quarta-feira, 29 de novembro de 2017

PSDB não saiu do governo Temer, recebeu alta

Josias de Souza

Todos sabem que o muro é o habitat natural dos tucanos. Mas a incapacidade crônica do PSDB de tomar decisões evoluiu para uma esquizofrenia. O partido ensaia seu desembarque do governo há quase seis meses, desde a explosão do grampo do Jaburu. Mas foi ficando. De repente, o tucanato foi saído da administração Temer: “O PSDB não está mais na base de sustentação do governo”, disse aos jornalistas o chefe da Casa civil de Temer, Eliseu Padilha.
Num artigo publicado no início do mês, Fernando Henrique Cardoso, o farol do PSDB, havia iluminado o drama do partido: “Ou o PSDB desembarca do governo e reafirma que continuará votando pelas reformas, ou sua confusão com o peemedebismo dominante o tornará coadjuvante na briga sucessória”, escreveu FHC. Ele não se deu conta. Mas a posição subalterna do seu partido já estava consolidada.
Uma das características da esquizofrenia é a dissociação entre o pensamento e a ação. O fenômeno provoca no doente uma perda de contato com a realidade e uma desagregação da personalidade. Aécio Neves, símbolo da degradação tucana, disse que o PSDB sairia do governo pela porta da frente. Era alucinação. O PSDB não saiu. Tornou-se o primeiro partido da história a ter alta de um governo.

Relator no STJ vota por tornar Fernando Pimentel réu na Operação Acrônimo

Governador de MG é acusado de receber R$ 15 milhões em propina para favorecer Odebrecht; defesa nega. Decisão da Corte, contudo, foi adiada após pedido de vista de ministro.

O governador de MG, Fernando Pimentel (PT) (Foto: Enerson Cleiton/Divulgação)
O governador de MG, Fernando Pimentel (PT) (Foto: Enerson Cleiton/Divulgação)
O ministro Herman Benjamin, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), votou nesta quarta-feira (29) em favor de tornar o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), réu pelo crime de corrupção passiva.
Relator do caso, Benjamin também se manifestou contra afastar o governador do mandato caso a denúncia do Ministério Público seja aceita pela Corte.
Após o voto de Herman Benjamin, também votou pelo recebimento da denúncia o ministro Jorge Mussi. Terceiro a votar, Og Fernandes pediu vista, ou seja, mais tempo para analisar o processo. Com isso, o julgamento foi interrompido e não há data para ser retomado.
A decisão sobre tornar Pimentel réu ou não depende da maioria dos votos dos 15 ministros que compõem a Corte Especial do STJ. Eles também decidirão se afastam ou não o governador do mandato se a denúncia for recebida.

Acusação

Pimentel é acusado de pedir e receber R$ 15 milhões em propina para favorecer a construtora Odebrecht na obtenção de seguros de créditos obtidos pela construtora junto ao BNDES para obras na Argentina e em Moçambique, nos valores de US$ 1,5 bilhão e US$ 180 milhões, respectivamente.
Segundo a denúncia, Pimentel teria ajudado a empresa na condição de ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), entre 2011 e 2014, durante o governo Dilma Rousseff.
Os seguros foram concedidos em 2013 pela Câmara de Comércio Exterior (Camex), ligada ao ministério e presidida por Pimentel.
Além de Pimentel, foram acusados:
  • Eduardo Serrano, chefe de gabinete no MDIC;
  • Pedro Medeiros, apontado como intermediador dos recursos destinados ao governador;
  • Benedito de Oliveira, empresário próximo de Pimentel;
  • Marcelo Odebrecht, ex-presidente da Odebrecht
  • João Nogueira, diretor da construtora.

Entenda o caso

Apresentada com base nas delações de Bené, Odebrecht e Nogueira, a denúncia narra que em 2012, no cargo de ministro, Pimentel teria pedido a Medeiros para lhe informar sobre interesses de empresas junto ao MDIC nos quais poderia intervir para receber valores.
O chefe de gabinete teria, então, verificado que a Odebrecht tinha dois pedidos para obtenção de seguros de crédito na Camex, para empréstimos que já havia conseguido junto ao BNDES.
Um dos empréstimos, de US$ 1,5 bilhão, bancaria projeto de Soterramento da Linha Ferroviária de Sarmiento, localizada em Buenos Aires. O outro, de US$ 180 milhões, foi destinado à construção de um corredor interurbano de transporte público na cidade de Maputo, em Moçambique.
Segundo a denúncia, Pimentel recorreu a Bené para se aproximar de João Nogueira, diretor de crédito à exportação da Odebrecht. Num encontro em 2012, Pimentel teria pedido ao executivo R$ 20 milhões. Presidente da construtora, Marcelo Odebrecht teria concordado em dar R$ 15 milhões.
Com base nos relatos dos delatores, a PGR listo uma série de mensagens telefônicas entre Bené e Nogueira para acertar os pagamentos. O dinheiro em espécie era recebido por Pedro Medeiros em hotéis em São Paulo entre 2012 e 2013, mediante o fornecimento de senhas previamente combinadas.

O que diz a defesa

Na tribuna do STJ, o advogado de Pimentel, Eugênio Pacelli, disse que a denúncia é fruto de "perseguição política" contra o governador.
Ele lembrou que a investigação começou em outubro de 2014, quando a Polícia Federal em Brasília recebeu a informação de que Bené desembarcaria na capital federal com malas de dinheiro.
O advogado contou que, quando o empresário chegou à delegacia para ser interrogado, o delegado lhe perguntou se ele era filiado a partido político e se conhecia Pimentel.
"Vamos provar que Fernando Pimentel era o alvo, foi investigado por perseguição política. Tudo se tratava e se tratou de diligência movida por interesses políticos [...] O alvo sempre foi Fernando Pimentel. Está muito claro o vício originário da Operação Acrônimo, que foi fruto de delação anônima", afirmou Pacelli.
Na sustentação, ele também apontou supostas falhas na investigação que poderiam anular a denúncia, como o fato de a informação sobre o caso terem chegado à PF pela Polícia Civil de Minas Gerais e pelo Ministério Público Estadual, que não poderiam investigar um ministro.

Voto do relator

No julgamento, Benjamin rebateu a tese da defesa e descartou motivação política da Polícia Federal na investigação.
"Não seria crível que a PF teria envolvimento político contra a campanha do governador Fernando Pimentel. Estamos falando de órgão federal, e a presidência da República era ocupada por integrante do partido do candidato", disse o ministro.
Ele também considerou que como os crimes teriam ocorrido antes do mandato de Pimentel como governador, não seria necessário afastá-lo do cargo.
"Em segundo lugar, não há nenhum ato do denunciado Fernando Pimentel que vise obstruir ou criar entrave à investigação criminal. Não vejo necessidade do afastamento do cargo", disse Herman Benjamin.
O eventual recebimento da denúncia pelo STJ não representa culpa do governador, somente a existência de indícios de que ele cometeu crime. Só ao final do processo, após depoimentos de testemunhas e análise das provas, ele poderá ser condenado ou absolvido.DO
Por Renan Ramalho, G1, Brasília

Temer acalenta a sério ideia de se recandidatar

Josias de Souza

Todos os governos, por piores que sejam, cultivam seus mitos de excepcionalidade. Mas é inédita na história a pretensão de Michel Temer de ser um estadista, que merece não só o reconhecimento coletivo como a reeleição à Presidência da República. Em entrevista, o chefe da Casa Civil Eliseu Padilha declarou que Temer não tem pretensões políticas senão a de “cumprir bem o seu mandato”. Acrescentou que a reeleição não está nos planos do presidente. E emendou: “Por enquanto…”
Não é o cinismo de Temer e seu sucesso entre os áulicos peemedebistas que assustam. O cinismo pelo menos é uma coisa consciente. Pode-se compreender que um grupo político recoberto de lama queira camuflar sua imoralidade atrás de hipotéticos projetos reformistas. O que assusta mesmo é a percepção de que nem Temer nem os seus apologistas estão sendo cínicos. Eles acreditam mesmo que fazem ao país o favor de realizar um governo salvacionista, que lhes dá o direito de reivindicar a continuidade.
Se Temer não for candidato, informou Padilha, o PMDB apoiará outro nome. Com uma condição: tem que “defender o legado do governo Temer”, uma gestão que executa a missão especial de “colocar o Brasil nos trilhos.” Os comentários do ministro desconsideram o fato de que Temer não impulsiona as reformas. Ele as enterra, como sucede agora com a não-reforma da Previdência. Ele não conserta a economia, mas torna mais lenta uma retomada do crescimento que poderia ser exuberante.
É certo que o humor compreende também o mau humor. Mas o mau humor que assegura a Temer o título de campeão de impopularidade não compreende que uma piada possa sonhar com a reeleição à Presidência da República. O projeto político que se esconde atrás do “por enquanto” de Padilha é real. Temer passou a acalentar a fantasia de comparecer às urnas de 2018 como recandidato.
Considerando-se o rastro pegajoso deixado pelas duas denúncias criminais congeladas pela Câmara, Temer sonha não com uma nova Presidência, mas com a preservação do escudo da imunidade presidencial. O sucesso do empreendimento depende do reconhecimento de que o Brasil virou uma nação de idiotas.

STF nega aborto e manobra do Psol cai por terra

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Partido usou situação de vulnerabilidade de uma mulher 
para criar "brecha jurídica"
Na última semana, o pedido de Rebeca Mendes Silva Leite solicitando autorização para abortar chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF). Aos 30 anos e com dois filhos, a mulher alegava que tem um salário de R$ 1.250,00 e passava por sérios problemas financeiro.
Ela gravou um vídeo com um desabafo  para a ministra Rosa Weber, relatora da ação pedindo a descriminalização da prática, impetrada pelo Psol.
Todo o arranjo pareceu ser uma manobra do partido, que tenta junto ao Supremo a descriminalização da interrupção da gestação no Brasil até a 12ª semana. Junto com o pedido de Rebeca, o Psol pedia também uma liminar, que estenderia os efeitos dessa decisão a todas as grávidas. Ou seja, tentava legalizar o aborto, alterando judicialmente o que é previsto em lei.
Insistindo que os filhos são dependentes dela, o pedido encaminhado ao STF argumenta que Rebeca "jamais cogitaria violar a lei ou arriscar sua própria vida para interromper a gestação".
O argumento da legenda socialista é que negar a Rebeca o direito ao aborto seria equivalente à tortura, por que imporia tanto sofrimento quanto risco à sua saúde física, mental e social.
Na terça-feira, 28, a ministra Rosa Weber negou todos os pedidos. 
Em 8 de março deste ano, Dia Internacional da Mulher, o Psol encaminhou uma ação em favor da liberação do aborto. A base do seu argumento era um estudo financiado pelo Ministério da Saúde, mostrando que cerca de 330 mil mulheres brasileiras já fizeram aborto.
Os números são bem diferentes dos usados pelo deputado federal Jean Wyllys (Psol/RJ) que publicamente insiste que chega a um milhão. 
Além da negativa do STF, tanto a Advocacia-Geral da União (AGU) quanto a Câmara dos Deputados manifestaram-se contra a ação do Psol, argumentando que o pedido de liberação do aborto até a 12ª semana deve ser negado pelo STF por se tratar de um assunto de competência do Congresso.
O Senado, por sua vez, limitou-se a dizer que o tema está "sendo tratado no Legislativo". A Procuradoria-Geral da República (PGR) não se manifestou sobre o caso.
Especialistas opinam
Angela Martins, doutora em Filosofia do Direito e professora visitante de Harvard. Em entrevista à 'Gazeta do Povo' explicou que "os autores da ação utilizam uma situação de fragilidade humana para poder continuar questionando o assunto e colocar o STF na parede para uma sentença pontual".
Ela lembra que "hoje existe a curadoria de nascituros, por meio do Estado e de outras ongs, nacionais e internacionais, entidades religiosas e outras que recebem essas crianças para adoção; matar nunca é meio de combater qualquer mal e, por outro lado, não seria condizente com a nossa Constituição que protege a vida de modo incondicional".
Já Regina Beatriz Tavares, presidente da Associação de Direito de Família e das Sucessões (Adfas), doutora em Direito Civil pela USP, acredita que a opção do Psol em tentar abrir uma brecha jurídica no STF é por que o Supremo tem assumido um protagonismo permissivo, que contraria os desejos da maioria da população, acionado por ativistas.
Flávio Henrique Santos, presidente da Adfas de Pernambuco, acredita que essa manobra do Psol junto ao STF representa um risco para o resto da população.
"Nesse caso, haveria ainda mais uma pergunta a ser feita: o estado de pobreza e miserabilidade pode autorizar o estado a matar pessoas? Essas deficiências econômicas poderiam, por exemplo, justificar higienizar a sociedade, aprovar genocídios porque as pessoas não conseguem sobreviver? Pelo contrário, não seria mais adequado impulsionar o Estado a colocar ações profundas de mudança econômica para que a sociedade tenha uma vida digna? Está havendo uma grande inversão de valores; uma vida inocente não pode ser ceifada por argumentos tão desprovidos de fundamento".
Fonte: https://noticias.gospelprime.com.br

No teatro de Brasília, PF já não vigia a bilheteria

Josias de Souza

Em sua penúltima esquisitice, o recém-nomeado diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, decidiu acumular as funções de sindicalista. O investigador negocia com deputados investigados a manutenção de privilégios de sua corporação numa hipotética reforma da Previdência. Quer a aposentadoria integral e a garantia de que os policiais aposentados receberão os mesmos reajustes dos colegas da ativa. É esse tipo de sonho que transforma a Previdência num pesadelo.
Eis o quadro: ignorando o fato de que a PF dispõe de federações e associações de classe, Segovia atropela o seu superior hierárquico, o ministro da Justiça, para defender no Congresso privilégios que o presidente da República prometeu eliminar. Nesta terça-feira, o delegado participou de uma reunião com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, alvo da Lava Jato.
Além de avaliar que uma mala com propinas não prova corrupção, Segovia acha conveniente negociar com investigados. Não é à toa que, vista de longe, Brasília está cada vez mais parecida com uma comédia mal escrita, com um diretor desprepado e os atores fora dos seus papeis. Ensaiado às pressas para substituir o espetáculo anterior, o governo Temer não agrada à plateia. E o vaivém do delegado Segovia passa a incômoda impressão de que a PF desistiu de vigiar a bilheteria.

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Josias de Souza
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– Charge do Hubert, via Folha.