segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

As promessas que Dilma já não cumpriu e as que ela não vai cumprir


A Folha deste domingo trouxe uma reportagem impressionante de Gustavo Patú sobre “os governos” Dilma. Escrevo, assim, no plural porque, afinal, eu acreditei no que ela e Lula disseram durante a campanha: ela governou com Lula, foi a grande gerente, no tempo em que ainda não havia virado “rainha” (ver texto acima). Antes que comente o texto de Patú, algumas considerações sobre jornalismo.
Antigamente, um texto com esses dados seria candidato a manchete. A Folha escolheu a crise no Egito. Vá lá. Talvez eu tivesse feito o mesmo. Incompreensível é que a questão tenha merecido só uma menção lá no pé da página. Patú é bom na sua área, bastante técnico. No caso do texto, talvez técnico demais, o que dilui o impacto político do que noticia. Mas a radiografia, para quem lê tudo com atenção, impressiona. Querem ver? Seu texto segue em preto. De vez em quando, faço algumas intervenções em azul.
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Atrasos herdados da administração anterior e a necessidade de cortar investimentos para equilibrar as contas do governo ameaçam algumas das principais promessas da campanha eleitoral da presidente Dilma Rousseff.
Acho que a expressão “administração anterior” dá um viés excessivamente “despolitizante” ao texto. Não há “administração anterior” no sentido político da expressão, certo? O eixo da campanha eleitoral é que passaríamos do governo Lula-Dilma para o governo Dilma. Como vocês verão, não são só as promessas de campanha que estão ameaçadas. A agora presidente Dilma, quando ministra Dilma, não entregou o que prometeu.
Manter em dia o cronograma de realizações significa construir, só neste ano, 3.288 quadras esportivas em escolas, 1.695 creches, 723 postos de policiamento comunitário, 2.174 Unidades Básicas de Saúde e 125 Unidades de Pronto Atendimento, além de centenas de milhares de moradias subsidiadas para a população de baixa renda.
Vejam com é fácil fazer obra com saliva no horário eleitoral gratuito, que nós pagamos…
As metas constam do planejamento oficial que embasou a elaboração do Orçamento deste ano - até hoje não sancionado pelo Planalto, o que reduz a virtualmente zero a possibilidade de liberar dinheiro público para novos projetos.
Fora os compromissos de apelo popular mais imediato, há ainda R$ 7 bilhões destinados a novas obras em rodovias, ferrovias, portos, irrigação e saneamento, igualmente incluídas na segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento, batizada de PAC 2.
Completar um mês sem iniciar investimentos é usual para um começo de administração, mesmo no caso de um governo de continuidade. A equipe econômica, porém, já prepara o terreno para uma demora maior.
É preciso combinar dois objetivos: o fiscal - bloquear despesas e elevar os recursos para o abatimento da dívida pública, desde 2009 abaixo do prometido - e o gerencial - encerrar a lista de obras e projetos prioritários inacabados, grande parte deles coordenados pela própria Dilma nos tempos de ministra-chefe da Casa Civil.
Como se nota, uma informação relavantíssima está aqui, devendo, quem sabe, num texto mais adequadamente “politizado” e “politizante”, estar lá no alto. As promessas eleitorais e as previsões orçamentárias foram feitas ignorando-se tudo o que não foi entregue. E não é pouca coisa.
Em um cenário de recursos escassos, as obras já em curso ganham primazia, como já indicaram a Fazenda e o Planejamento. Mais delicado politicamente seria citar pelo nome os candidatos a serem preteridos.
O exemplo de maiores proporções é o da segunda etapa do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, que pretende viabilizar a construção e a aquisição de 2 milhões de casas e apartamentos até 2014.
Há R$ 12,7 bilhões autorizados no Orçamento de 2011 para a iniciativa, de longe o maior volume destinado a um programa de caráter não permanente nem obrigatório.
Mas, ainda que escape dos cortes a serem anunciados até março, a verba terá de acomodar também R$ 9,5 bilhões em despesas que ficaram por ser executadas da primeira etapa do Minha Casa - na qual as moradias efetivamente concluídas não chegaram a um quarto do 1 milhão contratado no papel.
O “não chegam a um quarto”, que eu saiba, significa algo em torno de 15%. Vale dizer: Lula e Dilma prometeram entregar um milhão de casas (inicialmente, até 2010; depois, sem data definida) e deixaram de cumprir 85% do prometido. Na campanha, dobraram o delírio: 2 milhões. Isso quer dizer que, até 2014, Dilma terá de construir os dois milhões de casas da campanha eleitoral e as 850 mil do mandato passado…
O mesmo acontece com as novas Unidades de Pronto Atendimento, os prontos-socorros 24 horas que estrelaram a plataforma petista para a saúde. Os recursos reservados para iniciar as 500 UPAs programadas até 2014 terão de disputar espaço com a conclusão das outras 500 que deveriam ter sido entregues até 2010. Pelos dados do Ministério da Saúde, apenas 91 UPAs estavam em funcionamento até o início de dezembro.
Você pode não ter entendido direito, então vou destacar: o governo Lula havia prometido entregar 500 UPAs até 2010. Entregou 91 — 18%. Tendo Dilma prometido mais 500, então está devendo agora 909!!!
Sintomaticamente, a bancada governista no Congresso ajudou a promover, sem alarde, um corte de 15% nos recursos para as UPAs e a construção de postos UBS (Unidades Básicas de Saúde) durante a tramitação do projeto de lei orçamentária.
Isso porque a Saúde seria uma prioridade absoluta. Vocês não cansaram de ver o povo feliz nas UPAs da Dilma, certo?
Maior ainda, de quase 35%, foi a redução da verba para a construção e adequação de quadras esportivas nas escolas de ensino médio, ação também classificada como prioritária, incluída no PAC 2 e repetida na campanha eleitoral.
Outro complicador é que todas essas metas - incluindo a construção de creches e de postos de policiamento - dependem da participação de governos estaduais ou prefeituras para elaboração de projetos, cessão de terrenos e custeio das unidades.
Pois é, essas são dificuldades que não apareceram agora e que sempre fizeram parte da equação. A creche serviu de mote para João Santana vender Dilma como a “mãe do Brasil”, depois que ele foi governado pelo pai.
Como não existe a grana, o marqueteiro decidiu transformar a “mãe” na rainha da Inglaterra.
Por Reinaldo Azevedo

Dilma está acima da podridão do reino da Dinamarca


Agora nós já sabemos por que não devemos importunar Dilma Rousseff com problemas da vida real. O marqueteiro João Santana (ver post de ontem) decidiu que ela deve ocupar no imaginário dos brasileiros o lugar de uma “rainha”, aquela que é ubíqua, mas distante; generosa, mas intocável; amorável, mas impessoal; maternal, mas intangível; transparente, mas insondável. O Apedeuta era outra coisa, bem mais carne-de-vaca. Comparecia a tudo quanto era inauguração, falava o que lhe dava na telha, pontificava, filosofava, ensinava com ainda mais prazer o que ignorava, propunha revoluções morais, sociais, galácticas…
Ficará para a história a sua estupefaciente (em todos os sentidos da palavra…) consideração sobre os benefícios que obteria a Terra (sim, o planeta!) se, em vez de redonda, fosse quadrada; se, em vez de se mover, fosse um ponto fixo no universo. Segundo disse, seríamos menos afetados pela poluição. Lula não tinha, e não há razão para supor que tenha agora, pudor, medida, limite — decorrência de uma formação psíquica particular: a relação confessadamente tumultuada com o pai o impediu de ter superego. A exemplo das criancinhas e dos idiotas, não incorporou algumas censuras essenciais à vida civilizada. Por isso, ia brutalizando tudo o que encontrava pela frente. Daqui a pouco, estará de volta — e no estilo de sempre, o único que conhece.
Dilma, está dado, não tinha como rivalizar com essa personagem, que ganhou o imaginário de amplos setores da sociedade brasileira, muito especialmente daqueles que deveriam vigiá-lo: a própria imprensa, com as exceções de praxe, e as oposições. Tornou-se, assim, o homem acima das instituições. Se formos considerar as licenças informais que lhe deram para transgredir os códigos da vida republicana, é preciso considerar que ele foi até modesto nos abusos. A inimputabilidade que lhe foi concedida lhe teria permitido até ir mais longe. Mas voltemos à nossa “rainha”. Se ela tentasse emular com ele ou repetir seus gestos e falas de estudada teatralidade, cairia imediatamente no ridículo. Escolheu, então — ou escolheram por ela —, essa ausência onipresente, que comanda reuniões, decide, ordena, demite, orienta, cobra, exige, admoesta, mas sempre entre quatro paredes. Não estaria em lugar nenhum porque está em todos os lugares.
Até a regra da bandeira mudou. Antes, ela ficava hasteada quando o chefe da Nação estava num dos dois palácios — do Planalto ou da Alvorada. Agora não mais! A presidente “está” mesmo quando “não está”; simbolizá-la com uma bandeira implica lhe dar uma carnalidade, uma materialidade, que lhe diminui o alcance simbólico. Não é exatamente uma presidente, mas um “ente”. Como tal, deverá aparecer e falar só em circunstâncias especialíssimas. Mas que saibamos todos: estará sempre velando e zelando por nós, o seu “povo”, os seus “súditos”, os beneficiários de seu reinado.
A propaganda tem funcionado às mil maravilhas. Sendo assim, não há como lhe cobrar coisa nenhuma, e os problemas do país parecem se dar numa esfera alheia àquela em que habita a soberana. A ela caberá, na hora certa, dizer palavras de admoestação ou de conforto; lembrar princípios. Se era impossível imputar a Lula qualquer responsabilidade pelo que ia em seu governo porque ele nada mais era do que o homem que tentava corrigir os erros de cinco séculos, nada se cobra de Dilma porque aqueles mesmos problemas estão abaixo da esfera empírea em que ela transita; são pendengas nossas. A rainha, na verdade, se entristece com a brutalidade dos homens.
Os subterrâneos do reino
Antes de ser rainha, quando ainda não trazia nas faces esse ar austero e etéreo, Dilma Rousseff tinha o seu grupo. Era o “pessoal” do setor elétrico, porta pela qual ela entrou no governo Lula. Fábio Rezende era um ativo membro da turma. Petista, diretor de Furnas entre 2003 e 2009 e irmão de Sérgio Rezende, ex-ministro da Ciência e Tecnologia, ele disparou, na semana passada, um petardo contra o PMDB, acusando a turma do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) de graves maracutaias em Furnas, que responde por 40% da energia consumida no país. Reportagem da VEJA desta semana conta a história em detalhes. Entre outras coisas, o documento assegura que a empresa foi lesada em R$ 80 milhões numa operação com um doleiro amigo de Cunha e que as usinas de Batalha e Simplício tiveram superfaturamento de 100%. Nada menos…
Já antes do segundo turno das eleições, Rezende não escondia, em troca de e-mails com amigos,  a sua disposição de partir para a luta: “Precisamos reagir com denúncias a jornalistas, mobilizar o pessoal, procurar os políticos conhecidos; isto é, sair da acomodação e fazer barulho”. E mandou ver. Cunha reagiu pelo Twitter com frases como essas: “É impressionante o instinto suicida desses caras (petistas). Quem com ferro fere com ferro será ferido”. Ou ainda: “Na verdade, o documento foi feito pelo Fábio Rezende, que nem coragem para assinar teve. Ele não tem aquilo roxo, e sim rosado”.
Vejam como os plebeus do governo Dilma chafurdam gostosamente na baixaria.  As metáforas de Cunha indica a qualidade da luta em que se metem PMDB e PT. Uma nota à margem: a briga pelo faturamento de R$ 6,7 bilhões de Furnas não é mais bonita do que aquela pelo controle de uns R$ 5 bilhões da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), que Lula loteou entre petistas e peemedebistas logo no começo de seu primeiro mandato.
E como reagiu a rainha? Ordenou que os petistas parassem de molestar os peemedebistas — ou, melhor, mandou ordenar, já que ela mesma não se compromete com essas ações mundanas. Em off, o máximo que diz um assessor é isto: “A presidente fará uma faxina em Furnas, mas não será de imediato nem com dossiês”. Não se sabe quando será a “hora certa” de Dilma. Indicam a lógica e o bom senso que o poder de fogo do PMDB vai crescer tão logo tenha início a nova legislatura. Se, neste primeiro mês, sem que as demandas do governo tenham chegado ao Congresso, os peemedebistas já se mostram tão inquietos, imaginem como será depois. Esse partido é especialista em usar o seu voto para fazer valer seu ponto de vista ou apresentar suas reivindicações.
E não é só do peso do presente que seus ombros estão livres. Ao mudar do Terceiro Estado para o Primeiro, ela também não carrega memória nenhuma do governo que, afinal, foi seu, do qual ela era a grande gerente. Como vocês verão no post abaixo, a lista das irrealizações é imensa — inclusive das irrealizações futuras. Mas ela, definitivamente, não tem nada com isso. A figura de Dilma está sendo talhada para ficar acima dos critérios que medem competência e incompetência. A construção, como já disse, é esperta. Lamentável é perceber que o truque funciona.
Enquanto isso, o PSDB e o DEM se dedicam a golpezinhos mixurucas e conspiratas contra seus próprios aliados. O povo, no conjunto, tem o governo que merece porque, afinal, este foi eleito pela maioria. A minoria derrotada é que, convenham, merecia uma oposição um pouquinho melhor, não é mesmo? Não resistiu ao petismo para assistir à pantomima a que se entregam tucanos e democratas.
Por Reinaldo Azevedo

Por uma CPI de Furnas já.


É impressionante. Além dos dossiês produzidos por petistas e oficialmente recebidos pelo governo Dilma, as denúncias não param de ocupar páginas e mais páginas de jornal. Hoje, lá no cantinho de uma matéria de O Globo, mais um escândalo: Furnas orçou em R$ 2,2 bilhões a construção da Hidrelétrica de Simplício, na divisa do Rio e Minas. O preço real deveria ter sido de R$ 1,1 bilhão. Um superfaturamento de 100%. E não aparece nenhum parlamentar da oposição para pedir uma CPI de Furnas já!Se vai ser aprovada ou não, é outro problema. O importante é criar um fato político para fazer o que um político deve fazer: denunciar a roubalheira que tomou conta do setor elétrico do Brasil e, por extensão, das suas estatais.

Tiririca para Ministro da Educação.

O palhaço Tiririca afirmou ontem que tem planos de participar da Comissão de Educação e Cultura da Câmara. O PR tem dois deputados na comissão de 32 membros. "É o que o partido também quer", afirmou o humorista, ao deixar o hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde retirou a vesícula. Na verdade, o palhaço tem melhores credenciais para substituir o incompetente, arrogante, petulante e mal humorado Fernando Haddad, cuja última ação foi cabalar um doutor honoris causa para o ex-presidente, nomeando o reitor da universidade concedente como Secretário de Educação Superior do MEC (veja post ). Palhaçada por palhaçada, Tiririca no MEC!

Oposição, até quando?

Até quando a oposição vai aceitar passivamente que rolam dossiês entre petistas, com acusações de fraude, cometidas por peemedebistas na estatal de Furnas, havendo o envolvimento até de ministro, sem tomar uma única atitude? Há dias que pipoca na imprensa a informação abaixo, do Painel da Folha:

Recado Sobre a disputa entre PT e PMDB pelo comando de Furnas, o ministro Luiz Sérgio (Relações Institucionais) diz: "Fazer esse processo via dossiê não fortalece quem o está produzindo". Sérgio recebeu do deputado licenciado Jorge Bittar (PT-RJ) documentos listando supostas fraudes na estatal. 

Onde está este documento? O que ele contém? Ninguém vai chamar o Ministério Público ou a Polícia Federal? Não tem mais oposição no Brasil? Já que o PT tem tantas acusações em relação a Furnas, não seria o caso de colher assinaturas para uma CPI?

DO COTURNO NOTURNO