Dirigentes de igrejas neopentecostais,
como Edir Macedo, da Universal, já indicam voto em candidato do PSL;
receio é de 2.º turno com petista Fernando Haddad
Felipe Frazão,
O Estado de S.Paulo
01 Outubro 2018 | 05h00
BRASÍLIA - Sob intenso ataque de adversários, o candidato do PSL à Presidência nas
eleições 2018,
Jair Bolsonaro,
encontrou um porto seguro no apoio do segmento evangélico. Líderes de
igrejas neopentecostais já indicam apoio ao capitão da reserva em
eventual segundo turno entre ele e
Fernando Haddad, do PT, cenário mais provável conforme as pesquisas de intenção de voto.
O bispo
Edir Macedo, da
Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd),
declarou neste sábado, 29, voto em Bolsonaro. O PRB, partido ligado à
Universal, já manifestou internamente predileção pelo candidato do PSL
no segundo turno, embora tenha se coligado ao tucano
Geraldo Alckmin no primeiro turno.
Bolsonaro
também saiu na frente para receber a adesão de outros partidos que
concentram parlamentares evangélicos, como o DEM e o PSC.
O candidato do PSL lidera em todas as vertentes evangélicas, segundo as pesquisas. Na série do Ibope/
Estado/TV
Globo, Bolsonaro teve uma curva ascendente entre os evangélicos como um
todo, sempre acima da intenção de voto geral. Desde agosto, ele passou
de 26% para 34% no segmento, acima dos 28% de intenção de voto global,
conforme o mais recente levantamento. Haddad tem 22% do total, mas
atinge só 17% entre os evangélicos. Já
Marina Silva
(Rede) caiu de 12% para 7% entre os evangélicos, enquanto Alckmin se
manteve na faixa de 8%. Os religiosos avaliam que votos de Marina
migraram para Bolsonaro por causa de manifestações dela que consideram
dúbias.
Levantamentos feitos pelas campanhas adversárias mostram que a
resiliência de Bolsonaro na liderança das intenções de voto está muito
relacionada ao voto evangélico, que não é necessariamente um voto
“antipetista”, mas sim um voto conservador, contra o aborto, a pauta
LGBT e a esquerda.
Perfil
Edir Macedo, que lidera a igreja neopentecostal considerada a mais
influente eleitoralmente, usou seu perfil oficial no Facebook para
responder ao questionamento de um fiel da Iurd, que desejava saber quem
ele apoiaria na eleição para presidente da República. Em eleições
anteriores, a Universal apoiou a ex-presidente
Dilma Rousseff (PT), hoje candidata ao Senado em Minas Gerais.
O PRB, partido ligado à igreja e criado durante o governo do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva – condenado e preso na
Lava Jato
–, participou das duas últimas gestões petistas, mas desembarcou do
governo e apoiou o impeachment de Dilma. A sigla comanda o Ministério da
Indústria no governo
Michel Temer.
Bolsonaro é católico por formação e se apresenta assim em
encontros fechados com pastores. Em público, costuma dizer que é
“cristão”. A mulher dele, Michelle Bolsonaro, frequenta a Igreja Batista
Atitude, na Barra da Tijuca, no Rio. O casamento deles foi celebrado
por Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.
O presidente do PSC, Pastor Everaldo Pereira, membro da
Assembleia de Deus Ministério Madureira, batizou o agora candidato do
PSL em 2016 nas águas do Rio Jordão, em Israel. O PSC está coligado ao
candidato do Podemos ao Planalto, Alvaro Dias, mas Pastor Everaldo já
deixa clara sua opção num eventual segundo turno. “O PSC (
apoia)
na hora. O partido não vota com a esquerda, com o PT e o Haddad em
hipótese nenhuma. Vai ser unanimidade para votar com Bolsonaro.”
Pauta
A atração do eleitorado evangélico e das igrejas por Bolsonaro se
deve ao posicionamento dele, de forma clara, em defesa de pautas morais:
é contrário ao aborto, à liberação das drogas e ao casamento entre
pessoas do mesmo sexo, além da campanha contra educação sexual e
identidade de gênero nas escolas – chamada por religiosos de “ideologia
de gênero”.
“Há uma unanimidade de que o Bolsonaro foi o único que empunhou a
bandeira da vida, da família, da igreja, da livre economia, da escola
sem partido e contra a ideologia de gênero”, afirmou o bispo Robson
Rodovalho, líder da Sara Nossa Terra, que emitiu nota pela Confederação
dos Conselhos de Pastores do Brasil. “Achamos que deveríamos manifestar
esse apoio antes do primeiro turno, a tempo de influenciar nossa
sociedade.”
O manifesto gerou uma carta pastoral contrária assinada,
majoritariamente, por adeptos de igrejas históricas como presbiterianos,
batistas, metodistas, luteranos e anglicanos.
No início da noite deste domingo, 30, Flávio Bolsonaro, filho do
presidenciável, postou no Twitter um vídeo em que ele e o pai aparecem
ao lado do Pastor Cláudio Duarte – que atua no canal Foco em Cristo, no
YouTube. “Como eu disse antes, é melhor ‘Jair se acostumando’”, diz o
pastor no vídeo, frisando que o apoio é individual e não da igreja.
“Sonhamos com um Brasil diferente do que está aí hoje, em que a família
realmente seja respeitada”, respondeu o candidato.
Na semana passada, Bolsonaro ganhou adesão de Hidekazu Takayama
(PSC-PR), deputado e pastor da Assembleia de Deus Cristo Vive e ligada
ao Ministério do Belém, o mais tradicional. Presidente da Frente
Parlamentar Evangélica, uma das mais influentes do Congresso, Takayama
relata que os líderes de igrejas temem uma derrota de Bolsonaro no
segundo turno e apela aos cristãos para votarem no colega de Câmara. “A
doutrinação esquerdista radical está caminhando para um ateísmo que fere
a igreja.”
Culto da Universal exibe vídeo contra ‘kit gay’
No dia seguinte à declaração de apoio do bispo Edir Macedo ao
presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), um culto ontem na sede da Igreja
Universal do Reino de Deus em Brasília exibiu vídeo contra o “kit gay” –
termo usado pelo candidato do PSL para o projeto Escola sem Homofobia,
vetado pelo governo federal em 2011.
Bolsonaro não foi citado, nem seu virtual adversário no segundo
turno, Fernando Haddad (PT), ex-ministro da Educação. O material de
orientação sexual era atribuído ao Ministério da Educação na gravação
apócrifa que reunia depoimentos de supostos professores e alunos, além
de trechos de reportagens da TV Record com parlamentares, religiosos e
especialistas.
“Acredito que não é esse o Brasil que você quer”, disse um pastor
aos fiéis. Após a gravação, os fiéis oraram pelo Congresso para
“expulsar o demônio do parlamento” e “amarrar projetos de lei
diabólicos”. Seguidores da igreja usavam adesivos com nome e número de
candidatos do PRB colados na roupa dentro do templo.
Apesar da expectativa de que Bolsonaro tenha a maioria dos votos
evangélicos, o peso do segmento ainda é incerto. O professor de Ciência
Política do Ibmec Fábio Lacerda pondera que este voto tem mais efeito
nas eleições proporcionais. “Não é claro e evidente que os fiéis vão
seguir os pastores na eleição par cargos do Executivo. Há outras
determinantes.”
Armas
Uma das propostas de Bolsonaro que divide o meio evangélico é a
liberação do porte de armas. No programa de governo, consta “reformular o
Estatuto do Desarmamento
para garantir o direito do cidadão à legítima defesa”. “É um dos pontos
que faz com que muitos evangélicos não consigam votar nele”, diz o
pastor Luiz Roberto Silvado, presidente da Convenção Batista
Brasileira.
/ COLABOROU VINICIUS NEDER