sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Temer interveio no Rio, mas tolera Sergio Cabral

Michel Temer decretou intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro porque “o crime organizado quase tomou conta do Estado.” Considera “essa medida extrema.” Mas avalia que “as circunstâncias exigem”. Por isso, seu governo “dará respostas duras”. Adotará “todas as providências necessárias para enfrentar e derrotar o crime organizado e as quadrilhas.”
O mesmo Temer que falou grosso em discurso no Planalto é presidente licenciado do PMDB, partido que mantém em seus quadros, entre outros ilustres cidadãos do Rio, o ex-governador Sérgio Cabral, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o presidente da Assembléia Legislativa fluminense Jorge Picciani.
Cabral, Cunha e Picciani têm algo em comum. Pilhados em atos de corrupção, estão todos atrás das grades. Mas contra essa quadrilha de estimação Temer não tem nenhuma resposta dura a dar. Ao contrário, homenageia-os com seu silêncio. Se tivesse que dizer algo decerto seria o seguinte: ''Ah, continuam filiados ao PMDB? Ótimo! Tem que manter isso, viu?”
Resignado, Luiz Fernando de Souza, o Pezão, declarou que o Estado ''tem pressa'' para realizar o enfrentamento da bandidagem. Reconheceu que, sozinhas,  as polícias civil e militar não estão conseguindo deter “a guerra entre facções no Estado.” O pseudo-governador absteve-se de recordar que integrou a facção cabralina, já parcialmente detida.
O lapso de memória de Pezão é natural. Ele viveu o ápice da ficção estrelada por Cabral. Foi secretário de Obras e vice-governador do agora presidiário. Hoje, atravessa uma ruína que ajudou a criar. Vive a neurose do que está por vir no dia em que perder as imunidades do cargo que finge ocupar. A partir de janeiro de 2019, nada impede que a Polícia Federal lhe faça uma visita no início de uma manhã qualquer.
É contra esse pano de fundo que o desgoverno do PMDB de Brasília interveio no desgoverno do PMDB do Rio. Desse modo, o PMDB tornou-se um partido auto-suficiente. Ele mesmo assalta o Estado, ele mesmo perdoa os assaltantes e ele mesmo, empunhando um decreto de intervenção, sai correndo pelas ruas aos gritos de “pega ladrão!”
Josias de Souza

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