terça-feira, 8 de maio de 2012

CPI do Cachoeira, Mensalão e o desespero da imprensa chapa-branca


Na última semana, a Santíssima Trindade do PIG (composta pela TV Record e revistas Istoé e Carta Capital) vem tentando aproveitar o embalo da CPI do Cachoeira para emplacar matérias com o objetivo de confundir o público, atrapalhar as apurações e estimular a militância contra adversários do PT e do governo. A blogosfera sustentada com dinheiro público repercute diariamente as “notícias” surgidas nesses três veículos. A seguir, analisaremos o que há por trás desta verdadeira campanha empreendida pelos amigos do poder:

Record e CartaCapital atacam a revista Veja

A denúncia não é nova para quem acompanha as notícias sobre o caso Cachoeira: em longa reportagem em seu “Fantástico genérico” apresentado pelo ex-jornalista processado por ofensas racistas Paulo Henrique Amorim ontem (06), a TV do autodenominado bispo Edir Macedo afirma que o bicheiro teria mantido contato com o editor de Veja (alguns blogueiros governistas chegaram a falar em 200 telefonemas trocados; mesmo que o número fosse verdadeiro, não seria prova de envolvimento do jornalista com o esquema), e teria sido responsável por “ao menos 5 capas” da revista.
Na capa de CartaCapital desta semana, reportagem compara o empresário Roberto Civita, presidente do grupo Abril, que edita a Veja, com Rupert Murdoch, dono do tabloide inglês News of The World, envolvido em escândalo recente por espionar políticos e celebridades em busca de notícias. A revista de Mino Carta só deixou de lado um “pequeno” detalhe na comparação: no caso do News of the World, havia diversas provas da conduta ilegal de seus editores e repórteres. Aqui, do que surgiu até agora, não há nenhum fato desabonador da conduta do repórter. Em uma das conversas vazadas (obviamente ignorada pelos setores governistas da blogosfera), Cachoeira chega a reclamar com um comparsa sobre a falta de “reciprocidade” na relação com Veja.
A ofensiva contra Veja tem dois objetivos: fornecer um pretexto verossímil para que o governo desengavete projetos de controle da imprensa, como querem os setores mais radicais do petismo, e desqualificar a denúncia do Mensalão. Como se Cachoeira tivesse plantado José Dirceu e Delúbio Soares no governo Lula…

IstoÉ, a revista de Daniel Dantas, ataca Serra e o governo paulista por manter contratos com a Delta

Vocês certamente conhecem o histórico da revista IstoÉ com o PT. Ela foi o veículo que publicou o tal “dossiê Vedoin” contra a candidatura Serra nas eleições de 2006, caso que entrou para a história como o escândalo dos aloprados.
Alguns meses antes, por conta da cobertura do primeiro escândalo envolvendo Antônio Palocci (a quebra de sigilo do caseiro Francenildo), o editor de política demissionário Luiz Cláudio Cunha havia se despedido da revista com uma carta bombástica endereçada a seu ex-chefe, publicada no site Observatório da Imprensa:
(…)
ISTOÉ, pelo jeito, não quer afligir mais ninguém, principalmente os poderosos. Deve ser por isso que a ISTOÉ desta semana consegue o milagre de produzir uma matéria sobre o caseiro Nildo, aquele que viu as bandalheiras da “República de Ribeirão Preto”, sem citar uma única vez o santo nome de Antonio Palocci. E discorre sobre a vergonhosa quebra de sigilo do caseiro omitindo acintosamente o nome do assessor de imprensa Marcelo Netto, um dos suspeitos de envolvimento no crime. Reclamo porque fui eu que escrevi a matéria, e nela constavam os dois nomes – Palocci e Marcelo. Meu texto foi lipoaspirado, desintoxicado dos nomes do ministro e do assessor, e assim publicado. Por isso, recusei assinar a matéria, que não refletia o que o repórter mandou de Brasília na noite de quinta-feira 23 . E nem precisaria tanto drama, porque os nomes da dupla já estavam, desde manhã cedo, nas edições da Folha de S.Paulo e do Correio Braziliense. A revista não estaria fazendo carga contra ninguém, estaria apenas sendo fiel aos fatos. Perdeu uma bela oportunidade de não ficar calada. Até porque, momentos atrás, o Palocci acaba de se demitir, por todos os motivos que tínhamos e não explicitamos.
(…)
 Diogo Mainardi também dedicou uma coluna às relações da revista com o petismo em setembro de 2006, intitulada IstoÉ, a mais vendida:
“Fim de agosto. Base aérea de Congonhas.
Lula
se encontra com Domingo Alzugaray,
dono da
IstoÉ. O encontro está fora da
agenda presidencial. Alzugaray se lamenta
dos problemas financeiros da revista.
Lula pergunta como pode ajudá-lo…”
Pois bem. Esqueçam tudo isso. Os problemas financeiros da revista acabaram. Alzugaray acabou vendendo 51% da Editora Três, que publica a IstoÉ, em março de 2007. Desde então, a revista encontra-se “sob nova direção”. Confiram reportagem da Folha sobre a disputa pela empresa:
Depois de três meses de negociações, o banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity, comprou 51% da Editora Três, do empresário Domingo Alzugaray. O negócio será assinado até a próxima terça-feira, quando o grupo deverá fazer um comunicado oficial do negócio.
Dantas disputou a compra da Editora Três, que publica a revista “IstoÉ”, com o empresário Nelson Tanure, do ‘JB’, e com os grupos Bandeirantes/Camargo Comunicações. Alzugaray optou pela proposta de Dantas.
Nos dois últimos dias, a TV Record, do Bispo Edir Macedo, ainda tentou fazer uma proposta para a compra da editora, mas Alzugaray considerou o lance inviável.
Os detalhes e os valores da operação de transferência de controle da Três para Dantas ainda não são conhecidos. Assim que o negócio for oficializado, ficou acertado que Dantas irá regularizar os salários atrasados. A maioria dos jornalistas da Editora Três encontra-se em estado de greve desde o início da semana.
É preciso reconhecer aqui que a “blogosfera progressista” acertou ao menos uma: durante a Operação Satiagraha, Protógenes Queiroz e os blogueiros governistas afirmavam que Leonardo Attuch, repórter de IstoÉ, trabalhava a serviço de Daniel Dantas, relação trabalhista devidamente oficializada desde a aquisição da editora por parte do banqueiro.
O jornalista Mino Pedrosa abordou o assunto recentemente em seu blog Quid Novi, confiram um trecho:
(..)Leonardo Attuch foi flagrado na Operação Satiagraha como assessor de comunicação da organização criminosa. Certa vez, Carlos Rodemburg foi chamado na Editora Três, Revista Isto É Dinheiro, pelo presidente Domingos Alzugaray, para mostrar uma matéria feita por Leonardo Attuch denunciando o banqueiro Daniel Dantas usando o nome de laranjas no contrato do Opportunity com o Citybank. A matéria foi produzida a partir de um dossiê da Telecom Itália, que estava em litígio com a Brasil Telecom.
Attuch foi chamado pela direção da Editora Três para apresentar a matéria que tinha produzido. A matéria não foi veiculada. Mas Attuch se cacifou perante Daniel Dantas, tornando-se seu homem de confiança na Imprensa.
A partir daí foram várias as matérias publicadas na Isto É Dinheiro, “confeccionadas” por Attuch. Daniel Dantas fez uma compra de R$ 15 milhões em livros da Editora Três. E Attuch ficava visivelmente satisfeito com os negócios entre a BR Telecom e a Editora Três.
Humberto Braz, “o mala”, era responsável mensalmente pela felicidade de Attuch. A imprensa , na época da Operação Sathiagaha, denunciou Attuch de receber propinas e presentes de Daniel Dantas, como por exemplo uma confortável casa no bairro classe A, de São Paulo, o Alphaville.
A quadrilha de Daniel Dantas até hoje sustenta o “jornalista”. Montaram um site www.brasil247.com, onde Attuch atua sem se identificar, a serviço não só da quadrilha de Dantas, como também cuidando dos interesses de empresários  como José Batista Junior, da Friboi, que se filiou ao PSB em Goiás para disputar o governo com Marconi Perillo (PSDB), e empresas como a Odebrech, apadrinhada pelo deputado cassado e personagem central no Mensalão do PT José Dirceu e o Banco BVA.
(…)

Nova direção, velho alvo

A revista, agora sob o comando de Daniel Dantas, publicou reportagem essa semana sobre contratos da construtora Delta com a prefeitura e o governo de São Paulo, tentando envolver o ex-governador e ex-prefeito José Serra (sob cuja administração os contratos foram assinados) no rolo da CPI do Cachoeira. Ignorando o fato que a Delta mantinha contratos em 20 estados (trata-se da única empresa do ramo dedicada exclusivamente a obras públicas) e que nenhuma escuta revelada até agora cita o ex-governador, a revista afirma que a Delta “multiplicou contratos” durante suas gestões.
O problema é que a construtora do amigão de Sergio Cabral nunca fez doações às campanhas de Serra, muito pelo contrário: segundo levantamento do site Contas Abertas, a Delta doou R$ 1,5 milhão para a campanha de Dilma Rousseff à Presidência em 2010, além de mais R$ 1,5 milhão ao diretório nacional do PMDB na mesma eleição. A construtora financia campanhas eleitorais desde 2002, e não há registro de doação a nenhuma campanha do PSDB nacional ou paulista.
O objetivo aqui é livrar a cara dos governadores aliados do Governo Federal que realmente tiveram relação com a construtora e com o bicheiro. Ao sugerir o envolvimento de Serra, os aliados do governo na imprensa e no Congresso buscam na verdade “livrar a cara” dos governadores aliados que realmente tiveram relação próxima com a construtora e/ou com o esquema de Cachoeira: Sergio Cabral (PMDB-RJ) e Agnelo Queiroz (PT-DF), além de Marconi Perillo (PSDB-GO), que não deve (ou não deveria) ser poupado nem pelos próprios aliados.
O Partido da Imprensa Governista quer melar a CPI do Cachoeira, melar o julgamento do Mensalão e ainda colocar sob suspeita adversários do governo e do PT.
DO IMPLICANTE

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