O Movimento Brasil Livre está acampado no
gramado do Congresso Nacional desde 18 de outubro, para pressionar o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha, a dar uma resposta sobre a
admissibilidade dos pedidos de impeachment de Dilma Rousseff. Conversei
com Renan Santos, um dos coordenadores nacionais do MBL, sobre essa
ocupação.
Reaçonaria: Renan, fale sobre o objetivo do acampamento.
Renan Santos: O objetivo
fundamental é o seguinte: a gente quer trazer de volta a agenda do
impeachment para uma imprensa que só quer falar do Eduardo Cunha. A
imprensa quer negar que seis milhões de pessoas saíram às ruas nas
manifestações. Quer negar que o brasileiro quer o impeachment da Dilma, e
só fala do Eduardo Cunha. Então, já que eles querem ignorar a gente, a
gente vai ter que tornar isso extremamente incômodo. A gente abriu uma
faixa que já foi colocada aqui no Congresso pedindo “Impeachment Já!”,
uma faixa gigante, de 60 metros. Estamos acampados e o acampamento não
pára de crescer. Ao longo dessa semana a gente cobriu uns 70% do
gramado, já. Aí, como é que eles vão poder ignorar?
O objetivo é pautar e, pautando, obter a
resposta do Eduardo Cunha, positiva ou negativa, com relação ao
acolhimento do pedido de impeachment. Se for negativa, ele vai ter um
problema bem na porta dele. Se for positiva, vamos pressionar também
para que o impeachment seja votado o mais rápido possível e que a gente
obtenha a vitória.
Não sou da opinião de que a gente tenha
que fazer mega manifestações novamente nos fins de semana, com todo o
respeito pela história que a gente construiu. Mas já está muito claro
para todo mundo que o brasileiro está insatisfeito. Não precisa fazer
outro grande evento para provar que, em todas as regiões do Brasil, as
pessoas não querem mais a Dilma Rousseff. Acho que agora a gente precisa
fazer uma pressão incômoda mesmo.
Reaçonaria:
Você concorda comigo que é necessário pressionar em qualquer lugar,
pegar as pessoas de surpresa, fazer atos que sejam constrangedores para
seus alvos?
Renan: Sim, concordo.
Tanto que a gente está subindo o tom um pouco. No termômetro de pressão,
a gente vai aumentar um pouco agora. A gente teve um pequeno conflito
com o Renan Calheiros para conseguir, mas a gente hoje tem autorização
do Congresso para estar aqui. É uma coisa inédita. Ninguém nunca fez
isso antes. É a primeira vez na história do Brasil que acampam no
gramado do Congresso Nacional.
Reaçonaria: Quantas pessoas mais ou menos estão aí hoje?
Renan: Agora, umas 50.
Reaçonaria: E como esse número tem variado no tempo? Aumenta e diminui?
Renan: Não, está em
progressão. Começou com 15 pessoas que invadiram. Nem todo mundo quer
participar de uma invasão, sabendo que pode ter confronto com a polícia.
Depois, as pessoas vão vendo que o acampamento está estável, tem
banheiro químico, tem até sofá agora! O pessoal de Brasília cada hora
vai trazendo uma coisa.
Reaçonaria: O banheiro químico foi fornecido por algum governo?
Renan: Não, não! Pedimos
doação e um empresário arrumou e colocou. Igual ao gerador. Pedimos um
gerador e já tem um gerador aqui. O tempo todo chegam pessoas trazendo
doações. Perguntam, “o que é que eu posso trazer?” e vão ajudando.
Reaçonaria: Tem outros grupos acampados também? Tem muita gente que não é do MBL?
Renan: Acampadas com a
gente estão muitas pessoas que são entusiastas da causa e tem os
coordenadores do MBL. Tem bastante gente do MBL. Como a gente tem
filiais ao redor do Brasil, as pessoas dessas filiais acabam vindo para
apoiar. A gente está incentivando todo mundo que defenda o impeachment a
vir aqui. Temos sido refratários com relação a alguns loucos que
defendem intervenção militar, que tentaram vir aqui. A gente pegou uma
autorização para estar aqui.
Reaçonaria: Tem defensores da intervenção militar acampados?
Renan: Não com a gente.
Reaçonaria: Eles estão acampados em algum lugar?
Renan: Tem um outro
acampamento em uma praça lá para trás com uns maníacos da intervenção. A
gente não tem, nem quer ter contato com eles.
Reaçonaria: A maior parte do pessoal que esteve na Marcha pela Liberdade está com vocês?
Renan: Exato, quase todo
mundo. Hoje, chegaram mais dois e é bem legal esse tipo de encontro de
todo mundo. A galera da Marcha está em peso aqui, estão vindo muitos
coordenadores do MBL, vão chegar mais. A equipe da Bahia chega amanhã, a
equipe de Pernambuco chega durante a semana e o resto do pessoal de São
Paulo também, hoje chegou gente do Mato Grosso do Sul. É uma
confederação, aqui. Tem gente do Brasil inteiro.
A gente sabe, desde a época da Marcha,
que existem circunstâncias muito específicas que fazem com que o
brasileiro vá para a rua. Tem muita gente que só pode de final de
semana. O nosso público é diferente do que foi às ruas em 2013, não é
uma molecada que só quer lutar contra tudo e contra todos. Nosso público
é um pouco mais responsável. As pessoas têm emprego, estão fazendo
faculdade. Então, não podem se envolver em circunstâncias um pouco mais
dramáticas como a Marcha ou o acampamento. Mas a gente entende que
alguns vão ter que fazer mais sacrifício que os outros. A gente está
estimulando as pessoas a virem para se juntar ao acampamento. A
velocidade de crescimento está muito boa. Na Marcha, foram 18 pessoas
que ficaram do começo até o fim, mas a quantidade foi aumentando. Muita
gente começou a aderir a partir de Goiás e tínhamos quase 200 pessoas
nos últimos cinco dias. Aqui, como as pessoas já viram que tem água,
comida e não vamos ser expulsos, as pessoas estão vindo de forma mais
fácil. E, lógico, não precisa andar. É bem mais confortável.
Reaçonaria: Vocês foram hostilizados por alguém, autoridades ou militantes?
Renan: Às vezes passam
uns caras meio de longe aqui, do PT, xingam e vão embora. A gente nem dá
bola. Políticos, vieram só os da oposição e comeram um pão de queijo na
barraca. A gente sabe da responsabilidade de fazer esse processo. Se
este gramado estiver cheio, vai ser uma pressão insuportável sobre o
Eduardo Cunha. Não vai ter muito como segurar.
Reaçonaria: Como as pessoas podem ajudar? O que você pediria aos leitores da Reaçonaria?
Renan: Primeiro, vir.
Vem, acampa, é seguro. Literalmente, a Polícia do Legislativo está
cuidando da segurança do pessoal aqui. A gente está conseguindo arrumar
comida e água para todo mundo. Tem comida à vontade para a galera. Vir é
a primeira coisa.
A segunda coisa é a campanha que
colocamos em destaque na página do MBL no Facebook, chamada Adote um
Herói. Tem uma conta para doações em dinheiro. Tem pessoas que moram
longe e não têm dinheiro para comprar a passagem para vir até aqui. A
gente vai lá e compra a passagem para o pessoal vir. Isso já aconteceu
com vários. Então, as pessoas que quiserem doar dinheiro, a gente está
usando esse dinheiro majoritariamente para comprar passagem para as
pessoas virem a Brasília. O povo de Brasília está ajudando bastante o
resto da galera que está aqui. A população está sendo super bacana.
E também compartilhar material. É muito
importante divulgar na Internet o que está acontecendo aqui. Mas quem
quiser ajudar mesmo, ou vem, ou manda dinheiro para pagar a passagem de
quem quer vir e não tem.
Reaçonaria: O que você espera do momento político do Brasil?
Renan: O MBL está muito
focado nessa briga com a imprensa. Há cerca de quatro semanas, o Eduardo
Cunha está claramente sendo alvo de um ataque para destruí-lo e assim
enfraquecer a tese do impeachment e permitir que o Lula venha com um
possível acordão. É claro que isso não o exime da culpa que ele tem no
cartório. E a imprensa ignora tudo o que a gente veio fazendo ao longo
do ano para bater na tecla só do Eduardo Cunha. Não gosto de parecer
teórico da conspiração, odeio isso, mas é verdade. A imprensa está
trabalhando para o governo de uma maneira que eu nunca vi antes. É
ostensivo. A imprensa já é uma tropa de choque do governo. A gente tem
que virar esse jogo agora. Ocupar o Congresso é uma atitude drástica.
Estamos em um local que nunca foi ocupado antes, uma área de segurança
nacional. A gente pretende, ao longo das próximas duas semanas, virar a
chave da pauta política. Se houver atos todos os dias quando a
presidente estiver na frente da Câmara dos Deputados ou do Senado, eles
não vão poder ignorar.
Reaçonaria: As pessoas
não se dão conta disso, mas nós já vivemos num ambiente ditatorial.
Vocês estão aí fazendo um movimento com essa força e a imprensa esconde
isso como se aqui fosse a Venezuela ou a Coréia do Norte.
Renan: Vou te dar um
exemplo. A gente chamou a imprensa internacional outro dia. A BBC e a
France Presse cobriram. Não teve SBT, não teve Globo, não teve Folha,
ninguém! Os caras estiveram aqui, cobrem um evento que para eles é
menor, mas fazem seu trabalho e a imprensa do Brasil não cobre? É a
primeira vez na história que acampam aqui no Congresso. A gente vai
fazer com que eles cubram porque a gente vai gerar fatos. A gente
pretende mudar a forma como a imprensa está cobrindo porque ela não vai
poder ignorar quando a gente começar a fazer barulho na frente do
Congresso durante as sessões. DO MARCELOCENTENARIO