Hoje
é o ensaio geral das dores de cabeça que a presidente Dilma terá
durante a Copa do Mundo — as mesmas que a impedirão de discursar no jogo
inaugural do torneio. Uma vaia que fizesse o Itaquerão vir abaixo
poderia ter um efeito devastador em ano eleitoral. E a vaia viria, tão
certo como Aloizio Mercadante é capaz e conceder entrevistas
desastradas.
Organizações
dos autointitulados sem-teto marcaram protestos em sete capitais:
Belém, Fortaleza, Palmas, Brasília, Salvador, São Paulo e Curitiba.
Estão previstos protestos contra o gasto de dinheiro público da Copa em
14: Manaus, Belém, Fortaleza, Natal, Recife, Cuiabá, Brasília, Salvador,
Belo Horizonte, Vitória, Rio, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. País
afora, em várias dessas cidades, há greves ou de servidores ou de
categorias profissionais que tendem a engrossar os protestos (vejam
quadros publicados em reportagem da Folha Online).
Na capital
paulista, por exemplo, parte dos professores da rede municipal de
ensino cruzou os braços. No Rio, há paralisações de professores das
redes municipal e estadual e de parcela de cobradores e motoristas de
ônibus. Em Pernambuco, a greve é de policiais militares, o que já
ensejou a intervenção da Força Nacional de Segurança.
Se alguém
dissesse a Lula, em 2007, que a Copa do Mundo poderia vir a ser uma
grande dor de cabeça para o petismo, ele certamente riria da cara do
interlocutor. E, convenham, em certa medida, ninguém realmente contava
com isso. Embora existam muitos grupos de extrema esquerda na raiz
desses movimentos, o repúdio ao dinheiro público empregado na Copa, em
contraste com a precariedade de alguns dos serviços oferecidos pelo
Estado, mobilizou mais gente.
Desde o
começo, o governo e o PT lidaram muito mal com esses protestos. Cumpre
não esquecer: o ovo dessa serpente foi posto em São Paulo. Durante uns
bons pares de dias, em junho do ano passado, o Planalto, especialmente
por intermédio do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, achou que
poderia, ainda que de modo oblíquo, incitar a massa contra o governo do
Estado. Deu no que deu.
De resto,
já escrevi aqui mais de uma vez, o próprio Planalto, por intermédio de
Gilberto Carvalho, incita a desordem quando dialoga mesmo com grupos que
optam pela violência. Quando aquela turma do Passe Livre ganhou assento
no Palácio, meus caros, Dilma estava dando um sinal e um tiro no
próprio pé. Carvalho certamente a convenceu de que era o melhor a fazer.
Ela deveria ter me escutado…
A coisa se
espalhou de tal modo que várias embaixadas brasileiras fizeram ontem um
alerta ao Itamaraty. Poderão ser alvos de ataques. O mundo globalizado
sai por aí comprando causas. E um país como o Brasil, que consegue
juntar de modo tão desassombrado, expressões muito claras da miséria com
a opulência do Brasil-potência do lulo-petismo é um prato cheio.
Vejam vocês! Até Lula, sempre tão sabido, pode ter algo a aprender com a realidade. O dia será quente.