Documentos obtidos com exclusividade por ISTOÉ
mostram que supostos serviços prestados pela gráfica "fantasma" VTPB
teriam sido bancados com dinheiro desviado da Petrobras para a UTC
Caberá à PF avaliar se há indícios suficientes para abrir um inquérito. Seja como for, o imbróglio envolvendo a prestação de contas de Dilma já extrapolou os limites da Justiça Eleitoral e pode levar seus envolvidos ao banco dos réus da Justiça comum. Como revelou ISTOÉ em sua edição de 15 de maio, parte dos serviços da VTPB teria sido bancada com dinheiro sujo, desviado da Petrobras para o caixa da UTC Engenharia, de Ricardo Pessoa. Agora surgem novos fatos. Pessoa confirmou em delação premiada ter doado à campanha de Dilma, por pressão do então tesoureiro Edinho Silva, um total de R$ 7,5 milhões. O dinheiro teria origem no Petrolão. O primeiro depósito ocorreu em 5 de agosto, segundo os extratos de transferências bancárias. No mesmo dia, Edinho transferiu R$ 5 milhões para a conta da Polis Propaganda e Marketing, empresa do marqueteiro João Santana — o valor exato foi de R$ 4,69 milhões, descontados os impostos. A segunda doação da UTC foi feita no dia 27 do mesmo mês. Com dinheiro em caixa, o tesoureiro fez uma série de pagamentos. Entre eles, quatro depósitos na conta da VTPB num total R$ 1,7 milhão. Outros R$ 672,6 mil abasteceram a Focal Comunicação. As duas empresas são suspeitas de servir para lavagem de dinheiro. Santana recebeu da campanha de Dilma um total de R$ 70 milhões e, em tese, não tem responsabilidade pela origem do dinheiro. O mesmo vale para a VTPB e a Focal, desde que provem que prestaram integralmente os serviços contratados. Em todo caso, cabe ao ex-tesoureiro Edinho Silva e à própria Dilma responderem às suspeitas sobre a origem ilícita das doações. Ambos negam veementemente as afirmações do dono da UTC. As empresas VTPB e Focal garantem que prestaram os serviços e negam qualquer irregularidade.
Para um integrante da força-tarefa da Lava-Jato, a descoberta de que o dinheiro sujo entrou na campanha petista e saiu de lá no mesmo dia para pagar fornecedores suspeitos pode complicar a situação de Dilma. “Não há mais dúvidas de que os recursos desviados da Petrobras percorreram um caminho sinuoso que passa pelas empreiteiras e deságua nas contas dos fornecedores”, diz o procurador. Segunda empresa que mais recebeu recursos da campanha de Dilma, atrás apenas da Polis Propaganda, a Focal está em nome de um motorista e da filha de Carlos Cortegoso, o verdadeiro proprietário. Em 2005, a empresa foi apontada pelo publicitário Marcos Valério como destinatária de recursos do mensalão.
PROCESSO CONTRA ANDRÉS SANCHEZ NO STF
RESPINGA NAS CONTAS DA PRESIDENTE
Outra transação feita por Edinho, no mesmo dia das transferências
para VTPB e Focal, envolveu a realização de oito pagamentos num total de
R$ 1,83 milhão à “Rede Seg Gráfica e Editora Eireli”, uma empresa
individual que funciona numa pequena sala de um sobrado vazio, no bairro
Veleiros, zona sul de São Paulo. Essa suposta gráfica, que como a VTPB
não possui maquinário, recebeu ao todo mais de R$ 6,15 milhões, valor
superior ao limite legal permitido para esse tipo de pessoa jurídica.
Ela está em nome de Vivaldo Silva, beneficiário de verba da cota
parlamentar do deputado Vicente Cândido (PT-SP), parlamentar muito
ligado a Edinho Silva.RESPINGA NAS CONTAS DA PRESIDENTE
Uma outra análise das notas fiscais emitidas pela VTPB reforça a impressão da existência de irregularidades. As séries das notas fiscais não são contínuas e há dezenas de notas faltando. Além disso, quando as notas anexadas ao processo de prestação de contas são cotejadas com as registradas eletronicamente no TSE, observa-se contradições importantes. Em 22 de agosto, por exemplo, a VTPB emitiu duas notas fiscais (nº 492 e nº 506) de R$ 667,8 mil cada. No processo físico, porém, não existe a nota 506.
A FOCAL E A VTPB SÃO SUSPEITAS DE LAVAREM
DINHEIRO PARA A CAMPANHA DE DILMA
Não bastassem as frentes de investigação já existentes contra Dilma,
em outro processo em tramitação no Supremo Tribunal Federal as contas de
campanha da presidente poderão ser devassadas. Trata-se da ação que
investiga o deputado federal Andrés Sanchez (PT-SP). Ex-presidente do
Corinthians, Sanchez é acusado de falsificar sua declaração de bens à
Justiça Eleitoral e a prestação de contas. Ele responde ainda por crime
contra a ordem tributária. No dia em que Mendes emitiu seu ofício à PF
no TSE, o ministro do Supremo Luiz Fux, que está com o caso de Sanchez,
autorizou diligências solicitadas pelo procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, ante os “indícios da prática delituosa”.DINHEIRO PARA A CAMPANHA DE DILMA