Ou as instituições fazem o que devem e o Brasil nasce diferente e melhor
em 2020, ou será um lugar muito ruim de viver! A aposta no quanto pior
melhor beira à delinquência. Ou à sociopatia.
Percival Puggina:
Vários meios de comunicação evidenciam engajamento num trabalho que
visa a alterar a percepção e afetar o discernimento do leitor. No
Estadão do dia 24/06, um artigo bem típico, indaga: “Há uma luz
promissora no horizonte? Claro que não. Sejamos realistas porque o
contexto atual é kafkiano. Não se trata de uma fábrica de crises, mas de
uma usina de desvarios”... E, mais adiante conclui que nada de bom pode
acontecer, restando-nos a longa espera pelo “fim da atual
administração”. Mas como? Aos seis meses de mandato? “Usina de
desvarios” ante um governo consciente de suas responsabilidades, após
sucessivas gestões de Lula e Dilma?
Claro que há um estresse muito grande e incômodo na política
nacional. Não esqueçamos, porém, que ele entrou na cena pelas mãos, pés e
voz do Partido dos Trabalhadores, seguido de seus anexos e movimentos
sociais, numa prática política centrada na desqualificação moral dos
adversários. Sou testemunha viva e atenta disso. Durante décadas, em
mais de uma centena de debates, denunciei tal conduta, justificada como
parte da “luta política”. Em nome dela, aliás, a agressividade não
ficava apenas na retórica. Incluía invasão de propriedades, destruição
de lavouras e de estações experimentais, bloqueio de transporte, queima
de pneus, leniência e justificação ideológica da criminalidade e, ainda,
esse gravíssimo subproduto do aparelhamento da Educação brasileira:
professores militantes levando alunos a rejeitar a atividade empresarial
de seus pais, criando terríveis animosidades nas relações familiares.
Isso é violência, que o digam as vítimas.
Pois há, então, quem sinta saudade disso, da corrupção, das
“articulações” de Lula e das “habilidades” de Dilma. Há gosto para tudo,
mas querer nunca mais conviver com isso é justa e meritória aspiração
de uma sociedade que busca recuperar os valores perdidos, e que, quando
se mobiliza, o faz de modo ordenado e civilizado. É a autodefesa de uma
parcela majoritária da nação que passou a se posicionar politicamente,
venceu a eleição de 2018 e sabe o que rejeitar porque convive com as
consequências daquilo que rejeita.
Parte da imprensa brasileira ainda não percebeu: quanto mais atacar a
Lava Jato e o juiz Sérgio Moro, quanto maior relevo der à atividade
criminosa dos hackers a serviço dos corruptos (bandidos sob ordens de
bandidos), quanto mais ansiar pelo silêncio das redes sociais, quanto
mais desestimular e minimizar as manifestações de rua, mais estará
reforçando, aos olhos de muitos, a obrigação cívica de proteger aqueles
por quem se mobiliza. É tiro no pé. Principalmente quando salta aos
olhos que, na perspectiva de tais veículos, membros do STF podem
criticar o Legislativo e o Executivo; membros do Legislativo podem
criticar o Executivo e o STF; o Chefe do Executivo a ninguém pode
criticar; e os cidadãos têm que cuidar de suas vidas e deixar de
incomodar as instituições.
Não há fundamento para o rigor com que o Presidente e o governo vêm
sendo tratados. Não há um só ato que tenha causado prejuízo ao país. Bem
ao contrário, todos os movimentos e iniciativas visam a diminuir o
prejuízo herdado e a fazer as necessárias reformas. Bolsonaro já deixou
evidenciado a todos que, se não é o príncipe perfeito com que pretendem
aferi-lo alguns formadores de opinião, também não é o ogro que a
fantasia destes, de modo maldoso, quis criar e exibir ao mundo.
Por fim, a sociedade entendeu que condutas voltadas a derrotar o
governo, desacreditar o governo, derrubar o governo, são funestas ao
país e àqueles que mais precisam que tudo dê certo. Não há parto sem
dor. Ou as instituições fazem o que devem e o Brasil nasce diferente e
melhor em 2020, ou será um lugar muito ruim de viver! A aposta no quanto
pior melhor beira à delinquência. Ou à sociopatia. DO O.TAMBOSI