domingo, 12 de fevereiro de 2017

Grupo da PF arma reação à escolha de ministro

Michel Temer gosta de presidir perigosamente. Ao acomodar o Ministério da Justiça no balcão, o presidente acendeu um pavio no Departamento de Polícia Federal, subordinado à pasta. Arma-se no órgão algo muito parecido com uma revolta. Um grupo de delegados discute a hipótese levar os lábios ao trombone se o escolhido for um nome, digamos, tóxico.
Os descontentes espantaram-se com o retorno do criminalista Antonio Mariz à bolsa de apostas. Crítico da Lava Jato, o doutor foi excluído por Temer de sua primeira fornada de ministros. E os delegados se perguntam: o que mudou?
Os federais arrepiam-se também com a cogitação de Temer de entregar a poltrona da Justiça a um deputado do PMDB, partido cuja prioridade é “estancar a sangria” da Lava Jato. Avalia-se que um ministro com essa logomarca na testa é natimorto. Organiza-se um minuto de barulho. J.DESOUSA

De chalanas a jatinhos

Em meio à significativa batalha campal no Espírito Santo e aos recorrentes confrontos de rua no Rio de Janeiro, o que mais chamou a atenção na semana política foram a guerra jurídica detonada pelo presidente Michel Temer por premiar Moreira Franco com foro privilegiado e os sucessivos erros dos políticos, que se armam até os dentes contra a Lava Jato, mas ao mesmo tempo insistem em não entender a gravidade da situação, mantendo a velha ostentação como se nada estivesse acontecendo.
Aos fatos: como é possível Alexandre de Moraes fazer um ensaio com membros da CCJ na Chalana Champanhe, uma belíssima casa flutuante no Lago Paranoá de Brasília, como divulgado pela Coluna do Estadão? Ensaios são próprios de shows, de teatros... E por que o senador tucano Aécio Neves tinha de voar para São Paulo num jatinho pago com recursos do Fundo Partidário? O fundo é financiado com o meu, o seu e o nosso suado dinheirinho...
Moraes foi indicado por Temer para o STF sob críticas, por ser então ministro da Justiça e filiado a um partido político, o PSDB. Logo, como já dito neste espaço, ele não apenas tem de ser, mas também tem de parecer honesto, independente, impecável. Dos senadores presentes não se espera muito, mas ele não deve falar um “A” além do necessário, não se expor um tico além do obrigatório, não deixar a mínima brecha para questionamentos da oposição e da opinião pública. Chalana? Pré-sabatina? Com integrantes da CCJ? Faltou prudência ao candidato à toga.
Quanto ao presidente do PSDB: faz sentido recorrer ao Fundo Partidário para um evento relevante num município distante, fora da rota de voos comerciais. Dá para entender. Mas nesse caso, que ganhou notoriedade pelo acidente em Guarulhos? Jatinho? Pago com recursos do Fundo Partidário, que são públicos? Apesar de uns 30 voos diários de Brasília para São Paulo? Faltou prudência ao senador, ex-governador e ex-candidato à Presidência da República.
Essas coisas vão minando mais e mais profundamente a imagem dos políticos, numa semana em que Temer caiu na rede da Justiça por nomear um amigo ministro na hora errada, a Câmara votou pedido de urgência para um projeto que tira da Justiça eleitoral o poder de sanção sobre partidos com contas rejeitadas e o Senado não apenas elege o senador investigado Edison Lobão para presidir a CCJ como joga dez outros enrolados no Supremo na comissão que vai sabatinar o novo ministro do mesmo Supremo.
Pior: essa sucessão frenética de erros ocorre quando a Lava Jato segue firme, a sociedade não consegue - e, infelizmente, não quer - separar o joio do trigo e as delações da Odebrecht já fazem estrago no exterior, ameaçam implodir boa parte do governo, do Congresso e dos partidos do País. E quando um ex-presidente muito popular é réu em cinco (cinco!) processos.
Pensando bem, a prudência anda em falta nas prateleiras da política, com consumidores e contribuintes perplexos com tanta ostentação e demonstração de descaso fora de hora. Entre os lagos das chalanas e os céus dos jatinhos, há mais de 12 milhões de desempregados, motim de policiais militares e saques promovidos por cidadãos e cidadãs comuns no Espírito Santo, confrontos de policiais e manifestantes à luz do dia no Rio, massacres horripilantes nas penitenciárias de Manaus, Natal e Boa Vista. Sei não, mas tem gente que anda brincando com fogo, com excessos em terra, água e mar. Quem paga são as instituições.
Presidentes. Se depois das revelações da Odebrecht o ex-presidente do Peru Alejandro Toledo está com o pé na cadeia e o atual da Colômbia, Juan Manuel Santos, está sendo investigado, imaginem como anda a ansiedade no Brasil...DO ESTADÃO

Sem anistia. E basta de chantagem.


Merval Pereira defende a posição do governo do Espírito Santo de não anistia os oficiais envolvidos na greve do PMs. De fato, é inaceitável a chantagem feita pelas corporações armadas, cuja omissão levou o estado à barbárie:
Não anistiar os oficiais envolvidos na greve dos PMs do Espírito Santo, responsável pelo clima de barbárie que tomou conta do Estado e por um recorde de mortes nas ruas sem policiamento, é a única maneira de dar um basta nessa chantagem que corporações fazem sobre o Estado, inaceitável especialmente vinda de corporações armadas.
Não está em discussão a necessidade de os PMs receberem reajuste salarial ou terem mesmo melhores condições de trabalho, inclusive vislumbrando uma carreira estável a longo prazo, que garanta a suas famílias segurança e estabilidade. Mas essa negociação tem que ser feita à luz do dia, sem que a chantagem se sobreponha ao funcionamento normal dos serviços do Estado.
O número de assassinatos e os saques a estabelecimentos comerciais demonstram claramente o prejuízo à sociedade que a greve dos policiais militares causou no Espírito Santo, e o governador Paulo Hartung fez muito bem em chamar as coisas pelos nomes que têm: chantagem.
Mesmo que não tenha tido a sensibilidade de notar que havia uma inquietação nas tropas da polícia militar, o governador Hartung não pode ser acusado de ser leniente com a transgressão da lei. Ser duro no controle dos gastos públicos é dos principais trunfos de Paulo Hartung, um exemplar da nova geração de governadores que merece ser apoiado na sua luta contra o desperdício do Estado.
Não há no Espírito Santo até o momento nenhuma denúncia sobre corrupção no governo, ao contrário do Rio de Janeiro, onde a cúpula do PMDB apanhada na Lava Jato continua no poder. Chega a ser ridícula a afirmação do governador Pezão de que nunca desconfiou dos esquemas corruptos que dominavam todo o governo Sérgio Cabral, do qual foi vice e secretário de obras, pasta na qual a maioria das falcatruas com empreiteiras foram cometidas.
Em vez de inocentar Pezão, que agora já apareceu em denúncias da Lava Jato como receptor de propinas, essa declaração o denuncia como um inepto, na melhor das hipóteses. A corrupção que tomou conta do Estado do Rio foi uma das causas da crise em que o Estado está metido, além da irresponsabilidade administrativa que fez com que royalties futuros do petróleo fossem empenhados sem que se soubesse se realmente viriam.
Como não vieram, por questões que envolvem tanto o mercado petrolífero internacional quanto políticas internas de distribuição dos lucros minguantes entre os entes federativos, o Estado quebrou e não tem mais condições de bancar os irresponsáveis compromissos assumidos de aumentos salariais e aposentadoria dos servidores.
O sobrepreço das obras públicas que alimentava a corrupção governamental encarregou-se de fechar o círculo. Um governo corrupto não tem moral para alterar a tradicionalmente corrupta polícia, nem pode exigir uma mudança de comportamento dos servidores públicos, especialmente os que andam armados.
Mas a corrupção do governo também não pode servir de desculpa para ações fora da lei, como greves de policiais militares ou saques como os que aconteceram no Espírito Santo. É preciso que essas corporações minoritárias, mas que têm condições de prejudicar a sociedade com sua inação, tenham consciência de seu papel e negociem com o governo melhores condições de trabalho sem colocar em risco a população.
Agindo do jeito que agiram no Espírito Santo, só terão a população contra elas, em vez de serem apoiadas em suas reinvindicações. O momento que o país atravessa é dos mais delicados dos últimos tempos, e é preciso que a sociedade se una para que possamos superá-lo.
Não é aceitável que corporações armadas possam se valer de chantagens sobre a população para alcançar suas reivindicações salariais, por mais justas que sejam. Por isso, a anistia aos revoltosos não pode ser uma saída para a crise. (O Globo). DO O.TAMBOSI