Na última semana, a Santíssima Trindade
do PIG (composta pela TV Record e revistas Istoé e Carta Capital) vem
tentando aproveitar o embalo da CPI do Cachoeira para emplacar matérias
com o objetivo de confundir o público, atrapalhar as apurações e
estimular a militância contra adversários do PT e do governo. A
blogosfera sustentada com dinheiro público repercute diariamente as
“notícias” surgidas nesses três veículos. A seguir, analisaremos o que
há por trás desta verdadeira campanha empreendida pelos amigos do poder:
Record e CartaCapital atacam a revista Veja
A denúncia não é nova para quem
acompanha as notícias sobre o caso Cachoeira: em longa reportagem em seu
“Fantástico genérico” apresentado pelo ex-jornalista processado por
ofensas racistas Paulo Henrique Amorim ontem (06), a TV do
autodenominado bispo Edir Macedo afirma que o bicheiro teria mantido
contato com o editor de Veja (alguns blogueiros governistas chegaram a
falar em 200 telefonemas trocados; mesmo que o número fosse verdadeiro,
não seria prova de envolvimento do jornalista com o esquema), e teria
sido responsável por “ao menos 5 capas” da revista.
Na capa de CartaCapital desta semana,
reportagem compara o empresário Roberto Civita, presidente do grupo
Abril, que edita a Veja, com Rupert Murdoch, dono do tabloide inglês
News of The World, envolvido em escândalo recente por espionar políticos
e celebridades em busca de notícias. A revista de Mino Carta só deixou
de lado um “pequeno” detalhe na comparação: no caso do News of the
World, havia diversas provas da conduta ilegal de seus editores e
repórteres. Aqui, do que surgiu até agora, não há nenhum fato
desabonador da conduta do repórter. Em uma das conversas vazadas
(obviamente ignorada pelos setores governistas da blogosfera), Cachoeira
chega a reclamar com um comparsa sobre a falta de “reciprocidade” na
relação com Veja.
A ofensiva contra Veja tem dois
objetivos: fornecer um pretexto verossímil para que o governo
desengavete projetos de controle da imprensa, como querem os setores
mais radicais do petismo, e desqualificar a denúncia do Mensalão. Como
se Cachoeira tivesse plantado José Dirceu e Delúbio Soares no governo
Lula…
IstoÉ, a revista de Daniel Dantas, ataca Serra e o governo paulista por manter contratos com a Delta
Vocês certamente conhecem o histórico da
revista IstoÉ com o PT. Ela foi o veículo que publicou o tal “dossiê
Vedoin” contra a candidatura Serra nas eleições de 2006, caso que entrou
para a história como o
escândalo dos aloprados.
Alguns meses antes, por conta da
cobertura do primeiro escândalo envolvendo Antônio Palocci (a quebra de
sigilo do caseiro Francenildo), o editor de política demissionário Luiz
Cláudio Cunha havia se despedido da revista com uma carta bombástica
endereçada a seu ex-chefe, publicada no site
Observatório da Imprensa:
(…)
ISTOÉ, pelo jeito, não quer afligir mais ninguém, principalmente os poderosos. Deve ser por isso que a ISTOÉ
desta semana consegue o milagre de produzir uma matéria sobre o caseiro
Nildo, aquele que viu as bandalheiras da “República de Ribeirão Preto”,
sem citar uma única vez o santo nome de Antonio Palocci. E discorre
sobre a vergonhosa quebra de sigilo do caseiro omitindo acintosamente o
nome do assessor de imprensa Marcelo Netto, um dos suspeitos de
envolvimento no crime. Reclamo porque fui eu que escrevi a matéria, e
nela constavam os dois nomes – Palocci e Marcelo. Meu texto foi
lipoaspirado, desintoxicado dos nomes do ministro e do assessor, e assim
publicado. Por isso, recusei assinar a matéria, que não refletia o que o
repórter mandou de Brasília na noite de quinta-feira 23 . E nem
precisaria tanto drama, porque os nomes da dupla já estavam, desde manhã
cedo, nas edições da Folha de S.Paulo e do Correio Braziliense.
A revista não estaria fazendo carga contra ninguém, estaria apenas
sendo fiel aos fatos. Perdeu uma bela oportunidade de não ficar calada.
Até porque, momentos atrás, o Palocci acaba de se demitir, por todos os
motivos que tínhamos e não explicitamos.
(…)
Diogo Mainardi também dedicou uma coluna às relações da revista com o petismo em setembro de 2006, intitulada
IstoÉ, a mais vendida:
“Fim de agosto. Base aérea de Congonhas.
Lulase encontra com Domingo Alzugaray,
dono da IstoÉ. O encontro está fora da
agenda presidencial. Alzugaray se lamenta
dos problemas financeiros da revista.
Lula pergunta como pode ajudá-lo…”
Pois bem. Esqueçam tudo isso. Os
problemas financeiros da revista acabaram. Alzugaray acabou vendendo 51%
da Editora Três, que publica a IstoÉ, em março de 2007. Desde então, a
revista encontra-se “sob nova direção”. Confiram reportagem da
Folha sobre a disputa pela empresa:
Depois de três meses de negociações, o
banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity, comprou 51% da Editora
Três, do empresário Domingo Alzugaray. O negócio será assinado até a
próxima terça-feira, quando o grupo deverá fazer um comunicado oficial
do negócio.
Dantas disputou a compra da Editora
Três, que publica a revista “IstoÉ”, com o empresário Nelson Tanure, do
‘JB’, e com os grupos Bandeirantes/Camargo Comunicações. Alzugaray optou
pela proposta de Dantas.
Nos dois últimos dias, a TV Record, do Bispo Edir Macedo, ainda
tentou fazer uma proposta para a compra da editora, mas Alzugaray
considerou o lance inviável.
Os detalhes e os valores da operação de transferência de controle da
Três para Dantas ainda não são conhecidos. Assim que o negócio for
oficializado, ficou acertado que Dantas irá regularizar os salários
atrasados. A maioria dos jornalistas da Editora Três encontra-se em
estado de greve desde o início da semana.
É preciso reconhecer aqui que a
“blogosfera progressista” acertou ao menos uma: durante a Operação
Satiagraha, Protógenes Queiroz e os blogueiros governistas afirmavam que
Leonardo Attuch, repórter de IstoÉ, trabalhava a serviço de Daniel
Dantas, relação trabalhista devidamente oficializada desde a aquisição
da editora por parte do banqueiro.
O jornalista Mino Pedrosa abordou o assunto recentemente em seu blog
Quid Novi, confiram um trecho:
(..)Leonardo Attuch foi flagrado na
Operação Satiagraha como assessor de comunicação da organização
criminosa. Certa vez, Carlos Rodemburg foi chamado na Editora Três,
Revista Isto É Dinheiro, pelo presidente Domingos Alzugaray, para
mostrar uma matéria feita por Leonardo Attuch denunciando o banqueiro
Daniel Dantas usando o nome de laranjas no contrato do Opportunity com o
Citybank. A matéria foi produzida a partir de um dossiê da Telecom
Itália, que estava em litígio com a Brasil Telecom.
Attuch foi chamado pela direção da
Editora Três para apresentar a matéria que tinha produzido. A matéria
não foi veiculada. Mas Attuch se cacifou perante Daniel Dantas,
tornando-se seu homem de confiança na Imprensa.
A partir daí foram várias as matérias
publicadas na Isto É Dinheiro, “confeccionadas” por Attuch. Daniel
Dantas fez uma compra de R$ 15 milhões em livros da Editora Três. E
Attuch ficava visivelmente satisfeito com os negócios entre a BR Telecom
e a Editora Três.
Humberto Braz, “o mala”, era responsável
mensalmente pela felicidade de Attuch. A imprensa , na época da
Operação Sathiagaha, denunciou Attuch de receber propinas e presentes de
Daniel Dantas, como por exemplo uma confortável casa no bairro classe
A, de São Paulo, o Alphaville.
A quadrilha de Daniel Dantas até hoje
sustenta o “jornalista”. Montaram um site www.brasil247.com, onde Attuch
atua sem se identificar, a serviço não só da quadrilha de Dantas, como
também cuidando dos interesses de empresários como José Batista Junior,
da Friboi, que se filiou ao PSB em Goiás para disputar o governo com
Marconi Perillo (PSDB), e empresas como a Odebrech, apadrinhada pelo
deputado cassado e personagem central no Mensalão do PT José Dirceu e o
Banco BVA.
(…)
Nova direção, velho alvo
A revista, agora sob o comando de Daniel
Dantas, publicou reportagem essa semana sobre contratos da construtora
Delta com a prefeitura e o governo de São Paulo, tentando envolver o
ex-governador e ex-prefeito José Serra (sob cuja administração os
contratos foram assinados) no rolo da CPI do Cachoeira. Ignorando o fato
que a Delta mantinha contratos em 20 estados (trata-se da única empresa
do ramo dedicada exclusivamente a obras públicas) e que nenhuma escuta
revelada até agora cita o ex-governador, a revista afirma que a Delta
“multiplicou contratos” durante suas gestões.
O problema é que a construtora do amigão
de Sergio Cabral nunca fez doações às campanhas de Serra, muito pelo
contrário: segundo levantamento do site
Contas Abertas,
a Delta doou R$ 1,5 milhão para a campanha de Dilma Rousseff à
Presidência em 2010, além de mais R$ 1,5 milhão ao diretório nacional do
PMDB na mesma eleição. A construtora financia campanhas eleitorais
desde 2002, e não há registro de doação a nenhuma campanha do PSDB
nacional ou paulista.
O objetivo aqui é livrar a cara dos
governadores aliados do Governo Federal que realmente tiveram relação
com a construtora e com o bicheiro. Ao sugerir o envolvimento de Serra,
os aliados do governo na imprensa e no Congresso buscam na verdade
“livrar a cara” dos governadores aliados que realmente tiveram relação
próxima com a construtora e/ou com o esquema de Cachoeira: Sergio Cabral
(PMDB-RJ) e Agnelo Queiroz (PT-DF), além de Marconi Perillo (PSDB-GO),
que não deve (ou não deveria) ser poupado nem pelos próprios aliados.
O Partido da Imprensa Governista quer
melar a CPI do Cachoeira, melar o julgamento do Mensalão e ainda colocar
sob suspeita adversários do governo e do PT.
DO IMPLICANTE