Comissão pede indiciamento de integrantes da Procuradoria e investigação de Janot.
Apesar de constarem nas delações, nomes de Temer, Lula, Aécio e Dilma foram poupados
Chegou ao fim nesta quinta-feira a
CPMI da JBS.
Uma comissão parlamentar mista de inquérito criada para constranger os
principais investigadores da cúpula política do Brasil e retirar o foco
das investigações da Lava Jato contra uma série de autoridades públicas,
como o
presidente Michel Temer e dois de seus ministros, Moreira Franco e Eliseu Padilha
O relatório, que inicialmente pedia o indiciamento do
ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e de seu antigo chefe
de gabinete, Eduardo Pelella, acabou dando um passo atrás, mas, ainda
assim, colocou os procuradores contra a parede. Elaborado pelo
peemedebista Carlos Marun
– um deputado da tropa de choque do ex-deputado Eduardo Cunha e de
Temer – o relatório pediu que o Conselho Superior do Ministério Público
investigasse Janot e Pelella. O relator admitiu que faltou materialidade
de provas contra os procuradores. “Não fiz apenas uma análise jurídica,
mas também comportamental. Em mantendo o indiciamento reconhecendo a
materialidade, talvez estivesse cometendo o mesmo erro que foi cometido
pelo senhor Janot e pelo senhor Pelella: o açodamento”.
Apesar de a delação da JBS ter revelado o pagamento
irregular de 600 milhões de reais a representantes de 28 partidos e de
ter citado nominalmente 1.829 políticos que foram eleitos nos últimos
anos, nenhum deles aparece como possível responsável pelo recebimento de
recursos ilícitos ou de ter cometido qualquer crime. O espírito de
corpo, mais uma vez, prevaleceu no relatório de Marun. Além de Temer,
Moreira e Padilha, foram poupados no relatório final, apesar de
constarem da delação da JBS, nomes como: os ex-presidentes Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT), os
senadores Aécio Neves
(PSDB-MG) e José Serra (PSDB-SP), os governadores Fernando Pimentel
(PT-MG) e Reinaldo Azambuja (PSDB-MS), o ex-governador André Puccinelli
(PMDB-MS), o deputado Zeca do PT (MS) e o ex-deputados Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), Rocha Loures (PMDB-PR) e Geddel Vieira (PMDB-BA).
O documento seria votado nesta quarta-feira, porém, com a
sessão do Congresso Nacional, os trabalhos foram adiados para a quinta.
No mesmo dia, Marun deverá ser empossado na Secretaria de Governo, o
ministério responsável pela articulação do Planalto com o Legislativo. A
ascensão de Marun é uma espécie de promoção para um defensor que atuou
com tanto afinco a favor de Temer. A mudança de sua postura foi também
uma tentativa de não fechar portas com alguns deputados que poderiam
votar junto com Temer no Congresso.
O fim da CPMI causou desconforto entre representantes da
base governista. “Várias pessoas importantes que deveriam ser
investigadas não foram ouvidas. As que aqui vieram ficaram caladas”,
afirmou o deputado Fernando Francischini (SD-PR), um dos sub-relatores
da CPMI. Entre os que se negaram a se manifestar em seus depoimentos
estão os irmãos Wesley e Joesley Batista, ex-controladores da JBS.
Convidado para depor, Rodrigo Janot recusou o convite.
No relatório, votado nesta quinta com quórum baixo, Marun
pede que os órgãos de fiscalização indiciem os envolvidos direta ou
indiretamente na delação da JBS. São eles: Os irmãos Batista, o
ex-procurador Marcelo Miller (suspeito de intermediar o acordo de
delação da JBS), e dos ex-diretores da empresa Ricardo Saud e Francisco
de Assis e Silva, o advogado Willer Tomaz e o procurador Ângelo Goulart
Vilela. As acusações feitas pela Comissão têm como base o depoimento do
ex-executivo da Odebrecht Rodrigo Tacla Durán, que prestou depoimento à
distância aos integrantes da CPMI.
A primeira reação ao relatório foi do senador
oposicionista Randolfe Rodrigues
(REDE-AP), que recentemente trocou ofensas com Marun na CPMI, quando o
chamou de “lambe-botas” de Temer. Como resposta, o deputado chamou o
senador de “vira-lata da banda podre do Ministério Público”. Randolfe
informou que recorrerá ao STF para evitar a “tentativa de intimidação”
aos procuradores. “O desfecho da CPI foi absolutamente previsível: fez
vista grossa aos negócios sujos dos irmãos Batista, que envolvem membros
do governo anterior e do atual, e se dedicou a inverter a relação entre
acusados e acusadores, enxovalhando de modo oportunista o instituto da
delação premiada e pondo a Lava-Jato no banco dos réus”. DO EL PAIS