terça-feira, 8 de agosto de 2017

Escárnio é a única indústria que cresce no país


Josias de Souza



Ao admitir a existência de estudos para aumentar mais impostos, entre eles o Imposto de Renda, Michel Temer fez uma opção preferencial pelo escárnio. Para salvar o próprio mandato, Temer escancarou os cofres públicos, franquando-os aos interesses mais inconfessáveis. Produziu duas vítimas. Primeiro, assassinou o discurso de austeridade que justificava sua Presidência. Agora, cogita esfolar os contribuintes.
No alvorecer do seu governo-tampão, Temer prometeu responsabilidade fiscal e prosperidade econômica. Antes da delação da JBS, gastou baldes de saliva para alardear que a economia estava nos trilhos. Sua equipe econômica chegou a prever um crescimento de 2% para 2017. Tudo lorota. Se o PIB ficar no zero a zero será um grande feito.
Temer não realizou as privatizações que prometeu. Sem a reforma da Previdência, seu teto de gastos estourou. Acusado de corrupto pela Procuradoria, o presidente reativou a aliança com o atraso, que sonha diariamente com o estancamento da sangria da Lava Jato. Prevalecendo os estudos do governo, o brasileiro pagará mais impostos e continuará financiando a corrupção que faz com que a sociedade receba menos serviços. Definitivamente, o escárnio é a única indústria que prospera no Brasil.

Procuradores querem que STF proíba seus ministros de ter relações com investigados


Movimento mira Gilmar e é reação a pedido de suspeição de Janot

Ministro Gilmar Mendes e o procurador Rodrigo Janot (PGR) no lançamento nacional da 13ª edição do Prêmio Innovare - André Coelho / Agência O Globo
BRASÍLIA. O procurador-geral Rodrigo Janot disse a integrantes da equipe que não vê problemas no pedido de suspeição apresentado contra ele pelo presidente Michel Temer. Segundo um dos auxiliares do procurador-geral, a partir da iniciativa do presidente, o Supremo Tribunal Federal (STF) deverá definir padrão de conduta de procuradores e magistrados
Investigadores estão especialmente incomodados com o ministro Gilmar Mendes que, de acordo com eles, faz de forma sistemática declarações sobre conteúdo de processos e até decisões de outros ministros fora dos autos.
- O STF precisa realmente de um balizamento quanto à questão de suspeição. Declarações fora dos autos, juízos antecipados, relações com partes. Precisamos definir um padrão de conduta de todos - disse um auxiliar do procurador-geral em resposta ao pedido de suspeição.
Temer e o ex-assessor Rodrigo da Rocha Loures foram denunciados por corrupção passiva. Temer é investigado ainda por obstrução de justiça e organização criminosa. Pelo menos uma das investigações deve resultar numa segunda denúncia contra o presidente. Para investigadores, o pedido de suspeição seria uma tentativa de criar embaraço ao procurador-geral e, com isso, impedir que ele apresente uma nova acusação formal contra Temer antes de deixar o mandato em 17 de setembro.
Esta não seria a primeira vez que um investigado tenta inverter os papéis numa investigação criminal. No início da Operação Lava-Jato, o ex-deputado Eduardo Cunha, então presidente da Câmara, e um grupo de deputados da CPI da Petrobras tentou transformar Janot, de chefe da investigação, em investigado. Deputados chegaram a defender a quebra do sigilo telefônico do procurador-geral. A medida não foi levada adiante. Cunha perdeu o mandato e acabou preso por ordem do juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba.
Investigadores estão incomodados também com a proximidade entre Mendes e Temer. Um dia depois de se reunir com Temer, Gilmar, sem maiores explicações, chamou Janot de pior procurador-geral mais desqualificado da instituição. Menos de 24 horas depois do ataque, os advogados de Temer pediram o afastamento do procurador-geral das investigações sobre o presidente. DO G1

Temer faz com Janot o que Lula fez com Moro

Josias de Souza

Ao arguir a suspeição de Rodrigo Janot no Supremo Tribunal Federal, Michel Temer repete com o procurador-geral da República a tática usada por Lula contra Sérgio Moro. Os advogados se rendem a uma máxima muito usada por políticos acusados de corrupção: a melhor defesa é o ataque. O problema é que, nos dois casos, o ataque não serve senão para escancarar a ausência de defesa.
Os defensores de Lula recorreram contra Moro em todas as instâncias do Judiciário. Qeuixaram-se até na ONU. A despeito das investidas, o juiz foi mantido à frente dos processos. E já pendurou no pescoço de Lula uma condenação de 9 anos e 6 meses de cadeia por corrupção e lavagem de dinheiro.
A hipótese de a Suprema Corte proibir Janot de denunciar Temer é muito próxima de zero. O advogado do presidente, Antônio Cláudio Mariz, sabe disso. Moveu a ação para oferecer ao seu cliente e amigo um discurso contra a segunda denúncia que o procurador-geral fará contra ele, agora por obstrução de Justiça. Ainda que a peça de Janot seja consistente, Temer poderá manter a pose de perseguido político.
Grosso modo, a única diferença entre Temer e Lula é o mandato. Como ex-presidente, o pajé do PT arde na grelha da primeira instância. No exercício do mandato presidencial, Temer dispõe de dois escudos: além de desfrutar do foro especial do Supremo, só pode ser processado se a Câmara autorizar. E os deputados já demonstraram que, bem pagos, fazem qualquer negócio.
Pior para o brasileiro, condenado a conviver com um presidente cuja honestidade está pendente de uma sentença que só poderá ser emitida depois de 31 de dezembro de 2018, quanto terminar o mandato de Temer. Mal comparando, é como viajar num avião que se espatifará —e, levando-se em conta o caráter da tripulação, “espatifar” é o termo apropriado— no chão. Sem alternativas, o país reza para sobreviver ao desastre.

Relator da Lava Jato no STF homologa delação de Pedro Corrêa

 

Delação premiada é acordo entre o ex-deputado, já condenado no processo do mensalão do PT, e o Ministério Público Federal. Conteúdo dos depoimentos de Corrêa estão sob sigilo.

O ministro Luiz Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), homologou a delação premiada do ex-deputado federal Pedro Corrêa. A delação, que ainda tem o conteúdo sob segredo de Justiça, é fruto de um acordo entre Corrêa e o Ministério Público Federal.
O acordo prevê redução de pena em troca de o ex-deputado, que já foi presidente do PP, entregar tudo o que sabe sobre o esquema de corrupção da Petrobras.
Fachin enviou a delação para a Procuradoria Geral da República, que deverá agora decidir sobre quais pontos do depoimento do ex-deputado pedirá abertura de inquérito.
A procuradoria também vai definir se incluirá alguns pontos da delação em investigações já em andamento. Na ocasião, a PGR poderá pedir o fim do segredo de Justiça, que será avaliado pelo relator.
Em outubro do ano passado, o então relator da Lava Jato, ministro Teori Zavascki, devolveu o acordo para ajustes, mas não havia detalhes sobre o que precisaria ser alterado - segundo pessoas que participaram das negociações, as mudanças pedidas se referem aos depoimentos dados pelo ex-parlamentar. Depois dessas alterações, o acordo voltou ao STF e agora foi homologado.
A delação foi validada no STF porque Pedro Corrêa citou nomes de políticos com foro privilegiado em sua delação.
No processo do mensalão do PT, Pedro Corrêa foi condenado a 7 anos e dois meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Enquanto cumpria pena, foi preso em abril de 2015 por envolvimento na Operação Lava Jato e condenado a 20 anos de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção. DO G1-BRASILIA

Lula grava vídeo e seu candidato perde eleição no interior do Piauí

Coluna do Estadão
08 Agosto 2017 | 05h30
Apesar de sua força política no Nordeste e de o governador do Piauí ser do PT, o ex-presidente Lula foi derrotado no seu primeiro teste nas urnas após ter sido condenado pela Lava Jato. Lula gravou um vídeo de apoio ao candidato Jailson (PT) à prefeitura de Miguel Leão, pequena cidade do Piauí. O presidente do PP, senador Ciro Nogueira, gravou outro a favor de Robertinho (PR). O candidato de Lula perdeu a disputa para o nome do PR. A eleição suplementar ocorreu domingo porque o prefeito, o vice e o presidente da Câmara foram cassados.
No vídeo de um minuto, que acompanha a legenda “ex-presidente do Brasi”, sem o L, Lula nacionaliza a disputa. “O Jailson é do PT e você sabe que o PT sabe governar o Brasil, sabe governar Miguel Leão, por isso domingo não se esqueça, vote em Jailson”, diz ele.
Jailson recebeu 625 votos e terminou a eleição em segundo lugar, ante os 663 de Robertinho.
Em 2014, Dilma Rousseff obteve 67% dos votos no município frente 14% de Aécio Neves (PSDB).

É notável o esforço para passar o Brasil a sujo


Josias de Souza

Desde o início da Lava Jato, há pouco mais de três anos, a conjuntura nunca foi tão alvissareira para os larápios como agora. A maior operação anticorrupção da história ganhou ares de ópera-bufa. E caminha perigosamente para um desfecho de tragédia. Os capítulos mais agudos da ópera são a união dos gatunos e as cabeçadas entre autoridades que deveriam combater o crime.
Dias atrás, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, resumiu a cena. ''A Operação Abafa é uma realidade visível e ostensiva no Brasil de hoje'', ele disse. Barroso dividiu os corruptos em duas bandas. Numa, estão os que fogem da punição. Noutra, os que acham que é possível continuar roubando.
Unidos, investigados ajudaram a blindar Michel Temer na Câmara. Na outra ponta, a Polícia Federal desqualifica delações. É briga por poder, responde a Procuradoria. Gilmar Mendes, do Supremo, diz que Rodrigo Janot é o procurador-geral mais desqualificado da história. Colegas de Gilmar torcem o nariz para sua proximidade com investigados como Temer e Aécio Neves.
É compreensível o otimismo da bandidagem. O esforço para aplicar um nariz de palhaço no brasileiro e passar o Brasil a sujo é notável.

Fazenda estuda até nova faixa para o IR: 35%

Josias de Souza

Alguma coisa subiu à cabeça da banda malvada da equipe de Henrique Meirelles. Diante do risco de revisão da meta fiscal de 2017, essa ala do Ministério da Fazenda manuseia propostas para elevar a arrecadação do Tesouro. Uma das ideias é criar nova alíquota de Imposto de Renda para os brasileiros abonados. Hoje, a tarifa mais alta cobrada das pessoas físicas é de 27,5%. A nova faixa iria a 35%. Aprovada neste ano, reforçaria os cofres de 2018.
Michel Temer deveria pedir a Meirelles para segurar a ala carrasca da Fazenda. Se a proposta chegar ao Congresso, a popularidade do presidente da República, hoje na casa dos 5%, rente ao chão, desceria ao subsolo. Melhor evitar. Numa hora dessas, não convém cutucar a plateia com o pé para saber se ela ainda morde.