sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Temer ajusta intervenção ao marketing eleitoral

Deflagrada em segredo na terça-feira e concluída na madrugada de sexta-feira, a articulação que transferiu de Luiz Fernando Pezão para Michel Temer os poderes para governar a segurança pública no Rio de Janeiro foi marcada pelo improviso. Mas num ponto a assessoria do Planalto caprichou: a divulgação. Convocou-se o marqueteiro Elsinho Mouco, que serve ao PMDB e à Presidência. A operação ganhou volume de campanha e timbre de propaganda eleitoral.
Em princípio, cogitou-se anunciar a intervenção por meio de um comunicado oficial do Planalto. Mas optou-se por bater bumbo. Com método, organizou-se uma solenidade para Temer discursar.
Mais: reservou-se espaço nas emissoras comerciais para assegurar que a primeira incursão da intervenção federal fosse uma invasão de Temer à sala-estar dos brasileiros. Não apenas no Rio, mas em todos os Estados, numa rede nacional de rádio e TV.
O discurso noturno, colado ao Jornal Nacional, foi um repeteco mais enxuto do pronunciamento feito no final da manhã. Foi como se Temer e sua marquetagem quisessem impor sua própria edição ao telejornal da Globo.
A autopromoção prosseguirá neste sábado. Temer voará para o Rio de Janeiro. A pretexto de “apresentar” à sociedade fluminense o interventor, general Walter Souza Braga Neto, Temer desfilará pelo palco de sua intervenção. Deseja ver e, sobretudo, ser visto.
Tudo na intervenção do Rio foi improvisado: reuniões de emergência, viagem de última hora para dobrar resistências do subgovernador Pezão… Até o decreto enviado ao Congresso foi redigido às pressoas, em cima do joelho, como se diz. Só o marketing foi planejado com esmero.
Nas últimas horas, Temer ganhou orelhas de candidato, nariz de candidato, boca de candidato à reeleição. Mas o Planalto ainda vende ao país a ilusão de que se trata apenas de um presidente genuinamente preocupado com a segurança do Estado do Rio de Janeiro.
Na noite desta sexta-feira, em reunião com oficiais do do alto comando das Forças Armadas, no Planalto, Temer assegurou que a intervenção no Rio não será ''politizada''. De fato, não será. Já foi.
Josias de Souza

Na Veja: "Propina financiava até IPVA e conta de luz de Gleisi"

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Reportagem de Hugo Marques, na "Veja", conta as revelações do advogado Marcelo Maran, que confessou ter controlado as contas da senadora
Em depoimento inédito colhido pela Procuradoria-Geral da República, o advogado Marcelo Maran detalhou como dinheiro desviado dos cofres públicos financiou, além das campanhas eleitorais de Gleisi Hoffmann, o conforto da senadora e de sua família.
Segundo Maran, despesas comezinhas da atual presidente do PT e do marido, o ex-ministro Paulo Bernardo, eram bancadas por uma conta-propina abastecida, na ponta, pelo dinheiro do contribuinte. Os gastos incluíam gasolina, taxas de IPVA, conta de luz, condomínio, conserto de liquidificador, brinquedos para seus filhos e pequenos luxos, como motorista particular - informações que ela nega.
Abaixo, um pequeno trecho do que diz o relator. Para assistir ao vídeo completo e ler na íntegra a reportagem, clique aqui.
Fonte: https://veja.abril.com.br - DO DEMAIS

Temer interveio no Rio, mas tolera Sergio Cabral

Michel Temer decretou intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro porque “o crime organizado quase tomou conta do Estado.” Considera “essa medida extrema.” Mas avalia que “as circunstâncias exigem”. Por isso, seu governo “dará respostas duras”. Adotará “todas as providências necessárias para enfrentar e derrotar o crime organizado e as quadrilhas.”
O mesmo Temer que falou grosso em discurso no Planalto é presidente licenciado do PMDB, partido que mantém em seus quadros, entre outros ilustres cidadãos do Rio, o ex-governador Sérgio Cabral, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o presidente da Assembléia Legislativa fluminense Jorge Picciani.
Cabral, Cunha e Picciani têm algo em comum. Pilhados em atos de corrupção, estão todos atrás das grades. Mas contra essa quadrilha de estimação Temer não tem nenhuma resposta dura a dar. Ao contrário, homenageia-os com seu silêncio. Se tivesse que dizer algo decerto seria o seguinte: ''Ah, continuam filiados ao PMDB? Ótimo! Tem que manter isso, viu?”
Resignado, Luiz Fernando de Souza, o Pezão, declarou que o Estado ''tem pressa'' para realizar o enfrentamento da bandidagem. Reconheceu que, sozinhas,  as polícias civil e militar não estão conseguindo deter “a guerra entre facções no Estado.” O pseudo-governador absteve-se de recordar que integrou a facção cabralina, já parcialmente detida.
O lapso de memória de Pezão é natural. Ele viveu o ápice da ficção estrelada por Cabral. Foi secretário de Obras e vice-governador do agora presidiário. Hoje, atravessa uma ruína que ajudou a criar. Vive a neurose do que está por vir no dia em que perder as imunidades do cargo que finge ocupar. A partir de janeiro de 2019, nada impede que a Polícia Federal lhe faça uma visita no início de uma manhã qualquer.
É contra esse pano de fundo que o desgoverno do PMDB de Brasília interveio no desgoverno do PMDB do Rio. Desse modo, o PMDB tornou-se um partido auto-suficiente. Ele mesmo assalta o Estado, ele mesmo perdoa os assaltantes e ele mesmo, empunhando um decreto de intervenção, sai correndo pelas ruas aos gritos de “pega ladrão!”
Josias de Souza

Ao intervir no Rio, Temer pula dentro do incêndio


Michel Temer tem pelo menos três problemas sobre a mesa: seu governo é reprovado por 70% dos brasileiros, seu preposto na chefia da Polícia Federal colocou a Operação Abafa a Jato na vitrine e sua reforma da Previdência tomou o caminho do brejo. Não tendo nada a dizer sobre nenhum desses temas, Temer optou por mudar de assunto. Pendurou nas manchetes uma intervenção no setor de segurança pública do Rio de Janeiro. Acha que a ousadia fará seu projeto de reeleição ascender por gravidade. Contudo, o mais provável é que tenha apenas se jogado no centro de um incêndio onde não há saída de emergência.
Temer pensa dez vezes antes de mover os lábios. Não dá um “bom dia” sem uma profunda reflexão. Quando ordenou aos ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e Raul Jungmann (Defesa) que fossem buscar o governador Luiz Fernando Pezão no Rio de Janeiro, sabia que a lei manda que não se mexa na Constituição enquanto houver Estados sob intervenção federal. Há quem sustente que reformas como a da Previdência poderiam tramitar, desde que não fossem promulgadas. Mas esse é outro debate. Por ora, o que importa para Temer é cavar um pretexto que lhe permita sair de fininho de uma reforma que definhou por insuficiência de votos.
Pezão fez cara de dúvida quando soube o motivo da visita de Jungmann e Moreira. A ideia de uma intervenção formal não lhe caiu bem. Preferia algo informal. Acalmou-se ao saber que Temer havia jurado que não daria um passo sem o seu consentimento. O pseudo-governador não dispõe de um itinerário. Mas acha que ainda está no volante. Entregou gostosamente os pontos ao ser informado de que a ingerência federal ficaria restrita à área da segurança pública, que seu governo já não controla.
Embora Pezão não tenha percebido, sua administração acabou na viagem do Rio para Brasília. Ao final da reunião no Palácio da Alvorada, seu mandato estava, por assim dizer, encurtado em dez meses e meio. Para tentar recarregar suas próprias baterias, Temer desligou o correligionário da tomada. Poderia ter deixado o afilhado do presidiário Sérgio Cabal derretendo em sua própria gordura até o término do mandato. Mas preferiu abreviar o processo de carbonização.
Dizer que o gesto de Temer foi ousado é pouco. Ousadia teve Fernando Henrique Cardoso quando promoveu, em 1997, uma intervenção branca no governo de Alagoas. No caso de Temer, a intervenção é preto no branco, como se diz. E ocorre no coração do país, não num Estado periférico. É mais do que uma ousadia. Beira a temeridade.
Em Alagoas, depois de levar as finanças estaduais à breca, o então governador Divaldo Suruagy encareceu a FHC que a União assumisse o buraco. Enviado por Brasília, o economista Roberto Longo tornou-se interventor informal na Secretaria de Fazenda alagoana. Carbonizado, Suruagy licenciou-se do cargo. Pouco depois, renunciou para evitar um impeachment.
No Rio, a iniciativa da intervenção foi de Temer, esclareceu um ministro. Embora o Estado também esteja quebrado, o alvo de Brasília é a segurança. Assume o comando das polícias o general Walter Souza Braga Neto. Trata-se de um militar de mostruário. Não brinca em serviço. Para realizar o seu trabalho a sério, exigirá meios.
O contribuinte que paga seus impostos em outros Estados, alguns tão violentos quanto o Rio, logo se perguntará quanto de verba pública federal escorrerá pelo ralo até que Temer se convença de que o drama da violência fluminense, por insolúvel, não será resolvido nos dez meses que lhe restam de mandato.
O noticiário da TV Globo sobre o surto de violência no Carnaval carioca teve grande peso na decisão de Temer. Em privado, o presidente e seus auxiliares alegam que, ao distribuir as culpas pelo descalabro, as reportagens da emissora já não fazem distinção entre as autoridades locais de segurança e as autoridades federais. Destacadas para ajudar a manter a lei e a ordem, as Forças Armadas também foram empurradas para dentro do micro-ondas. Nessa versão, seria melhor entrar de vez na briga do que ser atropelado como um pedestre inadvertido.
O decreto de intervenção terá de ser aprovado no Congresso. Eleito pelo Rio, o presidente da Câmara Rodrigo Maia fez cara de poucos amigos. Último a ser chamado para a reunião do Alvorada, ao lado do presidente do Senado Eunício Oliveira, Maia abespinhou-se por não ter participado do debate desde o início. Levou o pé atrás. Esboçou contrariedade. Ironicamente, coube ao govenador Pezão amolecer as resistências. “Não dá mais para adiar, Rodrigo.”
Assim, ficou decidido que Temer, depois de ser retratato como vampiro no enredo da escola de samba Tuiuti, instalará no Planalto uma sucursal do inferno. Nos próximos meses, o presidente se dedicará a brincar com fogo. Torça-se para que as Forças Armadas não saiam chamuscadas. Soldados, como se sabe, são treinados para matar inimigos, não para prender patrícios.
Josias de Souza
16/02/2018 05:38