Concebido por uma equipe de economistas reunida e liderada por
Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda, o Plano Real
nasceu em 1° de julho de 1994, durante o governo do presidente Itamar
Franco. Frustradas as recorrentes tentativas de abortá-lo, o PT
oposicionista fez o que pôde para matar ainda no berço a mais eficaz
mudança de rumos da história da economia brasileira. A seita que sempre
teve Lula como único deus só capitulou quando até os bebês de colo
entendiam que um brilhante conjunto de medidas havia encerrado a era da
inflação selvagem. Esses são os fatos. Ponto.
Ponto e vírgula, teimam há mais de dez anos os ladrões de proezas
alheias. No enredo da ópera dos tratantes, o dragão inflacionário foi
derrotado por Lula, que corrigiu com mãos de estadista os equívocos da
política econômica que herdou de FHC. Pendurados nesse embuste, o chefe
supremo e seus altos oficiais continuam a condecorar-se por atos de
bravura que nunca existiram. O vídeo divulgado há quase quatro anos pelo
Coturno Noturno prova que, na guerra travada em 1994, todos se aliaram à
hiperinflação para destroçar o plano que salvou o Brasil da falência.
No 20° aniversário do plano vitorioso ─ tema da indispensável
reportagem de capa de VEJA ─, vale a pena resgatar o documento histórico
que de vez em quando some da internet, sequestrado por milicianos de
olhos rútilos e lábios trêmulos com 64 segundos desmoralizantes. Esse
curto espaço de tempo é suficiente para pulverizar a soma das vigarices
fabricadas por 100 entrevistas de Lula, 200 falatórios de Dilma
Rousseff, 300 estupros de sigilo promovidos pelo PT, 500 dossiês
forjados fabricados pela Casa Civil e 500 notas oficiais da direção do
partido.
O vídeo prova que o padrinho e a afilhada mentem compulsivamente,
confirma que a seita sempre apostou no quanto pior, melhor e escancara a
superioridade intelectual e moral de Fernando Henrique Cardoso sobre a
dupla de sucessores. ”O PT tem uma avaliação de que esse plano econômico
é um estelionato eleitoral”, diz Lula à plateia domesticada e repete
numa entrevista em meados de 1994. Segundos depois, ele retoma o
palavrório ao lado de FHC, minutos antes do começo do debate com o
candidato do PSDB em ascensão nas pesquisas por ter domado a
hiperinflação.
“Quando o Collor fez o programa dele, imediatamente o povo dava 90%
de aceitação do Collor”, inventa, sem conseguir disfarçar o
ressentimento, o agressor da gramática e da verdade. “É preciso ver no
longo prazo se a economia brasileira resiste”, torce Lula para dar tudo
errado na continuação da lengalenga. ”Estou convencido de que a economia
resiste, porque esse plano foi feito com cuidado”, replica FHC. “Com
muita objeção do PT e do PDT, mas vamos fazer”.
Estava coberto de razão, reconhece Dilma Rousseff no fecho perfeito
do vídeo: “Acho que, sem sombra de dúvida, a estabilidade do Real foi
uma conquista do governo Fernando Henrique Cardoso”, admite numa
sabatina na Folha a candidata que agora jura que teve de ajudar
o chefe na reconstrução do país que herdaram “em petição de miséria”. A
curta aparição conjunta dos presidentes ajuda a entender por que o
SuperLula sai em desabalada carreira quando alguém sugere um debate com
sua kriptonita verde. Ele extermina plurais e tropeça em sílabas no
esforço para gaguejar frases insensatas. Fernando Henrique desmonta o
falatório com poucas palavras e muita segurança.
O vídeo desenha mais um dos muitos caminhos que podem levar a
oposição à vitória na eleição presidencial deste ano. Basta que
o senador Aécio Neves peça a Dilma que analise a guinada na economia
ocorrida em 1994. Na tréplica, o candidato do PSDB deve recordar o que a
criatura e o criador disseram, tramaram e fizeram quando ainda podiam
sonhar com o assassinato do Plano Real. E liquide o assunto com a
constatação de que, passados 20 anos, é a inflação ressuscitada pelo
governo que sonha com a vitória eleitoral dos velhos aliados.
DO ANUNES