“Quem espera que o diabo ande pelo mundo com chifres será sempre sua presa.”
(Schopenhauer)
Rodrigo Constantino
O Globo
São
cerca de 30 anos em que Lula age contra os interesses nacionais,
prejudicando o país, perpetuando nossas misérias e corroendo nossas
instituições republicanas
Menino
de família pobre chega do Nordeste e acaba se tornando operário no ABC
paulista, até virar líder de um partido de esquerda temido pelas
“elites”. Insiste em virar presidente e, após três tentativas
fracassadas, consegue, para finalmente realizar o sonho da “justiça
social”. É uma narrativa sedutora demais, não só para “intelectuais”
inspirados em Rousseau que precisam de mascotes para aplacar suas
angústias existenciais; mas para muita gente.
Agora
a máscara de Lula caiu para a maioria. Mas muitos repetem que ele foi
corrompido pelo poder, que sua “pureza” se perdeu. Novamente, trata-se
de uma narrativa sedutora, para que os românticos possam preservar as
ilusões. Lula não mudou tanto no poder; este apenas revelou sua
essência. A própria sede insaciável pelo poder demonstrava o que estava
por trás, e não era o desejo de ajudar os pobres.
Alguns
podem achar que isso é chutar cachorro morto, mas discordo. Primeiro,
pois já faço tais críticas há mais de década; segundo porque Lula ainda
não está morto politicamente. Continua vivo, ameaçando voltar em 2018,
causando estragos ao país, o que parece ser sua grande vocação.
Senão,
vejamos: já no começo da vida de metalúrgico, Lula percebeu que
trabalhar dava... trabalho. Preferiu o caminho das bravatas, incitando
greves, tentando paralisar o país como se a pressão sindical fosse mesmo
benéfica aos trabalhadores. Mas todas as “conquistas trabalhistas”
verdadeiras são fruto do avanço capitalista, não de máfias sindicais
inspiradas na luta de classes marxista. Basta comparar a qualidade de
vida dos trabalhadores de países mais liberais com a dos brasileiros,
que vivem numa verdadeira república sindical.
Depois,
com o PT, Lula descobriu novamente o caminho do “quanto pior, melhor”.
Quanto mais seu partido atrapalhava o país, melhor era para seu projeto
pessoal de poder. O PT lutou contra todas as reformas importantes das
últimas décadas. Plano Real, que derrotou a inflação (agora de volta);
Lei de Responsabilidade Fiscal, que tentou trazer o bom senso de
qualquer dona de casa para a gestão pública; privatizações, que tornaram
os serviços melhores e bem mais acessíveis (linha telefônica era
declarada como patrimônio no Imposto de Renda); etc.
Quando
finalmente chegou ao poder, Lula teve um lapso de bom senso e preservou
as conquistas que seu partido tinha dificultado ou quase impedido. Mas
foi por pouco tempo. Logo seu lado populista falou mais alto, e um
oportunismo pérfido fez com que todos os pilares fossem derrubados em
prol de seu projeto de poder. Tivemos o mensalão, depois o petrolão, e
seu governo “fez o diabo” para que sua criatura fosse eleita e reeleita.
Todos sabiam quem realmente mandava.
Sim,
é verdade que a economia cresceu bem por um período, mas, como os
economistas sérios cansaram de avisar, isso se deu a despeito de Lula,
não por causa dele. Não houve “avanços sociais” como boa parte da
imprensa ainda insiste. O que aconteceu foi o fenômeno China, puxando o
preço das commodities e enchendo os cofres do governo. Lula pegou esse
bilhete de loteria e usou para a compra de votos, para fomentar uma
bolha artificial, para endividar o Estado e as famílias brasileiras.
Em
resumo, são cerca de 30 anos em que Luiz Inácio Lula da Silva age
contra os interesses nacionais, prejudicando o Brasil, perpetuando
nossas misérias e corroendo nossas instituições republicanas. E não
pense que é exagero: o poder de um indivíduo, para o bem ou para o mal,
não pode ser desprezado. Thatcher e Reagan fizeram muito para salvar
seus respectivos países, enquanto Fidel Castro, camarada de Lula,
destruiu e escravizou uma nação inteira por mais de meio século!
Nada
disso seria possível, vale notar, sem a ajuda dos “intelectuais”, que
sempre alimentaram o monstro. E isso inclui Fernando Henrique Cardoso. O
sociólogo deixou seu lado marxista falar mais alto e ficou animado com a
chegada do “homem do povo” ao poder. Mesmo depois de ser massacrado
pela campanha de difamação petista, continuou com postura pusilânime,
sem reagir à altura. A falta de uma oposição verdadeira deixou o caminho
livre para as mentiras e o cinismo de Lula e seu PT.
Agora
o ex-presidente pode acabar preso. Está todo enrolado com a Justiça.
Seria um momento histórico para o país: do messianismo populista ao
cárcere. Tenho certeza de que o Brasil iria parar, e as ruas seriam
tomadas por gente esperançosa. Lula não virou; ele sempre foi o inimigo
do Brasil.
Rodrigo Constantino é economista e presidente do Instituto Liberal 02.02.2016 -R.DEMOCRATICA