terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Propinobras, frevo inspirado no Petrolão, é mais um sinal de que o Brasil começou a debelar a epidemia de mansidão bovina


O vídeo acima agrupa animadoras evidências de que o Brasil vai enfim debelando a epidemia de mansidão bovina que começou em 2003. De lá para cá, a pátria da ironia, do sarcasmo e da mordacidade foi desfigurada por manifestações de sabujice coletiva. O viveiro de cartunistas a favor, por exemplo, transformou em espécie virtualmente extinta o humorista sem patrão. Havia mais de mil veríssimos para cada Millôr.
Descontados os raríssimos sinais de vida inteligente, entre os quais figuram as composições de Luiz Trevisani, os farsantes no poder foram tratados com docilidade pelo País do Carnaval que antes não poupava ninguém. Em vez de ser devidamente eternizado num Samba do Mensalão, Lula virou enredo da Gaviões da Fiel. Nem deu as caras na avenida, é verdade. Mas a escola escapou da vaia merecidíssima.
A impunidade acabou, avisa o frevo “Propinobras”, em que Elinaldo Barbosa desanca os quadrilheiros do Petrolão. Os gatunos não terão mais sossego, informam as charges que rimam esplendidamente com a letra. O Brasil decente já sabe o que cantar no Carnaval deste ano. DO A.NUNES

A volta de Mangabeira Unger e a nomeação de Miriam Belchior para a Caixa provam que ninguém no mundo escolhe o que há de pior tão bem quanto Dilma Rousseff

mangabeira_unger “Um perigo a menos na Amazônia: o sotaque perdido na selva vai embora”, resumiu o título do post de junho de 2009 que saudou a partida para os Estados Unidos de Roberto Mangabeira Unger, a estranha figura que chefiava, com status de ministro, a Secretaria de Assuntos Estratégicos. Cinco anos e meio depois, sempre inexplicavelmente, Dilma Rousseff recolocou no mesmíssimo cargo o único baiano que fala português com sotaque de diplomata americano que chegou ao Brasil faz meia hora.
O texto republicado na seção Vale Reprise decifra o mistério surgido no momento em que nasceu a extravagância: para que serve, afinal, uma Secretaria de Assuntos Estratégicos? Serve para mostrar que ninguém no mundo nomeia o que há de pior tão bem quanto Dilma Rousseff. Com Mangabeira Unger, a presidente completou a montagem do mais bisonho primeiro escalão de todos os tempos. E pôde dedicar-se à difícil tarefa de reprisar a conquista com o segundo escalão.
Dilma mostrou-se à altura da missão ao substituir Graça Foster por Aldemir Bendine. Nesta terça-feira, garantiu o troféu com a entrega da presidência da Caixa Econômica Federal a Miriam Belchior. Faz sentido: ex-mulher do prefeito Celso Daniel, a companheira é especialista em caixa-preta. DO A.NUNES-REV VEJA

Caminhe, Dilma, sorrindo para o abismo! Agora, consta, ela vai pedir socorro a Lula, que solapa a sua credibilidade. Meu conselho é que rompa com o PT


Por Reinaldo Azevedo
Pois é… Eu já estava aqui a esfregar os dedos para escrever um texto em que apontaria um caminho para a presidente Dilma. No programa Os Pingos nos Is, que ancoro na Jovem Pan — entre 18h e 19h —, até brinquei com aquela musiquinha de Leandro e Leonardo: “Dilma, liga pra mim, não liga pra ele”. Eu me referia precisamente a Lula. Hoje, ele é uma das peças que, nos bastidores, concorrem para solapar a credibilidade da presidente.
Não custa lembrar: ele já autorizou que seu nome seja lançado para a disputa presidencial de 2018. Isso transforma Dilma, como afirmei ontem na VEJA.com (ver vídeo), numa pata manca.
E qual era a minha sugestão para Dilma, dado o desastre de opinião pública que já é o seu governo, sempre lembrando que há motivos para crer que a crise que ela enfrenta está só no começo e na sua fase mais amena?
Simples: que ela pedisse a desfiliação do PT e se declarasse uma sem-partido. De tal sorte a crise que se avizinha é grave que a suprema mandatária, com os poderes quase imperiais de que dispõe um presidente no Brasil, deveria dizer, como Cazuza: “O meu partido, agora, é um coração partido”. E tentaria estabelecer uma agenda mínima para o país. Hoje, o PT é um armário muito difícil de carregar, com aquela pilha gigantesca de esqueletos. E muito mais coisa pode vir — e virá — por aí.
É inútil fazer de conta que Dilma está imune a uma denúncia por crime de responsabilidade. Sabem o que vai determinar a viabilidade disso? O tamanho e o ritmo da crise. Em vez de participar de convescotes petistas, em companhia de João Vaccari Neto, ela deveria se guardar. Deveria assumir o lugar que cabe aos magistrados em momentos como esse.
Até aqui, as elites políticas do país, gostem dela ou não, podem até considerá-la omissa “no que se refere”, como ela diria, ao submundo petista. Mas poucos a veem como desonesta. A percepção do povo brasileiro, no entanto, começa a ser outra: 47% dos que responderam a pesquisa Datafolha lhe pespegaram essa pecha também.
Muito bem! Dilma deveria, então, se afastar de Lula e da marquetagem vigarista que garantiu a sua reeleição. Ninguém mais suporta aqueles truques. Está na cara que eles eram mentirosos. Desta feita, não terá farrinha de consumo para mitigar a roubalheira. Mas Dilma, a estar certa reportagem da Folha, vai fazer justamente o contrário: segundo informam Natuza Nery e Mariana Haubert, ela decidiu pedir socorro a Lula e ao marqueteiro João Santana.
Os lulistas espalham a lorota de que parte das dificuldades enfrentadas pela soberana se deve ao fato de que ela e Lula andam meio afastados, o que estaria deixando o Babalorixá de Banânia irritado. Sabem como é… O homem acredita que dar um truque no povo brasileiro é fácil. Ele vem fazendo isso há muitos anos, com sucesso. Vejam o esquema vigente na Petrobras, envolvendo empreiteiras — e por que seria diferente nos demais setores do governo? Tudo isso estava em curso enquanto Lula discursava contra as elites, contra o capital, contra o empresariado, contra os ricos… Se há pessoa “nestepaiz” que nunca perdeu nem poder nem dinheiro apostando na ignorância e na credice alheias, essa pessoa é Luiz Inácio Lula da Silva.
Dilma sabe que é refém daquela máquina e ensaiou alguns passos de independência. Parece que se julga fraca para enfrentá-la e decide, agora, se render. Lula lançou a sua candidatura para 2018 porque quer assustar Dilma e tomar de volta o governo já em 2015, no berro.
Se Dilma ligasse pra mim, ela dava a volta por cima; declarava a sua independência; enfrentaria a máquina; passaria por turbulências, mas teria alguma chance de ver robustecer a sua biografia. A se confirmar a notícia da Folha — e ela me parece, em princípio, verossímil —, a presidente vai se conformar com o papel de boneco de mamulengo. Eis o PT: essa gente não dá a menor bola para o país. Hoje, a companheirada está empenhada em garantir o poder da máquina e resolveu engolfar a presidente em sua sanha.
10/02/2015-DO R.DEMORATICA