poderosos da República, Temer permitiu-se manter, em pleno palácio residencial, uma conversa antirrepublicana. O regime atual no Brasil, agora ficou claro, não é mais o presidencialismo, mas uma versão tapuia da monarquia. Reina a esculhambação.
O monarca está nu. Ao dizer que não renuncia, tenta convencer o reino de que utiliza ternos feitos de um tecido muito resistente, mas completamente invisível a qualquer brasileiro pessimista -do tipo que, obrigado a conviver com a sobra do mês no fim do salário, não pode fazer nem isso nem aquilo.