domingo, 4 de outubro de 2020

A retórica inútil da oposição petista

 

domingo, 4 de outubro de 2020


Em São Paulo, onde estão a alma, o coração e os músculos políticos do seu marechal de campo vitalício, o ex-presidente Lula, o PT alcança apenas 1% do votos. É isso mesmo: 1%. J. R. Guzzo, via Oeste:


A um mês e meio das eleições municipais que vêm aí, o candidato do PT à prefeitura de São Paulo tem 1% das intenções de voto. Para sentir um pouco o espírito da coisa: é metade do que tem, por exemplo, um concorrente que se apresenta como Mamãe Falei. Como é possível que esteja acontecendo uma coisa dessas com o partido que há 40 anos serve como a mais sagrada estrela-guia que a esquerda brasileira já teve em toda a sua história? Justo em São Paulo, onde vive e vota a maior concentração de trabalhadores do Brasil, é isso que o Partido dos Trabalhadores tem a apresentar? Em São Paulo, onde estão a alma, o coração e os músculos políticos do seu marechal de campo vitalício, o ex-presidente Lula? É isso mesmo: 1%.

Fica difícil perceber como o PT e Lula pretendem exercer um papel decisivo no futuro do Brasil se em São Paulo, a maior, a mais popular e a mais brasileira de todas as cidades do país, 99% da população não quer saber deles. Não adianta nada dizer, como estão dizendo, que o verdadeiro candidato da esquerda é outro — um político que nunca foi eleito para nada, tem como única realização estimular a invasão de imóveis com documentação enrolada e é apresentado como o “preferido” de Lula. E daí? Se o dono do partido não quer o candidato do partido na cidade-chave para qualquer eleição brasileira, não dá para concluir que ambos estejam fortes; não se inventou ainda a divisão que seja capaz de somar. Além disso, só faria sentido agir desse jeito se fosse para ganhar a eleição. Não é perdendo em São Paulo que se vai a algum lugar na política deste país; só concorrer, e ler depois na imprensa que o seu candidato teve uma belíssima votação, mas foi derrotado, é o tipo da coisa que não resolve a vida de ninguém.

Deveria estar acontecendo justo o contrário disso aí — a esquerda, pelo que se diz todos os dias ao público, é quem teria de estar ocupando neste momento os cinco primeiros lugares de qualquer disputa política no Brasil. O governo federal, com quem vive em guerra desde a última eleição presidencial, é tido e havido como morto a cada 24 horas. O Judiciário, nos seus galhos mais altos, parece se preparar para conceder indulgência plenária, em matéria de corrupção e quaisquer outros crimes, ao ex-presidente. Há um combate diário pela “quarentena”, esforços extremos para dificultar a produção e uma lavagem cerebral permanente com a intenção de culpar “o governo” pelas 140 mil mortes e todas as demais desgraças da covid-19. São anunciadas o tempo todo “sanções econômicas” e “represálias políticas” contra o Brasil por parte dos países do Primeiro Mundo por conta dos incêndios no Pantanal e do desmatamento na Amazônia. As classes intelectuais apoiam a necessidade de “algum tipo” de intervenção internacional para salvar a parte do território brasileiro que consideram “patrimônio da humanidade”.

De acordo com o diagnóstico da esquerda, e de seus parceiros naquilo que se descreve como áreas “liberais” e “civilizadas” da “sociedade”, há problemas sem solução com o teto de gastos públicos, as propostas de renda mínima, o desemprego, a queda no investimento estrangeiro, os danos da produção rural ao meio ambiente, a “violência policial”, as transações financeiras da família presidencial, a falta de apoio aos quilombolas, à demarcação das terras indígenas e às causas que são descritas como “identitárias”, “inclusivas” ou “sociais”. Metade dos ministros está permanentemente na porta da rua. O Congresso está contra o governo. O Judiciário está contra o governo. Os artistas de novela estão contra o governo. A mídia bate recordes diários de exasperação indignada contra um presidente da República que considera o pior de toda a história do Brasil — e contra o seu governo, tido como quase tão ruim quanto ele.

Diante dessa desgraceira sem fim, o PT, no seu papel oficial de Nossa Senhora da Oposição, já deveria estar nomeando o ministério do próximo governo; em vez disso, seu candidato à prefeitura de São Paulo tem 1% dos votos. Nem o governo federal nem os problemas reais do país melhoram um miligrama com isso. Mas é justamente aí que está um dos piores bodes da política brasileira de hoje. A elite nacional, da universidade ao Magazine Luiza, da mídia que se chamava grande aos banqueiros de investimento de esquerda, detesta o presente governo como nenhum outro governo brasileiro foi detestado — mas simplesmente não consegue, não para efeitos práticos, organizar uma oposição capaz de agir com um mínimo de coerência, eficácia e força moral para oferecer alguma alternativa séria às coisas como elas são hoje. O mesmo estado de coma deixa como mortos-vivos o Congresso, os 33 partidos que hoje têm alvará de funcionamento e o resto do mundo político. O resultado é que o governo está disputando uma partida sem que haja outro time em campo.

Há muito barulho de arquibancada — mas torcida brava não muda placar de jogo, e nem xingar a mãe do juiz é fazer oposição. Oposição é trabalhar com possibilidades reais de sucesso para trocar de lugar com quem está mandando; o resto é dinheiro falso. O que se tem hoje é isso — muita nota de R$ 300. Os adversários do governo, na verdade, parecem felizes em fazer tudo o que não é importante num trabalho político que pretenda dar certo. Enchem o noticiário, dia e noite, com bulas de excomunhão contra o presidente da República. Paralisam, no Congresso, no Ministério Público e nos tribunais, o trabalho de governar — a cada vez que perdem uma votação, ou a cada vez que o governo decide alguma coisa, vão correndo pedir à Justiça que anule o que foi decidido. Mostram plaquinhas de protesto no festival de cinema de Cannes. Fazem desfile de índio em Frankfurt. Criam grupos de vigilantes para combater a “direita” no Twitter. Queimam a bandeira nacional. Estão em guerra permanente contra o racismo, o machismo, a homofobia, a degradação da atmosfera, os fertilizantes, os “agrotóxicos”, a desigualdade, a presença da polícia nas favelas. Acusam o governo dos delitos de desemprego, recessão econômica, alta do dólar, excesso de religião, não uso de máscara, genocídio, morte das onças-pintadas e só Deus sabe mais o quê.

Nada disso rende um único voto na hora da eleição, mas é muito mais fácil do que fazer trabalho político de verdade. É bem cômodo, no fundo, desligar a televisão depois de ver a sova que o governo leva diariamente no Jornal Nacional e dizer para si mesmo: “Mais um dia de vitórias na luta contra o fascismo bolsonarista”. Sai de graça, dá cartaz e não tem nenhum risco. Também é muito fácil viver na política quando existe uma alucinação chamada “Fundo Partidário”, negociata legal que transfere dinheiro dos impostos diretamente para o bolso dos políticos. Nos anos em que há eleições, eles ganham mais; neste 2020, por exemplo, o contribuinte está sendo extorquido em R$ 2 bilhões. Eis aí um ponto, talvez o único, em que o PT e o partido turbinado por Bolsonaro na última eleição estão 100% de acordo — são eles os que ficaram com as maiores verbas, cerca de R$ 200 milhões cada um. O fato é que o sujeito não precisa mais ganhar uma eleição para ganhar dinheiro; o fundo garante. Pode ser menos, é claro, mas não tem erro. Entende-se, aí, onde foram parar o espírito de combate do PT, a “militância”, as “lutas” etc. Para que esse perrengue todo? O que interessa é sair candidato. Se você, além disso, já ganhou de presente um emprego público no “aparelhamento” em massa da era Lula-Dilma, sua vida está resolvida.

O que fica faltando, no fim dessa história, é um candidato capaz de fazer sentido. Não adianta olhar para o outro lado à procura de uma alternativa para Lula. Vão achar quem? Fernando Henrique? Gilmar Mendes? Eymael, um democrata-cristão?

Faltam dois anos para a eleição presidencial de 2022. Se continuarem achando que Bolsonaro vai desaparecer por encanto na esfera celestial, só porque “não é mais possível continuar assim”, vamos continuar nessa balada até 1º de janeiro de 2027. DO O.TAMBOSI

Os desafios do refém Bolsonaro


domingo, 4 de outubro de 2020


Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net

Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net

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A indicação do desembargador Kassio Nunes Marques para a vaga aberta pela saída de Celso de Mello do Supremo Tribunal Federal finalmente acendeu a luz de alerta sob o quanto o Presidente Jair Bolsonaro é refém do chamado establishment – real controlador do Centrão do Congresso Nacional.

A situação é tão curiosa que o Presidente refém, mas com popularidade em alta, está bem cotado para a reeleição. Depois de um primeiro ano de mandato com desgastes por causa do discurso de negação a negociações com o Congresso, Bolsonaro percebeu o óbvio ululante: em um presidencialismo de coalizão teria de ceder ao parlamento para governar. Foi só isso que ele fez.

Bolsonaro segue espancado, mais que nunca, pela extrema mídia – que dificilmente (ou nunca) irá compor com ele. Os banqueiros também não fecham com ele. Mesma situação dos ricos de berço (ou de herança) que torcem o nariz para o Mito. A classe alta e média também reverberam uma insatisfação com Bolsonaro que percebeu ser mais fácil governar e focar o discurso nas classes mais pobres. Aparentemente, o populismo Bolsonarista está  dando certo.

Aparentemente, a oligarquia também está satisfeita com Bolsonaro. Embora o discurso dos poderosos até manifeste o contrário, Bolsonaro pouco ou nada fez para prejudicá-los de verdade. Daí um jogo de cena em que o Presidente é permanentemente mantido como refém. Ele parece que manda, porque nosso presidencialismo é “imperial”, mas, na realidade, ele apenas segue o roteiro montado pelo establishment no entorno próximo do Presidente.

O pragmático Bolsonaro já percebeu que, quanto menos radicalizar, maiores são as chances de seguir no poder. Atualmente, o desgaste de Bolsonaro é maior entre seus eleitores mais radicais, que exigem que se cumpram as promessas de mudança da campanha eleitoral. Já está claro que muitas delas não vão acontecer. Assim, haverá gritaria nas redes sociais. Só que, para a manutenção do Presidente no poder, isso fará pouca diferença.

Politicamente, Bolsonaro nunca esteve tão forte, apesar da aparente virulência de uma oposição de mentirinha. O desespero real é da esquerda perdida e da social democracia sem rumo. Os dois segmentos, que governaram o País nos últimos vinte e tantos anos, já constataram que, dificilmente, retornam ao poder. O jeito será aturar mais uma derrota ou, por debaixo dos panos, compor com Bolsonaro.

Veremos muita coisa “estranha” acontecer. A maioria delas será incompreensível para “reles mortais”. Bolsonaro irá contrariar seus aliados de primeira-hora para agradar à oligarqua que lhe dará afetiva sustentação. Haja estômago e paciência...      

No final das contas, vale repetir por 13 x 13, até cansar: O sucesso de Bolsonaro vai depender, de fato, da sensação e percepção de melhora na economia. As intrigas entre Paulo Guedes e Rodrigo Maia são mero jogo de cena. Bolsonaro depende da  base aliada para aprovar as reformas (que tendem a ser no estilo “meia-boca”).